Clássicos da Política, de Francisco Weffort, faz parte da bibliografia introdutória em história e ciências sociais. Clássico é clássico justo porque continua válido. E Hobbes, inglês do século XVII, integra o volume um com referências a Leviatã. Primeiro contratualista, enxergava o estado de natureza como guerra civil, reconhecia a necessidade do Estado, absorvendo prerrogativas, regulando a comunidade, reservando-se a violência. Bolsonaro, na Aman, pode não ter lido Hobbes, ou se leu, devia achá-lo literatura barata. Segundo o ex-capitão e deputado, todos temos direito de acesso livre às armas. Não é só o bandido no ônibus, mas também os passageiros, prontos para reação necessária. Mas, o que importa agora é repudiar a violência como recurso político, sem, entretanto, abrir mão de contextualizá-la e falsificar a realidade. A facada em Bolsonaro pode ter sido apenas uma ação isolada. O fato, porém, não é, faz parte de uma construção, um discurso social com Bolsonaro em posição de protagonista. O desequilibrado que o atacou está imerso no ambiente de ideias políticas que pregam o fuzilamento de Fernando Henrique, a suspeição quanto à veracidade dos tiros na caravana de Lula, a limpeza à bala dos esquerdopatas do Acre para a Venezuela.
Bolsonaro não é Gandhi. Ou a camisa preta com desenho de um fuzil de um dos seus seguidores em vigília e oração na porta do Albert Einstein lembra a bata do líder pacifista assassinado?
SRN