Televisão só atrapalha. Ontem, na altura em que estávamos, não vimos o acidente com o carro da Tijuca que, ainda assim (o que é uma estupidez desse ambiente competitivo que é o samba) desfilou com os integrantes que não se feriram sentados, ao lado de bombeiros. Os carros alegóricos, aliás, são muito altos. A monumentalidade já estaria garantida se a escala fosse menor. Esculturas muito bem acabadas, em praticamente todas as escolas. Apenas a Vila, no domingo, me pareceu com carros mal acabados. Seja como for, uma técnica que me deu a impressão de um padrão estético, que, a partir de um determinado momento, anestesia o olho. Daí a surpresa que tive com a Mangueira. Sem dispensar o acabamento, todas as alegorias pareciam trazer a marca pessoal de um trabalho de cartum. O enredo, "Poesia e Fé", se cito certo, interpretou plasticamente ícones da fé, como o "Zé Pelintra", combinando desenhos de humor. Mas, o que mais me impressionou, até agora na retina, foi uma espécie de escultura, feita em volutas, em rotação pela avenida, de um lado o Jesus, cristão, branco, do outro, negro, Oxalá, segurando uma bola lisa, o universo, como se um produzisse o outro na medida em que o escultura rodava e se deslocava. Pena o problema com um carro, que abriu um buraco entre as alas, comprometendo, por momentos, a harmonia. Ao final, a festa popular, com o povo, pelo sambódromo, atrás da Mangueira, como se fosse um bloco. Pra mim, é bicampeonato.
SRN