sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O debate sobre as "fake news" está correto?

Com a escala dos meios digitais, a imprensa-empresa perdeu o controle de pautar o debate público, e o puritanismo farisaico com "fake news" é a desculpa conveniente pra bloquear qualquer opinião que não tenha o mercado como prioridade . 

Ou acaso não se trata de "narrativa" única desqualificar quem recusa aceitar que o Contrato Social da Constituição de 88 não cabe mais no PIB?

SRN

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Ciro abandona a ambiguidade

Ter uma posição progressista hoje equivale a acumular mais um problema: a suspeição de ser um "influenciador" assalariado do Lulismo.

Brizola tinha razão quanto à existência de uma esquerda de que a direita gosta.

Ciro - aspirante, de resto, a candidato do trabalhismo histórico - faz o movimento correto, ao dirimir quaisquer dúvidas relativamente ao eleitorado de Bolsonaro. Sua ambiguidade incomodava. Parecia que apostava em uma verossimilhança que conta muito em contexto novo de peso eleitoral das redes sociais. Agora usou o estilo agressivo na direção justa. O político antes era um sabonete que precisava ser bem vendido. Hoje basta a imagem em jpeg da embalagem escaneada e publicada para as curtidas da bolha e dos comentários de ódio. Ciro fez POLÍTICA (assim mesmo, em caixa alta), quando reconhece e diz com todas as letras que o eleitor de Bolsonaro quer um país sob um Estado que aparte, discrimine, torture e mate.

     SRN

terça-feira, 28 de agosto de 2018

"Influenciadores"

A rua Ceará mudou muito. A Quinta já ajustou-se, com os seus históricos espaços profissionais bem repartidos e de acordo com a diversidade.

Vindo de Vila Isabel, atravessando a Radial, tendo de passar por São Cristóvão rumo à Linha Vermelha, o motorista pode calcular a surpresa das vestais sem mácula que frequentam as redes sociais e que reforçam a cruzada contra a invasão do algoritmo pela "agenda de esquerda".

A canalha comunista quer fazer do digital uma Quinta da Boa Vista. Até na tabela de preços: 1.500,00 para "influenciadores" lobotomizarem os cérebros dos brasileiros conectados.

Por tabela, resolve-se também outro incômodo. Evita-se imprimir qualquer coisa que atente contra a campanha da "reforma da Previdência", do  "ajuste fiscal" e da "atualização das relações de trabalho".

Resta que o que sabemos só pode admitir que o Contrato Social já não cabe mais no PIB. E mil e quinhentos reais, de resto, emulam alguma coisa de salário mínimo, entulho trabalhista com aparência de anacronismo varguista...
   

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Poder moderador ou inadequação de generais no dia do soldado?

As FFAA resolveram, institucionalmente, retomar o controverso papel histórico de poder moderador ou as manifestações do comandante do Exército e do Ministro da Defesa, hoje, são apenas opiniões inadequadas? 

Qualquer resposta comprova a fraqueza do presidente que temos. 

Parece que a hierarquia e a disciplina, pressupostos militares consagrados e que submetem constitucionalmente generais perante o Presidente da República, chefe maior das FFAA, não fazem parte do roteiro de cerimônia militar na qual Temer esteja presente. 

O comandante do Exército fez do discurso do dia do soldado um manifesto de crítica política. E confuso - o que ainda é mais constrangedor. Não explica o general como podem os demais atores sociais cumprirem a parte que lhes cabe, desonerando as FFAA, sem uma visão do problema do IDH carioca que não passe pela diversidade de enfoque e propostas que são, por definição, ideológicas, uma vez que traduzem ideias de mundo distintas. 

E quanto à lembrança de uma métrica para aferir quem merece mais a honra nacional entre os que são abatidos pela violência que levou justo Temer à "jogada de mestre"? Será que tal disputa de fundo de poço também não desune, fragmenta e isola? 


A propósito, quem discursa por último é o presidente.

SRN

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Miscelânea política?

O cenário aparentemente confuso, expresso nas primeiras pesquisas, não demonstra falta de educação política. A população já definiu um quadro bastante nítido: a antipolítica não exclui uma espécie de um novo "pai dos pobres". 


A parte que Lula encarna está longe de representar Vargas, cuja ação definiu, com instituições, o Brasil contemporâneo, em função do qual, até hoje, todos temos de nos posicionar. Entretanto, assim como Vargas, desqualificá-lo como "populista" (há historiografia relativamente recente, sobretudo na UFF, de crítica ao conceito pejorativo uspiano) é subestimar a população que sempre soube - e sabe - distinguir entre manipulação e interação. Lula permitiu o acesso popular às ofertas do capitalismo, ainda que subalternamente (revolução, certo, é outra coisa, bem longe do Lulismo).

Já a antipolítica, fruto do ceticismo com a experiência da democracia representativa que se seguiu à Nova República somado à escala da corrupção e à intensificação da criminalidade urbana, faz de Bolsonaro, político profissional há mais tempo do que capitão, a alternativa autoritária típica de quem quer uma solução rápida e simples para o desespero.

Lula e Bolsonaro fazem parte do mesmo "sistema" tão rejeitado. Ocorre que passam incólumes não por ignorância popular, mas por pragmatismo, retrato realista do que somos e que não esconde, de resto, aquilo que não é agradável reconhecer: em meio à antipolítica, há um segmento da população que deseja um Estado que discrimine, torture e mate, como na ditadura militar.

SRN

terça-feira, 14 de agosto de 2018

"Um país com mais armas e violência" do que imaginava Adoniran



Conforme os gráficos do Ministério da Saúde, divulgados na reportagem de hoje de O Globo, Um país com mais armas e violência, a leitura relevante permite estabelecer relações diretas entre regulação e homicídios.

Antes do Estatuto do Desarmamento (2003), em apenas um ano (1999-2000), um salto abrupto, a inclinação do gráfico quase se transforma numa ortogonal, indicando a progressão exponencial, absurda, de homicídios. 

Após uma queda igualmente vertiginosa, verificada no outro gráfico, o de novas armas, após o Estatuto, já a partir de 2004, começa uma lenta ascensão, com um leve recuo entre 2005-2006, para um comércio intenso alcançando, entre 2014-2015, praticamente um paroxismo. 

Comparadas as respectivas e correspondentes temporalidades, os gráficos levam à conclusão evidente de que há uma relação direta entre o aumento dos quantitativos de armas e de homicídios, de que são exemplos os dados do ano anterior (1999-2000) e posterior ao Estatuto (2003), quando o número de homicídios se estabelece num patamar muito alto, tributário ao elevado estoque de armas para pessoas físicas. Entretanto, o Estatuto, se não impede o comércio intenso de armas, ao menos impõe severas restrições ao seu uso, conforme indica a estabilização, embora alta, dos homicídios, restrições especialmente significativas neste momento de vigência de uma pauta reacionária, de fariseus da antipolítica, estimulada pelo investimento na desilusão do senso comum com o processo democrático combinada ao acirramento da criminalidade urbana 

Na mesma página, uma outra reportagem com as propostas dos presidenciáveis para o tema. De resto, demagogos não causariam problema maior, se limitados àqueles cujo traço nas pesquisas revela a resposta irônica ao plágio com as siglas alheias. Irresponsável e leviano, entretanto, o candidato com alguma viabilidade que, diante de tal quadro, prega o faroeste caboclo. 

Seria razoável imaginar que o eleitor da classe média carioca, devidamente armado, teria a sua casa como um novo alvo: certamente aumentará o número de roubos, com violência e morte, para, junto com o produto roubado, exigirem também a arma de proteção da família.

SRN

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Bolsonaro não ilude como bufão

Há semanas, em O Globo, Veríssimo escreveu que Bolsonaro é o candidato que não engana e quem vota nele quer mesmo um Estado que exclua, torture e mate, como na ditadura militar. 

O Roda Viva, pois, era mais um "like". 

Bolsonaro certamente combinou com a própria assessoria os "memes" que iria fabricar no centro da roda e que repercutiriam no reforço do personagem autoritário bem ao gosto dos seus adeptos. 

Está na hora de acabar com a ilusão de bufonaria. E é o papel da Imprensa. 

Bolsonaro e seus eleitores são impermeáveis a quaisquer argumentos. Expô-los à razão nunca funcionou em circunstâncias históricas semelhantes, dominadas pela truculência e sentimentos baratos e fascistas têm sucesso justo porque investem na vingança - facilitário sempre conveniente à corrupção, violência e antipolítica em que vivemos. Bolsonaro não pode usar, como quer,  as liberdades públicas para, primeiro, ameaçá-las, como faz agora em campanha, para, adiante, matá-las, caso eleito. 

Vida que segue, como dizia o grande carioca por afeto, João Saldanha...

SRN