quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Relatório da CNV sobre o assassinato de Marighella: 4/11/1969


"A perícia da CNV concluiu que Carlos Marighella foi atingido por pelo menos quatros projéteis de arma de fogo, que foram desferidos quando ele estava no banco traseiro do Fusca em que fora encontrado. Fortalece tal afirmação a inexistência de qualquer marca de sangue nas molduras das portas do veículo. Também, constatou-se não ter havido troca de tiros, pois todos os disparos observados partiram de fora para dentro do veículo .16 Também ressalta que todas as marcas de sangue observáveis nas fotografias de perícia de local são compatíveis com a posição do corpo de Marighella, após a morte. Suas roupas apresentam apenas marcas de sangue limpas, sem nenhuma sujeira adquirida por contato com o solo – o que teria ocorrido se tivesse sido atingido fora do veículo e caído ao ser alvejado. 
A perícia da CNV inferiu, ainda, que todos os disparos partiram de um plano superior ao da vítima e que esta se encontrava deitada no banco do carro. O tiro que atingiu Marighella na região torácica, provavelmente o último, foi efetuado a curtíssima distância (menos de oito centímetros), através do vão formado pela abertura da porta direita do veículo, numa ação típica de execução.
Na operação de execução de Marighella também morreram, por tiros dos agentes, a policial Stela Borges Morato e o protético Friederich Adolph Rohmann, este último, porque ultrapassou o cerco policial e foi confundido com apoio da ALN a Marighella. Também foi ferido na perna o delegado Rubens Cardozo de Mello Tucunduva. A farsa da versão que seria divulgada pela polícia, de que houvera troca de tiros e Marighella não estava sozinho, se, em parte, foi para justificar a execução sumária do guerrilheiro, também o foi para dar uma satisfação pelas outras duas mortes, resultado de imprudência e imperícia dos agentes do Estado."

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Pra fazer arte, fazer arte basta

Wolfgang Laib, artista alemão consagrado, acaba de ganhar um dos maiores prêmios de arte, o “Prêmio Imperial do Japão”. Laib trabalha com materiais orgânicos; pólen, arroz, leite. Pra fazer arte, fazer arte basta. A tentação de deixar suspenso o enigma já conta com a ajuda da frase praticamente dobrada. Não quer dizer nada. Como a arte do leite que dilui os limites do mármore. Onde acaba o mármore e começa o leite? Por que perguntar, piorando ainda esperar resposta, se a arte não é mais obra, não é mais gesto, não é mais desempenho? Aliás, pra que prêmio, que limita e exclui a arte total? Arte discurso, bastando dizer a respeito?


SRN


BBB

Também pode ser Boi, Bala, Bíblia.


domingo, 1 de novembro de 2015

Globonewssssssssss


Quando vê Poulantzas no espelho FHC só pensa em Getúlio

“Estado Capitalista e Marxismo” é vazado numa linguagem tão clara quanto um bolo de arame farpado. Mas, vale atravessá-lo pra tentar encontrar alguma base para o consenso proposto por Fernando Henrique. Francamente, não sei se o Patriarca da Globonews integra o entendimento geral acerca da “teoria regional do político” no modo de produção capitalista, de Poulantzas, em seu ‘clássico de 68, “Poder político e Classes Sociais’, baseado na “autonomia relativa do Estado”. É que cansa muito um texto mal escrito, cheio de interpolações. 

Mas, enfim, o que importa é que Poulantzas virou um clássico por trazer o problema do político para além de mera atividade subordinada ao Estado burguês. Sua tese do “bloco no poder”, segundo a qual ocorre uma unificação das classes proprietárias contra as classes trabalhadoras, mesmo que isso implique subordinação política de uma fração mais fraca dominante a uma outra mais poderosa, abre uma possibilidade de disputa sobre o controle do Estado. 

Há em Poulantzas uma possibilidade de conciliação de que ele partiu justo pela leitura do ’18 Brumário’ de Marx. Enquanto na análise de conjuntura, feita pelo alemão, vendo o golpe de Estado na França em dezembro de 1851 e concluindo pelo “caráter limitado e contraditório da democracia burguesa” e que tal aparato estatal não podia ser aproveitado, mas destruído pelos trabalhadores através de uma revolução, o grego Poulantzas, mais de um século depois, se não cancela a luta de classes, ao menos não mais a considera como único meio de transformação social efetiva. A conciliação também é um meio factível, conduzida através de um Estado reformado baseado na qualidade da burocracia. Impessoalidade e qualidade, portanto, seriam condições necessárias e suficientes para trabalhadores e capitalistas unidos num projeto nacional. 

Marxistas ortodoxos caem da cadeira ou estouram o coração, é certo. Mas, isso é muito mais Getúlio do que o Patriarca da Globonews e seu consenso de porrinha de botequim. Aliás, só vale sair de lona no orçamento zero do Patriarca.


SRN 


Patriarca de Botequim



Não se pode botar, na mesma sala, Fernando Henrique e crianças pra entrevistá-lo. Fica parecendo o Gepeto. Também não basta substituir os pinóquios por Relações Públicas, como na entrevista na Globonews.


Apesar do seu invólucro de Patriarca, Fernando Henrique não é um interlocutor confiável. A politização da conjuntura que propõe é vazia de problematizações. Fala de consenso como se desconhecesse os conceitos da Economia Política, como dominância financeira, dependência e bloco de poder (justo para ele, cuja versão de dependência, a dependência associada, é a única condição de desenvolvimento possível para capitalismos tardios periféricos, o que explica o seu governo, absolutamente coerente). Há uma premissa do consenso do Patriarca de Botequim do qual tudo é tributário: a economia desregulada, escancarada, com um Estado Social a ser negociado em função da disputa pelo excedente. Educação e Saúde não são prioridades, são conseqüências. Se couberem no troco. 

SRN