quinta-feira, 13 de março de 2014

Flamengo, Academia, Biografias

Por Máximo



"Minha Razão de Viver", de Samuel Wainer, jornalista, fundador do jornal "Última Hora", foi um sucesso quando de seu lançamento em 88. Autobiografia - gravada, primeiro, em fitas cassetes por Samuel Wainer e, posteriormente, transformada em texto pelo jornalista Augusto Nunes - é a negação da prática e um exemplo útil à dissipação do tumulto sobre biografias, autorizadas, não autorizadas, panegíricos, ou lucrativas que, no fundo, é o que interessa. Wainer expõe o próprio fígado ao dizer que, em dado momento, pra salvar a "Última Hora", corrompeu-se "até à medula". O mundo, como se vê, não estava à espera de Wainer, à sua intervenção epifânica, muito menos esperou que saltasse pra entrar pra história, a fim de revelar como Vargas fizera o que todos já sabiam na criação da "Última Hora".

O futebol aparece em "Minha razão de Viver". Até nisso é interessante. Se me lembro direito, o general Castelo Branco, ás vésperas do golpe, demonstra espanto e desprezo por Wainer gostar de futebol. E a resposta de Wainer - quem vinha de um bairro popular de São paulo não teria o estranhamento do general - ganha agora mais sentido quando leio a tese de renato Coutinho sobre o Flamengo, "Um Flamengo grande, um Brasil maior: o Clube de Regatas do Flamengo e o imaginário político nacionalista popular (1933-1955)", defendida no ano passado, na UFF, sob orientação do professor Jorge Ferreira.

A modernização autoritária concomitante à interação com a classe trabalhadora em emulação com o profissionalismo emergente no futebol. Estamos na década de 30. Também falamos, conforme Coutinho, na transformação pela qual passa o Flamengo: um clube típico da Belle Époque para, mais do que uma revolução administrativa, "um projeto de construção de novos símbolos identitários que permitiriam reorganizar a relação da instituição com a torcida" (p.12). 

Coutinho escreve uma sentença lapidar: 

"Estado e trabalhador haviam encontrado um vocabulário adequado para o reconhecimento mútuo: o nacionalismo" (p.13)

E, no Flamengo, história e memória, em geral em conflito, encontram-se pra renovar o clube, "o passado amador e elitista passou a constituir o Flamengo profissional sendo lembrado como a fase embrionária da vocação popular da instituição." (p.12)

Castelo Branco, a propósito, não seria tricolor?

SRN

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