segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Apartheid Carioca



A minha Cidade sempre encarnou o que temos de melhor e de pior no país. Ainda que um pouco estereotipada, a carioquice sempre mobilizou no imaginário nacional tendências progressistas. Ficou lá atrás, quase de um Rio como se não tivesse existido, a violência deflagrada contra a pobreza no exemplo didático da ‘Revolta da Vacina”.Mesmo as nossas favelas, espaço em que a lógica sistêmica resolveu alocar a violência institucional ao lado da força de trabalho que sustenta a Cidade, mesmo nelas, o esterótipo não vira estigma pelo samba, pelo funk, pelo passinho, pela recusa simbólica à segregação, enfim. Somos uma Cidade sem outra alternativa senão encarar a questão racial.

O exemplo pioneiro das costas na UERJ não cabe aqui. É que a questão de fundo que o meu amigo Rubro-Negro, cartunista, Pedro Dias levanta acerca dos ataques racistas sofridos por Cristóvão, embora localizados, específicos, por vir do futebol, estabelece uma ligação direta com o ensino básico e com o apartheid que, perplexos, verificamos ser instituído, oficialmente, nas ruas do Rio, nos ônibus, a caminho da praia, que não é de ninguém, é pública, independente de onde se more ou se venha.   

Nessas horas, dados de documentos públicos são bem-vindos. Retiro do PNE do MEC a meta 8 que diz, literalmente, o seguinte:

“Apesar do aumento expressivo da população negra na sociedade brasileira, outro grande desafio é igualar a média de escolaridade entre negros e não negros. Como mostra o Institutode Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), na população negra entre 18 e 24 anos, 1,1% não tem nenhum nível de escolaridade, 70,7% estão fora da escola e apenas 1,4% tem o ensino superior completo. Na população não negra, essas taxas são de 0,6%, 64,5% e 4,5%, respectivamente. No que se refere à população negra entre 25 e 29 anos, 1,5% não conta com nenhum nível de escolaridade, 84,1% estão fora da escola e apenas 5,7% possuem o ensino superior completo.

Essas desigualdades também se refletem na participação e rendimento no mercado de trabalho. Considerando a desigualdade de gênero, a população negra apresenta as mais elevadas taxas de desocupação e de rendimento, ainda que disponha do mesmo nível de escolaridade. Segundo estudo do IPEA (2012), a taxa de desocupação do homem negro é de 6,7%, e a da mulher negra 12,6%, enquanto a de homem e mulher não negros é de 5,4% e 9,3%, respectivamente. Esse conjunto de dados revela que é necessário, no que se refere à educação, um esforço concentrado e articulado entre os entes federativos e respectivos sistemas de ensino para a promoção de uma política pública voltada para a igualdade social, de modo a garantir a elevação dos anos de escolarização da população brasileira entre 18 e 29 anos, com atenção especial às populações do campo, negra e mais pobre, que apresentam maior vulnerabilidade social.”

disso, no último dia 28, foi assinado um acordo, um protocolo de intenções entre a Secadi (secretaria de educação continuada, alfabetização, diversidade e inclusão) do MEC com a Fundação Palmares para acelerar não apenas esta meta, mas também o conteúdo da lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira nas escolas.

O interessante deste protocolo, Pedro Dias, é que haverá estímulos para os alunos da educação básica produzirem curta metragens sobre a cultura negra, reforçando a inserção desta nos conteúdos de História do Brasil.

Fica aqui uma sugestão: um dos vídeos poderia ser justo sobre o apartheid produzido no Rio.

Fica aqui também uma pergunta: por que o Ministro da Educação não sai das nuvens onde anda e toma conhecimento do que ocorre no seu Ministério e começa a contribuir pra contra-hegemonia indispensável à luta contra pauta reacionária que ocupa o espaço público e que permite ações como a que temos visto no Rio?

Isso, sim, seria Grande Política Educacional.

SRN


Rezemos a Oração que o Senhor nos ensinou


domingo, 30 de agosto de 2015

Sempre 87

A história da Copa União é mais do que conhecida. A CBF, ainda mais desmoralizada do que hoje, pois não tinha dinheiro sequer pro café, tinha na presidência um tipo notório do futebol daqueles tempos de conluio com a ditadura, Otávio Pinto Guimarães. É quando surge o Clube dos 13 (não este arremedo de hoje), no embalo da constituinte, com o objetivo da autonomia dos clubes. Os clubes se organizam, montam a Copa União, que seria o campeonato brasileiro. Mas, no meio do caminho, a CBF cresce o olho e resolve retomar o controle da prerrogativa do campeonato, montando uma competição paralela com os clubes que ficaram de fora, estabelecendo, ainda, que, ao final, haveria um cruzamento entre o campeão da Copa União e o campeão do torneio organizado pela falida e picareta CBF. O Flamengo, campeão, muito justamente recusou-se a participar da farsa. Que, de resto, rende até hoje. Se eu fosse pernambucano e torcedor do Sport, teria vergonha de insistir nesse papo furado.

SRN


Oswaldo de Oliveira



Sempre achei o Oswaldo Oliveira e o Cuca (que já esteve na Gávea, fomos campeões com ele,mas dizem que é muito instável emocionalmente) os que melhor encarnam o futebol bem jogado tributário ao Telê. Seus times fluem em campo, compactos, habilidosos, virando o jogo, sempre no ataque, em busca do gol. 


Hoje, já com alguns dias de trabalho, o Flamengo demonstrou, sobretudo, capacidade de controlar o jogo com um adversário com menos um em campo. Consciência tática, que só não resultou um placar maior por circunstâncias. No primeiro tempo, compactos, forçamos o jogo pela direita, com o Everton invertido, aproveitando a canhota pra usar melhor o lado interno do campo. 

No segundo, Everton volta pra esquerda, com o Emerson na direita. Depois, o Cirino, com o Emerson fazendo uma função que já havia mostrado competência, a ponta-de-lança. Ganhamos,tranquilamente, desse arremedo rubro-negro, cuja virtude, única, consiste justo no rubro-negro do uniforme.

Só pra lembrar: como se fala besteira, sem consequência, na crônica esportiva. Há algumas semanas, o Trajano, na ESPN, achou de classificar de racismo as manifestações da torcida Rubro-Negra contra Cristóvão. Com base em quê? Em nada, simplesmente achou e disse, pois tinha a câmera ligada para tal, descartando completamente o histórico, que considerava insignificante (e talvez fosse mesmo), no resto do Rio. Racismo como, Cara-pálida, se o Andrade nunca sofreu nada parecido, mesmo quando, após o título do brasileiro de 2009, fomos eliminados da Libertadores? O passado de um Mito Rubro-negro não foi capaz de segurá-lo. Ou só após a eliminação, a torcida virou racista?

SRN

Imagine?