quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Após o He-Man, agora o Mickey

Por Máximo



Começo com uma pergunta:

O que é pior festinha de aniversário, torcida de play-station ou esse time da fauna das laranjeiras?


Eis uma pergunta cuja resposta eu não sei. Talvez seja possível encontrá-la no que há de comum  entre essas três aporrinholas.

 

Meu esforço só não será pior porque rápido, ajudado pela lembrança de um camarada conhecido que costuma usar uma camisa em cuja estampa é possível ler:

"Faça festa, mas não me chame, muito menos se for churrasco."


Agora me digam: o silêncio tranquilo, a leitura excelente e se é obrigado a sair de casa para ir a uma aporrinhola dessas, além de tomada por espécimes da fauna das laranjeiras cuja dificuldade com a língua é servida com chop quente  e salgado frio acompanhados das mesmas conversas indigentes de sempre. Uma fauna de play station, tão verossímel quanto o próprio Messi de play station.  Aquilo parece futebol, parece o Messi, mas não é nem uma coisa nem outra. É só uma contrafação eletrônica, exatamente como o falso carioca de cartola e fraque, a 40 graus, dissolvendo-se como sorvete sem higiene. Exatamente como esse arremedo de time que entrou ontem no campo de pelada dos  vizinhos do pinel, conforme a expressão justa do 28.


Pra encerrar, que perder tempo com defunto barato é vela gasta inutilmente:


Por que, após o He-Man, não tentam contratar o Mickey?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Plural Majestático

Por 28



A tentação é grande, não fosse pelo ridículo. Além disso, ser Flamengo nada tem com vaidade ou humildade, na verdade, passa ao largo destas categorias para se afirmar antes o que desde sempre é, numa palavra: existência.

No Nação nunca uso, tampouco quem lá escreve,  o plural majestático, apesar de, no fundo, todo Rubro-Negro possuir o tropismo à primeira pessoa do plural. Ainda bem que lá não aparece nada da fauna das laranjeiras nem os vizinhos do pinel, tampouco os de segunda de são cristóvão. Obtusos pela própria condição, não percebem o ridículo e, dentre eles, há os mais ridículos, alguns de fraque e cartola de veludo vestindo alguém do resto do Rio, a 40 graus, fantasiado de aristocrata.


O plural majestático era uma concessão dos reis portugueses até o absolutismo, quando cansam de bancar o que não são e decidem abandonar a humildade postiça. Do mesmo modo a Igreja feudal, talvez pela culpa da consciência de se ver cada vez mais rica e poderosa em face do cristianismo original e primitivo.


Agora calculem o ridículo de uma situação nova, criada pra ser uma tradição inventada.

Calculem ainda o pior: uma tradição inventada, cheia de bolinhas, agarrada à força na roça do tietê por Juju, Ceni e Zetti.

A vontade de rir é tanta que não dá pra completar este e-mail.

Taça das Bolinhas

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Não Agradeça Patrícia: a CBF Não Fez Mais do que OBRIGAÇÃO

Por Máximo

Do sítio da CBF 


A CBF, através de Resolução da Presidência nº 02/2011, reconheceu o Sport Club Recife e o Clube de Regatas do Flamengo como campeões brasileiros de 1987.

Na mesma Resolução, foram reconhecidos como vice-campeões brasileiros de 1987 o Guarani Futebol Clube e o Sport Club Internacional de Porto Alegre.

A decisão da CBF foi comunicada pelo presidente Ricardo Teixeira a presidente do Flamengo Patrícia Amorim em encontro que aconteceu nesta segunda-feira, na sede da entidade.

Do encontro participaram ainda o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro Rubens Lopes e diretores do Flamengo.

A presidente Patrícia Amorim agradeceu ao presidente Ricardo Teixeira e ao departamento jurídico da CBF pelo reconhecimento de um título que o clube conquistou no campo, de fato, e agora, o tem de direito.

- Esse é um dia histórico para o Flamengo. Quero homenagear todos os jogadores da campanha de 87 e o técnico Carlinhos. Vocês são agora os legítimos campeões de 87, e o Flamengo tem de direito seis títulos de campeão brasileiro.

O presidente Ricardo Teixeira esclareceu que o reconhecimento do título de 1987 a Sport e Flamengo segue a linha traçada quando da recomposição histórica feita no final do ano passado pela CBF, representada pela unificação dos títulos de campeão brasileiro que beneficiou Santos, Palmeiras, Cruzeiro, Fluminense e Bahia.

Ainda segundo o presidente da CBF, a decisão, tomada depois de novos e convincentes argumentos apresentados pelo departamento jurídico do Flamengo, contempla ainda o reconhecimento de que em 1987 houve dois campeonatos brasileiros, que tiveram Sport e Flamengo como campeões,

Ricardo Teixeira enfatizou ainda o fato de que não houve prejuízo esportivo ao clube pernambucano, que foi inclusive, ao lado do vice-campeão Guarani, o representante brasileiro na Taça Libertadores de 1988.

Anteontem, Ontem, Hoje, Amanhã, Depois...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tradição Inventada

Por Luis Carlos de Araújo Lima



Caro Cinéfilo:

História e cinema é uma combinação que ainda não deu certo. Outra que também não deu foi futebol e cinema. Talvez porque seja difícil encontrar melhor rendimento estético do que o que nos dá o próprio jogo. Na literatura, também falta um grande texto da bola. Rubem Fonseca, mestre do conto urbano carioca, volta e meia faz alguma referência, como naquele conto cuja primeira linha é a descrição de uma cusparada do Gerson na lateral do campo. Mas não passa disso, nunca fez do futebol um objeto central de quaisquer de seus contos ou romances.

A dificuldade que me parece intransponível é como conciliar aquilo que é feito para não se explicar ("O narrador não explica nada, apenas expõe": Benjamin, em "O Narrador") e o que é justo o contrário, em que a explicação chega ao ponto da tautologia, como é o caso da disciplina história. Como narrar sem ser pedagógico?


Uma pergunta cuja resposta fica mais complicada se também recorrermos a Hobsbawm. Hobsbawm é um autor de referência no estudo do futebol, com seu texto sobre as tradições inventadas:

"Tradição inventada é um conjunto de práticas e acordado ou tacitamente aceito que visa impor valores e comportamentos através da repetição. Estabelecem com o passado uma continuidade bastante artificial. Em poucas palavras, elas são reações a situações novas que ou assumem a forma de referência a situações anteriores, ou establecem seu próprio passado através da reptição quase que obrigatória".

Tradição inventada, portanto,  não é pra ser mexida. Segundo Hobsbawm, feita pra permanecer invariável, exige pompa e circunstância. 

A segunda forma à que se refere Hobsbawm - a situação nova, através de sua repetição obrigatória, formalmente invariável, a fim de se constituir em seu próprio referente - é uma invenção deliberada para virar tradição.

Organizemos um festival de guarânia paraguaia ali perto do Riocentro. Todo ano, durante cinco anos, naquela mesma data,  daquele mesmo jeito, invariável formalmente, com muita pompa e circunstância fuleiras, juntando de tudo do que há no resto do Rio, da fauna laranjeira aos de segunda de são cristóvão - façamos isso nesses próximos cinco anos naquele trecho da cidade onde se tenta inventar um carioca paulista e teremos uma legítima tradição inventada.

O futebol seria, portanto,segundo vários estudiosos que sobre ele se debruçam, a representação simbólica dos campos de tensão existentes na sociedade: infraestrutural (econômico) e superestrutural (político, religioso, estético).

Tensão social representada é dramatização. E a dramatização da tradição inventada, após o festival de guarânia paraguaia fabricado pelo resto do Rio,  de um tricolor refinado e elitista é expô-lo à expiação pública, suas idiossincrasias e frescuras reduzidas ao que, de fato, são: ridicularias de fraque e cartola de veludo, num belo estreito de território, fritando a 40 graus, entre o mar e a montanha. Nem o fraque nem a cartola resistiram e o veludo inútil foi reaproveitado, colado à sola do sapato gasto na caminhada para se distanciar da prórpia esquizofrenia: um clube de massa, mas que desta quer distãncia.

As coisas não são tais quais se passaram, caro Cinéfilo. 

Ou alguém sem rivotril com cachaça acredita em algo vindo da fauna das laranjeiras, do vizinho do pinel ou dos de segunda em frente à ebal?