quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Joga bonito


Até à morte

Ontem, numa festa promovida pelo Estadão, Levy disse o seguinte sobre a reforma da previdência:
“Nós temos de fazer uma reforma que dure 20, 30 anos e aumente oferta de trabalho, até porque nosso bônus demográfico está acabando. É muito difícil crescer quando a força de trabalho diminui. A reforma da Previdência não tira direito de ninguém, ela aumenta crescimento, cria empregos.”
Em português claro: velhinho vai trabalhar até à morte.
SRN

terça-feira, 29 de setembro de 2015

O cara parecia com Marx, mas falava do Delfim Netto



Depois do penúltimo final de semana, tenho evitado ir à Zona Sul. Tudo bem, Tijuca, Vila Isabel, Grajaú ficam a um passo, bastando atravessar o túnel. O problema é que ando de ônibus e, vindo da Zona Norte, no 433, pode ser que tome uma “dura”, ali na altura do Rio Sul, e a polícia descubra que só tenho o dinheiro da passagem de volta, e eu não tenho mais idade pra apanhar,  muito menos pai nem mãe pra serem mobilizados por assistente social.

Mas, não teve jeito. E, dentro do 433, pensava na sugestão que o pai da minha netinha Luíza me fizera: Marx era ou não teleológico?

Na minha opinião, tão útil ou inútil quanto qualquer outra, era. Mas, não de um messianismo como o que estamos acostumados a ver nas religiões. Isso porque desenvolvera a dialética materialista que deixa em aberto o devir. Mas, de onde vinha a ideia de um destino humano a ser cumprido, presente em Marx?

Vinha da lei do valor, que fundamenta a caracterização que Marx faz do capitalismo como modo de produção. E nela, centralmente, está justo o trabalho, que é o elemento comum ao valor de uso, que é de natureza qualitativa (cada um de nós, individualmente, determina a utilidade que tem das coisas), com o valor de troca, que é de natureza quantitativa, para viabilizar a operação de compra e venda no mercado. Trata-se de uma relação tão metabólica, por submeter todas as relações sociais, que, pra ser superada, abolindo, em consequência, as classes sociais, era necessário eliminar a organização do trabalho para a produção de um excedente que é a condição da mais-valia, concomitante, à valorização do capital. É o excedente, produzido pelo trabalho organizado para tal fim, que produz a riqueza nos termos de mercadoria sob o capitalismo.

Por isso, a importância que Marx atribuía à luta política.

Foi quando vi um cara igualzinho ao Marx, sentando no banco da frente. Falava sozinho, numa espécie de comício feito para o sussurro. Tive de ouvir. E era alguma coisa sobre Economia Política. Mandava alguém reparar na análise de determinados economistas como Delfim Netto, por exemplo. Até chegar no trabalho como produtor de excedente não há nada que discordar do que entende por desenvolvimento econômico. Quando fala do "Estado indutor", por exemplo, é a própria negação da falácia neoliberal. Também concorda sobre o problema político na disputa pelo excedente produzido por toda a sociedade. Quando defende o "espírito animal" do empresário, não o faz por principio de defesa da propriedade privada dos meios de produção. Nada disso. É que considera a ambição, quando devidamente estimulada pelo lucro, a melhor forma de aumentar o que os economistas chamam de FBKF (formação bruta de capital fixo). Não foi, de resto, outra coisa o que fez no chamado "milagre econômico". Aliás, nas análises econômicas dos próprios desenvolvimentistas de esquerda, o chamado desenvolvimento via substituição de importações vai de 1930 a 1980. Então, qual a diferença de Delfim de um economista marxista? É que Delfim não vê nada demais, ao contrário, considera condição necessária, a organização do trabalho para a produção de um excedente. 
Enquanto isso existir, será impossível uma sociedade revolucionária, horizontal, sem exploração do trabalho.

Pude ouvir bem nítido o cara dizer que, estratégica e taticamente, o que vale mesmo é lutar menos por uma revolução e mais por uma sociedade cada vez mais equilibrada. Mas, ao mesmo tempo, ele se  perguntava: se o capitalismo se baseia na lei do valor, que é, em suma, a exploração do trabalho, não viveremos sempre, enquanto não superá-lo, avançando aqui e retrocedendo ali?

Confesso que fiquei com vontade de perguntar se o cara era canhoto. De qualquer modo, fico feliz de saber que tem maluco por aí que também procura  acompanhar o que escreve os não marxistas.

Por isso, vale a pena continuar a ler os epígonos do retrocesso, sob coordenação de Fernando Henrique. E o mantra foi escrito por Armínio Fraga, há quase um mês, no Estadão: o objetivo é "orçamento zero', que desvincula as verbas orçamentárias constitucionais para a educação e saúde, além de pregar uma Constituição completamente revisada em favor do mercado Absoluto.

SRN

domingo, 27 de setembro de 2015

Chororô não é com Rubro-Negro


Seguinte: chororô não é com Rubro-Negro, mas a arbitragem desse brasileiro é uma maravilha. Aliás, a arbitragem, que os viceínos sempre associaram a uma conspiração Rubro-Negra (a cegueira já teve até um romance escrito pelo Saramago), deu um carioca recente, através de um penâlti inventado, e outro hoje. O que o Jorge (que é uma grande esperança da lateral desde o Athirson, que se perdeu) poderia fazer, na impulsão pra subir? Amputar o braço?



Tá tranquilo, uma vez vice, sempre vice.


SRN



sábado, 26 de setembro de 2015

Evolução, Cara-Pálida?



No Japão, o governo quer acabar com as Ciências Sociais, por considerá-las inúteis, na Austrália, no lugar de História e Geografia, cursos de programação de computador. Será que, na Itália, irão cortar a cabeça do cadáver de Gramsci?

“Preferir elaborar a própria concepção de mundo consciente e criticamente, com a própria cabeça, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente da produção da História do Mundo” / Gramsci, num dos seus Cadernos do Cárcere

A propósito desse retrocesso que se espalha pelo mundo,  a medicina alemã foi seriamente comprometida sob o nazismo. Dominar uma técnica, por mais complexa, não é suficiente. É preciso pensar sobre ela, quais as suas conseqüências, e isso só pode vir das Ciências Humanas.


SRN

Rock in Rio


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Embalsama pra presente

Fernando Henrique vem escrevendo que se esboça um conjunto de forças que irão se constituir uma alternativa de poder. Parece só palavras. O Globo e o Estadão, que alugam palavras, retornam o discurso do Estado mínimo. Parece que não são só palavras, quando viram programa, sistematizado pelo maestro Armínio Fraga em dois objetivos centrais: “orçamento zero”, que acaba com a vinculação orçamentária para Educação e Saúde e a Constituição revisada para o Mercado Absoluto.  São objetivos para além do tucanato, e aí as palavras de Fernando Henrique ganham a concretude de uma ameaça. 

Diante disso, minha dúvida é a seguinte: quem, conjunturalmente, está em melhor condições de enfrentar essa renovação conservadora: Temer ou Dilma? Ratazanas profissionais que sabem não poder ultrapassar certos limites ou um pastiche confuso, até bem intencionado, mas incapaz de mobilização no círculo de poder?

SRN


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Lula, mas poderia ser o Renan: "melhor perder ministérios que a Presidência"

Qual é a diferença desse modo de fazer política para as ratazanas aladas do PMDB? Aliás, quem melhor definiu Lula foi Delfim Netto: uma "brilhante inteligência pragmática, que nunca leu Marx" e que fez do PT, com a "Carta aos Brasileiros" uma força política palatável como qualquer outra, como o PMDB, com a diferença de que as profissionais do PMDB, pelos anos de janela, não se permitem certas coisas que uma ambiciosa, novata, na rua Ceará. Como dizia outro alemão, o "Marx da burguesia", Weber: "os meios, quando conspurcados, comprometem os fins." A aposta no PT, no Lula e na Dilma, como um mal menor, é hoje apenas uma revisão histórica. Talvez as ratazanas aladas do PMDB sejam mais úteis à contenção dos hamsters do PSDB, do seu maestro Armínio Fraga, do "orçamento zero" que quer acabar com a vinculação orçamentária da educação e da saúde e da Constituição revista em favor do Mercado Absoluto.


Vida que segue, como dizia o grande Saldanha...



Em reunião que durou cinco horas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aconselhou na quarta-feira, 23, a presidente Dilma Rousseff a atender a todos os...
DIARIODOPODER.COM.BR

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Triste Guanabara

A televisão, o rádio, os jornais, a internet, o governador, o prefeito, as oposições resumidas à obviedade jurídica esvaziada de política. Triste Guanabara, minha Cidade, triste cidade em que a única voz que dá dimensão política à segurança pública é o secretário de segurança pública.
Vida que segue, como dizia o Grande Saldanha...





terça-feira, 22 de setembro de 2015

“Qualquer criança brinca, qualquer criança se diverte” / camelô carioca

Nessas horas, Brizola faz falta. O que diria? O que faria? Como “vinha de longe”, segundo suas próprias palavras, usadas em situações tensas em que não cabe o fácil, o óbvio, o corriqueiro. E é corriqueiro, óbvio, fácil dizer, como disse o Freixo, que quem diz o que pode ou não pode é a lei. Óbvio, fácil, corriqueiro, problema resolvido, o império da lei, a paz e a felicidade de volta nas praias cariocas. Assim como o governo de Jango era legal, perfeitamente constitucional e, apesar da lei, foi golpeado. Agora mesmo, não há nada de ilegal no comportamento da Presidente, que, entretanto, pode sofrer a abertura do processo de impeachment. Assim como o jornal o Estado de São Paulo pede, sem dizer o nome, o que historicamente sempre pede nessas horas em que os interesses de que é porta voz estão em contradição, com a economia atrapalhada pela política, como se isso fosse um espanto, desde quando a política foi inventada pelos gregos justamente para resolver os problemas da produção material da vida, como lembra sempre o excelente Chico Oliveira. De modo equivalente, o prefeito carioca retorna à República Velha, agarra-se ao caboclo de Júlio Prestes, dizendo que não irá “tratar marginal como problema social”.


Os cariocas nunca precisamos tanto da politização das relações sociais na Cidade. Mais Brizola e Ulisses Guimarães e menos judicantes do óbvio.

SRN


Satisfeitos os 450 mil cariocas que votaram em Bolsonaro?



Certamente, muitos dos eleitores desse irresponsável devem estar tropeçando nos cacos dos vidros quebrados do último fim de semana. Calculem como ficarão as calçadas, se, além desse irresponsável, for dada voz aos núcleos fascistizantes que saíram pelas mesmas ruas agora cheias de cacos de vidro pedindo a volta da tortura e do fim do Estado Social e de Direitos. Aliás, pra isso, contam já com uma investida, igualmente leviana, de uma direita ideológica que quer acabar, de vez, com os direitos sociais e o que resta do mundo do trabalho precarizado. Sempre é bom reler o que escreveu Armínio Fraga, um dos epígonos da direita ideológica no jornal o Estado de São Paulo, num domingo, há duas semanas atrás:

 “Medidas mais fundamentais relativas ao Estado:

Discussão sobre o tamanho e as prioridades do Estado (requer limite ao crescimento do gasto,o que, por su avez,demanda as reformas abaixo).

Fim de todas as vinculações e adoção de um Orçamento base zero (sem prejuízo de espaços plurianuais, nunca permanentes).

Meritocracia e a boa gestão no setor público.

Revisão da cobertura da estabilidade do emprego no setor público.

Revisão do capítulo econômico da Constituição (adotar a economia de mercado. Qualquer interferência do Estado deverá ser justificada e seus resultados posteriormente avaliados).


Sem algo nessa linha o Brasil dificilmente se desenvolverá plenamente.”

“Deu mídia só porque é na zona sul”

E o argumento prossegue comparando com as torres gêmeas e o silêncio em relação ao horror que os EUA fazem no Oriente Médio. Além da pauperização do argumento geopolítico, a comparação é inadequada e cancela, mesmo, a boa intenção revolucionária. O papo de botequim, quando vai pro facebook, deveria ser mais cuidadoso.

Propor que a zona zul precisa passar pelo que passa a favela, numa simplificação do papel da violência dirigida e localizada numa sociedade de classes,  é estar disposto a um confronto armado que exige a participação direta e não a arma do copo de chop do botequim. É investir numa dinâmica que não exclui a reação que poderá vir e virá pesada, com todo o poder de classe.

Prefiro um concerto de forças políticas responsáveis que não deixe a Cidade entregue à pior solução que é ficar entregue a si mesma e que se apresente pra enfrentar o problema em suas dimensões fundamentais. Conjunturalmente, é identificar e conter as milícias de classe média que não precisam de nenhuma outra secretaria, a não ser a de segurança pública, e a dos adolescentes dos outros lugares da Cidade, que também precisam ser contidos, mas também identificados para uma investigação das secretarias de Assistência Social e Educação. Isso bate direto em Política Pública, em mais Estado responsável, com burocracia cada vez melhor de alto nível de qualificação. Também no que diz respeito às figuras públicas não contamos mais com nomes que encarnavam suas ações e estavam á altura dos desafios que enfrentaram. Lembro sempre de Ulisses Guimarães, figura mais do que necessária hoje, um conservador, mas democrata que sabia apostar, responsavelmente,  na radicalização à esquerda, quando sabia necessário à derrubada da ditadura.

Também é indispensável cancelar uma política educacional produtivista em que as escolas são “pontuadas” e ganham “prêmios”. Evidente a gentrificação conseqüente, com os alunos que se constituam em problemas à ‘avaliação de desempenho” da escola afastados para escolas reservadas para tal estigmatização.

São  crianças que um dia irão invadir a sua praia.



Milícias e Coretos



Discordo do que tenho lido, visto e ouvido. Sempre achei Beltrame, ao contrário da caracterização fácil de “fascista” e dos governadores a quem serviu (o sempre ausente e nanico Sérgio Cabral e o atual ghost que pode ser qualquer coisa, Pezão), um homem público. Responsável por uma das áreas mais sensíveis do Rio, em todas as suas atuações, desde a operação no Alemão - quando afirmou que não basta só a polícia, é preciso que as outras secretarias venham junto, Educação, Saúde, Assistência Social etc - até à manifestação atual sobre o que ocorreu neste final de semana, procura compreender o problema da violência em toda sua complexidade. Mas, como alguém que tem de tomar decisões, no limite, cumpre com a parte que lhe cabe. Mais uma vez, vem dele o melhor enfoque. Afirma que a retirada da prevenção do âmbito do monopólio legal da força (isso é Weber) abre a possibilidade de milícias que podem produzir o justiçamento em determinadas ruas da zona sul carioca, o que levaria à represália, elevando a violência urbana a um nível inaudito. Beltrame ainda chamou atenção para a irresponsabilidade do retrocesso na lei do desarmamento (razão pela qual foi, pessoalmente ao Congresso, pedir pela manutenção da lei), promovido pela bancada da bala com a cumplicidade leviana desse imbecil do bolsonaro. Disse para calcular o que, nessa conjuntura, produziria o livre porte de até três armas para cada cidadão. Pela internete, “milícias” organizam-se com tacos de beisebol para “limpar a zona sul” e do outro, o “coreto”, é “nois cheio de odio na faca”.

Há quem diga tratar-se do esboço de uma luta de classes, finalmente tardia. Há quem diga que é o esboço da formação de condições objetivas para rupturas mais à direita.

Vida que segue, como dizia o grande Saldanha...

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Morcego Velho desdenha de Hamster


Ao contrário do vice carioca, que já está morto, o de Brasília reuniu o PMDB pra ver qual a melhor maneira de tratar o sangramento: observar ou sugar. Por enquanto, decidiram pela distância profilática, recusando nomeação no governo em nome do partido na reforma dos ministérios. Cai do alto da caverna o morcego novo que arriscar controlar as ratazanas aladas. O que dirá rato que pensa que é hamster, como o PSDB. 


SRN



domingo, 20 de setembro de 2015

Ao invés do cover dos Ramones, a filarmônica da direita


O maestro é o Estado de São Paulo e o spalla, O Globo. Na manchete carioca de hoje: 

"Estado além da conta".

Sobrou até pra Embrapa, considerada uma empresa pública de ponta na inovação. Saiu do palco o cover dos Ramones, no barulho da truculência. A vez agora é da direita ideológica, em concerto bem organizado pra atacar a Constituição, cortar direitos sociais, precarizar, de vez, o trabalho, na genuflexão ao Mercado Absoluto.

SRN


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A idéia é boa, mas e daí?

Em entrevista ao globo, ontem, Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação da Presidência, levanta uma questão que é central: o papel do Poder Público no Brasil. Foi isso que justificou, segundo ele, o envio ao Congresso de um orçamento sem previsão de receita para as despesas do Estado. Trata-se de uma estratégia para abrir o debate, sob a liderança da Presidente.

Hoje, sob o título, “Uma triste figura’, o editorial do Estado de São Paulo dá a resposta, desqualificando Edinho e concluindo tratar-se de mais uma bobagem a ser varrida junto com esse governo e todo o lulopetismo que encarna. Só faltou, no último período do texto, a palavra impeachment.

Este é o problema: uma Presidente sem condições de liderar e encaminhar a questão fundamental, a mais importante, que é o papel do Poder Público no Brasil, ameaçado de um regresso neoliberal conforme está na voz que o Estado de São Paulo sempre empresta para a direita ideológica.

A idéia é boa, mas é daí?

SRN


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Fernando Henrique pura fraude

Basta ler o que ele diz e escreve e comparar com as fontes adequadas pra ver como a representação elaborada do intelectual é um signo sem muita consistência. Tenho muito material sobre a época da teoria da dependência, do contexto em que ela foi escrita, os anos 60, a crise do desenvolvimentismo cepalino, o golpe, a ditadura.  O próprio clássico  "Dependência e Desenvolvimento na América Latina" foi escrito  em conjunto com o economista chileno Enzo Falleto, que já fazia esse tipo de pesquisa quando FHC chegou ao Chile. Não duvido de que as ideias principais tenham vindo de Faletto. Aliás, Fernando Henrique, na presidência, é uma extensão desse livro. Não via nenhum problema num desenvolvimento dependente, subordinado, através da internacionalização do mercado interno. Ao contrário. A dependência era condição do desenvolvimento do nosso capitalismo de segunda.

No livro que comprei na Bienal por 5 reais, “O Mundo em Português”, um diálogo com Mário Soares, Fernando Henrique fala da “política industrial” do seu governo e nele se vê, comprovadamente, o ajuste neoliberal para a América Latina proposto pelo Banco Mundial. Como um arauto da modernidade tardia, usa o BNDES , através de taxas de juros equivalentes às taxas internacionais,  para que o capital estrangeiro possa comprar o que for aqui dentro e ainda dá como exemplo o sucesso da Embraer, privatizada neste esquema e virando propriedade do consórcio Banco Bozzano-Simonsen, “ganhando dos canadenses em competição com um avião canadense fabricado pela Bombardier” (p.29).

Desse jeito, Fernando Henrique segue retoricamente, omitindo o que pode prejudicar a  “originalidade” do seu argumento proveniente do programa do Banco Mundial  e “revelando’ o que se esconde e que só ele, o gênio da lâmpada, enxerga a serviço do desenvolvimento nacional.

Fraude pura.

SRN



quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Je suis Charlie é o cacete!

Graciliano escreveu que já havia exercido vários ofícios, largara-os todos, por isso, nada o obrigava. 

É o caso: sou apenas um cara que gosta de desenhar e que procura manter vivo o espirito de indignação. Mas, não foram poucos os profissionais do traço que, há época, confundiram esforço crítico de compreensão com defesa de assassinos ou justiçamentos, ou que é pior: a ridícula, e mais surrada cantilena, da "defesa da liberdade de expressão"; em geral, são os mesmos que confundem liberdade de imprensa com liberdade de empresa, dos seus patrões, que agora, com a crise do jornalismo, deixando de ser uma atividade rentável, promove demissões em massa na área. 

É o tal negócio: a burrice, como dizia Nelson Rodrigues (aliás, também excessivamente valorizado), é eterna e vive cobrando coerência. 

SRN.


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Golpismo e a História do Boitatá

A insistência na tese do golpismo só serve , na verdade, aos beneficiários da chantagem. Um exemplo didático perfeito de ideologia. Cada lado querendo impor à vontade geral sua visão e interesse de grupo.

O grupo do governo num quixotismo de fancaria (só faltando a icônica expressão “não passarão”), a menos que consideremos o rentismo, com os cortes exigidos ao ajuste para a manutenção do sistema, uma nova moda revolucionária.

Agora, a direita ideológica, percebendo as possibilidades do avanço reacionário no espaço público e disputas agressivas entre segmentos todos localizados no campo do trabalho, fruto da política de cancelamento da universalidade dos direitos sociais, em favor exclusivo de políticas focalizadas, justo para manter a parte do leão livre pro ajuste neoliberal, conforme diagnóstico antigo do Banco Mundial – essa direita ideológica sente que pode avançar mais, exigir “orçamento zero”, precarizar, de vez, o trabalho, cortar direitos sociais, na reificação do Mercado Absoluto.

Alguém acredita que o PMDB, prostíbulo velho, vai ficar na mão de quaisquer dos dois lados?

SRN




Alguém acredita que o impeachment de Collor foi devido à corrupção de um Fiat Elba?

O arrivista e aventureiro Collor foi uma marca muito bem produzida para atender à demanda de uma sociedade cansada de uma inflação de 80% ao mês e que identificava tudo isso com o quadro político da época. Apesar de um “filhote da ditadura”, como falava Brizola (que, pouco antes do impeachment, ainda tentou trazê-lo para o campo popular, ao contrário de Dilma, que procurou a proteção do mercado), Collor não tinha registro no espaço público, podia ser qualquer coisa e resolveu ser o super-herói “caçador de marajás”, atendendo a uma demanda popular perfeitamente racional. Ocorre que, uma vez no poder, não aceitou a submissão da Fiesp, tentando operar por conta própria uma abertura econômica, posteriormente, sob controle das mãos confiáveis de Fernando Henrique, cujo perfil era muito mais adequado à parte que cabia ao Brasil no ajuste neoliberal estabelecido para a América latina, através do Banco Mundial . Sem base política e arrogante, caiu, numa manobra que contou com o apoio da mídia que  havia justo colaborado para sua eleição. Dentre tantos fatores que explicam o fato histórico, este certamente foi um dos mais decisivos. 


SRN


Cartunismo libertário?

É uma maravilha o cartunismo libertário. À época dos assassinatos no Charlie Hebdo só admitia a voz única de condenação. Estava certo. Afinal, esse cadáver aí é só um problema ecológico de poluição da praia.

SRN


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Direita Photoshop

A prova de que um pacto de conciliação atropela é verificar nos últimos dias a direita ideológica, de fato, como uma banda de música. 

No domingo, no Estado de São Paulo, Armínio Fraga encerra seu artigo pedindo explicitamente o fim das vinculações orçamentárias que a Constituição estabelece para educação e a saúde, bem como o Mercado Absoluto, com o Estado tendo de se justificar quando ousar qualquer tipo de intervenção. 

Hoje, foi a vez do editorial de O Globo: “Chegou- se à atual situação em que cerca de 90% do Orçamento — uma conta que para o ano que vem está estimada em R$ 1,2 trilhão — são “dinheiro carimbado”. Ou seja, têm destino certo: Previdência, programas especificamente sociais, folha dos servidores.”

Talvez, uma saída seja uma Constituinte pra confrontar com esse bloco organizado que tenta recuperar uma agenda de ajuste para América Latina dos anos 90. Com a diferença de que hoje, como dizia o Alemão, a farsa repetida é uma tragédia.

SRN


A Economia Política do Governo Lula, de Reinaldo Gonçalves, economista da UFRJ



Quem quiser ir direto ao assunto, vá até à página 153, "Universalização versus focalização". Trata-se de um livro que só lamento ter lido agora e que está disponível na página do professor Reinaldo Gonçalves há muito.


Certo, o bolsa família é indispensável, pois, conforme dizia o Betinho, "quem tem fome tem pressa". O problema é que nada impedia fosse combinado com a universalização, a não ser que o empecilho fosse justo um "pacto de governabilidade" em que não se mexesse na parte destinada ao rentismo, o que era perfeitamente possível, nos termos do Modelo Liberal Periférico,nomeado pelo professor Reinaldo, baseado na exportação de commodities. 

A disputa é localizada e mantida no campo do trabalho, o que explica o ódio da classe média e, agora, da nova direita "pão com ovo". É, pra isso, pra continuar desse jeito, que a direita ideológica, vendo que está difícil sustentar este governo (haja vista as entrevistas recentes dos presidentes do Bradesco e do Itaú), mobilizam seus epígonos, Por isso, fica fácil também compreender como era possível tamanho incenso passado tanto à direita quanto à esquerda, 

SRN

A desonestidade intelectual de Fernando Henrique Cardoso



“Sou mais inteligente do que vaidoso.” Humor de primeira, revelado há muito em uma entrevista de jornal. Apenas desonesto: inteligente pra localizar uma interpretação que lhe confira originalidade, Fernando Henrique deveria ao menos citar a fonte das idéias que tem. É que na entrevista abaixo, concedida a um mestrando da UFF, Pedro Lima, o ex-presidente, inquirido como sociólogo, repete sem citar a fonte o argumento de Karl Polanyi, em seu clássico, “A Grande transformação”. Escreve Polanyi:

“A huate finance, uma instituição sui generis, peculiar ao último terço do século XIX e ao primeiro terço do século XX, funcionou nesse período como o elo principal entre a organização política e a econômica do mundo.” (POLANYI, 2000: 24)

“Os Rothschilds não estavam submetidos a nenhum governo; como família, eles incorporavam o princípio abstrato do internacionalismo; sua lealdade era para com uma firma, cujo crédito se tornara o único elo supranacional entre o governo político e o esforço industrial numa economia mundial em rápido crescimento.” (Ibid, p.25)

“A influência que a haute finance exercia sobre as Potências era sempre favorável a uma paz européia.” (Ibid, p. 28)

“Se a isto acrescentarmos o crescente interesse pela paz dentro de cada nação onde o hábito do investimento havia deitado raízes, começaremos a ver por que pode ocorrer a surpreendente inovação de uma paz armada de dúzias de estados praticamente mobilizados na Europa de 1871 até 1914, sem chegarem ao ponto de uma conflagração esmagadora.” (Ibid., p.29)

Agora comparem FHC na entrevista:

“Porque, bem ou mal, a globalização é o fim do imperialismo. As pessoas nunca veem isso. Porque a globalização é o predomínio da empresa sobre o Estado, e quem faz a guerra não é a empresa, é o Estado. Quem faz a guerra é a Coréia, não é a General Motors. Não está na lógica da globalização a guerra, isso está na lógica do Estado. Agora, isso para as pessoas imaginarem que você está louvando a globalização acriticamente é umpasso, e quando querem criticar, leem de um modo vulgar, e aí fica assim, não há o que fazer — mas não é o que eu estou pensando. Eu nunca vi ninguém ressaltar isso, que a globalização é o fim do imperialismo...”

CARDOSO, Fernando Henrique. Entrevista conduzida por Pedro Luiz Lima. Revista Estudos Políticos: a publicação eletrônica semestral do Laboratório de Estudos Hum(e)anos (UFF) e do Núcleo de Estudos em Teoria Política (UFRJ). Rio de Janeiro, nº 6, pp. 07-21, Julho 2013. Disponível em: http://revistaestudospoliticos.com/.

Golpismo?


Hoje no Globo, Tarso Genro reconhece o óbvio. O problema do impeachment da presidente é político, nada tem de jurídico (afinal, todos reconhecem a integridade pessoal de Dilma). E o que Genro não disse, por ser um homem de partido, é que o problema, que é político, sendo resolvido politicamente, nada tem de golpismo. Quando do impeachment de Collor, o país em final da transição, o risco real de retrocesso, não tivemos nenhuma ruptura e a democracia representativa seguiu incólume. O PT e a Dilma são hoje forças políticas dessa democracia representativa, das regras de um jogo de administração de um modelo que se resume, conforme bem disse Genro, à mediocridade histórica.
— O ajuste que está aí não é do Levy, é do governo — afirmou o petista, sugerindo que o governo tem duas opções para sair da crise: uma solução “inovadora”, que seria organizada pela esquerda, ou “tomar medidas que todos os governos tomam”: — Ou seja: não gastar e transformar o problema em uma crise de orçamento, que é uma forma absolutamente medíocre de responder a essas grandes questões históricas.
SRN

domingo, 13 de setembro de 2015

Golaço!




Acabei de ver o gol do Paulinho. Pegar uma bola dessa de primeira é preciso estar com o corpo bem posicionado, além do tempo exato da bola que vem de longe e alta. Ela entrou na forquilha. Golaço. Na quinta, outra pintura foi assinada pelo Luiz Antônio.

Sempre achei o Oswaldo, ao lado do Cuca, um dos dois grandes treinadores da escola Telê, do futebol bem jogado, do qual o gol, de fato, "é só um detalhe", porque consequência. 

1980, 1982, 1983, 1987, 1992, 2009...

SRN

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Chet Baker e o fim do nosso "grau de investimento"



Em tributo ao óbvio, ao rebaixamento promovido por espeluncas chamadas "agências de risco" que nos tiraram o "grau de investimento", à especulação desenfreada, enfim, que iremos assistir pelo preço que o dólar ira cobrar pra ficar por aqui até as taxas subirem pelo Fed, nos EUA. 


SRN

https://youtu.be/MQOt_PQjNV4

sábado, 5 de setembro de 2015

"Carta aos Brasileiros"

A "Carta aos Brasileiros" poderia ser um cartum, desenhado por Steinberg: concilia pra assumir e gerir; cai por inépcia de gestão. 

Lição histórica.

SRN