segunda-feira, 11 de abril de 2011

"A Memória Instala a Lembrança no Sagrado"

Por Máximo



A paixão pertence a um tipo de memória que só pode vir da condição de Rubro-Negro. Suspendemos a análise, cancelamos a crítica, não nos interessa a humanização do Mito que escorregou dirigente:

No arena sportv hoje, ZICO. Ao lado, outro Monstro, Júnior.

São poucos os esquecimentos porque a lembrança não necessita seletividade. Não temos do que nos proteger. Era só sentar à esquerda da tribuna de honra, lembrarmo-nos da inauguração do placar eletrônico do Maracanã, na estréia de Reinaldo, ponta-direita que vinha do América. O Tricampeonato carioca daquele ano de 79, ganhando dois campeonatos num só. 

Aquele time me faz transcrever Nora, quando disse que "a memória instala a lembrança no sagrado". E tal, o Verbo feito Carne tinha nome: Arthur Antunes Coimbra. 

Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e ZICO; Tita, Nunes e Lico.

Uma narrativa épica, 80, 81, 82, 83, 87, na perpetuação de como nos vemos, daquilo que desejamos sempre. 

Porque a memória é emocional, vazada em elementos retóricos e alegóricos. 

Aquele Time presta-se à literatura, às artes plásticas, ao cinema - práticas que se constituem exatamente de uma linguagem figurada. Em ritmo, harmonia, movimento e simetria, era uma composição estética, com a linha sinuosa como a bola, o plano, a "teia de aranha" (um polígono irregular  por Tita, Andrade, Mozer,  Marinho  no meio o adversário inútil), volumes e espaços livres através de ZICO, Adílio, Leandro, Júnior e Lico, a cor Rubro-Negra, da geral à arquibancada.

O segredo da memória está no encantamento. 

E ZICO resiste à laicização que tentou, em 85,  um pobre-diabo, cujo nome agora me escapa. 

Na volta, no inicio de 86 - nunca me esqueço - aquele golaço de falta pra calar a boca da fauna das laranjeiras nos quatro que tomaram.

No arena sportv, ZICO traduz o que nos vai à alma, conspurcada por uma premissa idiota, sem fundamentação, logo após a derrota da melhor seleção brasileira de todos os tempos: quem perdeu em 82 foi o futebol, pois, a partir dali, a estupidez de que a estética é inútil e o que importa é a ração indispensável ao resultado eficaz. 

Pra encerrar, quem o viu jogar tem de concordar com ZICO: Reinaldo, não fosse o trabalho de açougueiro que lhe fizeram nos joelhos, teria sido, pra ZICO, o jogador que mais teria se aproximado de Pelé.

Quem escreve procura a chave da memória de um moleque de 12 anos que viu, em 74, aos ombros do Pai, seu primeiro título Rubro-Negro.

SRN

terça-feira, 5 de abril de 2011

"O Romance Como Fonte na História do Esporte"

Por Máximo


O texto, de autoria de Martin Johnes e cujo fragmento segue abaixo, está completo na Revista Recorde da UFRJ, www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde. É um artigo que não se esconde atrás do engodo reacionário de muita coisa produzida sob o pós-modernismo. Trata-o, ao contrário, dentro de uma perspectiva que julgamos que vale ser reproduzida aqui no Nação e que dá o contraponto ao "positivismo de arquivo", sobretudo neste momento da recidiva das repúblicas das bananas do norte. 

SRN
Geraldo, assobiador, que desprezava e andava...

Recorde: Revista de História do Esporte 
Artigo de Martin Johnes 
volume 3, número 2, dezembro de 2010

"Este artigo examina os recentes apelos para a uma maior utilização de ficção como fonte para a História do Esporte. Influenciados por ideias pós-modernistas e por uma apreciação da natureza mediada de grande parte do esporte, historiadores como Jeff Hill ugerem que a ficção seria uma “força social” que moldava como as pessoas compreendiam o mundo ao seu redor. De forma semelhante, Jonathan Rose clamou por uma história dos leitores, não apenas dos textos. Este artigo explora tais ideias através do exemplo de um romance sobre boxe, de 1953. Argumenta-se que, apesar do poder de persuasão das ideias pós-modernas, colocá-las em prática é muito difícil. Romances são fontes inestimáveis para a História do Esporte, que tanto refletem como contribuem para o contexto em que são produzidos. No entanto, provar tais afirmações é problemático, especialmente ao lidar com obras de ficção esportiva há muito tempo esquecidas. Ainda assim, um estudo da recepção e da influência de romances pode mostrar que o pós-modernismo não deve ser descartado como uma postura abstrata ou como um sinal do fim da História, mas como um apelo para reivindicações mais sutis e modestas sobre o que podemos conhecer do passado.

"(...) Temos assim três tipos de preconceito: o desprezo evidente de alguns fãs; o respeito do meio do boxe profissional, baseado na conquista em valores compartilhados, mas misturado com preconceito; e a consciência educada das mulheres quanto à diferença. 
Todos os três tipos de atitudes raciais eram comuns na Grã-Bretanha nos anos 1950, onde  sentimento quanto a imigrantes negros como “outros” era profundo (WATERS, 1997).

Ainda assim, avaliar a sua forma e sua dinâmica junto aos esportes, ou mesmo na sociedade mais ampla, é muito difícil através de fontes convencionais. Estudos sociológicos contemporâneos apontam para a descriminação no mercado imobiliário ou para o “bem intencionado, mas áspero, humor” direcionado a colegas de trabalho negros. Mas eles raramente ilustram como esses são desempenhados na interação social ou o que os trabalhadores brancos falavam e pensavam em particular (PATERSON, 1963, p. 50). Além disso, esses estudos têm sido criticados por menosprezar o alcance do racismo na Grã-Bretanha na década de 1950 (MILES, 1982). No esporte, os relatos da imprensa britânica sobre boxeadores negros nos anos 1950 usvam a cor como uma ferramenta descritiva, mas, não surpreendentemente para um fórum público, não demonstravam nenhum racismo evidente. O prêmio dado aos melhores boxeadores britânicos, como a Randolph Turpin, vencedor do campeonato de pesos-médio em 1951, esconde as atitudes raciais e as experiências dos negros na Grã-Bretanha em seu dia-a-dia (JOHNES e TAYLOR, no prelo). Esse romance ajuda a iluminar essa questão. Um estudo de Brixton de meados da década de 1950 sugere que um habitante do sul de Londres pode se orgulhar de apertar as mãos de uma celebridade esportiva negra, mas “isso não significa que ele necessariamente gostaria de tê-lo como um hóspede permanente em sua casa ou como marido de sua filha” (PATERSON, 1963, p. 273). A Luta auxilia o historiador na triangulação de tais afirmações e dá a elas uma voz humana, que poucos poderiam dar ao investigador social contemporâneo. A triangulação, no entanto, é essencial para o teste de afirmações como “a literatura (...) deve ser estudada visto que nos proporciona o acesso direto a mentes do passado” (THOMAS, 1988, p. 19). Comparar os romances com outras fontes é o que permite ao historiador avaliar o que é ficção e o que não é. Como conclui Marwick (2001, p. 170), os romances podem ser inestimáveis para o estudo de “valores, atitudes e visões do mundo”, mas o historiador que as utiliza não deve nunca esquecer de que se tratam de fontes ficcionais e tampouco eximi-las do “cuidado crítico aplicado a qualquer outra fonte” (MARWICK, 2001, p. 170). (...)"

domingo, 3 de abril de 2011

Racismo, Inutilidades Acadêmicas e "Positivismo de Arquivo"

Por Máximo

 

Diante da recidiva das bananas na Europa e da estupidez desse idiota do bolsonaro, nada é mais importante do que ocupar todos os espaços de repúdio ao racismo, das quatro linhas à academia, passando, sobretudo, pelas entidades organizadoras do mundo da bola.

No ambiente acadêmico, na relação entre futebol e identidade, a despeito da pós-modernidade usada até pra vender sorvete,  pratica-se  a ideia de evolução que expressa um sentido de ordem que fornece certezas, cancelando o caos, garantindo o controle, e permitindo, na irrelevância oportunística com que se trata a estrutura e a dialética, organizar um processo linear, cronológico, de etapas evolutivas - ou seja: constituição, afirmação, diluição identitárias - construção que se erige em torno da seleção que é o referente. Um objeto acadêmico, assim construído em etapas muito bem delimitadas, pode ser um excelente brinquedo intelectual, sem embargo, contudo, do artificialismo que encerra.


Outro ponto diz respeito ao que a historiografia tem classificado de "positivismo de arquivo", uma espécie de "fetichismo das fontes", segundo afirmara Carr. Nesse sentido, penso que um bom modo de desestabilizar o dado empírico é precarizá-lo. Surge um fato que se expõe à diluição. E a precarização, paradoxalmente, serve ao "positivismo de arquivo". Como? Só é válido, considerado realidade, o que dispõe de comprovação documental. O racismo no Brasil, por exemplo, nunca teria existido, porque, ao contrário dos EUA, não dispunhamos de leis que explicitassem a discriminação racial.
Como diria meu camarada 28, pior do que isso só  sendo surdo.

O racismo, portanto,  é um problema que deveria mobilizar da CBF à Fifa, passando pela UEFA, e não simplesmente passar despercebido como se se tratasse de uma manifestação isolada sem implicações sociais profundas.


Brinquedos acadêmicos inúteis, cascas de bananas, imbecis fascistas, CBF, UEFA, Fifa. 

E aí?

SRN