sábado, 11 de janeiro de 2014

De Thompson a Canclini, com Sócrates no Meio-Campo, Temos Um Bom Time

Por Máximo



Um texto muito útil: "Cultura Popular, um Conceito e Várias Histórias", de Martha Abreu, publicado no livro "Ensino de História, Conceitos, Temáticas e Metodologia". Não sei se Sócrates chegou a lê-lo, de qualquer forma, tanto quanto o craque que fora, vale a força do símbolo que encarna, na crítica sempre oportuna do futebol como modalidade de cultura popular.

Martha Abreu começa com a validade, para a historiografia, do conceito de cultura popular, a despeito de todos os problemas que enumera: folclore, cultura de massas, alteridade, resistência, tradição e modernidade, popular e erudito, local e estrangeiro. Sua análise é referenciada em Koselleck quando escreve que "como todo conceito, o de cultura popular também constrói identidades e tem uma história (por isso, o envolvimento com as questões políticas e ideológicas do seu próprio tempo)."

Aqui no Brasil, o uso do conceito também expõe as contradições e os embates políticos, culturais, ideológicos e teóricos em tempos distintos. Martha passeia pela história: da crítica da sociologia paulista ao folclore à cultura popular hoje no ensino e pesquisa. Mobiliza autores e um rápido debate historiográfico confrontando a perspectiva antropológica da cultura popular como consenso divulgada por Peter Burke à crítica marxista, sempre corrosiva, no melhor humor inglês, de Thompson, para quem a cultura popular é uma arena de conflitos, um lugar material de trabalho e exploração em que a ideia de consenso não passa de rito de paternalismos e deferências.

Martha Abreu também cita com entusiasmo Chartier não apenas pelo conceito de cultura popular que o historiador francês atribui a uma invenção das elites a fim de marcar distância, "delimitar, caracterizar e nomear práticas que nunca são designadas pelos seus atores como pertencendo à cultura popular", mas também sobre a ironia que demonstra diante do vaticínio de boa parte dos historiadores que condenam irremediavelmente a cultura popular ante a força incoercível e niveladora da modernidade.

Nestor Canclini, sociólogo mexicano, também aparece no texto com o argumento de que "o importante, então, diferentemente da perspectiva do folclorista, não seria buscar o que não muda: mas por que muda, como muda e interage com a modernidade."

Penso que Thompson e Canclini dispõem o recorte que fundamenta o argumento para o meu desenho do Sócrates. A cultura popular não é vivida pelos agentes como inamovível. A dinâmica social não poderia passar incólume às pressões da indústria cultural. Um jogo dialético que fica interessante justo pelo esforço contra-hegemônico: a qualidade da transformação depende do acirramento das contradições que só pode vir da resistência em se contrapor aos interesses da cultura de massas orientados para melhor conformar o produto para a circulação. A ilação com o futebol, cada vez mais uma mercadoria. O "padrão fifa" - arenas excludentes, com um público selecionado, e futebol midiatizado feito pra televisão paga - é um problema, até reacionário, pois retoma hierarquias e desigualdades, ao contrário da modernização que se abre a contradições. A organização econômica, estabelecida pela fifa, não permite apropriações criativas e reelaboração popular da prática do futebol. 

"Padrão fifa' é tributário de certos "Fenômenos". 

Curioso.

SRN

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