quarta-feira, 30 de junho de 2010

Espinha

Por tadeu dos Santos

Nesses tempos em que há um discurso uníssono a justificar o jeito correto de se jogar futebol, o contraponto apresentado pela Espanha é extremamente salutar. Yes! Nós temos a Espanha.

Apostam na própria virtude e jogam com a bola. É, pois, a antítese desse jogo em que todas as fichas são depositadas no erro do adversário. Abolimos o meia. Enquanto isso a Espanha apresenta meias e volantes que nos confundem. Todos parecem meias. Todos tratam a bola com enorme carinho e ela, como sempre, retribui aos afagos. Parece aquela vetusta brincadeira que em nossos tempos de criança chamava burrinho. Nos tempos que vivemos recebeu a designação de roda de bobo. Quiçá nesses bicudos tempos em que está a vigorar a tônica do politicamente correto, bobo soe menos deletério do que burro.

Retomando.

Quando o adversário chega, a bola já se foi. E vai de uma lateral à outra, de pé em pé. Não há chutões nem mesmo do goleiro no momento da reposição da bola em jogo.

Vejo tudo isso e me vem à mente o time do Flamengo. Era assim que o time que ganhou tudo jogava. A seleção brasileira de 1982 também jogava assim.

A presença da seleção espanhola é, sem dúvida, uma grande espinha a atravessar a garganta daqueles que pugnam pelo futebol-resultado e o mais grave: estabelecem a associação futebol-resultado/modernidade.

O totalitário-mor afirma sempre que pode que a extrema escassez de espaço e a preparação física aboliram pra todo o sempre aquele futebol que os saudosista insistem em reviver. Hoje vi o talento reinventando o espaço.

Já disse antes. Vou reafirmar: por mais sólido que seja o arcabouço teórico, um simples fato tem poder suficiente para pô-lo abaixo. Os noventa e poucos minutos de Espanha x Portugal representam a derrocada da teoria que tem por pretensão universalizar o jeito alemão de se jogar futebol.

Ah! Quase esquecia. Cristiano Ronaldo tem o poder de me remeter àqueles lindos embrulhos de presente. Papel verde, laçarote vermelho. Por dentro, à semelhança das bonecas russas, há uma caixa dentro da outra e asim sucessivamente. Ao fim, uma caixa pequenina e dentro dela um indisfarçável vácuo. O mais grave nisso tudo é que ele joga mais do que o Kaká, "nosso" craque na Copa.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Roça in Rio

Roça in Rio é uma festa caipira-chique que ocorre todo ano aqui no Rio.

E já que estamos no campo, às margens de rebanhos muito convenientes, nada mais justo do que identificar-lhes as cabeças.

Para fins de delimitações, de um lado da cerca, os chapas-brancas, de maior apelo, pelo couro supostamente revestido de interesse público. Assim como o zebu, é conhecido por "vi o mundo". Refiro-me ao evidente Luiz Azenha.

Da cerca à direita, ou à esquerda, dependendo de como se olha através da cerca, o gado brabo "independente", o aspirante a gado gaúcho, de boa cotação, Saldanha: Juca Kfouri.

A visualização gráfica se justifica, pois que temos as duas posições que costumam fazer do futebol material de proselitismo.

Kfouri lembra-me o que já havia ouvido a respeito de Armando Nogueira sobre, lá trás, início, meados dos anos 60, ser uma tentativa do poeta do Acre de chegar ao poder do futebol. Como se se, substituindo Teixeira, implementar-se-ia o Paraíso na Terra. E o mais divertido: a tática é a de meter o pau em quem faz qualquer gesto, por menor que seja, ainda que de caráter realista, em moldes claramente marxistas, para aproximar-se de Teixeira.
Kfouri é uma espécie de iluminista equivocado de século. E - é natural - tende a querer socializar o que, de resto, não passa de uma briga pessoal.

Azenha é menos inteligente, mais previsível, mas igualmente provinciano. Se se fala de laranja, dá um jeito de torcer, espremer o sumo e apresentar embalado como suco de maçã. Em português claro: até a briga de Dunga de Macedo com os engrados da globo termina em embate eleitoral entre Dilma e Serra.
Azenha precisa reler Lenin.

Vida que segue - para parafrasear Saldanha, já que esta foi uma postagem sobre plágio.

SRN

Na roça de capiau

O problema do jornalismo é a falta de referencial teórico.

Opera no senso comum, em que a realidade até chega a desconhecer a diacronia (não sabe como as coisas se processaram no tempo, a fim de ser o que são).

Certo, há uma argúcia empírica, o jornalista, esperto, sabe o que, de fato, conta, onde está, efetivamente, o exercício do poder.

E o abismo horizontal de ver a árvore o leva a empenhar-se no combate exclusivo ao uso do machado.

O futebol é uma maravilha não só porque há o Flamengo: é também excelente campo de observação.

O jornalismo esportivo, então, esse o engradado por excelência.

Os mais divertidos são os "independentes":

Não diferem do Milton Neves nem na roça de capiau.

Lembram-me os aporrinholas do sertanejo, vestidos de Armani. Por dentro, são a descrição exata do que disse, em Moderna I, lá na UERJ, o professor Oswaldo Munteal:

"No interior de São paulo - desculpem-me a redundância."

Só pra lembrar:

"Liberdade completa ninguém desfruta. Começamos oprimidos pela sintaxe e terminamos ás voltas com a delegacia de ordem política."
Graciliano Ramos, em Memórias do Cárcere.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Alemanha de camisa nova

Enfrentamos um adversário inepto.

A palavra, radical, está na base do que se viu: um Chile sem aptidão para executar o que se propôs.

Independente de Bielsa, apresentamos um jogo seguro com um mínimo de alternativas graças ao dinamismo de Ramires.

Mas, é suficiente, nos satisfaz jogar como a Alemanha justo quando os alemães ensaiam jogar como sulamericanos?

SRN

Dunga de Macedo é só um plágio


Dunga nada tem de conservador. É fruto de uma síntese dialética da chamada "Era Dunga": o inferno em 90 e o paraíso em 94. Predominasse o conservadorismo, teria sucumbido, preso, sob os escombros de 90.

Campeão em 94 pela necessidade da história que engendra seus protagonistas.

Impossível não perceber que, no mundo da bola, são devagar removidos os escombros, França, Itália, Inglaterra, de um futebol que se afirma compatível com a poeira dos últimos 20 anos e não verificar o desenho da correlação de forças que pode fazer de Maradona novamente protagonista.

Dunga parece não compreender sua própria história.

O voluntarismo não se sustenta sozinho.

Só é possível sobre forças relevantes.

Felipe Melo, Gilberto Silva, Josué, Júlio Batista?

SRN




domingo, 27 de junho de 2010

Proibir não é preciso



POR Tadeu dos Santos


( o título desta postagem, "Proibir não é preciso", foi baseado no clássico poema de Fernando Pessoa, "Navegar é preciso / Viver não é preciso" )


A proibição da concessão de entrevista trouxe em seu bojo uma saraivada de boatos. Já disseram que Dunga bateu de frente com Fátima Bernardes (no sentido figurativo, claro), que Kaká e Felippe Melo se estranharam, que Júlio Batista e Daniel Alves trocaram farpas e a última: que Robinho ficou barrado por ter dado entrevista a um jornalista-torcedor rival da emissora do Plim-Plim.

Ausentes os fatos e logo entregamo-nos avidamente às versões. Perfunctória olhada para as versões que por aí andam a circular e a conclusão que se impõe é que a falta de criatividade não está restrita apenas ao time do Dunga. Ainda assim insistimos. Por quê?


Gostamos de teorias conspiratórias. À verdade sobre o assassinato de Kennedy optamos pelas versões. Na realidade, não queremos a verdade, mas as versões que incidem sobre a verdade. Abaixo o pão-pão, queijo-queijo. Queremos a mesa completa. À história das complexas engrenagens e dos grandes sistemas, optamos pela narrativa romanceada, pela trajetória individual.

Acaso não estivéssemos submetidos aos mandos e desmandos de nosso totalitário-mor, já estaríamos enjoados daquelas entrevistas de perguntas decoradas e respostas repetitivas.

“E aí, como está o ânimo para o jogo de amanha?”


”Estamos focados e vamos dar tudo pela vitória, com certeza.”


Estamos fartos de ver as famílias dos jogadores reunidos à sala e simulando emoção ante o comando de um Tino Marcos da vida. Sua mais recente e criativa intervenção consistiu em colocar os pais do jogador Maicon para conversar com ele ao término daquela pelada contra Portugal.

”Oi pai!”


”Tudo bem filho? Estamos aqui torcendo por você e por todos os seus companheiros...”


”Tá bom pai...”


O semblante do atleta não conseguia disfarçar o constrangimento e o enfado.


E o áulico Tino:


”Ainda não acabou, tem mais... olha quem quer falar com você...”


”Oi filho! Deus está com você e os seus companheiros...”


”Tá bom mãe...”


Tanta tecnologia, tanto satélite posto no espaço e ao fim e ao cabo é pra isso que servem.

Ainda assim prossigo deplorando a censura imposta pelo Dunga. Acaso ela sempre tivesse existido não teríamos as pérolas que se seguem


"Chegarei de surpresa dia 15, às duas da tarde, vôo 619 da VARIG.' (Mengálvio, ex-meia do Santos, em telegrama à família quando em excursão à Europa)


'Tanto na minha vida futebolística quanto com a minha vida ser humana.'
(Nunes, ex-atacante do Flamengo, em uma entrevista antes do jogo de despedida do Zico)


'Que interessante, aqui no Japão só tem carro importado.' (Jardel, ex-atacante do Grêmio)

'As pessoas querem que o Brasil vença e ganhe.”
(Dunga, em entrevista ao programa Terceiro Tempo)

'Eu, o Paulo Nunes e o Dinho vamos fazer uma dupla sertaneja.'
(Jardel, ex-atacante do Grêmio)


'O novo apelido do Aloísio é CB, Sangue Bom.' (Souza, meio-campo do São Paulo, em uma entrevista ao Jogo Duro)


'A partir de agora o meu coração só tem uma cor: vermelho e preto.' (Jogador Fabão, assim que chegou no Flamengo)


'Eu peguei a bola no meio de campo e fui fondo, fui fondo, fui fondo e chutei pro gol.' (Jardel, ex- jogador do Grêmio, ao relatar ao repórter o gol que tinha feito)


'A bola ia indo, indo, indo... e iu!' (Nunes, jogador do Flamengo da década de 80)

'Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu.'
(Claudiomiro, ex-meia do Inter de Porto Alegre, ao chegar em Belém do Pará para disputar uma partida contra o Paysandu, pelo Brasileirão de 72)


'Nem que eu tivesse dois pulmões eu alcançava essa bola.' (Bradock, amigo de Romário, reclamando de um passe longo)


'No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente de 15 em 15 dias.' (Ferreira, ex-ponta esquerda do Santos)


'Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe.' (Jardel, ex-atacante do Grêmio e da Seleção)

'O meu clube estava a beira do precipício, mas tomou a decisão correta, deu um passo a frente...'
(João Pinto, jogador do Benfica de Portugal)


'Na Bahia é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar.' (Zanata, baiano, ex-lateral do Fluminense, ao comentar sobre a hospitalidade do povo baiano)

'Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático.'
(Vicente Matheus, eterno presidente do Corinthians)


'O difícil, como vocês sabem, não é fácil.' (Vicente Matheus)


'Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão.' (Vicente Matheus)

'O Sócrates é invendável, inegociável e imprestável.'
(Vicente Matheus, ao recusar a oferta dos franceses)

sábado, 26 de junho de 2010

O irmão do Ronaldinho

O excesso de meios não leva apenas à banalização: é também uma contrafação.

Com essa câmera lenta, juiz de futebol agora não erra.

O erro está no jogo da televisão.

SRN

Grande Capacete

O melhor modo de ver esse torneio é tirando o som da televisão. De aporrinhação, já basta a que se tem em campo. O problema é que também se perde o Júnior.

Resolvi arriscar, em Uruguai e Coréia. Valeu, Capacete:

(sobre a jabulani, testada e aprovada pelo Rivellino)

"Qual a bola que não obedeceu ao Rivellino?"

A cristaleira do Correa

Tenho um velho amigo gago. Dessas figuras folclóricas, à espera de um registro. Popular e prestativo, da rua ao quarteirão logo ao bairro, praticamente.

Talvez eu seja o primeiro. E a oportunidade do registro não poderia ser mais oportuna.

O Correa, contratado pelo Flamengo, eu já conhecia, mas não como volante.

Contou esse meu amigo que, ruim agora, sua gagueira era bem pior quando pequeno. Pelo que entendi, pois nessas horas é mais fácil pra ele representar, tornar graficamente visível a cena: pega minha caneta nanquim, coloca no canto da boca, torce o nariz, pega um copo, enche d'água. Olha prum lado, pro outro e parece que o tanque é útil, nele derrama um pouco da água e volta trocando os pernas, sacudindo o corpo:

"Eeeeenn...enteeen...deu, Mámámá...Máxi...?"

Entendi, o cara era macumbeiro.

Ainda meio sonolento, o barulho na sala chegando até o quarto, mas já estava acostumado e sabia que naquele dia o pessoal da Fábrica Confiança, onde sua mãe trabalhava, vinha pro descarrego. Então, a baforada do charuto fora suficiente. O pai de santo, devidamente arriado, suponho (nessa parte, meu amigo dobra-se todo, ainda mais ininteligível) abre o porta do quarto, seguido pela sua mãe, e aproxima-se da cama. Faz o "pela cruz", bafora ali, bafora aqui:

"Tá carregado esse meu filho."

Essa parte é mais uma recriação, pois eu não entendia nada do que o meu amigo falava.

"Fiquei bom, nanana... hoora, Máma...ximo."

Aí tentou repetir o que começara a falar e nisso, em consideração, bateu quase 4 da manhã. Tentando encurtar a conversa:

"Maravilha, meu irmão, fica pra próxima."

"Tu naaauuumm qué sasaa...ber o resto?"

É o tal negócio:

"Tá tranquilo, vai lá."

O pai de santo também se chamava Correa e prestava serviços pra todo mundo na fábrica. Até na sala do pai do Braguinha, que fora diretor da Fábrica Confiança, o Correa entrava e, assim como quem não quer nada, abria a sua marafa e dava sua baforada.

Não cobrava nada, mas não fazia muita diferença. Corrrea era glutão e a garantia do "trabalho" era dada mediante o "caboclo comer e beber do bom e do melhor".

Em Vila Isabel, muito português, dono de açougue, fechou a semana graças à voracidade do caboclo do Correa.

Naquele dia, entretanto, Correa excedeu-se.

Certo, "meu camarada", como diria o 28, convenhamos que só quem conheça a gagueira desse meu amigo avalie do trabalho do caboclo, cansando e, provavelmente, levando à exaustão: Correia, após meu amigo emitir impecável, "três tigres tristes", sacudiu o corpo de uma tal maneira que a força que o caboclo fez pra subir acabou jogando-o pela janela, vindo a cair em cima dos vasos de antúrio e "comigo ninguém pode" que a Mãe desse meu amigo cultivava na porta da casa de vila.

Correa comeu e bebeu, novamente bebeu e comeu e, antes de sair, resolveu evocar o caboclo, pois a Mãe desse meu amigo caprichara e Correa, pelo jeito, queria deixar tudo certo pra poder voltar:

"Madame, mi si fio, só pra fechar..."

E saiu pela casa, baforando. Caboclo inglês, meticuloso, resolveu passar em baixo de uma cristaleira que ficava a um canto da sala.

"Só pra confirmar..."

Correa acabou entalado e tiveram que chamar o bombeiro.

Gosto muito desse meu amigo, mas já estava muito tarde. Não soube se o caboclo chegou a ser resgatado junto com o Correa.

SRN


sexta-feira, 25 de junho de 2010

A cabeçada do Rondinelli termina em diabetes

A negação de 82 foi a seleção de 90.

Ao invés de Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico, passamos à institucionalização de Dunga, Alemão, Silas e Valdo, que só não não foram piores que Dunga, Mauro Silva, Mazinho e Zinho, campeões em 94, demonstrando que qualidade não é intrínseca ao sucesso.

O velho Marx já dizia que o "indivíduo não vale por si mesmo, mas pelas categorias que representa". É isso que o Dunga não entende.

A "Era Dunga", menos por ele do que pela pavorosa seleção lazaronesa, foi a encarnação a um caboclo conveniente. Seus elogios a Collor, quando já se sabia o óbvio, dava o acabamento, junto com a cantilena sertaneja, a uma estética de porteira que praticamente justificava a fuga pro Galeão.

A "Era Dunga" correspondeu no futebol ao início da hegemonia do neoliberalismo.

Minha filha nascia e o surrealismo me era uma questão particular: o fim da ditadura, do Time Maior Campeão de Tudo, da geração do Telê de 82, do Nirvana, praticamente da legião e a emergência de Collor, Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Chororó, gravatas hermés, a Barra, a pior experiência de fantasmagoria do fetiche da mercadoria exposta em um lazaronês túrgido.

Numa palavra: Dunga.

O surrealismo estava justo em abandonar o registro do impulso criador, suscetível à elaboração (Dali), quanto na escritura automática, sem regra, sem sintaxe. As telas de Dali, seus relógios moles, eram uma concessão à mediação racional.

Assim deveria ser sempre o futebol.

O improviso e a surpresa a terem como suporte o esquema tático.

Estou convencido de foi o fim daquele time campeão de tudo, que começa com a cabeçada do Rondinelli em 78 e termina com título brasileiro de 87, a causa do diabetes do 28, outro grande parceiro deste blog.

SRN

Nem chororô nem entreguismo

Neste e-mail que me manda e que virou postagem, você toca num ponto que é o que acho que torna o nosso blog razoável: nem panfleto proselitista nem afetação jornalística. Nem engradados da globo nem Dunga de macedo.

Não apoiar o chororô do jornalismo de plástico da globo não significa defender o entreguismo que o Dunga pratica com o futebol desse time que eu não reconheço brasileiro.

SRN

Mais importante do que o título mundial

O senso de humor dá perspectiva.

E o que há de ridículo nessa briga entre Dunga e a Globo é a minimização do Poder. Não são irrelevantes os aspectos que revela do poder da indústria cultural.

A disputa aponta no futebol o produto mais expressivo do desenvolvimento dessa atividade econômica.

A partir dos anos 90, marcadamente, o futebol deixa de ter problemas apenas conjunturais (a manipulação política, entre outros) e passa a ser estruturalmente tranformado, de um ramo da cultura popular para um produto da indústria cultural. Passa, portanto, a ser regido por todas as categorias econômicas relevantes ( mecanismo de preços, mais-valia, produtividade, etc).

À função esportiva, meramente lúdica, incorporou-se a atividade econômica que, por ser das mais lucrativas, a ele se impôs e praticamente a substituiu.

Aparentemente ingênuas, voltadas ao "trabalho social", as escolinhas de futebol são fábricas de mercadorias, com ritmos e disciplinas que nada têm de educativo. O objetivo é como o de qualquer outro negócio e a função é revelar jogadores-mercadorias para o mercado interno (quando se trata de escolinhas e clubes pequenos ou do interior, sempre nas mãos dos agenciadores) ou externo (caso dos grandes clubes e agenciadores credenciados pela Fifa).

Fernand Braudel, os seus tempos históricos distintos (acontecimento, conjuntura, estrutura), explica melhor o futebol do que toda a produção do jornalismo esportivo amontoado em engradados.

E os da Globo, naquele indigência mental de um ufanismo plastificado de "xou da xuxa", não é um erro nem necessita de ajuste: é a estratégia de não despertar a crítica, mantê-la afastada de uma "atividade menor", que só não é menor na escala de lucros da engrenagem nova da estética do espetáculo.

Tadeu Shimidt, não se iludem, é muito mais útil do que se imagina.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dunga de Macedo x Engradados da globo

Postagem certa

Tadeu dos Santos, parceiro deste blog, acaba de me enviar o seguinte e-mail.

Aqui, em Nação Maior, a colaboração feminina, de fato, faz a diferença:


Por Aline Flausino

Vejam Dunga dando uma de João Saldanha em cima da TV Globo.

O Jornal O Globo em sua primeira página da edição de hoje, quarta-feira 16 de junho de 2010, desce a lenha na seleção e principalmente no seu treinador.

Qual a razão dessa súbita mudança de comportamento ? Vamos aos fatos :

Segunda-feira, véspera do jogo de estréia da seleção brasileira contra a Coréia do Norte, por volta de 11 horas da manhã, hora local na África do Sul.

Eis que de repente, aportam na entrada da concentração do Brasil, dona Fátima Bernardes, toda-poderosa Primeira Dama do jornalismo televisivo, acompanhada do repórter Tino Marcos e mais uma equipe completa de filmagem, iluminação etc.

Indagada pelo chefe de segurança do que se tratava, a dominadora esposa do chefão William Bonner sentenciou :

“ Estamos aqui para fazer uma REPORTAGEM EXCLUSIVA para a TV Globo, com o treinador e alguns jogadores…”

Comunicado do fato, o técnico Dunga, PESSOALMENTE dirigiu-se ao portão e após ouvir da sra. Fátima o mesmo blá-blá-blá, foi incisivo, curto e grosso, como convém a uma pessoa da sua formação.

“ Me desculpe, minha senhora, mas aqui não tem essa de “REPORTAGEM EXCLUSIVA” para a rede Globo. Ou a gente fala pra todas as emissoras de TV ou não fala pra nenhuma…”

Brilhante !!! Pela vez primeira em mais de 40 anos, um brasileiro peitava publicamente a Vênus Platinada !!!

“ Mas… prosseguiu dona Fátima – esse acordo foi feito ontem entre o Renato ( Maurício Prado, chefe de redação de Esportes de O Globo ) e o Presidente Ricardo Teixeira. Tenho autorização para realizar a matéria”.

“ Não tem autorização nem meia autorização, aqui nesse espaço eu é que resolvo o que é melhor para a minha equipe. E com licença que eu tenho mais o que fazer. E pode mandar dizer pro Ricardo ( Teixeira ) que se ele quer insistir com isso, eu entrego o cargo agora mesmo!”

O treinador então virou as costas para a supra sumo do pedantismo e saiu sem ao menos se despedir.

Dunga pode até perder a Copa , seu time pode até tomar uma goleada, mas sua atitude passa à história como um exemplo de coragem e independência.


terça-feira, 22 de junho de 2010

Samuel Wainer não era nenhum jabulani

Quem chegou agora não acompanhou. Mas, deve saber, porque não era necessário estar em Porto Seguro, a jabulani na mão, Dunga ao lado, à espera de Pedro Cabral e confirmar a ocupação estratégica do Brasil, para o domínio do Atlântico Sul.

Não faz 500 anos.

Faz mais ou menos 20, da primeira publicação de “Minha razão de Viver”, de Samuel Wainer.

Wainer foi o fundador da “Última Hora”, com dinheiro público, vindo do Banco do Brasil.

Uma vergonha, em tom uníssono, jabulani, dos mesmos moralistas que massacravam palavras nos jornais dos Diários Associados, de Assis Chateuabriand, do Correio da Manhã, de Paulo Bitencourt e do Globo, ainda uma irrelevância, de Roberto Marinho.

A diferença quanto à atualização contemporânea está na escala do talento. Lacerda, o corvo, para cuja efígie fora decisivo a charge de Lan, era não só audível, mas também legível, ao contrário da contrafação engradada à que nos expõem diariamente os amestrados da globo.

Evidentemente que não se trata aqui do Salão de Humor de Piracicaba, na qual a forma conta muito e a charge de lan certamente adentra um panteão. Se lacerda correspondia a metragens cúbicas de engrados, devemos, entretanto, nos debruçar com cuidado sobre a matéria plástica de que são feitos e ver o que têm dentro. Se remexermos fundo, a náusea provocada pelo mau cheiro dará origem a mecanismos semelhantes à velha chorumela e, o que é pior, como se fosse novidade. Mas não é. Basta tirar o som da televisão e abrir o livro de Samuel Wainer.

Os “paladinos” da moral, da “imprensa livre” faziam confusão semelhante: o “mar de lama” que engolfava Getúlio não passava de vazamento, uma infiltração que se resolve com durepoxi a irrigar a Última Hora com dinheiro público que seguia um curso amazônico para o oceano voraz daqueles donos de grandes jornais da época.

Indispensável deixar claro que criticar o Dunga de Macedo não significa ficar ao lado de uma imprensa que, só não gosta do diácono do Jorginho, simplesmente porque ele atrapalha os negócios.

O que me cabe neste blog se deve ao fato de que, em determinada altura da vida, se se pode ter boa fé, não cabe, por ridículo, ser ingênuo.

Noto como a argumentação tem o caráter sofístico, velho de não sei quantos anos. Apenas um empobrecimento estético, na ausência de figuras de linguagem, que fizeram Lacerda, anos depois, em pleno desentendimento com Castelo Branco, a quem ajudara golpear Jango, chamar o general-presidente de “anjo da Conde Laje”.

Quem é carioca sabe do que estou falando.

É a Lapa contemporânea: Dunga de Macedo x Engradados da globo.

SRN

Máximo


Realidade Global

Lembro dos tempos em que a Globo escolhia governantes e criava livremente versões para os fatos. A realidade era construída a partir dos interesses globais. Tal prática se arraigou e sempre que os fatos e a realidade colidem com seus interesses dá-se a manipulação das imagens e a arregimentação de seus profissionais ávidos pela entrega ao aulicismo. Ontem foi assim.

Na primeira disputa de bola, Lúcio deu um soco no braço recém-quebrado de Drogba. Covardia? Comportamento destituído de qualquer ética? Claro que não.

Como bem disse o Máximo, o time de Dunga é a pátria de chuteiras e o jogo uma batalha a ser ganha, pouco importando os meios.

Recentemente lamentei a deplorável jactância e orgulho com que Maradona se refere ao episódio conhecido como a "Mão de Deus". Disse que o Argentino é chegado a uma vilania e que se acha tão especial que qualquer coisa, por mais abominável que seja, justifica o seu êxito.. Um outro episódio, o tal da "água batizada" foi execrado por nossa "imprensa". Como pode? Dopar nossos indômitos jogadores!

Os argentinos já ganharam prêmios Nobel (creio que 5), levaram recentemente o Oscar de melhor filme estrangeiro. É ativo politicamente, culto e cosmopolita. Em suma, um povo admirável.

Fizemo-nos Argentinos. Não pelas razões expostas acima.

Assim como Maradona, estamos orgulhosíssimos pelo ato ilícito praticado. Enebriamo-nos ante nossa torpeza. Que bom enganamos os Marfinenses. Num único gol cometemos três irregularidades (dois toques com a mão e uma cama-de-gato).

Ao silêncio aquiescente imposto e alegremente aceito, vem se somar agora o assombramento pela vantagem ilegal.

A vitória é tão importante? Tudo se justifica ante sua consecução?

Sacrificar um modo de jogar, atirar a decência ao limbo e tiranizar a tudo e todos. O que mais virá?

Estamos em meio ao oba-oba, ao vale-tudo e assim como se vê no mito de Prometeu, eu resisto. O Máximo já disse que há gente vendendo a mãe, mas que não entrega. Os tempos são outros meu amigo, eles agora entregam a domicílio.

Tadeu dos Santos


segunda-feira, 21 de junho de 2010

Convenhamos, meu irmão...


Pra que ficar no gol da Espanha?

SRN

Relva de Toda a gente!


Por razões óbvias, para parte deste blog, esse 7 x 0 lusitano diz muito mais do que o maquinismo de Dunga de macedo.

SRN

“Quem não sabe contra quem luta, jamais poderá vencer.”

Ontem, em o "Papo de Copa", a resposta que dá ao 28, na qual traça a distinção entre arte e técnica é admirável. Exige desenvolvimento, aponta para um ensaio que esmiuçe, para campos distintos, as caracteristicas de progresso, tributário ao ideal iluminista, típico do cientificismo dos dezenove ( período do auge, pela novidade, da crença no absoluto cientifíco), ao passo que os traços da arte me lembram um livro que li há muito, escrito pelo Ferreira Gullar: "Argumentação contra a Morte da Arte".

A clareza precisa de Gullar, em quem as palavras ajudam e não atrapalham, a exemplo do que pregava Graciliano Ramos. De fato, em Gullar, as palavras “não brilham feito ouro falso”, estão ali à disposição e são usadas para dizer que seria um desastre, se suspendêssemos o humor e concordássemos com Mondrian, em ver nos seus "quadrados", particularmente em "Victory Boogie-Woogie", a conclusão de um processo artístico de séculos no desenrolar de artistas como Da Vinci, Rafael, Monet, Picasso.

Disse o que você respondeu ontem ao 28: as seleções campeãs, Alemanha, Itália e, mesmo, o Brasil de 94, submeter-se-iam , no máximo, ao campo técnico.

Arte, A GRANDE ARTE (assim mesmo, em caixa alta), decerto, a de 82.

Já que falei em Telê, lembrei-me de um ditado popular:

“Quem não sabe contra quem luta, jamais poderá vencer.”

Dunga ou a globo?

Para o Brasil, não há termos de comparação. A globo, desde a sua constituição ilegal, encerra uma história deletéria, na superestrutura conveniente por onde escoa nossa dependência estrutural. Sua vassalagem à ditadura, a ambiguidade na apuração da bomba do Riocentro, seu silêncio às Diretas Já, até ter seus carros virados e, na candelária, em 84, naquele Comício de Redenção:

“O povo não é bobo, abaixo a rede globo.”

Não há dúvida de que me dá engulho a emproação ofendida de freira de prostíbulo – ou há melhor maneira de dizer o que os engradados da globo divulgam ante à “pátria de chuteiras” ofendida por Dunga?

O problema é que, embora menor, quase insignificante, um erro de revisão da história do futebol brasileiro, Dunga de Macedo também pratica a sua forma de entreguismo com um futebol que nada tem do ramo mais amado de nossa cultura popular. Um futebol, ao invés de brasileiro, alemão.

Dunga de Macedo, o diácono de Jorginho, este, mesmo, aquele que queria mudar o símbolo do América, o nosso Mequinha, segundo time de todo Rubro-Negro ( a única concessão de segundo time que faz todo Rubro-negro de time único, seja aonde for). Queria mudar, porque o diabo era um atentado contra uma dessas lojas recentemente abertas para a mercadoria da fé.

Sem chance.

SRN

Máximo



Convém não esquecer que a burrice precisa do consenso pra poder se reproduzir a contento.

Numa de suas raras intervenções no programa Band Mania, o ex-volante Emerson afirmou que não titubearia em dar uns bons cutucões no braço recém-quebrado de Drogba. Essas e outras pérolas do gênero são repetidas à farta em meio à equipe que a Bandeirantes reuniu pra “comentar a Copa”. Denílson tem um quadro em que manda beijinhos pra conhecidos. Quando não está a exercer a função de beijoqueiro da vez, o ex-atacante lança demoradas loas à sua esposa. Ao que tudo indica, a grande conquista de sua carreira foi a obtenção do cargo de cunhado do Zezé Di Camargo. E são tantas as declarações de amor... Vampeta, o tal do “Flamengo finge que paga e eu finjo que jogo”. Não é poeta, claro, mas é dado a fingimentos e outras indiscrições do gênero. São recorrentes os elogios à sua paixão etílica, tipo “bebo até de graça, imagine quando sou campeão do mundo”.

O comandante daquela “sessão” de debates atende pelo nome de Milton Neves. Uma de suas funções é sacar de uma ampulheta sempre que alguém se atreve a fazer uma pergunta pertinente, algo inteiramente inadmissível em meio àquela insana disputa de egos. Não consegue sequer impor uma regra elementar quando o assunto é debate, ou seja, que um dê ao outro a oportunidade de falar.

Vuvuzelas são tocadas e inconfidências de ex e atuais jogadores são veiculadas à farta.

E ainda tem o Neto. Sim! Há o Neto. Ele é prolixo na produção de elogios. Todos são craques. Todos são gênios. Quando utilizadas sem o devido comedimento a palavra se esgarça, daí começa a não reunir força suficiente à produção de uma ideia. Ao fim e ao cabo, ela se faz nada. Faz-se vazia. Não qualifica e tampouco altera a realidade. Se afirmo que Kaká é craque devo buscar outra palavra pra qualificar o Rivelino. Se insisto no erro e afirmo que Rivelino é gênio haverei de me investir na função de inventor e buscar o qualificativo que definirá Pelé. Mas Neto não é jornalista, é só mais um dos muitos torcedores enviados à “cobertura do evento”.

Há também a troca recíproca de elogios. Neto, por exemplo, foi erigido à categoria de melhor comentarista da televisão. Luciano do Valle é o melhor grito de gol que existe. O mais grave e estarrecedor é que eles acreditam.

Neto é um felizardo. Recebeu de bandeja uma vaga entre os 11 melhores camisas 10 de todos os tempos. no livro de Marcelo Barreto, jornalista do Sportv. Agora é o melhor comentarista da televisão brasileira. O que mais virá?

Aqui, ao contrário da “cobertura” da Globo não há o sacrifício da verdade em prol da adesão popular. Nada disso, há aqui apenas um enorme vazio. Não há verdades e tampouco mentiras. Não há fatos, não há análises, mas apenas grunhidos que disputam um mínimo de atenção das câmeras. O futebol se foi, mas ficou a necessidade dos holofotes. Assemelham-se àquelas musas decadentes e carregadas de maquiagem. São as sequelas dos efeitos nefastos que o futebol vive a produzir.

Mas na Globo é diferente. Nestes sítios o futebol é puro glamour. E o glamour, não duvidem, é obtido com vitórias. Custe o que custar, há sempre por ali alguém disposto a pagar o preço. Em meio ao caso do “CALA BOCA GALVÃO” veiculado no twitter o “jornalista” afirmou categoricamente que sim, é um narrador-torcedor. Em outras oportunidades já havíamos afirmado que todos os “profissionais” da Globo presentes à África do Sul eram torcedores e que não havia por ali um que dignificasse a profissão de “jornalista”.

Foge ao âmbito do presente texto discutir os limites da chamada isenção jornalística, mas me assusta a passividade da imprensa diante de um profissional que cria óbices intransponíveis ao desempenho de sua função maior, ou seja, informar.

Tudo parece se justificar quando a contraprestação é a tão decantada vitória. Sinto que nos deixamos contaminar pela mania americana vazada no “elogio ao êxito”. Perder é feio, é coisa de losers.

Em meio a tantos “jornalistas-torcedores”, nós, os “torcedores-torcedores” ficamos a ver navios. Os fatos já vêm distorcido, contaminados que estão pela paixão interesseira, pelo amor aos grandes negócios.

Preocupa-me a maneira como um comando vazado no mais desabrido autoritarismo é aceito com tanta condescendência. Júlio Cesar, o goleiro, já afirmou que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Nossa tradição autoritária se espraiou até mesmo àqueles que cronologicamente não sofreram seus efeitos diretos.

A Copa é coisa dos “jornalistas-torcedores” e do Ditador e seus comandados. À primeira cabia fazer a ponte, ligar, a seleção ao povo. Divorciamo-nos, mas a vitória nos reconciliará. Vês? É simples.

É triste o jornalismo feito à base de cartilhas. São dóceis os “profissionais” que se dispõe à repetição de mantras. São acríticos. São Galvões, Casagrandes, Falcões, Coelhos e outros do gênero. Na outra ponta estão os consumidores. As doses ministradas de 4 em 4 anos, tornaram-nos ávidos pela glória. Somos agora movidos por vitórias e propaganda de celulares e cerveja.

Em meio à Copa do Mundo morreu José Saramago. Veja dedicou-lhe meia página. Ao fim da matéria veio a crítica à sua conhecida posição política. E lá estava a explícita condenação à amizade que mantinha com Fidel e Chavez.

Foram tímidos os comentários ao essencial que é, indubitavelmente, a literatura de Saramago.

Philip Roth, o maior escritor americano vivo, condenou em “O Fantasma sai de Cena” a mania consistente em confundir a vida particular do escritor com sua produção literária. Veja, claro, passou batida pelo ensinamento. Também em relação ao Niemeyer adotou-se o mesmo padrão. Toda a sua importância artística foi lançada ao limbo. O que contava era condenar sua explícita adesão ao socialismo.Ali não se faz jornalismo. Exerce-se, apenas e tão somente, um desavergonhado patrulhamento ideológico.

Em meio a tudo isso, sucumbiram o futebol bem jogado, o toque de calcanhar, a trivela, o lençol, o drible de corpo. Ficou apenas aquilo que tão bem se dá aos olhos dos cegos, a saber, o resultado, a estatística e o levantar o troféu em meio à chuva de papel picado.

Mas não há de ser nada. Logo virão as eliminações. Alguns “jornalistas” serão mandados de volta e eles entrevistarão uns aos outros. E nós riremos. Sim, o riso é a parte que nos coube nesse latifúndio.

Tadeu dos Santos

domingo, 20 de junho de 2010

A Mão Direita de Deus

Todos, de algum modo, conhecem Deus.

Maradona - é natural - tinha de ter privilégios, não poderia ser ungido a um tempo em que Dunga ameaçava a bola em campo. Recebeu de Deus um presente há 24 anos no gol que fez contra a Inglaterra, com ajuda da mão de Deus.


O organização da fé hoje é muito mais efetiva e, no corporativismo em suas várias razões sociais, a que contemplou a Organização de Dunga de Macedo levou hoje de lambuja um gol de mão dupla, ambas de direita - é natural.

Se a mão dupla de Luis Fabiano valeu, porém, mais uma vez não valeu nada um time sem meio-campo, Gilberto Silva tão inútil quantos os comentaristas de televisão, Elano anódino e, o pior dos mundos, um mundo em que há de tudo, mas decerto falta bola, o que nos expõe temerariamente Felipe Melo errando todos os passes, permitindo o contra-ataque, além de responsável pelo gol de Drogba a quem deixou livre pra cabecear na cara de Júlio Cesar.

Três gols fortuitos.

Três gols fortuitos.

A repetição se justifica diante do ufanismo a que nos acostumou a "Pátria de Chuteiras", de que nos falava o tricolor (é lamentável) Nelson Rodrigues.

Três gols fortuitos, porque em nada resultante de uma articulação coletiva de um time bem treinado e que sabe jogar.

Três gols fortuitos contra todo ufanismo, sórdido ufanismo, que, de resto, sabemos bem todos os que o vivemos.

Agora agradeçam à Nação Rubro-negra: como joga o Juan.

Um lance diz tudo. Bola lançada contra a defesa avançada, Drogba dispara, segue na vertical para Júlio Cesar, perseguido de perto por Juan. Vem o momento certo e Juan intervém, dando um leve toque desarmando Drogba.


Lembrei-me do que me contavam os antigos, ainda mais antigos, a respeito de Domingos da Guia ,outro Monstro do Panteão Rubro-Negro. Dizem que fez exatamente igual na perseguição a um adversário num lance também de copa do mundo. Parece que a de 34.

Três gols fortuitos.

SRN

Dicotomia Falsa

Já afirmamos antes que o futebol, arte na sua mais íntima essência, não admite a ideia de progresso. Perceba-se que não estamos aqui a negar a importância da técnica enquanto instrumento hábil à produção artística.

Miremos no futebol. É o talento a argamassa que lhe fixa os contornos. Seria, no entanto, inteiramente descabido que viéssemos a menosprezar o desenvolvimento dos materiais esportivos.

As chuteiras são mais leves, tem design arrojado e a ergometria é perfeita. As bolas são mais velozes e mais facilmente direcionáveis. Os uniformes são mais leves, absorvem o suor e por tudo isso são mais confortáveis.

E o condicionamento físico? Os jogadores são mais fortes e mais velozes. As novas técnicas de educação física e a novel tecnologia de alimentos produziram atletas de ponta.

O desenvolvimento da técnica modificou, claro, a prática do futebol.

O raciocínio utilizado na explicação do binômio técnica/futebol pode ser espraiado a outros setores em que a arte se faz presente.

Por mais modernos e poderosos que sejam os atuais Home-Theater, com wireless, HDMI e outras coisitas mais, o som puro e sem dissonâncias que modernamente produzimos não teve ainda o condão de fazer com que surjam amiúde os Muddy Waters, Miles Davis, Elmore James, Etta James, J. B. Lenoir, Howlin’ Wolf, Freddie King e Albert King, dentre tantos outros. Ao contrário, vicejam por aí as Lady Gaga, Usher, Beyoncé e Cia.

A impressão que eventualmente se tem é que a arte parece andar na contramão da técnica. O desenvolvimento do aparato técnico parece ter o condão de embotar o talento.

Também com o cinema as coisas vão no mesmo passo. Filmes produzidos com a manipulação da mais moderna tecnologia, ao fim e ao cabo, revelam-se obras menores do que aqueles produzidos com um câmera e uma boa ideia.

Ouvimos a todo instante que o futebol evoluiu e que o futebol-arte é ineficaz e improdutivo. É passado. A modernidade consiste em dirigir o foco à defesa e nessa disputa de escolas, a europeia restou vencedora. A nós cabe apenas copiá-la. Se o circulo insiste em não encaixar-se no quadrado que lhe foi destinado, tanto faz. Basta insistir um pouco mais.

Bolas velozes, uniformes imunes ao suor e farta produção de atletas top não lograram ressuscitar o talento que talvez contaminado pelo saudosismo, vejo escassear por toda a parte.

A confusa mistura de técnica/arte faz com que diuturnamente traiamos o escrete de 1982. A grande magia do futebol também consiste na frequente presença do improvável, do inesperado. É um esporte extremamente democrático. Sua prática abre-se a pobres e ricos, altos e baixos, gordos e magros, pouco importa. Aqui a vitória também presta-se à redenção do mais fraco e, não poucas vezes, até mesmo do mais feio.

O placar, todavia, justificou a análise embasada no desenvolvimento linear da técnica de jogar futebol. Havíamos perdido o trem da história e o insucesso de 1986 confirmou essa desconfiança que então se fez certeza.

Desde então, atrelou-se o futebol jogado à brasileira ao nosso descompasso histórico.

Perdemos não pela simples razão de que esse é um dos resultados possíveis e decorrentes da disputa de um jogo de futebol, mas sim porque perdemos o trem da história. É europeia a fonte de onde virá o acerto redentor. Olvidam-se todos que se não fosse pela inteira ausência de molejo, ginga, perspicácia e TALENTO eles falariam o mais desabrido português.

Tadeu dos Santos

O Míope e o Caipira

Acabei de ver o jogo da Itália contra Nova Zelândia. O pior em meio a esse cipoal de mediocridade é que a Itália vai prosseguir e incomodar mais adiante. É a escola italiana. Acho, aliás, que eles fazem muito bem jogando dessa maneira. Não chegariam a lugar algum se resolvessem jogar à moda argentina. Nem mesmo os torcedores italianos gostariam de um futebol bem jogado mas com defesa deficiente.

Não consigo torcer pelo time de Dunga por essa razão. Se é pra jogar nos termos de escolas alheias, prefiro o original. Se é pra montar um ferrolho, pois que seja Suíço (apresenta bons resultados desde 1950. Se é pra montar um retranca intransponível sou mais a Itália. Questão de especialização, meu irmão.


Nosso grande equívoco consiste em achar que 1994 é uma vitória paradigmática. Não é. Montamos uma retranca, mas ganhamos graças ao talento de dois excelentes atacantes. Trair os ditames de uma escola de futebol é o mesmo que apostar na ineficácia, no desastre.


Tadeu dos Santos

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago sem branco


Branca é a cor da cegueira coletiva que acomete o romance. O ensaio é branco porque europeu. Portugal socializou o Atlântico e ampliou a Europa. Séculos adiante a ditadura salazar, como toda a ditadura, pagadora de promessas à conta do povo, ao encaminhamento da massa portuguesa de novo rumo ao Atlântico. A economia salazarista funcionava exportando português pobre.

O fascismo é branco.

Dos Açores, Angra do Heroísmo, às 9.

Do Maracanã, o ilhéu açougueiro, sem clube, mas que se vê Rubro-Negro.

Os olhos do moleque sempre estiveram abertos do alto daquele ombro açoriano na catadupa de cores da qual o branco é insípido:

É a chuva daquele domingo de 10 anos.

Saramago viveu sabendo que a cegueira é branca.

O açoriano deixou que o moleque percebesse que a vida é Rubro-Negra.

Saudações Rubro-Negras Saramago.

Engradados

Vejo a cobertura que nossa “imprensa” faz da Copa do Mundo e a pergunta que insiste em não silenciar é: por que não levaram ao menos um jornalista que dignificasse a profissão.

Há por ali um amontoado de torcedores, uma turba ignara que vive a repetir o surrado mantra:

- Foi o nervosismo da estreia. Por isso não nos saímos bem.

Pois é, “não nos saímos bem” é frase carregada de eufemismo. Na realidade ela significa:

- Jogamos um futebolzinho de merda. Sabíamos todos que seria assim. O que esperar de um time com tantos volantes, sem meia e sem talento? No entanto, somos pagos pra dizer que o rei não está nu.

A outra desculpa que muito se faz ouvir é:

- Todos os coreanos ficaram atrás da linha da bola.

É verdade. Todos sabiam que seria assim. Frise-se, no mesmo passo, que podem ser contados nos dedos de uma só mão, as seleções que cometem a ousadia de jogar de “igual pra igual” com a seleção brasileira. Sempre foi assim. Pode ser, contudo, que acaso venhamos a insistir no “conceito de futebol Dungueano” esse respeito se esvaia. Pode ser.

- Contra a Costa do Marfim as coisas serão diferentes. Eles sairão pro jogo.

Por que isso ocorreria? Muitos (e eu me incluo) apostam no empate triplo entre Brasil, Costa do Marfim e Portugal. Todos sabem também que nos confrontos contra a Coreia do Norte será formado o saldo de gols que definirá a classificação. O mais razoável, portanto, é que seja o time do Dunga aquele a sair pro jogo(fez o saldo mínimo), a expor-se. Ou não?

Penso tudo isso, mas também confesso que me divirto à vera assistindo à incessante produção de versões para o fiasco do time do Dunga. Dizem que nos estúdios da Globo está terminantemente proibido o ingresso de crianças. Elas são dadas a dizer verdades, algo totalmente inaceitável naqueles domínios.

Tadeu dos Santos

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O pior dos mundos: Dunga de macedo x Engradados da Imprensa

28 - Tadeu, vim até aqui só por consideração. Mas, vou ser franco: não vi o jogo de anteontem nem li nada a respeito.A alienação só não é maior porque a licença do trabalho acabou e eu não sou surdo. Mais interessante foi a relação que você fez no e-mail que mandou pro Máximo do Chaves e o Dunga. Meu camarada, discordo. A relação mais justa, pra mim, é entre Dunga e o Pinochet. Não tem a ver?

Tadeu - Um pensador, perguntado a respeito das diferenças que extremavam os políticos de direita e esquerda quando estavam no poder, respondeu:

-Nenhuma. Fazem ambos a mesma coisa. A única diferença é que o de esquerda lamenta muito.

Talvez não seja exagero elastecer o raciocínio e utilizá-lo na análise de ditaduras. O que extrema Chávez um pretenso ditador de esquerda (não é essa a minha opinião) de Pinochet um ditador de direita? O regime capitaneado por Chávez é do tipo totalitário ou autoritário? E o de Pinochet? Se não é possível estabelecer substancialmente as diferenças quando a investidura no poder se dá pelas vias institucionais, por que o seria quando a "investidura" se dá por vias transversas?
Os ditos ditadores de esquerda são estatizantes; os de direita privilegiam a iniciativa privada. As diferenças não param por aí e não ficarei aqui a arrolá-las.

Em comum, há o constante recurso à tortura, à censura da imprensa e, claro, à infalibilidade.

Cada um à sua maneira, promete a redenção do homem.

O que privilegia o capital findará por decretar o fim da história (Francis Fukuyama) e solenemente ignorará os suicídios cometidos por chineses desesperançados. Aos que demonizam o capital resta explicar os milhões de mortos produzidos ao longo do século XX. Já procurei e não achei, acudam-me por favor, em que parte do capital está a previsão dos expurgos, dos gulags e do silêncio do oponente à qualquer custo. A ditadura de Stalin é sinônima da tal ditadura do proletariado de que nos falava Marx?

Independentemente do ditador e da péssima ideia que ele represente o efeito prático é o mesmo: imposição de suas máximas e silêncio aos que ousam divergir.

28 - A respeito da divergência em Nação Maior, à que o Máximo se refere, tiro a lição do antigo Pasquim. O humor tem de ser iconoclasta. Não pode ter compromisso com nada nem ninguém. Deve tornar evidente o que há de ridículo em tudo. Humor a favor não existe, razão pela qual o Jaguar, cujo traço é o que há de melhor, um desenho escrito, soçobrou na agonia do Pasquim quando, ajudado pelo Brizola, que estava sem imprensa, este resolveu abrir os cofres do Banerj e bancar o Pasquim. O jornal virou um panfleto pedetista. E foi o que se viu. Você se lembra?

Tadeu - Sim, lembro-me bem. Creio, porém, na inteira impossibilidade da tal ausência de compromisso. Há apenas um discurso sobre a imparcialidade e a neutralidade. Preferir uma ditadura à outra é, claro, um opção, um comprometimento (conceito em voga). Quando o assunto é ditadura, prefiro a de Pinochet pela simples razão de já haver acabado. É passado. A representatividade política nos infantiliza, mas as ditadura nos devolvem ao útero. Como são risíveis as ditaduras e como são ridículos os ditadores, não?

Aquelas que são rotuladas de esquerda são as mais paradoxais. São feitas em nome do povo e de início calam a chamada imprensa privada, que são úteis apenas aos donos dos meios de comunicação. A seguir calam aqueles que se deixaram contaminar por aquela finada imprensa privada, percebem depois que o contingente de contaminados é maior do que pensavam. As coisas prosseguem, o tempo passa e nossos "indômitos" revolucionários percebem que são minoria. Fazer o quê? Azar dessa maioria que não conseguiu ainda atinar para a grandeza dos seus propósitos. O passo seguinte se faz acompanhar de expurgos e gulags.

Já disse alguém que não há arcabouço teórico, por mais grandioso que nos pareça num primeiro momento, que não ceda ante a força dos fatos. O século XX foi rico em revoluções. Acaso alguma tenha seguido um itinerário diverso do que acabou de ser descrito, me avise. Ando louco pra atirar ao lixo meu ceticismo e me engajar numa luta pela redenção do ser humano.

28 - Vivemos, é fato, no pior dos mundos: Dunga de Macedo x engradados da imprensa. Aproveitar o Dunga pra fazer a crítica que essa imprensa merece, dizer que o diácono do Jorginho está correto em acabar com o privilégio da globo, não lhe dando exclusivas nem abrindo pra pastelaria do Galvão, seria legitimar um espírito de AI-5 que já sabemos não ser a solução. Antigamente, a censura levava a que os jornais botassem na primeira página receita de bolo, novenas, num aviso implícito do que estava ocorrendo. Hoje, certamente, botariam o retrato do Telê, seguido da escalação da melhor seleção de todos os tempos que foi a de 82 e ganhariam um apoio popular que incineraria, de uma vez, o bordão : "o povo não é bobo abaixo a rede globo." Sem chance, como diria o Máximo. Ou como diziam os mais antigos, muito mais do que eu e o Máximo, os nossos ancestrais originários, vítimas de Cortez e Pizarro: estamos "entre a cruz e a espada". O que prefere, meu irmão? Ou é melhor o suicídio como faziam nossos irmãos de Potosi, como nos conta Eduardo Galeano, em "As veias Abertas da América Latina"?

Tadeu - Dunga, sem dúvida, foi muito democrático em meio à sua histeria totalitária. A todos deu a mesma coisa, ou seja, nada. Nesses momentos em que há um vácuo de informação e a massa do pastel fica escassa, percebemos que espaço deveria ser preenchido com uma boa dose de criatividade. Que nada! Todos os recursos tecnológicos, conforto material e aquele amontoado de dados inservíveis findaram por dar cabo ao bom jornalismo. Aquele do tipo que que tirava água de pedra, que era investigativo, profundo e debochado. Você e Máximo estão certíssimos, a gordura que frita esse pastel está pra lá de saturada.