sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Problemas do 18 Brumário com a HITP



O objeto é uma construção do historiador. Trata-se de uma operação intelectual feita com método historiográfico: problema, diacronia, crítica das fontes e argumento. Um método que não suprime nem o artesanato nem o presente do historiador ( afinal, é no tempo em que vive que o historiador formula o problema que irá investigar no passado).

Não há, portanto, nada que garanta que a distância no tempo seja um critério mais seguro para a construção do objeto. As paixões e os preconceitos podem permanecer (um exemplo, ainda hoje, é o confronto emocional entre UDN e o trabalhismo getulista). E os que defendem a História do Tempo Presente (HITP) a defendem justo sob o argumento de que trabalhar o objeto, no presente ou no passado, não faz diferença para o bom método historiográfico.

O problema começa.

Le Goff, que é um dos responsáveis pela inflexão que nos deu, entre outras, a própria HITP, discorda afirmando que não dá pra fazer história do presente, pois “não sabemos o que vai acontecer mais tarde.” Quer dizer que não bastam as características estabelecidas por Bédarida para defini-la: “testemunhos vivos”, “marco de ruptura” e “valorização do acontecimento”. Nem a “guinada subjetiva”, que retoma a vontade do indivíduo na feitura da História*. O objeto historiográfico não pode ser construído porque lhe falta o elemento fundamental da composição que é o “ponto de chegada”: “os historiadores devem partir daquilo que aconteceu para tentar compreender como e por que aconteceu. Para mim, partir do ponto de chegada é o que garante a seriedade do trabalho do historiador.” (LE GOFF)

SRN

*Sempre me pareceu um truísmo a importância do indivíduo, desde a Revolução Francesa tê-lo institucionalizado. E Marx sabia disso. Mas, sempre se disse também que o marxismo o havia suprimido e tal era a mudança com o fim deste paradigma, e não é o que se vê logo no início do “18 Brumário”:
“O homem pode mudar a história, mas à base das condições herdadas.”



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