terça-feira, 5 de abril de 2011

"O Romance Como Fonte na História do Esporte"

Por Máximo


O texto, de autoria de Martin Johnes e cujo fragmento segue abaixo, está completo na Revista Recorde da UFRJ, www.sport.ifcs.ufrj.br/recorde. É um artigo que não se esconde atrás do engodo reacionário de muita coisa produzida sob o pós-modernismo. Trata-o, ao contrário, dentro de uma perspectiva que julgamos que vale ser reproduzida aqui no Nação e que dá o contraponto ao "positivismo de arquivo", sobretudo neste momento da recidiva das repúblicas das bananas do norte. 

SRN
Geraldo, assobiador, que desprezava e andava...

Recorde: Revista de História do Esporte 
Artigo de Martin Johnes 
volume 3, número 2, dezembro de 2010

"Este artigo examina os recentes apelos para a uma maior utilização de ficção como fonte para a História do Esporte. Influenciados por ideias pós-modernistas e por uma apreciação da natureza mediada de grande parte do esporte, historiadores como Jeff Hill ugerem que a ficção seria uma “força social” que moldava como as pessoas compreendiam o mundo ao seu redor. De forma semelhante, Jonathan Rose clamou por uma história dos leitores, não apenas dos textos. Este artigo explora tais ideias através do exemplo de um romance sobre boxe, de 1953. Argumenta-se que, apesar do poder de persuasão das ideias pós-modernas, colocá-las em prática é muito difícil. Romances são fontes inestimáveis para a História do Esporte, que tanto refletem como contribuem para o contexto em que são produzidos. No entanto, provar tais afirmações é problemático, especialmente ao lidar com obras de ficção esportiva há muito tempo esquecidas. Ainda assim, um estudo da recepção e da influência de romances pode mostrar que o pós-modernismo não deve ser descartado como uma postura abstrata ou como um sinal do fim da História, mas como um apelo para reivindicações mais sutis e modestas sobre o que podemos conhecer do passado.

"(...) Temos assim três tipos de preconceito: o desprezo evidente de alguns fãs; o respeito do meio do boxe profissional, baseado na conquista em valores compartilhados, mas misturado com preconceito; e a consciência educada das mulheres quanto à diferença. 
Todos os três tipos de atitudes raciais eram comuns na Grã-Bretanha nos anos 1950, onde  sentimento quanto a imigrantes negros como “outros” era profundo (WATERS, 1997).

Ainda assim, avaliar a sua forma e sua dinâmica junto aos esportes, ou mesmo na sociedade mais ampla, é muito difícil através de fontes convencionais. Estudos sociológicos contemporâneos apontam para a descriminação no mercado imobiliário ou para o “bem intencionado, mas áspero, humor” direcionado a colegas de trabalho negros. Mas eles raramente ilustram como esses são desempenhados na interação social ou o que os trabalhadores brancos falavam e pensavam em particular (PATERSON, 1963, p. 50). Além disso, esses estudos têm sido criticados por menosprezar o alcance do racismo na Grã-Bretanha na década de 1950 (MILES, 1982). No esporte, os relatos da imprensa britânica sobre boxeadores negros nos anos 1950 usvam a cor como uma ferramenta descritiva, mas, não surpreendentemente para um fórum público, não demonstravam nenhum racismo evidente. O prêmio dado aos melhores boxeadores britânicos, como a Randolph Turpin, vencedor do campeonato de pesos-médio em 1951, esconde as atitudes raciais e as experiências dos negros na Grã-Bretanha em seu dia-a-dia (JOHNES e TAYLOR, no prelo). Esse romance ajuda a iluminar essa questão. Um estudo de Brixton de meados da década de 1950 sugere que um habitante do sul de Londres pode se orgulhar de apertar as mãos de uma celebridade esportiva negra, mas “isso não significa que ele necessariamente gostaria de tê-lo como um hóspede permanente em sua casa ou como marido de sua filha” (PATERSON, 1963, p. 273). A Luta auxilia o historiador na triangulação de tais afirmações e dá a elas uma voz humana, que poucos poderiam dar ao investigador social contemporâneo. A triangulação, no entanto, é essencial para o teste de afirmações como “a literatura (...) deve ser estudada visto que nos proporciona o acesso direto a mentes do passado” (THOMAS, 1988, p. 19). Comparar os romances com outras fontes é o que permite ao historiador avaliar o que é ficção e o que não é. Como conclui Marwick (2001, p. 170), os romances podem ser inestimáveis para o estudo de “valores, atitudes e visões do mundo”, mas o historiador que as utiliza não deve nunca esquecer de que se tratam de fontes ficcionais e tampouco eximi-las do “cuidado crítico aplicado a qualquer outra fonte” (MARWICK, 2001, p. 170). (...)"

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