sábado, 7 de maio de 2011

"O panorama visto de Harvard"

Por Máximo

Este é um blog, como é óbvio, sobre o Flamengo. Justo por isso, como é óbvio, capaz de falar da vida.

SRN

 

 O panorama visto de Harvard 




Da ampla janela do escritório/mansarda que me foi atribuído na Harvard Kennedy School enxergo o topo de outros edifícios que fazem parte do complexo da universidade. A forma abobadada e o colorido dos campanários fazem lembrar cúpulas que se veem em outras paragens, meridionais ou mesmo orientais (Maetternich dizia que o Oriente começava na Rnnweg, na saída de Viena).


Tudo isso dá um ar pacífico e multicultural à paisagem, conducente à reflexão e ao debate. É verdade que esta -atmosfera leve não se reflete sempre nos temas dos debates, em geral concentrados em situações nada tranquilas, como as duas guerras em que este país está envolvido e em outros conflitos potenciais. A Líbia, embora muito presente no noticiário, surge menos nas discussões, possivelmente em razão do seu baixo valor estratégico, apesar da tragédia humanitária que a intervenção da Otan não diminuiu em nada, como bem assinalou o ministro Antonio Patriota.

Há neste país uma não disfarçada perplexidade com as mudanças imprevistas em operação no mundo, em especial no Oriente Médio. A estratégia dos EUA para essa região há anos está baseada em conceitos, como o de “árabe moderado” (por oposição a árabe fundamentalista ou radical, supõe-se), que hoje já não têm sustentação na realidade. Na verdade, nunca tiveram. O que significa ser um árabe moderado? Ou ser um árabe radical? A derrubada de Hosni Mubarak pela revolução popular tornou o paradigma de “líder árabe moderado”, que ele mais que ninguém encarnava, definitivamente obsoleto. A mudança no Egito, como assinalei desde o início – em que pese a brutalidade de outras situações, inclusive em tradicionais aliados dos EUA, como o Bahrein e o Iêmen –, é o fato de maior impacto geopolítico na questão que é chave para todas as outras: o conflito -Israel-Palestina.

O acontecimento de maior relevo dos últimos dias, por suas implicações de médio e longo prazo, é o acordo entre as lideranças do Fatah e do Hamas. A reconciliação entre as duas facções antagônicas, resultado direto das outras mudanças na região, principalmente no Egito, mas, de forma paradoxal, também na Síria, é a única via para se chegar a uma paz duradoura entre árabes e israelenses.  Claro, isso exigirá uma evolução por parte do Hamas, que terá de aceitar a existência do Estado de Israel, um fato da história que nenhuma ideologia pode pretender apagar. Já o governo israelense tem de compreender – e, quanto mais rápido o fizer melhor para todos, sobretudo para Israel – que um acordo que venha abarcar todos os segmentos representativos da população palestina terá muito mais possibilidade de ser um acordo durável. Isso era verdade antes das atuais mudanças. A expectativa de que Tel-Aviv pudesse chegar a um entendimento com a Autoridade Palestina, que somente controlava, ainda assim parcialmente, uma parte do território, que depois fosse imposto à outra facção (expectativa, diga-se de passagem, também nutrida pelos negociadores da Autoridade Palestina), sempre foi, a meu ver, ilusória.

Hoje, com um governo egípcio onde a opinião popular – inclusive aquela, muito ponderável, da Irmandade Muçulmana – terá em qualquer circunstância mais influência, em que a ilusão torna-se mera fantasia. Goste-se ou não, é essa a realidade que terá de ser enfrentada, não só por Israel, mas por qualquer potência que pretenda ter influência na região. E que ninguém se iluda, neste particular, com a situação na Síria. Todos (ou ao menos todos aqueles que se consideram democratas e progressistas, no Brasil e alhures) desejamos um desfecho que ponha fim à brutal repressão que Bashar al-Assad desencadeou (contrariando expectativas de muitos que, inclusive no Ocidente, viam nele um líder modernizador e aberto ao diá-logo que lutava para se libertar do aparato herdado do pai).

Mas um governo mais democrático em Damasco não significará necessariamente um governo mais fácil de lidar do ponto de vista de Washington e de Tel-Aviv, ao menos de acordo com a estratégia seguida até aqui. A maior repressão empreendida pelo pai de Bashar foi contra a Irmandade Muçulmana. Diferentemente dos filmes de mocinho e bandido, que parecem constituir a lente pela qual uma parte da opinião pública e, infelizmente, dos próprios tomadores de decisão, vê o mundo, a realidade é mais complexa.

Por falar nisso, passou despercebida, creio, da nossa mídia uma interessantíssima análise do ex-presidente sul-africano Thabo M’Beki sobre o ocorrido na Costa do Marfim. Para o ex-mandatário, mediador do conflito, antes dos trágicos episódios que culminaram com o bombardeio por helicópteros franceses – devidamente autorizados pela ONU, ao que parece – à residência presidencial, a história é bem diferente daquela contada pela mídia ocidental. Segundo M’Beki, os grandes perdedores teriam sido a ONU e a União Africana. Os ganhadores, naturalmente, os defensores de interesses coloniais e neocoloniais. Vale conferir.

NR:  A coluna de Amorim foi escrita no sábado 30, antes da morte de Bin Laden. O fato não altera, porém, o teor das análises.

terça-feira, 3 de maio de 2011

"O homem que matou o facínora"

Por Renato Lopes

  

Crise de popularidade, sombra de fiasco, de repente matam o maior de todos os párias/vilão/produto.
 
Toda vez que os americanos matam um terrorista tonam-se a antítese do Dr.Frankstein destruindo sua própria criação.
 
Ou um Dr.Jekyl, limando seu lado Mr.Hyde.

Tem um western, se não me engano justamente com John Wayne, chamado "O homem que matou o facínora" - 90% dos westerns são, ademais, moralistas - com uma frase antológica: "entre a verdade e o mito, escolha sempre o mito", misturado a uma outra frase do calibre do velho alemão: "A história acontece duas vezes, a primeira como tragédia e a segunda sempre como farsa"

Dá quase um "Os homens escolhem viver de duas formas: como mito ou como farsa. O problema é que em ambos os casos todos mentem".

Deixo a palavra e o coração entregues ao nosso 32º titulo. Invicto. 

SRN

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cadáver de Bin Laden está no caixão das viúvas de Obama

Por Máximo




No nome poderiam ser parentes, pois são filhos de uma tradição muçulmana comum.

Obama, entretanto, preferiu virar branco desde há muito, desde quando fora absorvido pelo establishment americano, sem cuja conversão não ascenderia em uma estrutura de poder imperialista.

A histeria que se vê é praticamente um "estudo de caso". Lembra-me a fauna das laranjeiras, com seu histrionismo de "time de guerreiros":

De um lado, a substituição da história sem nomes, antes de retornar ao biografismo da história política do século XIX, faz muito pior: basta matar o bandido. O jornalismo da globonews parece feito dentro de um saloon do faroeste americano: imagens do povo americano nas ruas em comemoração de heroísmo do novo John Wayne: "yes, Mister Obama!"

Prefiro comemorar o trigésimo segundo título carioca.

SRN

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Perdemos a Copa de 50 Porque Deus, Mais do que Brasileiro, é Carioca

Por Anselmo Gonzaga Bastos


Máximo:

Conheço o livro a que se refere, "Lance de Sorte: o Futebol e o Jogo do Bicho na Belle Époque Carioca", de Micael Herschmann e Kátia Lerner. Decerto, excelente. Gostaria, se possível, me fizesse a gentiliza de publicar-me a postagem. Pois muito bem:

A prática do futebol significa um processo que combina equidade, disciplina e catarse, e o resultado, seja lá qual for, é uma mera consequência, sem prejuízo da pedagogia que propiciou a convivência.

No futebol, a equidade manifesta-se em regras claras, estáveis, iguais para ambos os times. A disciplina que o treinamento exige para o bom desempenho também caracteriza um espaço, o único espaço possível para o exercício e a recompensa do mérito de quem está na base social. Além da catarse: no estádio o palavrão, o choro, o espasmo são livres e recomendados para compensar a frustração e a tensão represadas no cotidiano de uma vida árida.

Norberto Elias afirma que política e esporte concorreram para a estabilidade institucional inglesa. Atribui à "parlamentarização" e à "esportização" a combinação fundamental em que o inglês, "na retórica e na persuasão do parlamento e na perícia e na força do esporte", aprendeu a perder e "a viver em uma sociedade baseada no auto-controle".

Não há dúvida: o esporte moderno da era industrial veio com a função de alienar os dominados. Equidade, disciplina, catarse. Três palavras-chave no controle social pretendido pela nova ordem dominante, destinado à massa trabalhadora.

No Brasil, dialeticamente, um produto importado, branco e elitista se distribui pelas fábricas para a prática do lazer entre operários.

O insucesso pedagógico talvez se revele com evidência na derrota de 50. Não sabíamos perder. O estigma daquela Copa exige uma renovação catártica a cada quatro anos, a despeito dos cinco títulos mundiais. Percebo nela, entretanto, o que eu chamaria de uma antipedagogia paradigmática. Assim como o malandro que desconfiava do discurso oficial, sabia que, numa sociedade de privilégios e desleal, corria sério risco se se dispusesse a cumprir regras, a derrota de 50 me parece que interrompeu um processo de domesticação ao capital, com resistência particular entre os cariocas, sede da Copa e da fragorosa derrota, de cuja estratégia o futebol constituía parte importante.

Essa chave analítica que vislumbro encontra seu antagonismo na derrota de 82. Mas isso é outro papo.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Além do Horizonte: 3 x 0: Galhardo, Deivid e MESSI

Por Máximo
 
Melhor jogo nosso no ano. 

Posse de bola tranquila, com 3 ou 4 chances pra acabar com o jogo ainda no primeiro tempo. 1 x 0 apenas, com Galhardo repetindo Ronaldinho Gaúcho em 2002, num gol sem querer.

Tiago Neves  arrebentando. 

Grande Willians. Dizer mais o quê?

Agora, Deivid... vá lá, tá tranquilo...

SRN