terça-feira, 30 de junho de 2015

A Cortina de Fumaça da Branca de Neve



Dunga é um excelente objeto de estudo biográfico. Assim como a biografia, modalidade durante muito tempo desvalorizada pela importância excessiva que dava à ação individual, hoje recuperada justo pela revalorização da vontade na compreensão do contexto, o meio-campo que, embora estivesse longe de um Falcão, de um Cerezo, de um Andrade, não era nenhum brucutu e sabia até fazer lançamentos de trivela. Dunga, entretanto, encarnou a “Era Dunga” e aí foi o seu calvário, cujas chagas continuam até hoje. Tal como nos anos 90 não era a encarnação da aridez pragmática que nos daria 94, hoje também não é o Mal Absoluto. Vê-lo dessa maneira é espalhar a cortina de fumaça que esconde problemas que não convém exame. 

Dunga não é o responsável pela falta de vínculo entre os jogadores e o futebol brasileiro. Talvez seja a nova divisão do trabalho do futebol espetáculo em que os jogadores são vendidos ainda na fralda (Messi, aliás, foi pra pra Espanha com 8 anos e também enfrenta esse problema na Argentina). É certo que o problema de Dunga está na questão conceitual de jogo, de que o melhor exemplo é o time do Chile, treinado pelo Sampaoli, que é um treinador inquieto, criativo e que dá gosto ver o seu time jogar, time também cheio de jogadores mercadorias de consumo externo. 

Por isso, além do contexto internacional, que afeta todo o mundo da bola, temos os nossos problemas específicos, da grande política que nos deu e nos dá Havelange, Otávio Pinto Guimarães, Nabi, Teixeira, Marin, Del Nero e Vírus anexos. E que nada se parecem com a Branca de Neve.

SRN



domingo, 28 de junho de 2015

Imagine a alegria do vice da gama hoje

Ganhar do Flamengo na arena pantanal é uma vitória ecológica do meio ambiente, notadamente para espécies ameaçadas de extinção. No caso especialíssimo do ecossistema viceíno, há uma particularidade que nos chama atenção: a ausência absoluta de predadores não impede o processo de autofagia da espécie de quatro patas Eurico da Gama. Rubro-Negros, embora generosos, deveríamos tomar cuidado e retornar da arena devidamente vacinados.

SRN


Uma crítica à economia do futebol e não uma economia do futebol crítica

Lazzaroni, Parreira, Zagallo, Dunga, Scolari. Todos são personagens do pequeno futebol, de um cotidiano em que, na incapacidade de se pensar mais amplo, prende-se e se esgota no que chamam de “resultado”. De fato, são todos eles mesmos “resultado”. O título de 94 é a vitória do ressentimento contra a arte sem taça de 82 e que não resiste ao exame nos termos do próprio pragmatismo. Uma campanha pífia nas eliminatórias, cuja classificação só foi obtida graças ao talento de Romário contra o Uruguai e contra a vontade de Parreira e Zagallo que não o queriam na seleção. Um ataque – Romário e Bebeto – só definido na própria copa, para uma campanha insípida, árida e que, na final, não ganhou por nenhum “mérito” avassalador, mas, nos pênaltis, exatamente como o que nos eliminou ontem. Calculem se Baggio não tivesse isolado aquele bola e Taffarel não fosse o grande goleiro que foi?

2002, o “apito amigo” (sic) quantas vezes não foi conveniente?

Evidente que o modelo do futebol brasileiro se inscreve na lógica do futebol mundial do grande negócio. E, talvez, nessa divisão do trabalho não nos caiba mais do que o que nós temos. Mas, será que os 7 x 1 - e agora essa eliminação agônica - não é a hora de se discutir toda a economia do futebol, aproveitando a crise da Fifa, pra quem sabe até tentar implodir, pelo nosso peso no mundo da bola, todas essas relações que nos deram Havelange, Marin e Vírus Anexos?

A propósito, Dunga é só um detalhe, para parafrasear o nosso cientista político balípodo, Parreira, para quem, aliás, a “CBF é o Brasil que deu certo”.

SRN




sábado, 27 de junho de 2015

Os 7 x 1 ainda não foram suficientes


Ospina Rodolfo Rodrigues

Explico:

Ospina fez ontem, contra a Argentina, uma defesa antológica, semelhante à que o uruguaio Rodolfo Rodrigues fez quando jogava pelo Santos, nos anos 80. 

Primeiro, pegou um chute à queima-roupa, no canto esquerdo, ainda a visão atrapalhada pelo seu zagueiro na pequena área.

 Em seguida, pulou pro outro canto, ainda a tempo de pegar a cabeçada de Messi (evidente que, se Messi cabeceasse certo, pro outro canto, Ospina não teria nenhuma chance).

Além disso, fez mais duas defesas espetaculares, no segundo tempo, praticamente segurando sozinho a "blitzkrieg" argentina.

O jogo teminou 0 x 0, e a Colômbia só perdeu nos penâltis.

SRN


sexta-feira, 26 de junho de 2015

"Cidadão Boilesen", de Chaim Litewsk

Dinamarquês e presidente do grupo Ultragas, Boilesen foi um dos agenciadores entre o empresariado paulista do financiamento da Operação Bandeirantes, um dos centros de tortura mais terríficos, montado em 69. 


Quem leu a "1964: A Conquista do Estado", de René Dreifuss, aprendeu sobre o caráter de classe do golpe de 64 e a ditadura que se lhe seguiu como indispensável ao controle político para a modernização conservadora que o país conheceu, a um só tempo, por exemplo, desenvolvendo um sistema de comunicações de ponta, reprimindo a vida política e arrochando salários.

A relação me veio a partir da declaração de Dunga. Evidente, que Dunga nada tem a ver com isso, tampouco é racista, como pareceu nas declarações de hoje de quem não sabe usar as palavras e resolveu fazer graça. Mas, o ressentimento que carrega é parte da Memória Nacional (no caso dele o futebol,a chamada 'Era Dunga") ainda não suficientemente trabalhada pela crítica da História e que cria o ambiente de esquecimento que produz, entre outros, vômitos como Lobão, Roger e Danilo Gentili.

Este documentário é excelente porque demonstra a continuidade autoritária em instituições que fazem todo o possível pra reduzir a ditadura recente a um problema de caráter.

SRN



"Eu até acho que sou afrodescendente, de tanto que apanhei e gosto de apanhar."

Num dia importante para a conquista dos avanços civis, a declaração de Dunga demonstra como o futebol encarna contradições da sociedade brasileira. Não vale sequer discutir o conteúdo da declaração, de tão bisonha, mas como a ausência do trabalho de memória, que tantas marcas deixaram no protagonista da 'Era Dunga", sempre retorna com ressentimentos. Dunga não se conforma com o amor que temos pelaseleção de 82, que não ganhou nada. A transição incompleta da ditadura, bloqueando o exame das relações sociais, das cumplicidades e conivências, procurando reduzir a tortura e os torturadores ao âmbito individual, encontra uma metáfora muito bem delineada no futebol brasileiro que nos dá Havelange,Teixeira, Marin, Del Nero e Vírus Anexos. 
SRN
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/…/dunga-se-ve-como-afrodescendente-…
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quinta-feira, 25 de junho de 2015

"A Voz da Arquibancada" e "Democracia em Preto e Branco"

Acabei de voltar da FGV, onde pude assistir, no cine clube do 13° andar, a exibição de dois documentários:"A Voz da Arquibancada", de Bernardo Buarque de Hollanda, Jimmy Medeiros, Bernardo Bortolloti e Rosana Teixeira e "Democracia em Preto e Branco", de Pedro Asberg. Todos estavam presentes para, em seguida à exibição dos filmes, fosse aberta uma roda de debates. Também presentes representantes das torcidas organizadas dos clubes cariocas, tema específico do primeiro filme. 

Perguntei ao carioca e Rubro-Negro, Pedro Asberg, se as condições de crise do capitalismo brasileiro, sob manejo da ditadura, em 84, não eram mais agudas em São Paulo e, por isso, a Democracia Corinthiana. Sempre muito preciso e arguto, Asberg preferiu a ênfase nos personagens envolvidos. Respondeu-me fossem Sócrates, Casagrande e Vladimir cariocas o movimento teria ocorrido no Rio.

SRN


Chi! Chi! Le! Le! Le!


sábado, 20 de junho de 2015

SARAVÁ NAÇÃO: 1980; 1987!



Foram dois anos históricos em que todos os Orixás Rubro-Negros desceram à terra pra varrer todos os Dragões da Maldade do mundo da bola. Lutaram contra os Malafaias e Felicianos da época. 

Mas, a maldade persiste, levaram nosso Maracanã e nos deram essa loja pausterizada que aluga quadra de futebol soçaite.

E hoje tem despacho.

Saravá! 

SRN!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sampaoli e Guardiola



São, sem dúvida, os que melhores gostam de ter prazer com a bola bem jogada, nesse futebol da Fifa. E a vantagem é que são treinadores, ao contrário de blatter, marin e vírus anexos, escroques e puxa-sacos de ditadores. 

Aqui, no nosso continente, como é bonito ver o Chile tocar a bola. Do meio pra frente, Sampaoli organiza um suporte apenas na medida necessária pro Vidal, pro Sanches, pro Vargas, pro Valdívia, um maestro a que não estamos acostumados a ver no Palmeiras, pros alas, que não são laterais, porque jogam no campo do adversário. Tudo com muita leveza, movimentação. O argentino Sampaoli e o Chile vêm de longe. No ano passado, na copa, deram um sufoco no outro treineiro, "compatriota", o treineiro admirador do pinochet. O futebol sul-americano precisa de mais Sampaolis, assim como um dia tivemos Telê.


Chile 5 x 0 Bolívia.

SRN

Listen


Picassos Falsos


quinta-feira, 18 de junho de 2015

O "Garoto" Adalberto, Lateral Rubro-Negro


Claro que me lembro, Bruno!
Sou da geração que tinha no Botafogo (o carioca) o pior adversário. Era ir no lado esquerdo da tribuna e ver, do outro lado, aquela faixa fazendo referência aos 6 x 0 de 72. Até que, em 81, devolvemos, no gol clássico do Andrade faltando três minutos pro fim do jogo. Eu estava lá. Alguns anos depois, já com o Adalberto, no lugar do Júnior, fizemos também 6, mas os amarelos ainda fizeram 1. Resultado: 6 x 1. O Adalberto foi o melhor em campo. Era um garoto promissor, subindo dos juniores. Até que veio a catástrofe daquele camarada do Botafogo, agora da Paraíba, doidaço em campo, que entrou pra foder e quebrou a perna do Adalberto. As condições de recuperação da época, anos 80, não eram como as de hoje; ele ficou muito tempo parado, tentou voltar, mas não deu mais, sendo substituído pelo Leonardo. O Adalberto ainda jogou no América, quando o Mequinha ainda era um dos grandes do Rio. Uma maravilha vê-lo ao seu lado, aí na foto. Quando for à Gávea, gostaria de, se possível, tirar uma foto com os craques que estiverem aí, sobretudo dessa época, anos 80, quando eu era também um jovem. 

Um abraço, extensivo ao Adalberto, com SRN.

P.S. O tempo - de fato, Cazuza - não para...

Cuadrado


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Confesso que me diverti


Trocadilho é tão fuleiro, quanto a pior forma de humor, mas já está tarde pra pensar em alguma coisa melhor. Além disso, o que vale é o registro do melhor futebol que se joga aqui no continente. Pouco importam as falhas na defesa, mas, sim, o conjunto do time chileno, dirigido pelo criativo Sampaoli (que já era pra ter detonado aquele time de amarelo de Scolari e Parreira). O argentino tem o time na mão. Começa compacto, jogando em apenas 30 metros do campo, de intermediária à intermediária, sempre buscando jogadas agudas pro trio sensacional de atacantes, Vidal, Vargas e Sanches (todos falam de Messi e Neymar, mas este Sanches será uma grande surpresa, grande jogador), regidos pelo Valdívia, que nunca jogou no Palmeiras o que jogou hoje. Um quarteto habilidoso, com movimentação rápida, de toques em tabelinhas curtas. Os caras chegaram a fazer da área do México, no segundo tempo, quadra de dois toques. Além de dois gols legítimos anulados.
Melhor jogo disparado da Copa América:
Chile 3 x 3 México.
SRN

Valeu, Zito


Tbilisi


domingo, 14 de junho de 2015

"A Incrível Volta ao Mundo do Tricolor Suburbano", de Pedro Von Krüger e Felipe Nepomuceno

No início dos anos 60, o Madureira fez uma excursão pelo mundo. Da China a Cuba, passando pela Europa, um dos grandes bairros do subúrbio carioca com duas estações de trem e dois ícones do samba da Cidade: Portela e Império Serrano. 
O time, sempre modesto, mas muito melhor do que muito grande hoje por aí, chegou a Havana e ganhou de 3 x 2 da seleção local, com a presença do boleiro Che Guevara.
SRN


Borges de Videla



Não bastasse a cumplicidade com a ditadura, a antipatia por Borges, que morreu no dia de hoje, há 29 anos (1986),  só aumenta quando se lê o que ele dizia  à Veja (quando esta ainda era um veículo de imprensa)  na edição 509, de 7/06/1978. Borges desprezava o futebol com argumentos muito ralos. 

Talvez um padrão para o desinteresse pelo que escreveu um literato partidário de uma das ditaduras mais sanguinárias da história latino-americana. Por preferir o diabo ao peronismo, sua cegueira física embotava-lhe o espírito:

“Estoy harto del mundial.” (p.52)

Assim termina a entrevista, para falar pela última vez do que considera um assunto tão chato. 

Outro autor - provavelmente valorizado em excesso -  o tricolor Nelson Rodrigues,  que achava fantástico assistir ao lado de Médici - o radinho de pilha ao ouvido - futebol na tribuna do Maracanã, também não via nada do que ocorria em campo, a ponto de retrucar, quando contestado pela jogada mais tarde exibida na televisão, que “o videotape é burro”. 

A cegueira de Borges, mais empedernida, livrou os argentinos de sua presença nos estádios. Nessa edição de Veja, Borges apenas assistiu a 
uma única partida na vida e não teve mais "nenhuma vontade de ver outra” (p.52).

“O futebol é um jogo estúpido. Fomenta o nacionalismo e a rivalidade entre as pessoas e os países.” (p.52)

É paradoxal, no admirador do ditador militar Videla, desprezar as possibilidades táticas e estratégicas de contra-ataque, ataque, defesa e surpresa, contidas na movimentação de um time dentro de campo. Como é quase um paroxismo criticar o nacionalismo e, ao mesmo tempo, defender uma ditadura cuja xenofobia tornar-se-ia, já com todas as evidências mesmo pra todo tipo de cegueira, barulhenta e virulenta pelo clima ufanista de copa.

“O futebol é excessivamente frívolo e a frivolidade não importa. Não quero que isso tudo seja interpretado como uma crítica ao governo: eu sou partidário deste regime.”

SRN

No fundo, todo rei é um poeta


sábado, 13 de junho de 2015

Com o geógrafo David Harvey, a História Total recupera-se

O geógrafo marxista David Harvey está no Brasil. Na entrevista que deu ao El País, fala da exclusão na cidade organizada pelo capital. E isso é mais uma demonstração de que a totalidade na História é recuperada em face da fragmentação e heterogeneidade pós-moderna que ilude a emancipação como uma forma renovada, complexa, da dinâmica histórica produzida pelo capitalismo. Por baixo de tudo, mercadoria, valor e capital. Essa capacidade de perceber o que importa, expressa em um ponto, dentre tantos, que poderiam ser destacados na entrevista:
A Baltimore de 68, quando da morte de Martin Luther King, e a de agora, após a morte de Freddie Gray pela polícia.
Em 68, o capitalismo central experimentava a emergência dos direitos civis para descendentes da população escrava com o risco explosivo de reunir raça e classe. Por isso, o Panteras Negras foi abatido. King, também, embora mais insidioso, pela via religiosa o que a longo prazo é igualmente perturbador para a segregação.
O capitalismo hoje militariza o combate aos movimentos sociais. Todos são 11 de setembro disfarçados: “essa mentalidade antiterrorista de que todos que não estão agindo em conformidade com o sistema são potencialmente terroristas.”

Rubens Paiva foi assassinado naquele quartel

Nascido, criado e, certamente, futuro cadáver, na Gonzaga Bastos, que começa na Tijuca e termina em Vila Isabel. Moro em Vila isabel, felizmente, pois a rua começa no terrífico quartel da PE, centro de torturas da ditadura, e termina na 28, atravessando a Teodoro, onde morou e morreu ninguém mais ninguém menos do que Noel. O triste é ter de botar na mesma postagem Vila isabel, Noel x quartel da PE, tortura e Levi Fidélis. É que a Cátia, voltando da Saens Peña, passou pela pracinha (Lamartine Babo), em frente ao quartel, e ouviu quatro gatos pingados, um dos quais de megafone, aporrinhando:

"Volta militares! Vivemos numa ditadura comunista e só uma ditadura militar pra ter democracia!"

É piada, certo. Mas, só não dá pra rir, pois na pracinha constituiu-se um lugar de memória, com o busto do Rubens Paiva, assassinado naquele quartel.



sexta-feira, 12 de junho de 2015

Morreu ontem o Almirante Júlio de Sá Bierrenbach que criticou a farsa do inquérito do Riocentro

A ironia histórica é que qualquer manifestação do Ministro da Defesa tornará equivalente Bierrenbach e Leônidas.
Vida que segue, como dizia Saldanha
SRN


"O almirante Júlio de Sá Bierrenbach era ministro do Superior Tribunal Militar (STM) quando o inquérito policial militar sobre o Riocentro chegou ao tribunal para ser julgado. O caso já veio arquivado da auditoria militar onde tramitou e o militar da Marinha foi o único a votar contra o arquivamento do processo e pedir que Machado continuasse como investigado e a apuração, retomada.
Para Bierrenbach, "o IPM (do Riocentro) foi uma vergonha e isso é facilmente demonstrável". Ele afirmou considerar absurdas a absolvição e as promoções que Wilson Machado, co-autor do atentado, recebeu na carreira. "Vítimas uma ova! Eles fizeram o atentado. O capitão vai ao Riocentro com uma bomba, a bomba explode. O colega morre. E ele é promovido. Isso é um absurdo!", afirmou"

"A CBF é o Brasil que deu certo!"


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Ministro da Defesa deveria ler os livros do CPDOC da FGV Carioca



Custa entender a atitude do Ministro da Defesa, Jaques Wagner, no enterro do general Leônidas Pires Gonçalves, que chefiou o Codi do I Exército aqui no Rio, entre abril de 74 e novembro de 76, não só autorizando honras militares, mas também mandando representante (o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general José de Nardi).

Nenhum problema enquanto era o circo, que abrigava as jaulas de lobão, Bolsonaro, o vovô de fim de semana que torturou, matou, no Dops e esse moleque idiota do “MBL”.

Agora, por que uma ação oficial do Estado Brasileiro?

Como sempre, a historiografia é muito útil e está disponível em excelentes trabalhos acadêmicos. A memória militar da ditadura recente foi objeto de pesquisa do CPDOC da FGV carioca. Entre outros livros, com depoimentos de militares que fizeram a ditadura, em “Militares e Política na Nova República”, o método empregado pelos autores, Celso Castro e Maria Celina D’Araújo, foi decisivo para os resultados: a História Oral (subjetividade da experiência vivida, ao invés da crença na verdade factual) e análise do conjunto dos depoimentos.

A condição do silêncio, que caracterizava a unidade das três Forças durante a ditadura, havia sido superada na Nova República. Nesta, os militares que alcançaram a promoção ao topo da hierarquia pertenciam a uma geração mais nova, que não carregava a responsabilidade do constrangimento pela repressão, tortura, desaparecimentos e mortos. 

A falácia do bloco monolítico associado às Forças Armadas ficava evidente. Havia divergências internas. Havia disputas entre as Armas.Qual o papel que teriam sob o poder civil?

A preposição da pergunta anterior também não era consenso entre os analistas. É esta, de resto, a discussão que o texto introdutório procura fazer.

“Que aconteceu com os militares depois que deixaram de ocupar o centro do poder político? Voltaram aos quartéis e sua influência política diminuiu? Ou, ao contrário, permaneceram politicamente poderosos como “tutores’ da democracia brasileira? Há defensores de posições excludentes e opostas.”

Mais do que isso uma postagem de blog começa a aporrinhar. Deve-se apenas procurar referências – a exemplo dessa produção historiográfica sobre a memória militar do CPDOC nos anos 90 – a fim de que se possa entender por que, quando já passou da hora de superar a conciliação que botou uma pedra no passado, justo o Ministro da Defesa de um Estado democrático venha adoçar o ranço requentado da lancheira térmica de vovôs de meia três quartos e Kichute, acompanhados de um imbecil que nasceu no século errado.

SRN

Papo de Botequim


segunda-feira, 8 de junho de 2015

O “Fenômeno” dos Despachantes de Chuteiras



Não dá pra negar a decepção com o governo Dilma, cujo ápice, ainda quente o computador eleitoral, foi usar a austeridade com o argumento de sempre da direita – e o que é pior: a chancela de alguém vindo do campo da esquerda, como se dissesse:
“Podemos brincar de reformistas, progressistas, até revolucionários, mas, quando a crise chega, o que resolve mesmo é o bom e velho ortodoxo plano liberal.”
Isso pra dizer que é preciso cuidado, agora que ninguém leva a sério o jogo do terceiro turno, afastada completamente a idiotia de impeachment. Não dá pra ler nem a estúpida Veja, com tampas de vaso sanitário de botequim fuleiro, tampouco jornalistas que não sabem mais distinguir matéria de panegírico. Luis Nassif dá pra ser lido quando é preciso, exato nas informações que passa, como agora na postagem sobre o “Mistério Ronaldo”.
A história da vida empresarial do “Fenômeno”, que também começa com mais uma dessas empresas de despachantes de intermediação e levado, conhecidas pelo nome típico do arrivismo neófito da era neoliberal: “marketing esportivo”. Primeiro, a “Gortin”, depois “9nine” (sic). Melhor ler a postagem completa no blog do Nassif cujo link segue abaixo. Antes, porém, a impressão de que se tratava de um pobre-diabo, adestrado, um ventríloquo bastante adequado para se enxergar um “fenômeno” de produção de valor no esporte espetáculo, então emergente, supera a confirmação quando lembramo-nos do seu depoimento na CPI da Nike, o ar patético, confrontado a Edmundo sobre o que ocorrera, de fato, na final da copa em 98. O “marketing esportivo” o instruíra a repetir, apenas repetir, que “tinha mais credibilidade que o Edmundo”. Baseado em que, cara-Pálida? 
Certo, no “marketing esportivo”. Um ventríloquo, como se vê, e que, no máximo (sem trocadilho), passava por ridículo diante de raposas velhas do Congresso. 
Ocorre que o ‘Fenômeno” não é só uma piada fabricada.
SRN

Rupestre

Leitura rupestre da Caverna da Gonzaga:

"De que vale desenhar se não for pra se divertir com o risco de garatujas?"

SRN




quinta-feira, 4 de junho de 2015

A Mão de Maradona Foi de Deus



O Canhoto Genial, no jogo em que faz o gol mais fantástico de todas as copas, também fora ungido por Deus pra fazer mais um, na Inglaterra, utilizando a Mão do Espírito Santo, sempre tão problemático em matéria de fé, mas que, naquela tarde ensolarada mexicana, resolveu se meter na disputa entre Maradona e Shilton, goleiro inglês, numa bola alçada na área.

Já a mão de Henry, atacante francês, no gol que classificou a França e eliminou a Irlanda, pra copa de 2010, nada teve de benta, pois, além de explícita, pornográfica, custou depois 5 milhões de euros pagos por Blatter, em troca do silêncio do presidente da federação irlandesa.

É o tal negócio: a economia de escala, decorrente do imbricamento futebol, televisão e negócio, exige a corrupção necessária a justificar os valores envolvidos na transferência de jogadores, na construção de “arenas” multi-serviços, o patrocínio e a propaganda. Tudo isso tem data: anos 90

Conforme Bourdieu: “um esporte espetáculo totalmente separado do esporte comum.”


SRN