segunda-feira, 30 de maio de 2011

Impressões do Mais Querido na segunda rodada do Brasileiro

Por Pablo Faria
 
Discordo das cornetadas estrondosas que sucederam ao empate do Flamengo Maravilhoso com o Bahéa! Até o presente momento, o Flamengo fez o seu papel rumo ao hepta: uma vitória dentro de casa, contra o Avaí, e um empate fora. Portanto, vamos ter calma, não queiramos ser cavalos paraguaios e não adianta nada liderar o campeonato na segunda rodada e lutar desesperadamente para não ser rebaixado na antepenúltima rodada. O Brasileiro é longo e cheio de percalços - janela de transferência – parada para a Copa América – possíveis lesões – outros torneios acontecendo ao mesmo tempo –, por isso é melhor crescer sempre e gradualmente, mantendo vitórias dentro de casa e empatando ou ganhando fora. Todavia, estar ganhando de virada até os 40 minutos é uma coisa e depois empatar com um time ruim, apenas veloz, mas eficiente, com um homem a menos dá uma sensação de derrota, mas, repito, vamos manter a calma e partir para a vitória, em casa, contra o Corinthians, além de fazermos uma bonita festa para a despedida do Pet.



O time tende a melhorar com o retorno do Léo Moura, apesar do Galhardo ter jogado bem e com uma jogadinha manjada, mas ainda eficiente: entrar em diagonal chutando ou cruzando, a chegada do Junior César, que realmente não me recordo no Fluminense, vai aprofundar a concorrência com o Egídio, assim espero que exista uma boa solução para nossa lateral esquerda, disputada na bola. Sem dúvida precisamos de um atacante bom, daqueles que sejam referência com boa movimentação e decisão, que possa aproveitar as chances criadas pelo nosso criativo meio campo, com Ronaldinho, Tiago Neves e Bottinelli, que precisam de mais entrosamento e melhor preparo físico para esses dois últimos, ontem estavam mortos lá pelos 30 minutos do segundo tempo. Contudo, nossa zaga é um caso sério e para resumir: Welinton é péssimo! Lento, burocrático, no primeiro gol ficou olhando a bola no ar enquanto o cara do ‘Bahéa’ passa por trás, no segundo está tentando alcançar o Jobson até agora, depois da péssima jogada ensaiada tentada pelo Ronaldinho, e no terceiro não conseguiu marcar, novamente, o Jobson,o crack Jobson… Bem, essa zaga é triste, mas esse Welinton é inominável…

Sou flamenguista e acredito no hepta e existem empates no caminho de um campeão!
Para cima deles sempre, Flamengo Maravilha!

Abraços,
PLF

sábado, 28 de maio de 2011

Barcelona: Eternamente Anti-Franco

Galeano na Veia

Por Máximo

Eduardo Galeano é um monstro. Nasceu no Uruguai, é argentino, boliviano, chileno, peruano e, principalmente, carioca. Certamente Rubro-Negro.

Nossas veias que continuam sempre abertas sangram também na FIFA. Melhor ler "Os Donos da Bola". Melhor mesmo é ler o livro todo, "Futebol ao Sol e à Sombra" (L&PM), de Eduardo Galeano,  de onde copiei este texto.

Obs: quando escreveu este texto, Galeano ainda viu a ISL com vida, operando impoluta e respeitavelmente. 

SRN



Os Donos da Bola

Eduardo Galeano

A FIFA, que tem trono e corte em Zurique, o Comitê Olímpico Internacional, que reina de lausanne, e a empresa ISL Marketing, que tece seus negócios em Lucerna, manejam os campeonatos mundiais de futebol e as olímpiadas. Como se vê, as três poderosas organizações têm sua sede na Suíça, um país que ficou famoso pela pontaria de Guilherme Tell, a precisão de seus relógios e sua religiosa devoção ao sigilo bancário. Casulamente, as três têm um extraordinário sentido do pudor em tudo o que se refere ao dinheiro que passa por suas mãos e ao que fica em suas mãos.

AISL Marketing possui, pelo menos até o final do século, os direitos exclusivos da venda da publicidade nos estádios, os filmes e videocassetes, as insígnias, flâmulas e mascotes das competições internacionais. Este negócio pertence aos herdeiros de Adolph Dassler, o fundador da empresa Adidas, irmão e inimigo do fundador da concorrente Puma. Quando outorgaram o monopólio desses direitos à família Dassler, Havelange e Samaranch estavam exercendo o nobre dever da gratidão. A empresa Adidas, a maior fabricante de artigos esportivos do mundo, tinha contribuído muito generosamente para construir o poder dos dois. Em 1990, os Dassler a Adidas ao empresário francês Bernard Tapie, mas ficaram com a ISL, que a família continua controlando em sociedade com a agência publicitária japonesa Dentsu.

O poder sobre o esporte mundial não é coisa à toa. No final de 1994, falando em Nova York para um círculo de homens de negócios, Havelange confessou alguns números, o que nele não é nada frequente:

"Posso afirmar que o movimento financeiro do futebol no mundo alcança, anualmente, a soma de 225 bilhões de dólares."

E se vanbloriou, comparando essa fortuna com os 136 bilhões de dólares faturados em 1993 pela General Motors, que encabeça a lista das maiores corporações multinacionais.

Nesse mesmo discurso, Havelange advertiu que "o futebol é um produto comercial que deve ser vendido o mais sabiamente possível", e lembrou a primeira lei da sabedoria no mundo contemporâneo:

"É preciso tomar muito cuidado com a embalagem."

A venda dos direitos para a televisão é o veio que mais rende, dentro da pródiga mina das competições internacionais, e a FIFA e o Comitê Olómpico Internacional recebem a parte do leão do que a telinha paga. O dinheiro multiplicou-se espetacularmente desde que a televisão começou a transmitir os torneios mundiais ao vivo para todos os países. As Olimpíadas de Barcelona receberam da televisão, em 1993, seiscentas e trinta vezes mais dinheiro que as Olimpíadas de Roma em 1960, quando a transmissão só chegava ao âmbito nacional.

E na hora de decidir quais serão as empresas anunciantes de cada torneio, tanto Havelange e Saramanch, como a famílai Dassler, são claros: é preciso escolher quem paga mais. A máquina que transforma toda paixão em dinheiro não pode se dar ao luxo de promover os produtos mais sadios e mais aconselháveis para a vida esportiva: pura e simplesmente se põe sempre a serviço da melhor oferta, e só lhe interessa saber se o Mastercard paga melhor ou pior do que o Visa e se a Fujifilm põe ou não põe sobre a mesa mais dinheiro que a Kodak. A Coca-Cola, nutritivo elixir que não pode faltar no corpo de nenhum atleta, encabeça sempre a lista. Suas virtudes milionárias a deixam fora de qualquer discussão.

Neste futebol de fim de século, tão pendente do marketing e dos sponsors, nada tem de surpreendente que alguns dos times mais importantes da Europa sejam empresas que pertencem a outras empresas. O Juventus, de Turim, faz parte, como a Fiat, do grupo Agnelli. o mIlan integra a constelação de trezentas empresas do grupo Berlusconi. O Parma e da Parmalat. O Sampdoria, do grupo petroleiro Mantovani. O Fiorentina, do produtor de cinema Cecchi Gori. O Olynpique de marselha foi lançado ao primeiro plano do futebol europeu quando se transformou numa das empresas de Bernard Tapie, até que um escândalo provocado por um suborno arruinou o empresário de êxito. O Paris Saint-Germain pertence ao Canal Plus da Televisão. A Peugeot, sponsor do Sochaux, é também dona de seu estádio. A Philips é a dona do time holandês PSV Eindhoven. Se chamam Bayer os dois clubes da primeira divisão alemã que a empresa financia: o Bayer Leverkusen e o Bayer Uerdingen. o inventor e dono dos computadores Astrad é também proprietário do time britânico Tottenham Hotspur, cujas ações são cotadas na bolsa, e o Blackburn Royer pertence ao grupo Walker. No Japão, onde o futebol profissional tem pouco tempo de vida, as principais empresas fundaram times e contrataram astros internacionais, a partir da certeza de que o futebol é um idioma universal que pode contribuir para a projeção de seus negócios no mundo inteiro. A empresa elétrica Furukawa fundou o Jeff United de Ichihara e contratou o astro alemão Littbarski e os tchecos Frantisek e Pavel. A Touota criou o Grampus de Nagoya, que contou em suas fileiras com o artilheiro inglês Lineker. O veterano, mas sempre brilhante, Zico jogou no Kashima, que pertence ao grupo industrial e financeiro Sumitomo. As empresas Mazda, Mitsubishi, Nissan, Panasonic, Japan Airlines também têm seus próprios times de futebol.

O time pode perder dinheiro, mas este detalhe carece de importância se propicia boa imagem à constelação de negócios que integra. Por isso, a propriedade não é secreta: o futebol serve à publicidade das empresas e no mundo não existe um instrumento de maior alcance popular para as relações públicas. Quando Berlusconi comprou o Milan, que estava em bancarrota, iniciou sua nova era desenvolvendo toda a coreografia de um grande lançamento publicitário. Numa tarde de 1987, os onze jogadores do Milan desceram lentamente de um helicóptero no centro do estádio, enquanto nos alto-falantes cavalgavam as Walkirias de Wagner. Bernard Tapie, outro especialista em seu próprio protagonismo, costumava celebrar as vitórias do Olympique com grandes festas, fulgurantes fogos de artificiais e raios laser, em que trepidavam as melhores bandas de rock.

O futebol, fonte de emoções populares, gera fama e poder. Os clubes que têm certa autonomia, e que não dependem diretamente de outras empresas, são habitualmente dirigidos por opacos homens de negócios e políticos de segunda que utilizam o futebol como uma catapulta de prestígio para lançar-se ao primeiro plano da popularidade. Há, também, raros casos inversos: homens que põem sua bem merecida fama a serviço do futebol, como o cantor ingl~es Elton John, que foi presidente do Watford, o time de seus amores, ou o diretor de cinema Francisco Lombardi, que preside o Sporting Cristal do Peru.
  

sábado, 21 de maio de 2011

Camp Nou Macaé

4 x 0

Celso Amorim Lê Renato Lopes

Por Máximo

Apesar de ter nascido em Santos, Celso Amorim é carioca de formação e certamente Rubro-Negro, como acaba de revelar em seu "plágio" que o Nação orgulhosamente demonstra (risos). Seu texto publicado ontem na Carta Capital "dialoga" com o do nosso amigo Renato Lopes, publicado aqui no Nação outro dia, numa terça, 3 de maio. 

Como está em Washington, o melhor Ministro de Lula poderia aproveitar a oportunidade e tentar convencer o Obama a vestir o Manto Sagrado. Porque, embora o tenha ganhado de presente quando esteve na Gávea, a política do cara parece coisa de botafoguense / tricolor / vascaíno. 


Saudações Rubro-Negras, Celso Amorim

 

terça-feira, 3 de maio de 2011

"O homem que matou o facínora"

Por Renato Lopes

  

Crise de popularidade, sombra de fiasco, de repente matam o maior de todos os párias/vilão/produto.
 
Toda vez que os americanos matam um terrorista tonam-se a antítese do Dr.Frankstein destruindo sua própria criação.
 
Ou um Dr.Jekyl, limando seu lado Mr.Hyde.

Tem um western, se não me engano justamente com John Wayne, chamado "O homem que matou o facínora" - 90% dos westerns são, ademais, moralistas - com uma frase antológica: "entre a verdade e o mito, escolha sempre o mito", misturado a uma outra frase do calibre do velho alemão: "A história acontece duas vezes, a primeira como tragédia e a segunda sempre como farsa"

Dá quase um "Os homens escolhem viver de duas formas: como mito ou como farsa. O problema é que em ambos os casos todos mentem".

Deixo a palavra e o coração entregues ao nosso 32º titulo. Invicto. 

SRN

Quem matou o facínora?


Naquele que viria a ser o seu último grande western, John Ford conta a história de um velho senador, Rance Stoddard (encarnado por James Stewart), que, acompanhado da esposa, Hallie (Vera Miles), viaja rumo a uma cidadezinha do Oeste americano para poder prestar a última homenagem a um velho amigo, recém-falecido, Tom Doniphon (John Wayne).
O filme logo nos transpõe, em um longo flash-back, para um período já distante, em que o então jovem advogado e futuro senador Stoddard, um tipo suave e urbano, chega ao vilarejo e conhece a bela Hallie, com quem viria mais tarde a se casar, mas que na época era a paquera de Tom, um sujeito rude, mas de bom caráter.
A rivalidade pela mocinha entre o brando e intelectualizado (para os padrões locais, bem entendido) Stewart e o caubói machão, vivido por Wayne, é sempre um subtema do filme, mas o verdadeiro enredo gira em torno da prepotência de um malfeitor que domina a cidade, Liberty (!) Valance.
Em razão de peripécias várias, em que questões de representação popular e liberdade de imprensa estão, de algum modo, envolvidas, o pacato Rance Stoddard é levado a um duelo com o violento Liberty. A cidade aguarda, aterrorizada, a morte certa do bom moço. Mas, miraculosamente, é ele quem mata o bandido e liberta os habitantes de um agente do mal.
Voltando à época atual, um velho jornalista (que fora ele próprio agredido e humilhado pelo bandido) conta a um foca a verdadeira versão. Não fora o mocinho da fita, mas o grosseiro, ainda que de boa índole, Tom (Os Brutos Também Amam, como filosoficamente afirmou o título em português de outro western famoso) quem, num misto de amor e desprendimento, além é claro de um sentido de defesa do bem comum, abatera o facínora. E o fizera escondido.
Diante da revelação inesperada, o jovem repórter, com seu zelo profissional pela verdade e a pureza da idade, pergunta se o público não teria o direito de conhecer os fatos tais como ocorreram, ainda que isso viesse a empanar o brilho da carreira do bem-sucedido senador, cujos primeiros passos estiveram ligados à improvável façanha. Ao que seu experiente colega responde, com proficiência paternal: “No Velho Oeste, há uma regra: quando o fato vira lenda, publique-se a lenda”.
O clássico de John Ford é uma metáfora quase perfeita de vários dos aspectos que cercaram a morte do arquiterrorista Osama bin Laden. Talvez a principal diferença seja a de que o personagem vivido por Lee Marvin (cuja curiosa alcunha era “liberdade”) estava armado e chegou a sacar do revólver. Entre os paralelos, o que mais salta aos olhos é a convicção de que a verdadeira justiça dispensa as formalidades de um julgamento.
Os bons e os justos sabem que o são, nasceram com essas virtudes, e o seu julgamento não falha: sabem também onde está o bem e onde está o mal. Não padecem de dúvidas hamletianas sobre a complexidade da existência humana. Rance Stoddard não o fez, mas poderia perfeitamente dizer depois de ter matado o facínora Valance (segundo ele cria, naquele momento): “Justice is done”. Ou, justiça foi feita. Seguramente foi esse o pensamento de todos os habitantes da cidadezinha de uma região onde não havia lugar para a ambiguidade moral (ou para uma “moral da ambiguidade”, como diria Simone de Beauvoir).
Tampouco deixa de chamar a atenção de quem acompanhou as reações iniciais ao momentoso feito, a questão, colocada de maneira talvez mais sutil, sobre quem foi o verdadeiro autor da façanha: o urbano, suave e pacifista presidente atual ou seu antecessor, cujo estilo e ideias, digamos assim, estavam mais próximos (até em razão de sua origem) do Velho Oeste. Quem foi o responsável pelo início da caçada, quem determinou ou aprovou os procedimentos ampliados ou aprimorados (enhanced) de investigação? E quem foi que disse, em tom de quem sabe perseguir uma causa justa, “nós o arrancaremos de sua toca” (we will smoke him out).
Tudo isso parece irrelevante quando o secretário-geral da ONU sacramenta do alto de sua autoridade moral de representante da Comunidade das Nações a ideia de que a justiça foi feita. Se for assim, pode alguém ingenuamente perguntar-se: para que tantos tribunais internacionais, tantos conselhos e comissões, já que a justiça pode ser obtida de forma tão mais simples e barata?
Em suma, para que relatores especiais sobre execução sumária, quando na verdade quem determina se um ato foi uma execução sumária ou a efetivação da justiça (natural, divina?) é seu próprio autor? Não entremos na discussão sobre a legalidade das ações recentes, à luz da Carta da ONU, da integridade territorial dos Estados ou das resoluções do Conselho de Segurança.
Supor que o direito à legítima defesa, para legitimar um ato praticado dez anos depois do que deu origem à reação, é esticar a corda um pouco demais. Como também é zombar da inteligência mesmo dos mais tolos e ingênuos sustentar que uma pessoa vivendo isolada do mundo, com algumas mulheres e filhos (e aparentemente se deleitando com filmes pornográficos), sem telefone ou internet, continuava a controlar a elaboração e execução de ações terroristas de alguma envergadura.
Certamente, ninguém, salvo os familiares mais próximos e alguns fanáticos, vai chorar a morte de Bin Laden. “O mundo tornou-se um lugar melhor com seu desaparecimento”, poderá alegar-se, o que de resto é verdade em relação a muitas outras pessoas, que nem por isso são abatidas sumariamente.
O que está em jogo são procedimentos de justiça interna e internacional, aquilo que os anglo-saxões chamam de due process. Com tantas outras situações no mundo, em que o vilão pode ser posto para correr (ou morrer), há razões para temer que o dito comum no faroeste sobre ladrões de gado passe a ser uma norma não escrita do Direito Internacional: “Enforque-se o cara, depois deem a ele um julgamento justo”.
Neste caso, aliás, a julgar pelo segredo em torno das fotos e a liberação altamente seletiva das informações, nem mesmo esse tipo de justiça póstuma deve ser esperada.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Verniz conveniente da falácia do mérito: todo craque é consagrado no futebol, grande parte dos jogadores negros é craque, logo, todo craque negro se consagra. O silogismo é, como se vê, um instrumento de análise, uma hipótese dedutiva anti-racista. E estamos salvos.

Por 28



Máximo, seguinte: 

"Tem dias que eu fico pensando na vida e sinceramente não vejo saída".

Não dá pra ouvir nem posso enviar-lhe o Vinícius que escuto, porque este computador está com problemas para anexar arquivos. Também anda com problemas na placa de som e ficou mudo. Mas, o pior não é isso. É que escuto em fita cassete, num gravador da telefunken que ganhei há 25 anos, naquele troço de mau gosto que é botar lista de presente de casamento em loja de shopping. Precisa limpar, é verdade, m
as, se puder, procura aí essa música que a mãe da minha filha me deu e escuta no computador enquanto lê o que acabei de escrever.   

Achei que deveria, agora que a taxa cedeu e o raciocínio está claro e o pé desinchou, me permitindo ficar sentado aqui digitando este e-mail. Deveria, porque, na quarta, quando nos encontramos na 28, ao voltar do Maracanã do jogo contra os amarelos, não o tratei com a devida consideração de um irmão velho de rua. Além disso, sempre é bom não confundir pragmatismo com materialismo. Este é atuar pra mudar a realidade, tal como ela é (não do jeito que quer um anacronismo como o que irei me referir adiante) ; aquele simplesmente significa se dar bem dentro das regras do jogo, sem fazer nada para alterá-las. É o tal negócio: justamente a diferença entre ser Rubro-Negro e o resto, fauna, amarelos, de segunda, um e noventa e nove.

Lembra-se? Mandei este e-mail mais ou menos em julho do ano passado. Acrescentei agora um pedaço do Fontana, marxista ranzinza, tão ranzinza como eu que não sou marxista.
 
A questão do racismo presta-se ao que há de pior, com argumentos que vão da esquerda à direita, num daqueles sofismas que o João Saldanha, mestre da síntese, usava contra o excesso de mágica que particularmente o irritava no futebol:

"Se macumba ganhasse jogo, campeonato baiano terminava empatado."

O argumento de direita só não se desmoraliza por causa do cinismo, bem lustrada com o verniz sempre conveniente da falácia do mérito. Todo craque é consagrado no futebol, grande parte dos jogadores negros é craque, logo, todo craque negro se consagra. O silogismo é, como se vê, um instrumento de análise, uma hipótese dedutiva anti-racista. E estamos salvos.

Há também outras possibilidade de "salvação".

Uma esquerda errada, equivocada de século, rejeitando a questão étnica, considerada um entrave à luta maior, a grande luta, a luta de classes.
A conexão com aspecto interessante levantada por Fontana sobre o eurocentrismo de Marx (Marx, de resto, não poderia ser senão filho do seu tempo, apesar das tentativas de canonizá-lo) e da afinidade com a escola escocesa segundo à qual haveria uma linha evolutiva histórica que culminaria "no capitalismo, na industrialização, na ciência moderna." Marx chegou a escrever, a propósito da dominação inglesa na Índia, da necessidade da brutalidade do capitalismo para fazer acordar os "povos sem história"
 
Conhecemos, porém, o "fim dos centros', e a condição pós-moderna não pode servir apenas aos "fashion week".

O argumento, igualmente falacioso, sustenta que uma classe média negra representaria cooptação e retiraria da luta contingente expressivo indispensável ao combate ao sistema.

Uma vez pequeno-burgueses, seríamos negros reproduzindo a crença na ascenção social, alienados pelo mundo da mercadoria e instados ao engodo do individualismo empreendedor que já não nos pode mais "salvar". Esquece-se  da força da fantasmagoria e contrapõe um combate ingênuo, historicamente superado.

Moído como mercadoria, não ilude agora a propaganda de um negro de shopping.
Certamente não se acredita que basta subir no ônibus para se ter garantido o lugar na janelinha. Como disse o próprio Romário. De fato, Pelé, Romário, alguns mais, "salvaram-se", entrando pela janela de um sistema que necessita lazer e admite, por isso, concessões. Durante muitos anos, Grande Otelo também divertiu no cinema e na televisão.
À cooptação   reputa-se uma sofisticação que subestima a inteligência. O fetiche embalado em propaganda anda usado contra o próprio feiticeiro. Aproveita-se a chorumela da pós-modernidade que se apresenta em contradições que não precisam ser resolvidas. Permanecem empilhadas como fragmentos ecumênicos. Na síntese dialética existe um sentido unívoco, teleológico, a que tudo vincula, exatamente o que o pós-modernismo, pulverizado, não é.

Aí, meu irmão, a fraqueza desse troço: a pós-modernidade pulveriza as formas de exploração, cancelando o cartum clássico (você que é desenhista sabe disso melhor do que eu) do operário de macacão e ferramenta, de um lado, e do outro, o burguês gordo, de terno e gravata, a maleta na mão estufada de dinheiro.

 
A vida, porém, segue como mercadoria, pós-moderna ou não, circulante, comprada, vendida. 
A ironia do vale-tudo pós moderno é porque, em última análise, permanece conservadora. E  aqui a sua utilidade. Dialeticamente:
 
Na fragmentação pulverizadora, cabe encaixar o específico como uma forma de luta sem cancelar a luta de classes, de que o pós-moderno, conservador, se esquece cinicamente sob o argumento do mérito.
 
O esforço de nos esclarecer expondo a luta maior, a luta de classes, da qual as demais são consequências, é o erro do argumento. Enquanto a revolução não vem, os vasos sanitários, as caixas de supermercado, a banqueta de trocador de ônibus, o caminhão pra descarregar tijolo e areia são educativos e formam a têmpera em antinomia ao que o branco perdeu, envilecido pela proximidade do patrão. 

O ar condicionado em que vive metido o dentista, ironicamente também vestido de branco, impede o suor que o Maguila e o Tysson, lá embaixo, no hall dos elevadores, na entrada do shopping, vertem vestidos de preto não só pra garantir a segurança, mas também para o próprio trabalho revolucionário.

SRN

segunda-feira, 16 de maio de 2011

"França Profunda?" Com todo respeito: não fode!

Por 28

Não me leve a mal não, Máximo, mas não havia como começar de modo diferente este e-mail. Sei que você é um bom sujeito, bom desenhista, mas péssimo estudante de história. Ou então pegou o vício de intelectual de, para não se comprometer, garantindo a "inteligência",abre tantas "perspectivas e abordagens" que não diz porra nenhuma. Repare como é fácil enfeitar o pavão:

Li a postagem sobre Jacques Revel. Foi fraca, não respondeu com a força necessária ao tamanho da estupidez daquele zé rolea ex-zagueiro.Revel propõe uma reflexão de estímulo à multiplicação epistêmica. Dá pra juntar com Nora - a multiplicação dos lugares de identidade, de memória. Não se trata de negar o patrimônio cultural acumulado nem reinventar a roda, mas, conforme interessa ao próprio Revel, apostar na diferença, ver a descontinuidade, cancelar a abordagem sistêmica, investir no não-sistema ("práticas livres"). Tá tranquilo, mas e aí? Quais as referências na investigação dessas práticas? 

Viu aí, meu irmão. Inútil, a menos que tentemos uma epistemologia a partir do lugar de carioca, de Vila Isabel, de preferência. Chega de bater palma pra maluco dançar com sotaque. 

Como a minha taxa tá baixa (100), dá pra arriscar uma goiabada em lata que comprei hoje no Boulevard. É melhor pegar a muleta e ir à geladeira a gastar vela com defunto afetado. Faz o seguinte: vai lá no sítio da Carta Capital e publica no Nação o texto do Gianni Carta sobre a palhaçada da "França profunda". Vou te dizer, meu irmão, tá parecendo papo da antiga Praça Onze.


SRN
28



 A Igualdade é Branca

www.cartacapital.com.br

Os franceses lembram-se com orgulho da gloriosa seleção que derrotou o Brasil na final da Copa do Mundo de 1998. Era um time multirracial, um reflexo, ao menos em tese, da composição étnica de uma França que teria acolhido de braços abertos cidadãos de ex-colônias e de departamentos fora da metrópole. Após aquela inesquecível vitória, os heróis da seleção desfilaram nos Champs Élysées, artéria principal de Paris. Tremulavam bandeiras tricolores, as “Bleus, Blancs, Rouge”, enquanto o povo homenageava Les Bleus, então aclamados os “Blancs, Blacks, Beurs”, estes últimos a identificar aqueles oriundos do Norte da África.

Lilian Thuram, pilar da defesa da seleção de 98, mais de 140 partidas com a camisa dos Les Bleus, é de Guadalupe. Patrick Vieira nasceu no Senegal, Marcel Desailly em Gana, e o capitão Zinedine Zidane, de Marselha, é filho de refugiados argelinos. Mas, se aquela mescla de bleus incluía futebolistas habilidosos e alguns geniais, e com excelente jogo de equipe, ela encarnava na verdade a ilusão de um suposto multiculturalismo francês. Neste país onde a neofascista Marine Le Pen chegaria, segundo as atuais pesquisas, no segundo turno das eleições presidenciais no início de 2012, o futebol parece estar em sintonia com os humores de significante fatia dos eleitores com inclinações racistas.

A proposta de limitar a 30% o número total de jovens árabes e africanos nas academias de futebol sob a égide da Federação Francesa de Futebol (FFF) criou grande polêmica. Parte da discussão envolve jovens de 12 e 13 anos com dupla nacionalidade, que, embora treinados na França, acabam representando os países onde nasceram ou dos quais vieram seus pais. Da reunião, realizada em novembro de 2010 no Conselho Técnico Nacional da FFF, que dirige sete centros de treinamento para jovens, participou Laurent Blanc, técnico da seleção nacional, e campeão do mundo em 1998. A história veio à tona em 28 de abril, quando o website investigativo Mediapart acusou- os patrões da FFF e Blanc de quererem “branquear os bleus”.

Chantal Jouanno, ministra dos Esportes, disse, após ler um inquérito sobre o tema, que não houve infração da lei contra discriminações. Mas definiu: “O assunto foi levantado de forma inadequada, inábil, com insinuações no limite da deriva racista”. A ministra acrescentou que, de qualquer forma, a proposta das cotas foi desconsiderada por ferir a lei de 2001 contra as discriminações e por estar “em contradição com os valores do esporte”.

Jouanno fez questão de poupar o treinador. Segundo ela, havia sido a primeira vez que Blanc participara de uma reunião do conselho da FFF. “Ademais”, afirmou a ministra, “ele não era o piloto nem o instigador da discussão.”- François Blaquart, diretor-técnico nacional da FFF, teve pior sorte: foi suspenso de sua função.

Blanc parece ser um técnico com algum talento, mas sem nenhuma habilidade para lidar com a mídia. Num primeiro momento, o treinador desmentiu as informações do Mediapart. Depois alegou que seus “comentários foram publicados fora de contexto”. Mas a Mediapart conseguiu a transcrição da conversa, em novembro, na sede da FFF, e a publicou ipsis litteris. Não se sabe ao certo como o veículo obteve a transcrição, mas a suspeita recai sobre Mohamed Belkacemi, conselheiro de equipes de bairros da FFF. Outro suspeito de vazar as conversas é o zagueiro Thuram.

Belkacemi diz ter entregado a única gravação para o diretor-adjunto da FFF no dia seguinte à reunião. Mas o diretor, estranhamente, não tomou nenhuma ação. Isso, claro, não invalida a hipótese de que Belkacemi tenha fornecido uma transcrição à Mediapart. De qualquer forma, o dirigente, que busca talentos em bairros dos subúrbios sensíveis e acredita no futebol como meio para integrar jovens desfavorecidos na sociedade, justificou para o diário esportivo L’Équipe o motivo pelo qual gravou a reunião, em novembro: “Sou simplesmente alguém que julga anormal que se possa dizer a um jovem de 12 anos: ‘Você não fará carreira no futebol por conta do teu nome’”.

Embora inocentado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, e pela ministra Jouanno, Blanc se comprometeu bastante na reunião. Disse, entre outras coisas, ser “favorável” a uma mudança no critério de seleção de jovens talentos, em prol daqueles que compartilham “a cultura e a história da França”. Ainda segundo o Mediapart, Blanc sugeriu que o estereótipo do jogador, descrito por ele como “grande, forte e poderoso”, precisava ser mudado. “Quem é grande, forte e poderoso? Os negros. Isso é um fato. Deus sabe que há um monte deles nos centros de treinamento e nas academias de futebol.” Para piorar o quadro, segundo a Mediapart, fontes presentes na reunião disseram que Blanc contou o seguinte: “Os espanhóis dizem ‘nós não temos problemas porque não temos negros (na seleção)’”.

Consta que o fiasco da França na Copa do Mundo de 2010 contribuiu para o surgimento da proposta de limitar o número de negros e árabes na equipe tricolor. Para recapitular, Nicolas Anelka,- a estrela do time em 2010, insultou o então técnico Raymond Domenech. A FFF mandou Anelka para casa. Patrice Evra, o capitão, organizou uma greve. Anelka, vale lembrar, converteu-se ao islamismo. Frank Ribery, solidário a Anelka, é branco, mas também devoto da religião islâmica. E uma reunião da FFF parece ter levado em conta a religião e etnia dos grevistas da Copa.

À época do Mundial do ano passado, o vespertino Le Monde descreveu a seleção Bleu como um espelho da sociedade francesa contemporânea. Parece justa a comparação. Em meados da década passada, a França foi sacudi-da por violentas revoltas de jovens de origem árabe e africana nos subúrbios das grandes cidades. Sarkozy conseguiu piorar a situação na sua campanha presidencial, quando chamou os jovens rebeldes de “escória”. Em seguida, criou o Ministério da Identidade Nacional. Acabou por fechá-lo em 2010 sob fortes críticas, inclusive de conservadores. Para melhorar sua popularidade, voltou a atacar as minorias: no último verão expulsou ciganos da França, debaixo da tácita aprovação de considerável parte de seus conterrâneos. Sarkozy usa táticas lepenistas para ganhar votos da França profunda. Para a alegria de Marine Le Pen, filha do ultradireitista Jean-Marie, que só tem a ganhar em um país dividido por preconceito e ódio racial. Sarko deveria se perguntar: por que alguém escolheria a cópia se pode ter o original?

Como me disse Rob Hughes, jornalista de futebol do New York Times, política é política, independentemente do cenário: nos campos de futebol ou nos gabinetes e palácios. De fato. Zidane disse para o semanário Journal de Dimanche que o racismo existe no futebol francês, mas não tanto quanto na sociedade. E acrescentou: “O futebol francês não é racista”. Zidane defendeu Blanc: “Ninguém diz, mas sua mulher é de origem argelina”.

Gênio da bola, Zidane não foi o único jogador do time de 1998 a ficar ao lado do treinador. Neste caso, opõe-se a Thuram e Vieira. Thuram foi o primeiro a denunciar as posições racistas de Blanc: “Essa conversa de dupla nacionalidade é um álibi (para o racismo)”. Os bons jogadores ficam na França, os não tão bons vão jogar nos seus países de origem. Thuram tem razão. Mesut Özil, do Real Madrid, preferiu jogar pela Alemanha, onde nasceu, do que representar a Turquia de seus pais. Lionel Messi, que aos 13 anos obteve, em Barcelona, a nacionalidade espanhola, preferiu jogar pela Argentina. No caso, porque se sente argentino e porque os nossos vizinhos têm uma longa tradição no esporte, diferentemente da Turquia da família Özil.

Thuram é um homem de convicção. Em 2005, enfrentou Sarkozy quando este tratou os jovens dos subúrbios com desfaçatez. Fez mais: criou uma fundação para lutar contra o racismo e se opôs publicamente ao Ministério da Identidade Nacional. Escreveu artigos e um livro, premiado, contra o racismo. No campo político, existe um abismo entre Thuram e Zidane. E entre Thuram e Sarkozy. Como diz Hughes, do NYT, no fim das contas, política é sempre política. E Thuram escolheu o seu lado.

Gianni Carta


Gianni Carta é jornalista, correspondente de CartaCapital em Paris, escreve sobre coisas da vida do Hemisfério Norte.

sábado, 14 de maio de 2011

Blanc, técnico da seleção francesa: "Os espanhóis dizem: nós não temos problemas. Não temos negros."

Por Máximo

"A polêmica veio à tona após a publicação de uma reportagem feita pelo diário Mediapart. A matéria revelou a existência de um suposto plano para estabelecer sistema de cotas nos centros de treinamentos de categorias de base da França. Haveria um limite de 30% para jogadores negros ou de origem árabe.

O projeto previa mudanças nos critérios de convocação para as seleções de base da França e afetaria jogadores a partir dos 12 anos. Segundo o Mediapart, Blanc teria defendido a ideia ao comparar a situação francesa com a espanhola. “Os espanhóis dizem: ‘nós, não temos problemas. Não temos negros”, teria dito. O treinador negou as acusações."

Transcrevi os fragmentos acima da matéria "Ministério do Esporte da França livra Blanc de acusação de racismo", publicada em 10/05/2011 no sítio do uol, www.esporte.uol.com.br.

Talvez seja útil saber o que pensa um outro francês, que nunca jogou bola, mas, que certamente é muito melhor do que ex-zagueiro francês: o historiador Jacques Revel em fragmento de entrevista concedida ao falecido historiador Manuel Guimarães Salgado.

SRN



Jacques Revel

Bem, os historiadores têm, em todos os países, um papel na construção e legitimação da Nação. É um fato para países mais antigos como a França e para países mais recentes como o Brasil. No começo os historiadores estavam encarregados de dar forma a uma memória, que poderia ser ritual, oral, dando-lhe certificado de ciência. Poderíamos dizer que, pelo menos a partir do século XIX, os historiadores transformaram a memória em história, como fizeram Ranke para o caso da Alemanha, Michelet, Quinet, Taine e tantos outros para o caso da França. Praticamente em todos os países do mundo tratava-se de fabricar algo que pudesse ser ao mesmo tempo útil para a coletividade e perfeitamente de acordo com os critérios de neutralidade e objetividade do trabalho científico. Este era o sonho da corporação dos historiadores de ofício. De alguma maneira isto funcionou, aliás um pouco para além do que deveria. Chega então um momento quando isto não mais funcionou, e não funcionou por diversas razões. A História, que havia sido até a década de 1930, principalmente na França, uma pedagogia da Nação, transforma-se numa pedagogia do social, o que é algo de bastante diferente. Isto significa dizer que os alunos das escolas e liceus franceses passaram a aprender menos a biografia da França e mais sobre o que seria uma classe social, uma crise ou um conflito religioso.

Uma segunda razão para a mudança estava no fato de que o que chamaríamos uma História da França não tinha mais a mesma eficácia, perdera a sua força e a sua evidência em função de novas demandas da sociedade. E o que demanda a sociedade? Uma série de coisas. Em primeiro lugar a sociedade transformou-se ela mesma, tendo se tornado multicultural. Esta não é uma palavra que aprecie especialmente, porque acho que não explica muito. Em suma o que quero dizer é que entre os anos 1900-1950, os franceses podiam falar em suas colônias na África ou na Indochina a respeito dos gauleses como ancestrais comuns. Isto se tornou impossível na França e mesmo se pensarmos no caso da periferia de Paris. Isto porque ninguém mais acredita, também porque a sociedade francesa é hoje constituída por cerca de quatro milhões de magrebinos muçulmanos, de um a um milhão e meio de turcos, africanos e portugueses. Isto não é, entretanto, uma novidade: no fim do século XIX a França conheceu um forte movimento imigratório de populações vindas da Espanha, Itália e da Polônia. Este movimento parecia incomodar muito pouco uma vez que havia um modelo distinto, de forte integração cultural. Este modelo era o da cidadania francesa inventada pela Revolução Francesa. E o que dizia este modelo? Ele propunha um esquecimento do passado destas populações em troca de uma integração como franceses de forma integral. Não havia lugar, segundo este modelo, para se pensar nos termos de “afro-american ” ou “jewish-american ”. Na França era-se polonês, israelita (não se usava o termo judeu) no espaço privado, publicamente era-se francês. Com isto operava-se uma eliminação de todas as marcas de origem em nome de um modelo universal de cidadania. Hoje isto acabou, não funciona mais e o que vemos é menos uma valorização dos particularismos e mais uma valorização de sentimentos identitários. As pessoas hoje querem ser identificadas como judeu e francês, francês e magrebino, francês e africano, etc. Mesmo para o caso da sociedade francesa tradicional assiste-se a uma reivindicação de pertencimento a diferentes formas de identidade, que não apenas aquela representada pelo centro. Estas identidades podem ser regionais, de gênero, sociais, etc. Esta multiplicação de lugares de identidade trouxe consigo uma enorme onda de memória. E isto é novo: assistimos há pelo menos 20 ou 25 anos a uma erupção de memória, que em certa medida é uma memória contra a História, uma memória identitária particularista, que num certo sentido coloca uma série de problemas. Ela existe, não é nem boa nem ruim. A questão é de sabermos que História podemos fazer com ela. O que é certo, é que os modos canônicos de fazer a História da França, modos por sinal bastante antigos, acabaram provisoriamente.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Chorumela é do lado do Pinel

Por Máximo

Angelim não merecia ter sido expulso. Mas, não foi por causa disso que não nos classificamos. Não nos classificamos porque perdemos gols um atrás do outro, até de dentro da pequena área, cara a cara com o frangueiro da fauna das laranjeiras. 

Paciência. 

Chorumela é outro endereço.

Nada melhor, pois, do que divulgar fontes, boa produção acadêmica sobre o mundo da bola:

www.futebolsociedade.com.br / Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade, do programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná.

SRN





FUTEBOL, HISTÓRIA E LITERATURA : a análise de discurso como

possibilidade metodológica





PROF. Ms. Miguel Archanjo de Freitas Junior[1]

UEPG/UFPR

      NÚCLEO DE ESTUDOS FUTEBOL E SOCIEDADE



RESUMO

O objetivo deste artigo foi apontar algumas dificuldades metodológicas que tradicionalmente permeiam os estudos do futebol. Optou-se em trabalhar com a crônica esportiva como um documento capaz de apresentar o clima de uma época e adotou-se a análise do discurso como uma metodologia que permite captar o que está subentendido na mensagem. Conclui-se indicando que este tipo de procedimento permite analisar aquilo que historicamente foi desprezado pelos intelectuais, ou seja, os sentimentos expressos pelos fenômenos de massa.

TERMOS CHAVES: FUTEBOL, LITERATURA, ANÁLISE DE DISCURSO





“A intelectualidade brasileira é incapaz até de bater um córner, ou um mísero e reles arremesso lateral. Entram num estádio e logo perguntam “quem é, onde está essa tal bola?”– numa alienação digna de babar na gravata”.

Nelson Rodrigues



Esta visão expressa pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, permaneceu na academia durante muito tempo. Entretanto, de duas décadas para cá já não se pode falar mais desta forma[2], pois a produção científica que aborda o futebol como um fenômeno sócio-cultural, suplantou senão quantitativamente certamente qualitativamente tudo o que já havia sido produzido anteriormente.

A explosão de trabalhos relativos a historiografia do esporte é decorrente fundamentalmente da quebra dos paradigmas explicativos (estruturalismo e marxismo), que normalmente definiam teórica e aprioristicamente os objetos dignos de serem estudados por esta área de conhecimento. Tradicionalmente tudo que não fosse diretamente relacionado a política e a economia, acabava sendo relegado para um segundo plano. Giulianotti atribui esse desprezo ao desdém intelectual à cultura de massas, como se verifica entre os teóricos frankfurtianos, pelo fato dessa cultura “impressionar o povo consumista com a trivialidade de jogar e assistir a jogos” (Giulianotti, 2002:33).

Após a crise epistemológica vivida pelas Ciências Sociais e particularmente pela história, objetos anteriormente excluídos de suas análises emergem como elementos que apresentam novas questões e que necessitam respostas. O futebol é um desses elementos, que durante a sua trajetória histórica passou por várias transformações modernizadoras e em todos os momentos apresentou como fulcro os sentimentos e ressentimentos que envolvem as massas presentes neste espetáculo esportivo. Não obstante, tratar do sentimento é trabalhar com algo “irracional”, o que em última análise não é um procedimento a ser adotado por um historiador, que busca apreender o real.

Diante desta situação somos remetidos a buscar novas metodologias que permitam compreender este fenômeno. Uma possibilidade interessante é a Análise de Discurso (AD), que após a guinada ocorrida na década de 60 passou a colocar o sujeito como um elemento importante na construção do discurso, deixando de ficar restrita somente a língua e passando a preocupar-se com as condições de produção do discurso e com os indivíduos responsáveis em fazer o discurso. Deixou-se de ter uma preocupação de verificação do produto final (língua) para preocupar-se com o processo de construção do discurso, que sofre várias interferências, principalmente do habitus do indivíduo. Pois de acordo com Bourdieu:



A prática é, ao mesmo tempo necessária e relativamente autônoma em relação a situação considerada em sua imediatidade pontual, porque ela é o produto da relação dialética entre uma situação e um habitus – entendido como um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a todo o momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os problemas da mesma forma, e às correções incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente produzidos por esses resultados. (...) só podemos, portanto explicar essas práticas se colocarmos em relação a estrutura objetiva que define as condições sociais de produção do habitus com as condições de exercício desse habitus, isto é a conjuntura que salvo transformação radical, representa um estado particular dessa estrutura.(1994, p.65)



O habitus de um indivíduo é influenciado pelo estilo de uma época, pelo seu grupo de convivência e pela classe que ele pertence. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que o habitus não seja visto somente como comportamento, pois ele é percepção (como o indivíduo vê determinada situação), apropriação (como ele julga) e ação(como age em função de suas experiências armazenadas). Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas e isto faz com que o indivíduo escreva de determinada maneira.

Este conceito, assim como a teoria reflexiva bourdiana se aproxima das considerações feitas por Baktim, pois como indica Strogenski:

A concepção bakhtiniana atribui ao sujeito responsabilidade pelo uso que este faz da linguagem. O sujeito não é somente um divulgador de discursos preexistentes, mas sim um agente dentro do processo discursivo, capaz de interferir, aprimorar ou até modificar o discurso social. Esta distinção é possível pelo fato de Bakhtin, ao contrário da análise do discurso francesa, conseguir ver o discurso na sua dimensão social. Dimensão esta que contém também as dimensões institucionais e as ultrapassa, sendo parte expressiva do conjunto de relações da atividade histórico-social.(2004, p.86)

Este tipo de procedimento fornece os subsídios necessários para que o pesquisador possa perceber o efeito de sentido da mensagem enunciada.Tornando possível compreender os sentimentos de determinado grupo social, em um determinado momento. Não se trata de tentar mostrar que o autor está falando a verdade, pois como relata Fiorin a análise de discurso não é investigação policial.

Porém, se o que se busca é apreender os sentimentos presentes em um esporte de massa, torna-se necessário buscar outro tipo de fonte, diferente das que tradicionalmente são utilizadas nos estudos históricos sobre o futebol (atas, legislação, documentos oficiais...), e que normalmente apresentam a visão de um grupo econômico e intelectualmente privilegiado, que acaba se cristalizando como verdade única e absoluta.

Surge então a literatura como parte desta nova documentação com que o historiador se depara, seja através dos livros e/ou das crônicas presentes nos periódicos da época. Esta documentação é marcada pela subjetividade, pela ficção, pelos sentimentos e como é isto que se busca, é necessário aprender a trabalhar com esta documentação.

Diante deste cenário que se abre, o historiador que busca estudar o futebol como um elemento sócio-cultural terá que esforçar-se para superar duas das dificuldades mais comuns, encontradas nos estudos culturais: 1) sair das prisões interpretativas dos contextos econômicos ou sociais que tudo explicam/simplificam; 2) afinar a sua sensibilidade para uma lógica específica de algumas manifestações populares, que são marcadas pela contradição e pela ambigüidade, e desta maneira tornando-se impermeáveis à lógica racional.

Partindo deste quadro, este artigo busca trabalhar com a literatura (crônica jornalística), utilizando a AD como recurso metodológico que irá auxiliar na apreensão do clima de um determinado momento, construído por pessoas que apresentavam um determinado capital simbólico.

            Neste estudo optou-se em trabalhar com uma das crônicas de Nelson Falcão Rodrigues[3], ou simplesmente Nelson Rodrigues como ficou conhecido no mundo literário. Este autor nasceu em Recife no ano de 1912 e morreu no Rio de Janeiro em 1980. Começou sua carreira de jornalista aos treze anos de idade, tendo uma trajetória ligada a família e principalmente a atuação do seu irmão Mário Filho.

É importante salientar que devido a um problema de saúde (tuberculose), Nelson Rodrigues perdeu 30% da visão, devido a uma questão de vaidade ele não aceitava usar óculos e tal fato fazia com que ele não conseguisse assistir plenamente um jogo realizado no Maracanã. Porém ele sempre tomava o cuidado de ter alguém ao seu lado conversando/narrando o jogo. É o que indica Ruy Castro ao relatar a biografia de Nelson Rodrigues:



Via vultos correndo pelo campo e só fazia uma idéia do que estava acontecendo porque as torcidas têm um código coletivo, de uhs e ohs, além de gritos de gol. Impressionante é que isso nunca o tenha impedido de ir ao futebol e, durante muitos anos, escrever e falar sobre ele. (Castro, 1992: 150)



 Porém, isto não era problema para o autor, pois segundo ele no jogo de futebol o pior cego é aquele que só vê a bola. “Nelson Rodrigues dá bom dia”, era o título da coluna que ele assinava no Jornal dos Sports. Inicialmente as suas matérias estavam localizadas no canto direito, de uma das páginas do Jornal (não ocupando um lugar destaque). Este fato vai paulatinamente sendo modificado, começando com a vitória brasileira no campeonato mundial de 1958 e consolidando-se com a conquista do bi-campeonato em 1962. Momento em que suas crônicas passaram ocupar três colunas centrais da página 4 ou da última página, vindo sempre acompanhadas de uma charge sobre o tema tratado.



A CRÔNICA


A crônica “A Batalha da Burrice”, foi publicada no Jornal dos Sports, do dia 07 de Maio de 1962. Esta crônica foi escrita as vésperas da Copa do Mundo de 1962, momento em que o Brasil realizava uma série de amistosos preparatórios para a esta competição.

É importante destacar que neste momento o Brasil já havia superado o drama de 1950, ocasião em que foi derrotado pelo Uruguai na final da Copa do Mundo, em pleno estádio do Maracanã e diante de um público de 200 mil pessoas. Este acontecimento ajudou a comprovar a tese de Nelson, na qual ele indica que o brasileiro é um narciso às avessas e por isso sofre do complexo de vira-latas (submissão do brasileiro frente ao estrangeiro). Entretanto, com a vitória ocorrida em 1958 na Suécia, esta situação começava a ser revertida e a Copa do Mundo de 1962, a ser realizada no Chile, seria o momento de confirmação da supremacia brasileira neste esporte e principalmente o momento do Brasil mostrar para o resto do mundo que era um país de futuro promissor.

As crônicas de Nelson Rodrigues sempre foram marcadas pela forma com que ele descrevia os fatos, utilizando-se constantemente de hipérboles para não deixar dúvidas sobre as “suas verdades”.

Nesta crônica ele ataca a comissão técnica brasileira, que neste caso tem a responsabilidade de definir quem serão os jogadores que irão representar o país. É interessante perceber que ele indica que esta comissão foi instituída pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para representar todos os brasileiros. Neste sentido ele indica que um dos principais defeitos dos brasileiros é a burrice. “Todavia, a nossa vitória está ameaçada, e por quem? Respondo: - pela nossa burrice. De quando em vez, eu faço a justa, a exata autocrítica nacional: - somos burros! somos burríssimos!”

O autor justifica o seu argumento a partir da condição física dos atletas “escalados” para representarem o selecionado nacional, que tem na sua base a seleção campeã de 1958. Entretanto, passaram-se 4 anos e naquele momento o treinamento esportivo, com respaldo científico (fisiológico, nutricional, biomecânico...), não era realidade do futebol, ou seja, os atletas estavam mais velhos e alguns “fora de forma”, mas a comissão técnica acreditava que a manutenção do time campeão era a melhor saída. Por isso a indignação do autor. “Primeira burrice: - idéia de fazer uma equipe na base de 58. Não importa que, de então para cá, vários campeões do mundo estejam fora de forma, ou gastos, ou envelhecidos. (...) Mas eu ia dizendo que alguns jogadores de 58 não suportariam uma nova e duríssima campanha. E que faz a comissão técnica? Empacada na seleção da Suécia, insiste com uma pertinácia suicida.”

            O antropólogo Roberto DaMatta (1982), no seu estudo “Esporte na Sociedade: um ensaio sobre o futebol brasileiro”, faz uma análise sobre a importância atribuída a superstição no futebol brasileiro. Se forem observados os fatos daquele momento, esta situação se reforça.

Após a vitória da copa de 58, tentou-se uma renovação dos jogadores brasileiros durante o sul-americano de 1959, pois vários jogadores já estavam com mais de 30 anos de idade, considerados velhos para o futebol daquele momento. Semanas antes da convocação final, o técnico da seleção brasileira Vicente Feola desligou-se do grupo devido há uma forte infecção intestinal. Fora chamado para ocupar o seu lugar Aymoré Moreira (ex – goleiro do Botafogo, que havia sido quatro vezes técnico-campeão da Taça Rio- São Paulo) e este técnico resolveu manter a base de 58, cabe salientar que esta mudança só ocorreu devido aos problemas de saúde, pois diz a máxima popular – “Em time que se está ganhando, não se mexe”.

Paulo Machado de Carvalho era o chefe da delegação, e na tentativa de garantir o bi-campeonato buscava repetir todos os atos da seleção de 58. Mandou chamar o mesmo piloto da Varig que levara a delegação para a Suécia, obrigou o massagista (Mário Américo) a usar em todos os jogos o mesmo sobretudo que havia usado  para agasalhar-se no inverno escandinavo. O próprio Paulo de Carvalho, usava em todos os jogos o mesmo terno marrom que usara em 1958. Exigia que todos os jogadores obedecessem a mesma ordem para entrar no ônibus (Hasse Filho. 2002).



CARACTERÍSTICAS DOS ESCRITOS DO AUTOR


Seu texto tem uma aproximação com a dramaturgia (teatro), sendo expresso de forma poética. Ele utiliza uma linguagem popular (contrário de erudito), apresentando um certo caráter funcional, através de exemplos vivenciados no cotidiano, de onde ele retira as imagens que darão suporte para os seus argumentos. “... ficamos impressionadíssimos com o aguaceiro e a ventania. E, no entanto, a burrice causa estragos muito piores e espetaculares”.

O início da sua crônica era sempre através da palavra “amigos”, como se fosse uma espécie de conclamação aos seus leitores, e a partir daí ele mantém um dialogo persuasivo, revelando certa intimidade e confiança no destinatário. De acordo com os pressupostos de Orlandi, podemos classificar este discurso como lúdico e polêmico, pois:



Discurso lúdico: é aquele em que a reversibilidade entre interlocutores é total, sendo que o objeto do discurso se mantém como tal na interlocução, resultando disso a polissemia aberta.[...] Discurso polêmico: é aquele em que a reversibilidade se dá sob certas condições e em que o objeto do discurso está presente, mas sob certas perspectivas particularizantes dadas pelos participantes que procuram lhe dar uma direção, sendo que a polissemia é controlada. O exagero é a injúria. (1981, p.142)



As crônicas deste autor são marcadas pela multiplicidade de sentidos, fator fundamental para quem escreve a crônica jornalística, pois ele necessita criar as imagens para o leitor. No caso específico do espetáculo esportivo, estas imagens não tem um planejamento prévio, pois dependem do que acontece no desenrolar do jogo para a sua construção emotiva. Cabe salientar que a crônica futebolística sobrevive da emoção, algo que Nelson aprendera com o teatro, pois para ele a vida era um drama que podia ser expresso no palco, na rua, no campo de futebol...

Uma das características centrais da crônica de Nelson Rodrigues é a utilização de metáforas como uma forma de transferência do sentido da palavra, não na sua forma denotativa, mas na relação que se torna possível estabelecer através do efeito de sentido - “Ainda anteontem ele deu uma corridinha de coelhinho de desenho animado e despejou uma bomba antológica”. A primeira imagem é a de um personagem de desenho infantil, que se desloca com velocidade e suavidade, a qual é contrastada com uma metáfora que representa um chute muito forte, é importante perceber que uma bomba que tem um significante de algo muito forte que pode explodir, proporcionando conseqüências destruidoras, mas tudo isto não é suficiente para o autor que adiciona-lhe a adjetivação antológica, utilizando um sentido incomum que intensifica ainda mais a potência do chute. Observa-se que a metáfora potencializa os sentidos, quebrando desta maneira linearidade do texto, criando novas apreensões visuais e sintáticas, através de imagens totalmente inusitadas e hiperbólicas.

Ele quer que as pessoas “vejam” o futebol a partir da sua ótica, para isso utiliza-se de uma criação imagética. Construindo uma nova realidade a qual ele aproxima do leitor através da possibilidade da criação de várias imagens como contraponto de sua argumentação. “Pior do que a seca, o frio, a fome, a peste e as inundações é a burrice. (...) Um simples imbecil equivale a potencialidade a qualquer furacão do Pacífico”. Sociologicamente falando, a imbecilidade ou a burrice, são piores do que qualquer fenômeno meteorológico, principalmente porque ele atribui um significante figurativo a utilização da burrice, que não tem nada haver com o seu significado denotativo, desta maneira o autor constrói um cenário que lhe permite estabelecer um discurso político através da crônica esportiva, pela qual ele mostra que aceitamos os problemas sociais sem nada fazer para mudar a situação.

Neste artigo, buscou-se apontar algumas dificuldades metodológicas que historicamente permeiam os estudos do futebol. Na tentativa de romper com a abordagem racionalizante presente nas ciências humanas, optou-se em trabalhar com a crônica esportiva e adotou-se a análise do discurso como uma metodologia capaz de auxiliar na compreensão dos sentidos que a mensagem apresenta. Acredita-se que se a “irracionalidade” for explorada pode-se perceber um grande equívoco teórico da academia, que tenta atribuir falta de consciência aos fenômenos de massa e desta forma acaba-se perdendo a oportunidade de desvendar a forma como os indivíduos de uma determinada época percebiam a sociedade na qual estavam inseridos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

_______________ . A econômica das trocas lingüísticas. São Paulo: EDUSP, 1996.

CASTRO, Ruy. O anjo pornográfico: a vida de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

DA MATTA, Roberto (org.). Esporte e Sociedade. In: Universo do Futebol. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982.

FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1988.

GIULLIANOTTI, Richard. Sociologia do Futebol: dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.

HASSE FILHO, PEDRO. Brasil nas copas. Porto Alegre, RS: Zero Hora, 2002.

MAIGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso. Campinas, SP: Pontes, 1989.

MARQUES, José Carlos Pimenta. O futebol em Nelson Rodrigues. São Paulo: FAPESP, 2000.

ORLANDI, Eni. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo: Brasiliense, 1983.

ANTUNES, Fátima Martin Rodrigues Ferreira. Com o brasileiro não há quem possa. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós – Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 1999.

RODRIGUES, Nelson Falcão. A batalha da burrice. In: Jornal dos Sports. Rio de Janeiro, 07 de maio de 1962.

STROGENSKI, Paulo Juarez Rueda. O papel do sujeito nos estudos da linguagem. Palestra proferida no CEFET, unidade de Curitiba, em 20/06/2004 (mimeo).










[1] Professor do Curso de Licenciatura em Educação Física, da Universidade Estadual de Ponta Grossa; Pesquisador do Grupo Esporte, Lazer e Sociedade; Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná, Bolsista da CAPES.
[2] Além da crise dos paradigmas das Ciências Sociais, no final da década de oitenta e início da década de 90 é o momento em que se consolidam a Pós-graduação no Brasil, os grupos de pesquisa e os eventos científicos das diferentes áreas do conhecimento, acontecimentos significativos para que a produção deste momento suplantasse tudo o que havia sido produzido anteriormente na historiografia do esporte brasileiro.
[3] Nelson Rodrigues escreveu várias crônicas de futebol à partir de 1940, até a sua morte aos 68 anos de idade. A partir de 1955 ele passou a escrever diariamente sobre esportes, inicialmente no Jornal dos Sports, escrevendo durante 11 anos neste jornal.