Conforme
Fico, o golpe de 64 se inscrevia no padrão norte-americano do golpismo para a América Latina: a
extirpação de um governo hostil, em substituição a ele um títere. Mas, não
havia apenas Castelo Branco. Do “Plano de Contingência”, fazia parte, como de
hábito, a banda cúmplice, papel que coube a Magalhães Pinto, governador de
Minas, reformando seu secretariado, às vésperas do golpe, e nomeando figuras
nacionais que lhe conferiam um caráter de Ministério federal. Se houvesse
resistência, os golpistas receberiam apoio imediato – político, logístico,
militar – dos EUA, que dividiriam, provavelmente o país, com o Brasil de Magalhães
Pinto como chefe do governo reconhecido por Washington.
Ainda
segundo Fico, Afonso Arinos, um dos convidados por Magalhães Pinto, num prurido
de consciência tardia, procurou San Thiago Dantas, Ministro de Jango, avisando
do plano. De posse dessa informação, pesando o desequilíbrio de forças, Jango decide
não resistir, embora dispusesse de apoio militar.
Para
outros historiadores, como Nelson Werneck Sodré, já falecido, também ex-militar
nacionalista, os golpistas surpreenderam-se com a ausência de resistência, e
explicava que o que a impediu foi a derrota política das forças populares – o que
aponta a importância do confronto ideológico, da disputa no campo das
representações: símbolos, imagens, valores. Daí, abstraído o contexto
completamente distinto, não há nenhuma
ingenuidade, tanto ontem, quanto hoje, em manchetes como a que o Globo publicou,
em sua edição de 16 de março, acerca do circo de horrores ocorrido na véspera: “Democracia tem novo 15 de março”.
SRN
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