domingo, 30 de setembro de 2012

Pastel seco, mal feito, da foto clássica de Jânio

Fiz este pastel seco, mal feito, baseado na foto clássica de Jânio Quadros trocando as pernas, de autoria do fotógrafo Emo Shneider, em 21/abril/1961. Jânio já pendurando as chuteiras na renúncia da presidência. Anacronismo pede anacronismo.

SRN


sábado, 29 de setembro de 2012

Preciso Dormir... Preciso Dormir...


Por Tadeu dos Santos, graduado em Ciências Sociais e Direito pela UERJ



E o sono seguia intranquilo e entremeado por pesadelos que provocavam a abertura dos olhos que terminava por lançá-lo na penumbra do quarto, que por sua vez lhe descortinava a realidade da qual fugira ao tentar dormir.

Suas têmporas latejavam e o suor já lhe tomava todo o corpo.

Num dos sonhos estava na ponta de uma longa mesa de reunião. Homens fardados faziam guarda junto à porta. Os mais graduados encontravam-se sentados em ambos os lados da mesa.

  • Podemos então fazer assim?

De imediato percebeu que era o destinatário da pergunta. Estava pronto pra devolver a pergunta quando sua visão periférica mirou o botão dourado de suas vestes. Viu então que era mais um dentre os demais. Era um militar e interiormente riu-se da crueldade do pesadelo. Vasculharam suas entranhas à busca do que temia, do que odiava, do que repudiava.

  • Lanças então o autógrafo número 1. Por uma questão hierárquica deves sim ser o primeiro.

  • Dê-me cá o documento...

“ Nós, militares acusados de atos de tortura praticados durante a Vigência da Revolução Democrática de 1964, pleiteamos através da presente que cesse de uma vez por toda esse burburinho promovido pelas mídias ligadas aos movimentos de Direitos Humanos que pretendem revolver questões sepultadas pela passagem do tempo. Ademais, como todos sabem, os fins justificam os meios. Assim sendo, há que se levar em conta o quanto era deletério para os interesses da pátria, da família e da propriedade a eventual instauração de uma república sindical nessas pragas, digo, plagas.

ET: Após a invenção da máxima consistente em que “os fins justificam os meios” tenho cá minhas dúvidas acerca de toda essa fama desfrutada pela roda como grande demonstração do gênio humano. Do gênio humano. Gênio humano. Humano. Mano...

Abriu os olhos e se deteve um pouco no contorno dos objetos à volta. Logo as pálpebras voltaram a pesar e o sono foi retomado.

E ao longo da pradaria os bambis desfrutavam da grama verde que ainda guardava os resquícios do orvalho que caíra por toda a madrugada. Em alguns momentos formavam pequenos grupos e trotavam sem rumo para a seguir voltar ao grupo onde estavam os líderes. O trote apressado levantava uma nuvem de pó que curiosamente assumia tons cor-de-rosa.

As árvores situadas a uma conveniente distância escondia os vultos dos três felinos que à falta de esposas que assumissem essa árdua rotina consistente em por a correr os Bambis, para mais adiante escolher uns dois ou três que lhes saciariam a fome do dia, fariam eles mesmo o serviço. Tudo culpa desse desequilíbrio demográfico, que anda a fazer nascer machos em demasia. Com o aumento da oferta, nosso prestígio desabou em idêntica medida e cá estamos a desempenhar função indigna da majestade que Disney tão bem retratou.

O pensamento ia a essa conta, quando Biguá, Bria e Jaime, nomes pelos quais atendiam os felinos de que vimos a tratar, dispararam pela pradaria. Não tardou e dois Bambis cumpriram o papel que desde tempos imemoriais lhes cabiam por direito (ou não).

E Bria dizia a Biguá:

  • Quem nasce presa não chega nunca a predador. Quem presa nunca pedra. Quem nasce pedra e presa. Quem...
    Os olhos bruscamente reabriram-se e foram ter à realidade do quarto que impassivelmente ria-se dos sonhos que adivinhava.


E os olhos foram pesando e pesando e pesando...

  • Crês?

  • Não sei.

  • Mas por que rezas?

  • Não sei. Temo a escuridão do quarto. Se morro, rezo antes.

  • Mas crês ou não?

  • Não sei, mas preciso. Cedo descobri o absurdo e sei que sozinho não dou conta. Conto com essa nesga de esperança. O espírito não escolhe. O espírito cede.

  • A finitude é injusta. Não dou conta.

  • Não dou conta e tem um quadro me olhando e no quadro tem burro sem rabo e tem o cara que assina o abaixo e cato as palavras que calaram quando ainda iam ter à língua...


Preciso dormir, mas a explosão treme o meu corpo e me atira ao rosto uma bandeira queimada.

Forço o fechar dos olhos e uma imagem vem crescendo bem diante de mim. E a toga é preta e a mordaça é branca.

  • Quer? Diz o carcereiro. Depois engole a chave e diz: vem pegar. Vem pegar. Vem...

Preciso dormir... Preciso dormir...


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Liminhas Pra Geraldo


Por Tadeu dos santos, graduado em Ciências Sociais e Direito pela UERJ



Em meio ao panteão rubro-negro Geraldo é a entidade que se faz depositária dos meus préstimos. Era o representante mor do futebol-galhofa, do toque entremeado pelo sorriso no canto da boca. Mas como já disse o Máximo, o mineiro assoviador era eventualmente vaiado pelo pessoal das tribunas eis que tinha a entranhada mania de vez por outra alhear-se do jogo. Ia ter a outros sítios, mirava paisagens outras, quiçá ouvia estrelas.

Ainda que mantenha íntegra a admiração que sentia e sentirei sempre pelo camisa 8 da Gávea, reconheço que seu estilo não define a mística que anima a nação rubro-negra.

Ganhar e perder, sabemos todos, faz parte do jogo. Mas aqueles que compreendem os sentidos últimos insertos no fato de que não usamos camisas de futebol, mas sim, um manto que celebra o amor que, em derradeira análise, faz com que as as palavras sejam insuficientes para a devida e completa definição do sentimento (Lacan).

E assim é que na vitória ou na derrota somos altivos. Somos raçudos.

E é longa a tradição. Ela passa por Almir, vai ter a Rondinelli e se faz a mais completa tradução em Liminha. Ontem fomos todos Liminhas. E fez-se a comunhão e o grito que ecoava pela arquibancada exercia seu poder multiplicador e uma miríade de Liminhas se espalhava por todo o campo.

Atendemos ao chamado e vez mais mostramos porque somos a maior e a mais bonita torcida do mundo.

Sinto uma ligeira pressão sob os meus pés e a uma certa distância vejo aproximar-se uma pequena manada. São bambis. O passo miúdo e o tímido trotar levanta uma poeira cor-de-rosa que paira sobre suas cabeças e acompanha o diminuto rebanho. Trazem no cenho a preocupação e já ao longe vislumbro ligeiros tremores no queixo. Sentem medo.

Que venha a bambizada.

JEsportivo?


Por Máximo
Quem lê quase ri e, de imediato, recorda o que há pior no jornalismo, que é justo o esportivo. Nada se esgota tanto numa frase quanto uma sentença jornalística. Você a lê, relê, lê mais uma vez; escolhe espremê-la, mas a fatuidade permanece, incólume: o "Corínthias é uma torcida com um time". O que há de verdade nisso senão a mera e gratuita afirmação sem nenhum tipo de investigação correta? E não se trata de implicância com paulista, pois Rubro-Negros sempre nos demos bem com a Fiel. Apenas uma questão de registro para lembrar o que importa.

SRN


Paredões da Nação


Por Máximo

Posso falar particularmente do Gigante, apelido que Zé Carlos, meu vizinho de rua Gonzaga Bastos, tinha aqui em Vila Isabel, no nosso time de futebol de salão do Maxwell. 
Gigante, Zé Ricardo, Flávio, Antônio e Joãozinho. Exceto os demais, ilustres desconhecidos, Gigante virou Zé Carlos, Campeão Brasileiro de 87. 
Este time de futebol salão foi campeão num torneio em Maria da Graça, em janeiro de 1975, quando tínhamos todos apenas 12 anos. 
Grande GIGANTE. 
Valeu, meu irmão.
SRN



Hoje é dia de relembrar com muito carinho, o queridíssimo ZÉ CARLOS! No Flamengo, Zé jogou entre 1984/1991 e 1996/1997. Ele conquistou 03 Estaduais, 01 Copa do Brasil e 01 Campeonato Brasileiro.

Infelizmente, Zé Carlos nos deixou no dia 24 de julho de 2009. Saudades eternas!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

História do Tempo Presente

Por Tadeu dos Santos


Perceber a história, ou seja, os seus desdobramentos no momento em que os fatos ainda estão a desenrolar-se é coisa pra poucos. Churchill, por exemplo, era um desses raros analistas que conjugavam presente/futuro. Não titubeou diante da Alemanha e já ao final da Segunda Grande Guerra cunhou a expressão Cortina de Ferro, um achado e tanto. Aliás, convenhamos que a tal cortina prossegue fechada. Quando escreveremos uma história que descreva, ao menos, os contornos dos expurgos stalinistas? Ainda que seja, como se faz amiúde com o holocausto, num esforço de preservação da memória. 

Espero estar redondamente enganado, mas creio que estamos num daqueles momentos em que fatos presentes delineiam a cara que este país terá por um bom tempo. 

O que os Ministros Lewandovsky e Toffoli fazem diariamente diante do país inteiro é algo aterrorizante. Lançar uma beca ao corpo e defender a corrupção diante de toda a nação não é algo que passe sem deixar marcas que de tão profundas podem comprometer qualquer projeto que pretenda nos alçar à condição de país próspero e mais do que isso, sério.

Governar sem oposição à custa do erário público e reduzir magistrado da mais alta côrte do país à condição de meros áulicos a serviço do poder é retirar os derradeiros antolhos que nos impedia de ver o quanto é grande o aparato autoritário de nosso estado. 

Ao que tudo indica o Supremo manter-se-á fiel à sua tradição de não condenar políticos. Desta vez, contudo, não haverá retorno e o  vale-tudo terá livre a pista para seguir adiante. 

Sou Noviço e do Cachambi

Por Tadeu dos Santos




Aplica-se à conduta de Lula e demais próceres do PT a mesma sistemática tratada em "O Noviço do Cachambi". Torturador é torturador independentemente dos ideais que esteja a defender. Seja o alinhamento a esta ou aquela zona de influência em meio à Guerra Fria, seja a nobre defesa do proletariado. Ideais não são anestésicos e as unhas arrancadas doem de maneira idêntica. Dores excruciantes, lamentavelmente, não fazem qualquer distinção no que atine à filiação ideológica. 

De igual maneira, corrupto é corrupto. Maluf não é menos corrupto do que os quadrilheiros ora julgados pelo STF porque destinava o quantum amealhado às suas contas na Suíça. São todos corruptos. Apropriaram-se indevidamente de dinheiro público. Sim, aquele tal dinheiro oriundo dos impostos que pagamos ao longo de 5 meses durante o ano.

Ao que tudo indica, tudo é aceitável quando temos por norte a preservação de legado. 

Então vamos lá: cotas e bolsas não surgiram ao tempo de Lula. 

Estabilidade econômica é pressuposto básico à distribuição de renda. Uma (bolsa) não existe sem a outra (estabilidade econômica). 

Afastemos, pois, o véu ideológico e tratemos de reescrever o tanto que, de fato, resta do legado Lulista.

Você viu o documentário "SIMONAL - NINGUÉM SABE O DURO QUE EU DEI" ?


Por Tadeu dos Santos, graduado em Ciências Sociais e Direito pela UERJ.



Você viu o documentário "SIMONAL - NINGUÉM SABE O DURO QUE EU DEI" ? 

Não vou demorar-me sobre as questões políticas levantadas no documentário, mas tenho como certo que muito do que se fez contra Simonal (o maior cantor brasileiro de todos os tempos) girava em torno de sua origem racial. Perdoa-se tudo num negro, menos o sucesso. 

Joaquim Barbosa vinha sendo endeusado nas mídias sociais. É negro, culto e corajoso. Estava prestes a entrar pra história não pelo fato de ser o primeiro ministro do STF negro (os demais eram mulatos), mas porque estava a um passo de tornar-se o grande responsável pela mudança.  A cara de nossa corte constitucional. Ia condenar políticos que, independentemente de legado, praticaram todos os crimes de que são acusados. Disso eu sei e você também, tenho certeza. 

Lewandosvsky e Toffoli cumprem a vergonhosa missão consistente em misturar atribuições ínsitas a Magistratura (julgar) com a defesa dos membros do PT. 

Abriremos uma ferida que nunca irá se cicatrizar, eis que abriremos irremediavelmente as portas da nação a mais descarada corrupção.

Ao fim e ao cabo, não iremos a lugar algum, pra variar.  Mas tudo bem, sempre há uma bandeira americana pronta a ser queimada numa dessas praças da vida.  



Lula Deveria Saber que Barbosa Encarna Melhor o Seu Legado

Por Máximo

Não faz muito tempo Joaquim Barbosa teve de enfrentar o Gilmar Mendes em público e ao vivo, numa das sessões, transmitidas pela TV Justiça, direto do plenário do Supremo. Impecável, sem se curvar ao que já nos acostumamos de Gilmar Mendes, Barbosa foi enfático, revelando um problema de fundo, difuso, que se insinua: a questão racial aparece velada, pode-se dizer que aparece mesmo, velada ainda mais velada, quando, por exemplo, o Marco Aurélio de Mello faz uma reprimenda pública da linguagem de Barbosa. Qual problema de dar às coisas os nomes que as coisas têm?  Graciliano Ramos, em sua precisão absoluta de cortar o desnecessário, escreveu que "as palavras foram feitas pra dizer, não pra brilhar feito ouro falso". 

 Não é o que  interessa discutir; interessa, sobretudo, a postura de Joaquim Barbosa, um negro, de fato, independente, coisa que a tradição branca de elite não suporta. A democracia racial, de resto, é apenas para o negro ter um lugar ou no samba ou no futebol. Pode até ter nos dois, mas negro não é pra ser engenheiro, médico, advogado. Juiz?. E o que é pior: do Supremo. Penso que o legado de Lula, a tradição verdadeira do povo brasileiro que, à guerra de posição, busca afirmar-se, adentrar o Estado, trabalhadores, pobres, excluídos, está melhor defendida nas mãos de Joaquim Barbosa do que, por exemplo, de um Levandoswky ( sei lá como se escreve).

SRN


Enxurrada Sobre Joaquim Barbosa

Por Máximo


Revoltam práticas que, custa-me crer, não poderiam vir de quem vem. Quem defende o Lula ou é do PT conhece os mecanismos ideológicos da imprensa. Sabe como se constrói o ambiente para a recepção pública de determinadas "verdades", do qual fazem parte, entre outras, a desqualificação e a desmoralização do adversário. É o que noto andam fazendo contra o sério, e solitário, Ministro Joaquim Barbosa. 


SRN


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Mal Estar da Civilização

Por Máximo


Os sebos cariocas anunciam, pela Estante Virtual, um aumento significativo na procura de "O Mal Estar da Civilização", de Freud. Viceínos, Laranjeiras e entulhados na Kombi já fizeram reservas, sob o risco agônico (agônico aqui significa luta) da mais amarga das solidões vividas costumeiramente nas profundezas de divisões inóspitas do mundo da bola. Qual o sentido quanto à construção de cultura disso tudo? Pulsões de morte, apenas?

SRN




2 X 1 frango de farofa

Por Máximo



De que adianta o resto do Rio, complexado, frustrado, torcer contra a Maior Nação do Mundo, Patrimônio Imaterial do Rio de Janeiro, de fato, não o postiço da tricolagem, viceínas e aquela grupelho que mal cabe na Kombi antiga. Jogamos um futebol da Mística. Honramos Merica, Liminha, Reyes, Mozer. 

2 X 1 


O time neste primeiro tempo parecia o de sempre, de tempos atávicos, de Liminha, de Merica, quando ainda não havíamos dado ao mundo o Maior Time do Século passado. Marcação compacta, dois, três rubro-negros em cima dos de frango de farofa de segunda. E o grande Vagner Love. Numa virada de esquerda de talento, habilidade na verdadeira encarnação da Nação de Chuteiras. 

1 x 0

Zuenir Ventura ou 1980: O Ano Que Não Terminou


Papaiz

Por Tadeu dos Santos, graduado em Ciências Sociais e Direito pela UERJ




CLT - Art. 403. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.(Redação dada pela Lei nº 10.097, de 19.12.2000)”



É de todo inegável que a discussão atinente às cotas; sejam raciais, sejam sociais, foi demasiadamente ideologizada. Os diferentes segmentos em conflito passaram então veicular defesas tendentes a resguardar seus interesses.

Nesse passo, cabe asseverar que os prós e contras são fartamente conhecidas, haja vista que a discussão já ocupou todos os espaços existentes nas mais diversas e díspares mídias.

Aduzem alguns que a dação de bolsas prejudicará sobremaneira nosso já combalido ensino superior. Tem-se assim que negros e egressos de escolas públicas não lograrão alcançar o ritmo frenético típico de nossas instituições públicas.

É bem verdade que décadas e décadas de vestibulares voltados a premiar o mérito, ou seja, aos alunos egressos de boas escolas particulares, não provocaram desenvolvimento perceptível na formação universitária de nossos alunos (vide o inexpressivo número de publicações científicas em revistas estrangeiras). A onda de bonança da economia mundial que recentemente quebrou em nossas praias teve o condão de mostrar nosso enorme despreparo, bem como a necessidade de implementação de medidas que nos permitissem, digamos assim, a inserção numa economia globalizada e competitiva.

Já os que se batem favoravelmente à existência das cotas afirmam que não há que se esperar o investimento, de resto sempre prometido, na chamada educação fundamental. Urge que a justiça seja feita e o momento é agora.

Ainda que o Direito caminhe a passos largos na defesa dos interesses difusos e coletivos, deve-se, creio, acrescentar às técnicas já existentes de interpretação (teleológica, histórica, sistemática) uma outra que, de certa maneira, permeia todas as demais. Refiro-me à análise que viabiliza a conjugação da eleição do tanto que há de humano em nós enquanto via única à consecução da ideia de justiça. Não há, de fato, sequer resquício de sobrevivência da velha noção de justiça se não nos movermos com vistas à busca da justiça que concretize o homem.

Considerando-se que é de cotas que vimos a tratar, não há que se evocar o velho chavão aristotélico que prega o “ à cada um o que é seu - a cada um o que lhe é de direito“ que, bem pesadas as coisas, é uma infalível receita à manutenção do status quo.


O conhecimento, sabemos todos, é o pão da alma. E como há fome por aí. Evoque-se, pois, o “à cada um de acordo com as suas necessidades”. Adiar a justiça possível é a mais arrematada e cruel forma de por-se em prática a injustiça.

Há no estacionamento em que caminho, um menino que deve contar algo em torno de 16 anos (idade mínima para o trabalho do menor). Veste um uniforme pesadíssimo, botas à altura da canela e jornada de trabalho que se estende das 7:30 h até o final da tarde.

Seu trabalho consiste em manter limpo o estacionamento e arrumados os carrinhos de compra. O parco salário que percebe, claro, deve ajudar nas despesas da casa. À noite, já cansado, deve frequentar uma escola noturna em que alunos e professores torcerão pelas faltas recíprocas.

No sistema educacional brasileiro o menino de uniforme verde e botas brancas assemelha-se aos objetos que deitamos ao lixo quando da mudança de uma casa maior para uma outra de proporções mais acanhadas.

Tão logo é o objeto engolido pelas engrenagens do caminhão, viramos as costas e colocamos a vida a seguir. O menino que empurra o carrinho de compras é a parte descartável do sistema pré-cotas e há milhões de outros meninos que varrem chãos de estacionamento a quem pretendemos negar o direito ao sonho.

Não é a vitória do mérito que fecha as portas do ensino superior aos meninos que são objetos do art. 403, da CLT, é o triunfo da covardia que sequer se dá ao trabalho de disfarçar-se.

O sistema de cotas dará certo? Sinceramente não sei. Aliás, nesse ponto tanto os defensores quanto os detratores do sistema concordam: só mesmo esperando pra ver.

domingo, 23 de setembro de 2012

2 x 1 goianos

Por Máximo

A Raça Rubro-Negra encarna em Vagner Love. Bastava vê-lo, o esforço na disputa de bola para ganhá-la, levantar a cabeça, olhar o Liedson: 2x1. O penalti, não importa ter perdido, também encarnando a expressão da Nação Maior triste dentro do campo. Rubro-Negros já gritávamos gol, pois era o Vagner Love na jogada. Paciência, pois era vê-lo, todos ao seu lado, dentro de campo, menos tristes do que ansiosos pelo tempo que não passava para a vitória importante. 

Valeu, meu irmão.

SRN




sexta-feira, 21 de setembro de 2012

1969: 6 Anos

Por Máximo

O Sábado, agradável. O Rio com a luz que Niemeyer filtrara quando projetara sua casa no Alto. O apartamento confortável da casa da tia, na Praia da Bica, Jardim Guanabara, na Ilha. O gosto pela palavra, pela língua, espalhada na estante de livros da doce e viva senhora professora de português que entrega pra companheira dele um envelope com desenhos muito antigos. Desenhos de criança, 6 anos, 1969, pouco meses depois do terrífico AI-5.

SRN


É O Que É: História





"Foi por aí também que passei a ter certa simpatia pela história ou, pelo menos, que passei a querer combinar história com ciência social. Porque é típico da ciência social ter suas hipóteses, suas teorias, quando se vai para o campo, e vi o perigo dos esquemas pré-fabricados. E preciso ter cuidado, sobretudo quando se parte de certos reducionismos simples como aquele, economicista, que me foi passado por um professor e que levei para Barbacena. Adquiri então um senso de cautela, de relativismo, muito grande. Percebi a importância de um diálogo mais estreito com os dados, com a evidência. A teoria tem que dialogar muito com os dados. Ela pode servir como um início de aproximação, mas há que ter muito cuidado."

José Murilo de Carvalho, historiador e professor da UFRJ

Fogo Fátuo

Por Tadeu dos Santos, graduado em Ciências Sociais e Direito pela UERJ




Seria o animal-homem dado a divisões ou será que o seu íntimo agasalha um ser individualista e voltado exclusivamente às próprias necessidades. 

Em cada mão portava uma pedra. Trazia-as bem seguras e posicionou-as de modo a fazer com que as extremidades se tocassem. Aos pés das pedras, posicionara alguns galhos secos. Já vira anteriormente as faíscas, veio o vento e não conseguiu  retê-las. Desta feita, porém, conseguiria. As pedras foram uma ter à outra, veio a faísca, esta foi aos galhos secos e deu-se o fogo. 

Einstein era judeu, alemão, casou-se mais de uma vez. Enfim, dele sabemos tudo o que é possível. O que não se dá à conta das possibilidades, lançamos no rol das conjecturas. 

Do homem que deu uma pedra a conhecer à outra e daí o fogo ao mundo, nada sabemos. 

Com o fogo à sua frente, teria o homem virado para os outros membros do grupo e dito: Venham todos, olhem o feito que consegui. Protege do frio, permite o cozimento, faz da noite dia. Acaso Tivéssemos já alguns deuses em nosso panteão e diria que o que temos aqui é um milagre pronto e acabado. Vamos nos aquecer e fazer um churrasquinho. 

A tudo isso, um outro animal-homem teria dito: 

- Isso não é justo. É teu o fogo. Quanto queres pra dividí-lo.

E o outro:

- Nada. Absolutamente nada. É nosso o fogo. Venham todos. E por falar em fogo, chama a Jupira pra perto de mim.

Com o fogo à sua frente, nosso homem-animal, tentou escondê-lo. O crepitar dos galhos, contudo, chamou a atenção dos demais que então se aproximaram.

- Que maravilha, hein? Esquenta e acho que dá pra fazer um cozido bem legal. 

- Sim, mas o fogo é meu.

E o outro:

- Fazes parte de nosso grupo e...
 
E o homem-fogo:

- Eu sim, mas o fogo não.

- Tudo bem, o que queres então:

- 50% das fêmeas, direito de pernada no que atine às caças, a cama mais confortável e cuidemos de criar o cargo de chefia. Já é hora.


Qual dos dois homem é o verdadeiro descobridor do fogo?

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Morreu Carlos Nelson Coutinho


Provavelmente o maior especialista, no Brasil, em Gramsci:

"(...) nas formações “orientais”, a predominância do Estado-coerção imporia à luta de classes uma estratégia de ataque frontal, uma “guerra de movimento” ou “de manobra”, voltada diretamente para a conquista e conservação do Estado em sentido restrito; no “Ocidente”, ao contrário, as batalhas deveriam ser travadas inicialmente no âmbito da sociedade civil, visando à conquista de posições e de espaços (“guerra de posição”), da direção político ideológica e do consenso dos setores majoritários da população, como condição para o acesso ao poder de Estado e para sua posterior conservação."

Sentimento Rubro-Negro
Máximo


Prefiro Zé Lins


Por Máximo


Nelson Rodrigues sempre me deu a impressão de ter bons amigos. A valorização excessiva do que produziu combinava a diluição popular de autores significativos com uma espécie de fatalismo messiânico com muito de conveniente. O radinho de pilha do Médici ganhava uma dramaticidade como se ser brasileiro bastasse o Maracanã, o futebol, o grito de gol, não de dor, de resto,perfeitamente compatível com a tortura do ditador da admiração do tricolor que nos elogia. 

Prefiro José Lins do Rego.

SRN

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Hoje Fritou o Rio

Maravilha.

SRN
Máximo



Vampiro: 52

Por Máximo


O Vampiro e Aldair,os dois maiores zagueiros que o Brasil já teve. Craque, de fato, o Flamengo sempre fez em casa, e o Vampiro, além da técnica, encarnava a Raça Rubro-Negra. Contra o santos, da Praia da Bica, em 84, pela Libertadores, acabou com o jogo com dois golaços que fulminaram o excelente Rodolfo Rodriguez. 
Quem viu o Mozer do lado esquerdo da tribuna de honra tem de ver hoje essa zaga. Ainda bem que no engenhão e não no Templo Sagrado Rubro-Negro, que era o Maracanã. Maracanã de Mozer, Maracanã de Raul, Leandro, Marinho, Vampiro e Junior; Andrade, Adílio e Zico; tita, Nunes e Lico.

SRN


O Noviço do Cachambi

Por Tadeu dos Santos, graduado em Ciências Sociais e Direito pela UERJ




Crer que meios  possuam o condão de justificar os fins é poder tranquilamente escolher dentre os inúmeros regimes autoritários que por aí vicejaram quais são os aceitáveis, os mais ou menos, e os inteiramente injustificáveis, ou seja, aqueles em que os ditadores são chamados de torturadores, covardes, vis etc. O cara que extrai unhas a sangue frio e lança corpos ao pau-de-arara em nome do capital não é diferente do cara que extrai unhas e lança corpos ao pau-de-arara em nome do proletariado.

Sou, pois, o noviço do Cachambi e pretendo prosseguir com a convicção de que se algum sangue há de rolar que seja o meu antes dos demais. Pode parecer romantismo babaca mas é exatamente assim que penso. 

No mais, o legado de Lula prossegue incólume. Discordo apenas na afirmação de que é de Lula o legado. Quem disse que a boca é tua? Distribuição de renda e sistema de cotas aconteceriam com ou sem Lula. Substituição de importações e princípio de industrialização viriam com ou sem Vargas (e teria sido melhor sem ele-sobretudo para o trabalhador).

Achar, por outro lado, que o mensalão é ficção e que Lula não sabia de nada é render loas a uma inocência que meu espírito (se é que isso existe) jamais abrigou. 

E  não esqueça: o legado de Lula não se resume apenas a distribuição de renda e sistema de cotas (já existente, aliás, ao tempo de FHC). Ele criou a contribuição previdenciária pra funcionário público aposentado (só cito esta pra não ficar me estendendo demasiadamente). 

Meu amigo: só imaginamos que os fins justificam os meios quando julgamos que o tiro vai ser dado na cara do outro. Nunca na nossa. 

Freira Desavisada na Rua Ceará

Por Máximo

O debate político tem já seus discursos construídos. Afirma-se entre os partidários de Lula (entre os quais me incluo) e o PT (no qual não me incluo) que foi lançada uma campanha pra "desconstruir" o legado de Lula. Inegáveis os avanços materiais e porque o carisma de Lula é, simbolicamente, imbatível, procuram atacá-lo acusando-o de corrupto e venal. Insinuam uma versão proletária atualizada de Ademar de Barros, "rouba, mas faz". De Maquiavel a Weber, passando por Lenin, por Bismarck ("política é tornar possível o que é necessário"), são muitas doutrinas e, em todas, a moral em gradações distintas de freira desavisada em puteiro. Seguinte: os fins continuam a justificar os meios ou os meios, de tão conspurcados para alcançar-se os fins, acabam por igualmente conspurcá-los?

SRN




Inexiste?


Por Tadeu dos Santos



Dentre os vários significados de utopia são encontradiços as noções de civilização ideal e ainda a de lugar inexistente. Percebam que as acepções possuem alcance e relevância substancialmente diferentes.

Ao longo do século XX fomos literalmente assolados por alguns movimentos utópicos e a imensa mortandade provocada pelo Nazismo e pelo Socialismo durante a 2ª Grande Guerra Mundial, bem como em meio à Guerra Fria que veio em sua esteira, opondo a utopia socialista aos ditames do liberalismo fez com que a utopia fosse compreendida de forma reticente e posta sob o entendimento de que no mais das vezes contraria os fins que pretende alcançar.

No entanto, o aperfeiçoamento e a busca do tanto que há de melhor em nossas humanas entranhas consiste em alguns momentos na direção do foco a anseios distantes que, à primeira vista, soam meio que inalcançáveis. Antever e buscar o invisível, o que ainda não se dá à visão é o que faz de nós humanos e é nesse quadro que a utopia se faz parceira a nos apontar o norte.

Vejam, exemplificativamente, a discussão acerca da Privatização das Prisões.

Há, claro, bons argumentos tanto dentre os defensores quanto em meios aos opositores da ideia. Os que se posicionam favoravelmente à medida afirmam que a privatização traria racionalidade ao nosso sistema penitenciário, desoneraria o Estado e indiretamente traria benefícios aos presos.

O grupo contrário a esse entendimento pontua que o preso está sob a responsabilidade do Estado que deve zelar por sua integridade física e psicológica. Ademais inadmite-se que a privação da liberdade de alguns homens possa permitir que outros  logrem auferir lucros com o seu encarceramento.

Ora, utopicamente, orientamo-nos para a busca de uma sociedade sem crimes, onde a privação da liberdade de um semelhante seja lembrança inglória de tempos bárbaros. Nessa perspectiva a privatização transforma-se em uma pedra de consideráveis dimensões a fechar o caminho por onde livremente deveriam circular nossas aspirações utópicas.

As prisões deixariam de ser o locus temporários que atestariam, em apertada síntese, nossa incapacidade de gerir adequadamente uma sociedade que a todos deveria acolher, para o vir-a-ser depósito-fábrica onde a privação da liberdade geraria mais-valia num cenário em que o crime seria seu bilhete de entrada. O mercado teria um novo produto e o crime seria erigido à condição de apenas mais um dente na engrenagem.

Em suma, a privatização das Prisões representaria, indubitavelmente, o fim da utópica ideia que pugna por uma sociedade em que inexistam crimes. 

Essas linhas iniciais tem por escopo alinhavar uma tentativa de alargamento na condenação a todo e qualquer tipo de tortura, eis que também nesse terreno perseguimos o fim das admoestações psicológicas, dos castigos físicos e no limite, do extermínio físico daqueles que não comungam da mesma visão do mundo que abrigamos.

Vejam que não há unanimidade em nosso país em relação à toda tortura praticada ao longo da Ditadura Militar iniciada com o Golpe de 1964. A mesma inferência aplica-se no que tange aos expurgos Stalinistas, aos Métodos de Interrogatórios Coercitivos de Guantánamo, ao período do Estado Novo de Vargas, bem como aos excessos praticados ao longo da Revolução Cubana.

A revista mensal Piauí, nº 72 – setembro/2012, tem artigo assinado por David Grann, intitulado “Anais da Revolução – O Comandante Ianque” que trata da história de William Alexander Morgan que lutou ao lado dos revolucionários cubanos e que após o êxito da insurgência chegou ao cargo de Comandante.

Morgan, assim como vários outros revolucionários acreditaram na palavra dada por Fidel que assegurava que após a derrubada de Fulgêncio Baptista o país voltaria à normalidade com a devida convocação de eleições livres.

Apenas em abril de 1961 com a fracassada tentativa de Invasão da Baía dos Porcos é que Fidel veio a público e anunciou que o movimento fora um ato coletivo apenas nos seus primórdios, mas que agora, já consolidado, convolara-se numa obra-solo e que sim, Cuba é socialista. Tudo isso 2 anos e meio após a queda de Fulgêncio.

A novel orientação do movimento provocou, claro, a discordância de Morgan que, nos desdobramentos que se seguiram, foi inclementemente fuzilado.

Yoani Sánchez é prova inconteste da inteira ausência de liberdade de expressão na Ilha e os entraves postos à livre circulação de pessoas e bens fazem de Cuba para muito de seus habitantes uma espécie de prisão domiciliar.

O contexto cubana foi carreado a esse texto apenas e tão somente para demonstrar que grupos de brasileiros que se filiam a uma determinada orientação político/filosófica são unânimes na condenação à tortura praticada durante a Ditadura Militar por um lado e, no entanto, guardam um silêncio aquiescente e conivente no que se refere aos excessos praticados em Cuba (incluindo, claro, a tortura).

São os fins a justificar os meios. Tolero, assim, a tortura na medida em que ela seja posta a reboque da consecução dos objetivos intentados pela ideologia a que adiro.

Tem-se, por essa abordagem, que o pau-de-arara cubano doi e avilta menos do que aquele utilizado por estas plagas. O campo de concentração nazista é menos deletério do que o similar soviético. Os choques elétricos aplicados em Guantánamo são menos apavorantes do que os que são dados por grupos extremistas islâmicos.

A aceitação das exceções (e não são poucas) ditas pelas diferentes ideologias perpetuam e generalizam a tortura.

É árdua, sem dúvida, a conquista das ditas liberdades fundamentais. É também uma tarefa ingente conviver, aceitar e respeitar as diferenças, sobretudo quando temos o poder às mãos. Mas utopias são assim mesmo: belas e dificeis.

Logo ao início do texto nos remetemos à dualidade existente na definição do que significa utopia.

Acaso prossigamos aceitando as exceções crendo na falácia de que os fins justificam os meios a utopia será, efetivamente, um lugar que não existe.

Por outro lado, se pretendemos ao menos nos aproximar do conceito de civilização ideal, a inteira condenação à tortura não há de se fazer caudatária de qualquer ideologia.