“É o novo ground”: o Clube de Regatas do Flamengo / www.cidadesportiva.wordpress.com
Em nosso último post, apresentamos uma foto do campo do Paysandu Cricket Club, localizado nas Laranjeiras, na ocasião ocupado pelo Clube de Regatas do Flamengo, que por lá realizava seus jogos de futebol. Independentemente das preferências clubísticas, é essa uma das mais importantes agremiações da cidade.
Não passou despercebida a importância do clube a João do Rio, um dos literatos que melhor expressou o conjunto de mudanças que marcou o Rio de Janeiro na transição dos séculos XIX e XX. Em sua crônica A hora do football, publicada no livro Pall-Mall Rio, o inverno carioca de 1916 (lançado em 1917), o escritor observa a redução das resistências para com os esportes, que progressivamente tornavam-se uma prática valorizada pelos “modernos”:
“Fazer sport há vinte anos ainda era para o Rio uma extravagância. As mães punham as mãos na cabeça, quando um dos meninos arranjava um altere. Estava perdido. Rapaz sem um pince-nez, sem discutir literatura dos outros, sem cursar as academias – era um homem estragado. E o Club de Regatas do Flamengo foi o núcleo de onde irradiou a avassaladora paixão pelos sports”...
Na visão de João do Rio, “O Club de Regatas do Flamengo tem, há vinte anos pelo menos, uma dívida a cobrar dos cariocas. Dali partiu a formação das novas gerações, a glorificação do exercício físico para a saúde do corpo e a saúde da alma”. Fundado como Grupo de Regatas, em 1895, seus associados eram principalmente jovens pertencentes aos setores urbanos das elites, entusiastas e praticantes do remo, habituées dos banhos de mar.
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Conta Mário Filho, de forma romanceada, que por ocasião da criação do Flamengo, observando o entusiasmo dos jovens envolvidos, o padre Nattuzi procurou o Dr. Lourenço Cunha, pai de José Agostinho (um dos fundadores), lhe perguntando se não ficava preocupado com tamanho interesse, pois a fama das regatas “não era lá das melhores”. Cunha teria respondido que acreditava no esporte como uma escola de formação e disciplina, uma prática saudável, por isso não se importava.
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O fato é que depois de superada certa sensação de estranhamento ou desprezo por parte da população local, a sede do Flamengo, localizada na Praia do Flamengo, 22 (hoje número 66), tornou-se um centro de encontros, um local muito procurado por um setor da juventude que adotava novos parâmetros de sociabilidade e de exposição corporal: “Rapazes discutiam muque em toda parte. Pela cidade, jovens, outrora raquíticos e balofos, ostentavam largos peitorais e a cinta fina e a perna nervosa e a musculatura herculana dos braços. Era o delírio do rowing, era a paixão dos sports” (João do Rio).
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A praia do Flamengo, na verdade, transformou-se num dos lugares mais fashions da cidade. O Hotel Central, um dos primeiros balneários da cidade, oferecia boas condições para os que desejavam com conforto se deliciar com os banhos de mar (futuramente dedicaremos a esse hotel um post). Regatas eram disputadas nas águas da Baía de Guanabara.
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Devemos também lembrar que o clube estava muito próximo do Palácio do Catete, chegando a compartilhar com a Presidência da República o cais que se localizava em frente à propriedade (podemos vê-lo na imagem abaixo).
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O futebol só entra na história do Clube em 1911, com a chegada de um grupo de jogadores dissidentes do Fluminense. Os primeiros treinos foram realizados em um campo aberto localizado na Glória, nas redondezas da sede.
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Poucos anos depois a equipe de futebol passou a realizar seus jogos no antigo campo do Paysandu. A acreditar em João do Rio, foi uma festa a primeira partida do clube nessas dependências:
“O campo do Flamengo é enorme. Da arquibancada eu via o outro lado, o das gerais, apinhado de gente, a gritar, a mover-se, a sacudir os chapéus. Essa gente subia para a esquerda, pedreira acima, enegrecendo a rocha viva. Embaixo a mesma massa compacta. E a arquibancada, o lugar dos patrícios no circo romano era uma colossal, formidável corbelha de belezas vivas, de meninas que pareciam querer atirar-se e gritavam o nome dos jogadores, de senhoras pálidas de entusiasmo, entre cavalheiros como tontos de perfume e também de entusiasmo”...
A despeito da importância de sua ligação com o esporte náutico, o Flamengo entraria mesmo para a história pela popularidade que angariaria no futebol.
Tinha mesma razão o grande João do Rio: “Não! Há de fato uma coisa séria para o carioca: o football!”.
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.Na década de 1930, o Flamengo começa a se transferir para a Gávea, onde construiria um estádio e a atual sede. Na década de 1950, contudo, construiu uma sede no Morro da Viúva. Esse prédio, que hoje se encontra em condições não totalmente adequadas de preservação, está sendo negociado com o mega-empresário Eike Batista para ser transformado em um hotel de luxo.
Será que ele vai comprar a cidade toda?
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.Não foi exatamente a minha preferência clubística que me levou a preparar esse post (inclusive futuramente serão dedicados posts a outros importantes clubes da cidade). De qualquer forma, a minha relação com o Flamengo é algo que marca profundamente minha memória e minha história. Já escrevi algumas coisas sobre isso, disponíveis no blog A Lenda, do amigo Rafael Fortes, e no sítio do Sport, laboratório que coordeno.
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