"Nação Maior" é mesmo rico pelas nossas características distintas. Uma diversidade necessária, que se manifesta claramente no ponto-de-vista político. 28, assim como eu, não acreditamos na democracia representativa, na liberdade de expressão que só existe pros donos dos meios de comunicação, liberdade para a imprensa privada, como qualquer outro negócio. Em poucas palavras: 28 e eu somos favoráveis ao Chavez. O que não faz a menor diferença. Disse e repito: aqui não háeditor. Tadeu dos Santos publica o que mandar, conforme o texto que me mandou a seguir, devidamente acompanhado da charge de Fellipe Elias, www.felldesign.wordpress.com
Caudilhos
Por Tadeu dos Santos
Lamentavelmente não são de pequena monta as semelhanças existentes entre Dunga e Chávez. A mais gritante e mais facilmente observável nesses últimos momentos reside na ojeriza que ambos parecem sentir em relação à imprensa. Gostam de um mandonismo, da obediência cega e do elogio fácil. Características encontradiças nos caudilhos que por essas plagas vicejam.
Penso que toda a motivação apresentada pelo insano Dunga também é inteiramente servível a Chávez. E ele diria:
- Olhem, temos planos e alguns são de uma grandiosidade inimaginável. Estamos destinados à grandeza, somos uma nação vitoriosa. Urge que sejam rompidos os grilhões que nos atrelam à essa pobreza histórica. Para a consecução de nossos ideais, faz-se necessária a unanimidade. Assim é que os grilhões serão convolados em mordaças e estas serão lançadas a enorme boca da imprensa. Dar-se-á então o esperado consenso e seguiremos, impolutos e incólumes. A grandeza, vês? Está na esquina que se avizinha.
Dunga comunga desse “ideário”. Tudo (até mesmo o silêncio imposto à imprensa) é justificável quando o que se busca é a conquista da Copa. As entrevistas lacônicas e os treinos fechados podem ou não conduzir à decantada vitória. A única certeza que se tem até o presente momento é que esta é uma seleção casada com o técnico e divorciada do povo. A seleção nos é estranha porque tem um “padrão” que fere nossas mais caras tradições, mas também porque dela nada sabemos.
Por toda a América Latina os generais torturadores foram entregues à justiça. Os “nossos” estão livres, leves e soltos e vão à TV conceder entrevistas para explicar os métodos que utilizavam. Nossa “tradição democrática” é tão extensa e profunda quanto a compreensão que Dunga tem acerca de Futebol.
Dunga é, incontestavelmente, um caudilho totalitário. O mais chocante, porém, é o silêncio aquiescente de poderosos setores da “nossa” imprensa. À conta de alguém, claro, haverá de ser lançado o ônus decorrente de tanta omissão. A vítima do último mundial foi Roberto Carlos e seu meião. Há uma vaga de bode expiatório a ser preenchida. Quem se candidata?
Minha antipatia pelo Bruno, desde quando resolveu brigar com o Andrade, um dos Monstros do Panteão, só piorou diante do seu comportamento ciclotímico em campo . Porque fora pouco me interessa e compartilho com a opinião do grande Saldanha que dizia que "não queria jogador pra casar com a minha filha". A minha, de fato, já com 20 anos.
Agora, meu irmão, está mais do que na hora de transformar essa cavada de empresário e se mandar mesmo pra Europa ou pra Rússia ou pra Al-Qaeda. Passar batido pelo ZICO, sem sequer cumprimentá-lo?
A mão de paçoca que só é firme quando desnecessária, se for falta de aperto pra despedida, vai nessa.
Um abraço
SRN Máximo
Pro Galeão, Bruno
O Bruno parece não compreender que sempre que desrespeita um ídolo do clube, por tabela também desrespeita o torcedor. Já afrontou ao Andrade e agora foi a vez do Zico. O que vira a seguir? Dizem que o único que se engraçou com a filha do Saldanha foi devidamente afastado à bala - o goleiro Manga.
Lar do Prado é o outro blog, em cuja mesa o caboclo dá um passe e contrata o Scolari. Só que não avisaram ao Zico e o tio do Dunga toma o caminho da roça, que é o lugar dele.
Alan Kardec, porém, não é francês, conforme ficou provado na África do Sul. Maicon virou Josimar, fazendo um gol praticamente sem ângulo. Pra quem nasceu agora, Josimar era o lateral dos amarelos, convocado pelo Telê, pra vaga do Maior lateral de Todos os Tempos, Leandro, pra copa de 86.
A fim de não perder a viagem, estendeu-se um pouco mais e quando Elano passava arriado pelo lado, montou nele e o ajudou a fazer o segundo gol dessa aporrinhola de amarelo do Dunga de macedo.
É isso aí, Brazil (não é erro de digitação tão comum neste digitador, é Brasil com z mesmo)!
Anódino, nada poderíamos esperar senão essa obviedade. Diante de um adversário bem plantado, bem coordenado, atrás da linha da bola, das duas uma: ou habilidade do talento ou inteligência estratégica. Como é que é? Talento e inteligência juntos no mesmo time de Felipe melo, Gilberto Silva, Elano, Kaká, Dunga de macedo, etc.
Debocharam da Coréia. E é justo ela quem demonstra um padrão tático.
SRN Máximo
Bom... Sabemos agora porque o Dunga trancou a concentração e impediu o acesso às imagens. É tudo muito simples: ele não tinha absolutamente nada pra mostrar.
Saíde de jogo lenta e sem inspiração. Dois volantes grossos (Gilberto Silva e Felippe Mello), Elano (inclassificável) e as arrancadas de Kaká que, decerto, ficariam bem num campo de Várzea, mas tenho dúvidas quanto à sua adequação à uma competição desse nível. E não é que em meio ao caos, vi Robinho procurando uma câmera???
Momentos de uma crônica de uma tragédia anunciada. Quem será a França da vez?
28 - Não me leve a mal, Tadeu, mas tenho de tirar o pé do chinelo e esticar a perna na cadeira. Mas, diz aí, se o uísque, como falava o Vinícius, é o cachorro engarrafado, no teu caso, são as palavras o melhor exemplo de amigo do homem. Deve ter algum livro pronto na gaveta, não tem não?
Tadeu - Espio a minha estante e vejo que há por ali livros de Philip Roth e Gonçalo M. Tavares que ainda não li. Tudo isso pra te dizer que jamais escreveria um livro e isso não guarda qualquer relação com falsa modéstia ou algo que o valha. É puro egoísmo. Ganho mais lendo do que escrevendo. Já disseram tudo e tudo o que me resta é tentar assimilar algo. Há alguns dias leitura de Viagem no scriptorium de Paul Auster deu reforço à essa certeza. Millôr disse que quanto mais lemos, mais aumenta nossa ignorância. Diria que também ficamos menos convictos e que tudo isso é muito bom. Nada saber e muito duvidar faz muito bem a isso que muitos por aí chamam espírito. Repito, não há nisso qualquer resquício de modéstia. É só egoísmo mesmo.
Ademais o que escrevo é coisa de pouco fôlego, voo curto, passos tímidos. Só trato do que se me dá aos olhos. Sou pouco imaginativo. Se não vejo, calo. Em literatura sou como aquela velha discussão que se tratava no surgimento da arte abstrata. Se é pra retratar a realidade, bastaria a fotografia. Pois o que escrevo são fotos e muito mal tiradas, por sinal.
28 -Em 70, no tricampeonato, eu ainda ia fazer 8 anos. Muito moleque pra ver a arte do futebol como ela merece. Já em 74 foi diferente. Te digo mais: revolução mesmo, de fato, se quisermos ser rigorosos na acepção, quem fez - e nunca foi igualada - foi a seleção da Holanda, em 74, com aquele carrossel sensacional. Chamaram de "Laranja mecânica", em virtude do filme do Kubrick. Você, que é um cinéfilo, traça aí um paralelo rápido entre o filme e aqulea seleção, o clima da época, etc.
Tadeu - A associação entre as duas laranjas ficou por conta da cor da camisa da seleção holandesa. Eram, contudo, duas obras-primas. O filme por desmascarar o cinismo de uma sociedade que inutilmente se arvora na cura dos males por ela mesmo provocados. A doença prossegue incólume, mas o corpo social dá o seu aval e assim doente, doença e sociedade patológica prosseguem. O mal está por toda a parte e até mesmo o discurso que se ocupa da patologia é também ele profundamente doente. E o carrossel por mostrar que um número posto às costas é só um número e que bons conjuntos são indivisíveis. Aqueles deslocamentos em bloco ainda é o que de melhor o futebol produziu quando o assunto é organização tática. Eis ali um perfeito exemplo de bagunça organizada. Às vésperas daquele Brasil x Holanda, Zagallo dizia que aquilo tudo não passava de um fogo de palha e que mostraríamos a eles como se deveria jogar futebol. 2 x 0 foi pouco. Merecíamos mais e todos sabem disso. Mais tarde veio o "vocês vão ter que me engolir" mas aí já é outra história.
28 -Eu vi o Geraldo. mas, confesso que o cara, às vezes, me irritava. Era um dos que na arquibancada pedia o Tadeu, teu xará, que entrava sempre no segundo tempo. Repeti ai aquela literatura de escocês rótulo preto sobre o cara. Um resumo, o que der.
Tadeu - Geraldo, eu já disse, me abrira as portas do paraíso. A dívida era impagável e não me dava o direito à decepção. Mas já te contei que mesmo naquele jogo no campinho perto de casa onde ficava as tardes a matar aulas, todos queriam ganhar, ainda que fosse de meio a zero. Geraldo estava em outra; não gostava de fazer gol e às vezes saía do campo, parecia ir à outras paragens. Aprendi, porém, que nem sempre é o gol a moeda que paga o ingresso. Andar por sobre a bola é o desafio-mor à racionalidade e isso não tem preço. Tadeu Ricci era a objetividade, mas a objetividade daqueles tempos não era tão feia quanto à de hoje.
28 - Isso aqui tá parecendo o canal livre ou, o que é pior, entrevista feita pelo Ziraldo. Estou só aporrinhando. Fala aí o que quiser, pergunta aí. Ou fechamos a conta?
Tadeu – Ainda pra saideira. Diga lá: como é essa coisa de resumir ideias inteiras em dois ou três traços. Desenhar é não ser prolixo, né não? Falta-me a capacidade de traçar uma linha reta e esse dom de dar ao pensamento uma liberdade que a palavra muitas vezes parece limitar. O que era aquela geometria do Kandinsky? Há também um representante do cubismo tardio chamado Juan Gris que é o seguinte. Penso às vezes que Picasso teve para a pintura, sobretudo para o movimento que encabeçou, o mesmo efeito que Pelé teve para alguns jogadores de sua geração, ou seja, não permitiu que víssemos coisas bem essenciais. E mais: Modigliani seria um artista menor se tivesse sofrido menos? Sei que essa discussão é velha e, pior, infindável. Mas talvez por isso mesmo tão boa. O que você acha?
28 – O que acho, meu camarada, é que agora são os dois pés, circulação é uma tristeza. Niemeyer vai na veia. O único brasileiro que merece panegírico, conforme o Máximo. Foram entrevistá-lo, aquela clima todo, a longevidade, monstro sagrado, o cacete, mandam essa: Mestre, qual o segredo dessa bela longevidade produtiva? E ele, de bate pronto: "segredo porra nenhuma. A idade é uma merda". No meu caso, meu camarada, em que falta o talento, não sobra nem o botequim, por causa do diabetes, ficando só o ranzinza. Ao menos o seguinte, já que falei do Niemeyer: "otimismo é desculpa pra não fazer nada". Isso não é perfeito nesses tempos de ufanismo de copa do mundo? Mas, pra não deixar de dizer alguma coisa, além do que voc~e já disse, resumo tudo numa frase de Braque:
“Diziam-me: basta botar sombra. Eu respondia: nada disso, importante é o que se pensa a respeito.”