O objeto é uma
construção do historiador. Trata-se de uma operação intelectual feita com
método historiográfico: problema, diacronia, crítica das fontes e argumento. Um
método que não suprime nem o artesanato nem o presente do historiador ( afinal,
é no tempo em que vive que o historiador formula o problema que irá investigar
no passado).
Não há, portanto, nada
que garanta que a distância no tempo seja um critério mais seguro para a
construção do objeto. As paixões e os preconceitos podem permanecer (um
exemplo, ainda hoje, é o confronto emocional entre UDN e o trabalhismo getulista). E os
que defendem a História do Tempo Presente (HITP) a defendem justo sob o
argumento de que trabalhar o objeto, no presente ou no passado, não faz
diferença para o bom método historiográfico.
O problema começa.
Le Goff, que é um dos
responsáveis pela inflexão que nos deu, entre outras, a própria HITP, discorda
afirmando que não dá pra fazer história do presente, pois “não sabemos o que
vai acontecer mais tarde.” Quer dizer que não bastam as características
estabelecidas por Bédarida para defini-la: “testemunhos vivos”, “marco de
ruptura” e “valorização do acontecimento”. Nem a “guinada subjetiva”, que
retoma a vontade do indivíduo na feitura da História*. O objeto historiográfico
não pode ser construído porque lhe falta o elemento fundamental da composição
que é o “ponto de chegada”: “os historiadores devem partir daquilo que
aconteceu para tentar compreender como e por que aconteceu. Para mim, partir do
ponto de chegada é o que garante a seriedade do trabalho do historiador.” (LE
GOFF)
SRN
*Sempre me pareceu um
truísmo a importância do indivíduo, desde a Revolução Francesa tê-lo
institucionalizado. E Marx sabia disso. Mas, sempre se disse também que o
marxismo o havia suprimido e tal era a mudança com o fim deste paradigma, e não
é o que se vê logo no início do “18 Brumário”:
“O homem pode mudar a
história, mas à base das condições herdadas.”
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