segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Peru Pasteurizado


 Por Máximo



Companheiro de peladas nas ruas de Vila Isabel, soube que 28 estava diabético, procurei-o, mas, irascível, preferi deixá-lo em paz. Sua filha pretendeu desculpar-se, dizendo que eu já deveria saber como era o pai: "o diabetes só piorou o que já estava ruim". Calculo 28 pulando numa perna só, a muleta pendurada no prego da parede, Macau, o cachorro ("escreva o nome dele direito, porra, com letra maiúscula!"), alguns livros, o Flamengo na televisão sem som, porque 28 sempre gostara de ouvir a narração pelo rádio, além de não suportar o Galvão. 

Tentei de novo:

E aí Vinte?

"Sabia que era você, Máximo.  Não ia perder a chance da chorumela. Já preparei até o improviso.  Está aqui enrolado na muleta. Seguinte:
Balanços de fim de ano são indefectíveis. Entretanto, nunca os fiz. A ironia silenciosa diante da propaganda que nos traz famílias pasteurizadas, sem nenhuma contradição, ou em face de revisões em que a crítica sempre tem o outro como alvo, que é sempre o filho da puta, afinal somos bons, perfeitos, somos "do bem". Aliás, "do bem", "meio que", "assim" são expressões da moda em relações às quais não tenho a menor paciência. Como vê, o ranzinza sou eu, social e praticamente inviável. A vantagem é que fico livre pra vincular-me a quem gosto. Só sobrou, então, a minha filha. Gosto muito dela, dela não querer nunca mais me afastar. Este ambiente aqui parece que só se completa quando ela aparece. Por falar nisso, Máximo, não quer fazer um desenho pra mim?"

Faço.

"Ou o Michael Jackson ou Bob Marley. Ela se amarrra. Um abraço e Saudações Rubro-Negras."

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