Não existe cartunista com conjunção adversativa. Disso tenho minhas dúvidas, além de inúmeros e nobres exemplos, a menos - é certo - no campo infantil ou da bravata. Ou, então, no da má-fé ou burrice, porque também dá no mesmo confundir o esforço de tentar entender o que ocorreu com a defesa de assassinos. Cartunista - suponho - também deve ler. E Atílio Boron, cientista social argentino, talvez seja um bom começo pra superar que fatos se encerram em si mesmos, como se não fossem um suporte de relações sociais e históricas, do mesmo modo que não se esgotam na vulgata pueril da "liberdade de expressão."
Também vejo muita charge sob o argumento da "fatura compensatória", embora entenda que o quer dizer é justo uma crítica ao farisaísmo interesseiro da defesa da vida. Seria uma maravilha um mundo onde a Vida fosse interdita a qualquer tipo de violência. Mas, não é, nunca foi, e a História está aí. Cansado da estupidez de confundir o esforço de tentar entender o que ocorreu com a defesa de assassinos - repito - como se o convite à reflexão fosse estar do lado dos que mataram Wolinski e os outros, fiz uma charge, um resumo rápido do problema. Se se trata de uma questão de princípio, de defesa intransigente do caráter iconoclasta do cartunista, pergunto: será que somos todos, artistas em geral, de fato, iconoclastas libertários? Será que somos tão infantis pra sustentar bravatas que separam discurso e prática? Então, por que onde publicamos não fazemos uma charge com a seguinte legenda: "todo patrão é filho da puta, inclusive o dono deste impresso."
SRN
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