domingo, 1 de novembro de 2015

Quando vê Poulantzas no espelho FHC só pensa em Getúlio

“Estado Capitalista e Marxismo” é vazado numa linguagem tão clara quanto um bolo de arame farpado. Mas, vale atravessá-lo pra tentar encontrar alguma base para o consenso proposto por Fernando Henrique. Francamente, não sei se o Patriarca da Globonews integra o entendimento geral acerca da “teoria regional do político” no modo de produção capitalista, de Poulantzas, em seu ‘clássico de 68, “Poder político e Classes Sociais’, baseado na “autonomia relativa do Estado”. É que cansa muito um texto mal escrito, cheio de interpolações. 

Mas, enfim, o que importa é que Poulantzas virou um clássico por trazer o problema do político para além de mera atividade subordinada ao Estado burguês. Sua tese do “bloco no poder”, segundo a qual ocorre uma unificação das classes proprietárias contra as classes trabalhadoras, mesmo que isso implique subordinação política de uma fração mais fraca dominante a uma outra mais poderosa, abre uma possibilidade de disputa sobre o controle do Estado. 

Há em Poulantzas uma possibilidade de conciliação de que ele partiu justo pela leitura do ’18 Brumário’ de Marx. Enquanto na análise de conjuntura, feita pelo alemão, vendo o golpe de Estado na França em dezembro de 1851 e concluindo pelo “caráter limitado e contraditório da democracia burguesa” e que tal aparato estatal não podia ser aproveitado, mas destruído pelos trabalhadores através de uma revolução, o grego Poulantzas, mais de um século depois, se não cancela a luta de classes, ao menos não mais a considera como único meio de transformação social efetiva. A conciliação também é um meio factível, conduzida através de um Estado reformado baseado na qualidade da burocracia. Impessoalidade e qualidade, portanto, seriam condições necessárias e suficientes para trabalhadores e capitalistas unidos num projeto nacional. 

Marxistas ortodoxos caem da cadeira ou estouram o coração, é certo. Mas, isso é muito mais Getúlio do que o Patriarca da Globonews e seu consenso de porrinha de botequim. Aliás, só vale sair de lona no orçamento zero do Patriarca.


SRN 


Nenhum comentário:

Postar um comentário