sábado, 7 de outubro de 2017

O Porquê


No aspecto institucional na análise da Ciência Política da “autonomia do político” para o encaminhamento de crises, o “cálculo do conflito”, a fim de se evitar a “paralisia decisória”, encontrou, afinal, na “cooptação” o meio de superar a dispersão dos “recursos de poder” que levam ao isolamento de posições radicalizadas, constituindo “conjunturas polarizadas”, como a que tivemos em 64. Analisar processos pelo resultado fica fácil. Modelos, sobretudo excelentes, como o de Wanderley Guilherme dos Santos desenvolvido nos anos 70 pra explicar o golpe de 64, estão à disposição, integram o aporte teórico com a validade de um clássico: a carência absoluta de política, responsável pela “paralisia decisória” em 64; em substituição, o excesso dela, na institucionalidade radical, no presidencialismo de “coalizão” ou de “cooptação” (como prefere Fernando Henrique), cada vez mais amadurecido.

À “paralisia decisória” sucede, no modelo, a era da “cartelização”. Foi o que me veio ao ler no Estado de São Paulo (6/10) a entrevista da cientista política, Mara Telles, da UFMG, sobre a “reforma política”(segundo Mara Telles, “eleitoral” e mais um reforço à “cartelização dos partidos que já concentram poder”):

“Partido cartelizado é aquele que já tem bancada, máquina: só precisa governar, não precisa de representação. É o que acontece com o PMDB. Ele já ocupa postos no governo há décadas. Muito embora a preferência entre os eleitores pela sigla seja baixíssima, ele continua fazendo repetidamente as maiores bancadas, porque tem recursos. E, com isso, pode alocar cargos de confiança, se aliar a prefeituras e criar uma rede de ‘clientela’. O maior problema da cartelização é que isso aprofunda o fosso com o eleitorado, o partido não precisa aprofundar seus vínculos.”

A crítica dos historiadores à Sociologia e à Ciência Política está na falta de diacronia e particularidade. A padronização caberia no livro, mas, não resistiria à rua, além de não considerar suficientemente o ritmo e os limites do tempo inscrito no processo histórico. A profundidade comprometida pela funcionalidade. Contudo, os historiadores também têm problemas. A retomada da História Política, que vem com a controversa História do Tempo Presente, está na fronteira do jornalismo e padece do crivo do testemunho  de quem viveu o que ela expõe – o que gera uma disputa de memória em que o pau come, sobretudo agora em que é preciso parar de demonizar o que acabei de ler numa reportagem da Folha de São Paulo sobre uma pesquisa feita em parceria do Datafolha com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma fonte razoável: jovens entre 16 e 24 anos são admiradores do Bolsonaro e a favor de um golpe militar. Intelectuais não gostam disso. Mas, não é mais inteligente tentar entender o porquê?


SRN

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Marcos Napolitano, historiador, ao Café História, em 2014, sobre o golpe de 64 e a ditadura (o que diria hoje sobre o esgotamento do “caráter messiânico” das Forças Armadas pela experiência da ditadura?)

Marcos Napolitano é um historiador cujas pesquisas sobre o golpe de 64 e a ditadura que se lhe seguiu devem ser lidas com atenção. Destaco dois pontos da entrevista de 2014, www.cafehistoria.com.br/regime-militar-brasileiro-uma-historia-de-muitas-batalhas/:
A crítica ao argumento da conjuntura de então esgotar o golpe, bem como não autorizar inferências à ditadura adiante; a ambigüidade incômoda das Forças Armadas quanto ao regime que executaram, explicitamente, até 1985.
“O golpe de 64 foi uma das batalhas da Guerra Fria na América Latina”, palavras de Napolitano, sem prejuízo da componente circunstancial interna, do ambiente polarizado em que estava imerso o governo Jango, sem esquecer, todavia, de mobilizar, concomitante, o aporte teórico que o justifica como historiador, ao falar das múltiplas temporalidades no acontecimento decisivo do golpe que não pode ser compreendido como mero dado, mas, produção social para cuja narrativa indispensável considerar “o golpismo da direita udenista (...) desde 1950, bem como a desconfiança dos militares da capacidade de mobilização popular de tradição getulista e trabalhista.” Napolitano ressalta ainda o modelo como projeto de Estado a servir para os golpes vizinhos posteriores, entre os quais o que sofre Allende, no Chile, em 1973, aliás, a 11 de setembro de 1973: propaganda de desestabilização, aliança de classes superiores com a direita militar (da qual não se exclui – penso eu, no caso brasileiro, com alguma distinção do chileno – a nacionalista autoritária, não alinhada com os EUA, embora visceralmente anticomunista), segurança sob um Estado indutor do desenvolvimento em uma economia de mercado.


Já o segundo ponto diz respeito à chamada “transição democrática”. Menos por pressão insuportável da frente de oposições do que pela ameaça representada à unidade e à hierarquia militares pela “politização da oficialidade durante a ditadura”. Ainda não li o livro de Napolitano, “1964 – História do Regime Militar Brasileiro”. Nele, certamente a “politização da oficialidade” pode também encontrar um viés de expressão significativo na autonomia que ganharam as “comunidades” de informação, segurança e repressão. Estas ameaçaram, de fato, os cânones militares de hierarquia e unidade. Eis a ambigüidade: embora ressentidos  por não terem o reconhecimento que acham que mereciam por salvar a pátria cristã do ‘perigo vermelho”, sabem os militares que, dentre as razões para o afastamento da política por período de tempo inédito como o que temos desde 1985, está o constrangimento incômodo, difícil de admitir num trabalho de memória, das torturas, repressão e censura enquanto política de Estado, entregues, de resto, sem escrúpulos, a órgãos, aos intestinos da subversão militar, pois que não foram outra coisa as “comunidades” de informação, segurança e repressão: subversão interna da ordem militar.
Esta postagem já está longa. Mas, como os dois pontos excederam, vale apontar mais dois:
Napolitano afirma que o “caráter messiânico” das Forças Armadas esgotou-se pela experiência da ditadura. A entrevista é de 2014. Hoje, penso que o historiador pararia pra pensar e enfatizar um outro ponto da entrevista, aquele em que se refere ao amadurecimento do debate historiográfico relativamente “a um exame mais profundo sobre os processos sociais da construção da memória sobre a ditadura.” Não acham?

SRN

terça-feira, 13 de junho de 2017

Exposição: Garatujas de um Rubro-Negro, no Memorial Getúlio Vargas

Graças à lembrança da grande atriz, Rita Grego, vou fazer uma exposição ali na Glória, no Memorial Getúlio Vargas. Já conhecia o espaço de seminários da UERJ. Uma maravilha agora estar ao lado de Vargas. Só faltava o Brizola (risos).
SRN



Garatujas de um Rubro-Negro

O título que se desdobrou veio com a igual rapidez com que a minha Companheira, Catia, definiu esta exposição:
“Não há uma ideia que a explique, que lhe dê unidade, um conceito; portanto, nada melhor do que usar o seu amor pelo Flamengo, pois, como você diz, a partir do Flamengo, é possível falar de tudo, da política à economia, passando pela arte, até futebol.”

De 16 de junho a 25 de junho de 2017, no Memorial Getúlio Vargas, na Glória


Antônio Máximo
Carioca, nascido na Tijuca e criado em Vila Isabel, ex-desenhista de arquitetura, ex-arte-finalista da extinta Bloch-Editores, ex-marceneiro, graduado em História pela UERJ, ilustrador, cartunista, chargista, caricaturista, com participações em salões de humor (Volta Redonda, Serquilho, entre outros) e publicações em revistas como Agitação, do CIEE, e Revista de História da Biblioteca nacional, entre outras.

terça-feira, 23 de maio de 2017

"A esquerda de que a direita gosta"

Alcançar uma República, em nossa história já bem recheada de interpretações, do "patrimonialismo" ao "sentido da colonização", do "homem cordial" ao "populismo", à "colaboração de classes", à "tutela militar" e "dependência associada", (bastam tantas que já tenham sido atualizadas, agora, neste "presidencialismo de coalizão"), talvez dependa do amadurecimento das vísceras expostas que vivemos. 

Em qualquer apostila está escrito: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficácia, princípios fundamentais a reger o Estado Republicano. 

Vale destacar a cozinha deste cardápio, preparada nos pratos servidos pela grande imprensa. De um lado o Globo, menos farisaico na defesa das "reformas", do outro o "Estado de São Paulo", tão hipócrita quanto a plutocracia que representa e que confunde atraso com conservadorismo e não hesita em jogar no ralo quaisquer escrúpulos na manutenção do vasco do Alvorada por considerá-lo o condestável das "reformas". 

A propósito, Temer é fruto do "presidencialismo de coalizão" articulado a partir da "Carta aos Brasileiros". E o que mais me surpreende é como se pode achar que o que caiu com a Dilma tenha sido, de fato, um governo de esquerda. Brizola, um nacional-popular, no limite da radicalidade do espírito republicano, tinha razão quando dizia que certo tipo de esquerda era tudo do que a direita gostava.

SRN


Vasco do Alvorada


Parece que os corifeus do sistema político chegaram a um acordo: Temer sai, mas não será preso. O esforço agora é viabilizar os meios. Uma vez sem foro privilegiado, como salvar o vice, que não é de São Cristóvão? 


Outra coisa: o que Renan, que participa desse acordo, quis dizer com garantir as eleições de 2018? 


Acaso estariam em risco? Qual a fonte do risco?



Só mais uma: briga de perito contratado não vale. O vice não nega a conversa. E o mais grave é a mesada de 500 mil por semana, recebida pelo preposto indicado pelo vasco do Alvorada, pra vender posições estratégicas no Cade. 


SRN

P.S. Caindo, o vasco do Alvorada é rebaixado do foro privilegiado. Seu advogado cogita entrar com um pedido de suspensão do inquérito na vara de São Cristóvão.



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Entidade responde sobre “presidencialismo de coalizão” via whatsapp

Lendo sobre a Cepal, teoria do desenvolvimento, versões dos estudos sobre dependência, Vargas, Jango e me lembrando do Brizola aqui no Rio (seu primeiro governo incomparável, no segundo, já cansado, desinteressado, provavelmente já sem esperança). De repente, caiu um esquadro que mantenho num prego pendurado na parede. E já que me lembrava, lembrei-me também do que me disseram na última consulta de que qualquer entidade agora só por whatsapp.  Como integro um grupo, fiz a consulta sobre como se dará a administração de um renovado regime de colaboração via presidencialismo de coalizão. Não sei qual entidade respondeu. Apenas transcrevo o que o whatsapp psicografou:

“Uma ideia submetida aos Irmãos em Cristo que rejeitam satanás: acreditam que Lula, caso viabilize sua candidatura e eleito, possa terminar o mandato? Não se trata de uma candidatura desde já condenada e que não interessa nada a nossa vida de cristãos fodidos?                       

Eu me explico:                       

Eleito, terá de piorar o tipo de coalizão que engendrou pra se manter na presidência e que nos deu a lava-jato. Ainda assim cairá, pois hoje as condições são outras, muito piores, a radicalização do ambiente não permitira nem os termos nem os agentes da "carta aos brasileiros". Estão todos presos.                    

Se tentar ser radical, cai do mesmo modo.                       


Não acham que o regime de colaboração de classes precisa de um outro tipo de encaminhamento? Ou os Irmãos em Cristo acreditam no Apocalipse Revolucionário?”

SRN