No
aspecto institucional na análise da Ciência Política da “autonomia do político”
para o encaminhamento de crises, o “cálculo do conflito”, a fim de se evitar a
“paralisia decisória”, encontrou, afinal, na “cooptação” o meio de superar a
dispersão dos “recursos de poder” que levam ao isolamento de posições
radicalizadas, constituindo “conjunturas polarizadas”, como a que tivemos em
64. Analisar processos pelo resultado fica fácil. Modelos, sobretudo
excelentes, como o de Wanderley Guilherme dos Santos desenvolvido nos anos 70
pra explicar o golpe de 64, estão à disposição, integram o aporte teórico com a
validade de um clássico: a carência absoluta de política, responsável pela
“paralisia decisória” em 64; em substituição, o excesso dela, na
institucionalidade radical, no presidencialismo de “coalizão” ou de “cooptação”
(como prefere Fernando Henrique), cada vez mais amadurecido.
À
“paralisia decisória” sucede, no modelo, a era da “cartelização”. Foi o que me
veio ao ler no Estado de São Paulo (6/10) a entrevista da cientista política,
Mara Telles, da UFMG, sobre a “reforma política”(segundo Mara Telles,
“eleitoral” e mais um reforço à “cartelização dos partidos que já concentram
poder”):
“Partido
cartelizado é aquele que já tem bancada, máquina: só precisa governar, não
precisa de representação. É o que acontece com o PMDB. Ele já ocupa postos no
governo há décadas. Muito embora a preferência entre os eleitores pela sigla
seja baixíssima, ele continua fazendo repetidamente as maiores bancadas, porque
tem recursos. E, com isso, pode alocar cargos de confiança, se aliar a
prefeituras e criar uma rede de ‘clientela’. O maior problema da cartelização é
que isso aprofunda o fosso com o eleitorado, o partido não precisa aprofundar
seus vínculos.”
A
crítica dos historiadores à Sociologia e à Ciência Política está na falta de
diacronia e particularidade. A padronização caberia no livro, mas, não
resistiria à rua, além de não considerar suficientemente o ritmo e os limites
do tempo inscrito no processo histórico. A profundidade comprometida pela
funcionalidade. Contudo, os historiadores também têm problemas. A retomada da
História Política, que vem com a controversa História do Tempo Presente, está
na fronteira do jornalismo e padece do crivo do testemunho de quem viveu o que ela expõe – o que gera
uma disputa de memória em que o pau come, sobretudo agora em que é preciso
parar de demonizar o que acabei de ler numa reportagem da Folha de São Paulo
sobre uma pesquisa feita em parceria do Datafolha com o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, uma fonte razoável: jovens entre 16 e 24 anos são
admiradores do Bolsonaro e a favor de um golpe militar. Intelectuais não gostam
disso. Mas, não é mais inteligente tentar entender o porquê?
SRN
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