segunda-feira, 21 de abril de 2014

"Utensilagem das Mentalidades" de Segunda

Por Máximo



A verdade em história é composta de dimensões várias que constituem as apropriações. Estas não são versões, pois versões podem ser quaisquer coisas. Dimensões exigem pertinência, critério de validade. 

Esgotar-se, destarte, no pioneirismo pragmático vascaíno quanto ao combate ao racismo no futebol pode ser coisa de jornalista, de sociólogo, de ficcionista, até de ufólogo para quem os ETs são uma fonte legítima, mas quem pelo menos deu uma olhada na ementa de Teoria da História possui a noção da importância historiográfica do conceito de representação, viu a crítica à "utensilagem" das mentalidades que expunha um conteúdo dado, unívoco, sem recorte do sujeito, sem considerar a questão narrativa.

A despeito do combate à noção dicotômica - verdade x ficção; erudito x popular - não consegue a representação dar conta da exploração do trabalho, da mais-valia, sobre as quais assenta-se o capitalismo e para cuja crítica o marxismo ainda é insubstituível. De qualquer modo, retoma a dinâmica do conflito ao considerar que diferenças sociais não são apenas condição de classe. Tomemos a dimensão da fé. O desencantamento do mundo não só não se provou, como verificamos uma recidiva. Paulo Coelho não é o sucesso que é à toa. Evangélicos são trabalhadores e explorados tanto quanto macumbeiros, mas nem, por isso, são capazes de se unir numa luta comum. Alienação? A diferença que os separa é, de fato, uma interdição, certamente melhor compreendida sem a referida chave dual, ficando mais clara nos termos fornecidos pela representação, o "jogo de escala", em que o local se apropria do global, caracterizando uma estratégia de sentido inapreensível pela dureza da noção de totalidade ("sociedade total").

Rubro-Negros constituímos um exemplo de reelaboração coletiva em que a apropriação do combate ao racismo há muito deixou pra trás a ideia de recepção. Ou alguém tem dúvida de onde vem a força da nossa Torcida?

Ratzinger resolveu pendurar as chuteiras porque preferia ler. Mas talvez seja levar muito longe o esforço por inteligência de certas reminiscências que vivem à espera de que o navio de Cabral ainda volte do Triângulo das Bermudas.

SRN

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