Por Máximo
"Minha Razão de Viver", de Samuel Wainer, jornalista, fundador do jornal "Última Hora", foi um sucesso quando de seu lançamento em 88. Autobiografia - gravada, primeiro, em fitas cassetes por Samuel Wainer e, posteriormente, transformada em texto pelo jornalista Augusto Nunes - é a negação da prática e um exemplo útil à dissipação do tumulto sobre biografias, autorizadas, não autorizadas, panegíricos, ou lucrativas que, no fundo, é o que interessa. Wainer expõe o próprio fígado ao dizer que, em dado momento, pra salvar a "Última Hora", corrompeu-se "até à medula". O mundo, como se vê, não estava à espera de Wainer, à sua intervenção epifânica, muito menos esperou que saltasse pra entrar pra história, a fim de revelar como Vargas fizera o que todos já sabiam na criação da "Última Hora".
O futebol aparece em "Minha razão de Viver". Até nisso é interessante. Se me lembro direito, o general Castelo Branco, ás vésperas do golpe, demonstra espanto e desprezo por Wainer gostar de futebol. E a resposta de Wainer - quem vinha de um bairro popular de São paulo não teria o estranhamento do general - ganha agora mais sentido quando leio a tese de renato Coutinho sobre o Flamengo, "Um Flamengo grande, um Brasil maior: o Clube de Regatas do Flamengo e o imaginário político nacionalista popular (1933-1955)", defendida no ano passado, na UFF, sob orientação do professor Jorge Ferreira.
A modernização autoritária concomitante à interação com a classe trabalhadora em emulação com o profissionalismo emergente no futebol. Estamos na década de 30. Também falamos, conforme Coutinho, na transformação pela qual passa o Flamengo: um clube típico da Belle Époque para, mais do que uma revolução administrativa, "um projeto de construção de novos símbolos identitários que permitiriam reorganizar a relação da instituição com a torcida" (p.12).
Coutinho escreve uma sentença lapidar:
"Estado e trabalhador haviam encontrado um vocabulário adequado para o reconhecimento mútuo: o nacionalismo" (p.13)
E, no Flamengo, história e memória, em geral em conflito, encontram-se pra renovar o clube, "o passado amador e elitista passou a constituir o Flamengo profissional sendo lembrado como a fase embrionária da vocação popular da instituição." (p.12)
Castelo Branco, a propósito, não seria tricolor?
SRN
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