segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

A volta da democracia representativa



A esquerda não deveria enfrentar a direita no campo do ressentimento. O argumento que exige reflexão não pode nada - ou pode pouco - contra ataques que capturam a dor e a frustração imediatas, cotidianas. Quando tenta, fica marcada por populista.

Bolsonaro foi uma invenção muito bem urdida, estratégica como um plano militar. Ao poste trumpista em versão cabocla bastava atuar na campanha como um perfil de facebook. O "kit gay", inventado pela pastora-ministra da goiabeira, dominava as "postagens", alternando, aqui e ali, com alusões ao "posto ipiranga" do liberalismo mais descarado. Mas, mesmo tamanha futilidade leviana nem sequer era necessária: as eleições não passaram de um plebiscito acerca da volta do Lulopetismo.

Eis o grande erro. O sentimento antipetista, muito bem construído, com a lava-jato generalizando para toda a esquerda a corrupção governista, exigia que o protagonismo do campo popular e progressista fosse deslocado, entregue, por exemplo, ao Ciro Gomes, um mero centro-esquerda. 

O PT, porém, só sabe fazer política em condição de hegemonia. E o poste trumpista ganhou fácil. 

Agora cabe reconhecer que a nossa democracia representativa não padece apenas de problemas novos, em comum, de resto, com o que se verifica no mundo pela mobilização política das redes sociais. Temos instituições liberais bastante tensionadas, capazes de nos levar à suspeição, até o ponto de não demonstrar muitos escrúpulos - e suicidarem-se, uma vez demonstrada a incompatibilidade entre o Estado do Bem -Estar e o PIB. A desmoralização de Moro não tem maior inportância a não ser para as apostas sobre até onde irá o Luis Bonaparte da Barra.

Nova realidade, o discurso também deveria ser outro. E, aí, cada vez mais notória a apreensão que Lula livre causa entre certos setores da sociedade. 

Lula livre hoje é o melhor teste para a democracia representativa reafirmar o caráter liberal de suas instituições.

SRN

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