A minha Cidade sempre
encarnou o que temos de melhor e de pior no país. Ainda que um pouco
estereotipada, a carioquice sempre mobilizou no imaginário nacional tendências
progressistas. Ficou lá atrás, quase de um Rio como se não tivesse existido, a
violência deflagrada contra a pobreza no exemplo didático da ‘Revolta da Vacina”.Mesmo
as nossas favelas, espaço em que a lógica sistêmica resolveu alocar a violência
institucional ao lado da força de trabalho que sustenta a Cidade, mesmo nelas, o
esterótipo não vira estigma pelo samba, pelo funk, pelo passinho, pela recusa
simbólica à segregação, enfim. Somos uma Cidade sem outra alternativa senão
encarar a questão racial.
O exemplo pioneiro das costas na UERJ não cabe aqui. É que a questão de fundo que o meu amigo Rubro-Negro, cartunista, Pedro Dias levanta acerca dos ataques racistas sofridos por Cristóvão, embora localizados, específicos, por vir do futebol, estabelece uma ligação direta com o ensino básico e com o apartheid que, perplexos, verificamos ser instituído, oficialmente, nas ruas do Rio, nos ônibus, a caminho da praia, que não é de ninguém, é pública, independente de onde se more ou se venha.
Nessas horas, dados de
documentos públicos são bem-vindos. Retiro do PNE do MEC a meta 8 que diz,
literalmente, o seguinte:
“Apesar do aumento
expressivo da população negra na sociedade brasileira, outro grande desafio é
igualar a média de escolaridade entre negros e não negros. Como mostra o
Institutode Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), na população negra entre 18 e
24 anos, 1,1% não tem nenhum nível de escolaridade, 70,7% estão fora da escola
e apenas 1,4% tem o ensino superior completo. Na população não negra, essas
taxas são de 0,6%, 64,5% e 4,5%, respectivamente. No que se refere à população
negra entre 25 e 29 anos, 1,5% não conta com nenhum nível de escolaridade,
84,1% estão fora da escola e apenas 5,7% possuem o ensino superior completo.
Essas desigualdades
também se refletem na participação e rendimento no mercado de trabalho. Considerando
a desigualdade de gênero, a população negra apresenta as mais elevadas taxas de
desocupação e de rendimento, ainda que disponha do mesmo nível de escolaridade.
Segundo estudo do IPEA (2012), a taxa de desocupação do homem negro é de 6,7%,
e a da mulher negra 12,6%, enquanto a de homem e mulher não negros é de 5,4% e
9,3%, respectivamente. Esse conjunto de dados revela que é necessário, no que
se refere à educação, um esforço concentrado e articulado entre os entes
federativos e respectivos sistemas de ensino para a promoção de uma política
pública voltada para a igualdade social, de modo a garantir a elevação dos anos
de escolarização da população brasileira entre 18 e 29 anos, com atenção
especial às populações do campo, negra e mais pobre, que apresentam maior
vulnerabilidade social.”
disso, no último
dia 28, foi assinado um acordo, um protocolo de intenções entre a Secadi (secretaria
de educação continuada, alfabetização, diversidade e inclusão) do MEC com a
Fundação Palmares para acelerar não apenas esta meta, mas também o conteúdo da
lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do estudo da história e
cultura afro-brasileira nas escolas.
O interessante deste
protocolo, Pedro Dias, é que haverá estímulos para os alunos da educação básica
produzirem curta metragens sobre a cultura negra, reforçando a inserção desta
nos conteúdos de História do Brasil.
Fica aqui uma sugestão:
um dos vídeos poderia ser justo sobre o apartheid produzido no Rio.
Fica aqui também uma
pergunta: por que o Ministro da Educação não sai das nuvens onde anda e toma
conhecimento do que ocorre no seu Ministério e começa a contribuir pra
contra-hegemonia indispensável à luta contra pauta reacionária que ocupa o espaço
público e que permite ações como a que temos visto no Rio?
Isso, sim, seria Grande
Política Educacional.
SRN
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