Um time ruim, um futebol horroroso, antibrasileiro.
Tudo isso é fato. E vai continuar, lamentavelmente, no mundo do negócio da bola.
Agora o que fica cada vez mais claro é a sordidez desse sistema de comunicações que temos montado no país.
Em busca da personificação da derrota, do prejuízo aos seus interesses, agora procuram jogar sobre o pobre-diabo, volante ainda pior, Felipe Melo, a frustração de todo um povo.
A sordidez da manipulaçao do sentimento popular, particularmente frágil em se tratando do futebol para uma nação que não o vê como negócio, mas como paixão, amor, ramo, de fato, como nos dizia Saldanha, "ramo significativo da cultura popular".
E os "independentes"?
Desconfie, meu irmão, de independência com apoio desse sistema. São antagonismos inconciliáveis.
Carlos lacerda se sentia assim, apoiado por Assis Chateubriand, Roberto Marinho, os capiaus paulistas e Paulo Bitencourt. O alvo: o "mar de lama" de Vargas.
O futebol alemão não é nem rápido nem surpreendente. Lento e seguro, parece mais com Geisel. Nesta copa com um pouco de habilidade.
Reparem como desde 90, quando o futebol se estrutura em definitivo como negócio, vem chegando praticamente a todas as finais de copa. Seguro e pragamático, este o paradigma do futebol empresa.
Já não foi suficiente o simulacro alemão de camisa nova, amarela?
Iremos adotá-lo justo agora quando o original começa a copiar os sulamericanos?
Máximo - Republicarei amanhã "Terra Brasilis", que merece pausa pra reflexão, como convém a um domingo. Está tudo no texto: cultura, política, economia, estética. Não saiu solo hoje porque, se não completo o tema dos engradados iniciado ontem, perderia a oportunidade adequada. "Terra Brasilis" não pode ser de leitura rápida. Só pra lembrar: há também o texto que irá escrever sobre o Flamengo e Miles Davis. Será o retorno, após a copa, das postagens sobre o Flamengo.
Tadeu - Combinado. Vou tentar associar a ausência de repetição, o improviso do Jazz a um futebol que hoje em dia se faz raro.Confesso que sou fã do Ronaldinho Gaúcho e Ganso. Levar o Kléberson e não colocar pra jogar? Minha esperança consistia em que ele fosse visto por algum empresário e retornasse pra Europa. Aquela coisa vai voltar pra nos atormentar.Em resumo: não consegui torcer pro time do Dunga. Se ele ganhasse não veríamos mais meias na seleção. Risível, porém, foi a espera da Globo pelo desfecho da Copa. Foi só perder que os caras caíram de pau. Falta de decência.
Máximo - Ficou clara a orquestração para o apito final de quando da eliminação.
José carlos Araújo, na rádio, e Galvão, na televisão, estavam afinados, na instrução dada pelos patrões: nem liberdade excessiva, como em 2006, nem colégio interno, como agora.Se havia alguma dúvida, a fala uníssona dos engradados revela a estratégia. Vilania. Sem chance.
Tadeu - A internet se bem manejada pode ser uma ferramenta útil pra denunciar esses esquemas canhestros. Olho nossas postagem do mês da copa e concluo que fizemos um bom trabalho.
Mas, o futebol brasileiro parece sem história, como se tivesse começado ontem.
Eis o problema de ficar entregue ao jornalismo, aos engradados, sobretudo.
O rebaixamento da qualidade é consequência do aumento da segurança necessária ao futebol mercadoria. Perder significa prejuízo, mas, não de quaisquer trocados; pela escala que adquiriu estamos no âmbito de bilhões, uma das atividades econômicas mais lucrativas, ainda mais conveniente pela convergência de irregularidades, de lavanderias.
Dunga era só um funcionário. Scolari será outro, conforme já fora.
Não estaria no movimento da história, que mais uma vez parece ensejar a Maradona um protagonismo, um sinal manifesto de contradição?
Não se fala de “amor à arte” nem de “traço cultural”, bobagens de intelectuais sem nenhum senso prático, sem malandragem pra saber que o moleque dos juniores “tem de virar dinheiro”.
Quanto, porém, não vale Messi, Teves, Ganso?
Não é melhor vender a mãe mais caro?
SRN
Máximo
Terra Brasilis
Por tadeu dos santos
O gol, dissemos antes, nem sempre é a moeda que paga o ingresso. Elastecendo um pouco mais o raciocínio, não é demasiado afirmar que a busca da vitória não deve se operar com o sacrifício dos valores que sempre nortearam o futebol que jogamos por essas bandas.
A derrota na Copa do Mundo de 2006 foi atribuída a diversos fatores. Alguns diziam que a culpa cabia ao excesso de liberdade desfrutada pelos jogadores. Outros tantos apontavam o desleixo com a forma física apresentado por alguns de nossos atletas. Muitos culparam o meião de Roberto Carlos.
Em maio aos dedos que buscavam pelos que haveriam de pagar a conta e à saraivada de críticas que propositadamente passavam ao largo do cerne da questão, não houve uma voz sequer a dizer que dentre tantos fatores relevantes, o talento de Zidane revestia-se de uma importância incalculável. Ele jogou (e muito) e nós assistimos. Naquele jogo específico essa foi a causa da derrota.
A precoce eliminação permitiu a retomada de posições que a conquista de 2002 conseguira manter silente. O futebol-negócio não admite riscos. Assim sendo, nossa prestigiosa posição no ranking da Fifa, bem como a sempre crescente exportação de nossos jogadores e ainda as gordas e fartas verbas publicitárias exigiam sua imediata eliminação.
Há que se ganhar e se em meio ao caminho, o futebol-arte cair do caminhão prosseguiremos sem olhar pra trás. A derrocada do futebol que se faz arte tem o condão de trazer alterações brutais ao modo como esse povo se enxerga. O nosso específico e único modo de jogar futebol é parte integrante de nosso acervo cultural. Lança-lo ao limbo significa retirar pedaços substanciais de nossa perspectiva histórica.
Os altos negócios, porém, não perdem tempo com essa coisa de legado cultural. A cultura, dizem, é maleável. Transmuda-se. Logo eles se acostumam.
Analisadas as causas do infortúnio, impunha-se uma mudança radical. E veio o Dunga. E as portas se escancararam para um tempo de ordem e progresso. Ato contínuo, outras portas se abriram e por elas se evadiram o talento, o improviso, o drible debochado, a pureza da arte. Em síntese: nós (os ditos saudosistas) e nossa cultura.
Passamos então a jogar à moda alemã. Contávamos com os erros dos adversários. Optamos pela pequenez do contra-ataque e, claro, eliminamos os meias.
Após o 1º gol sueco por ocasião da final de 1958, Didi foi ter às redes, pegou a bola e foi com ela até o meio de campo. Havia uma história a ser reescrita e cabia a ele iniciá-la.
Nada disso, contudo, se revestia de qualquer importância para Dunga e seus comandados. Ele tinha a autoridade advinda da conquista de 1994. O desprezo que o povo sempre dedicou àquilo que a sua infinita mediocridade via como epopeia, era a espinha que insistia em não descer. Os impropérios articulados quando do levantamento do troféu eram insuficientes. Ganhamos e esses saudosistas prosseguem endeusando os perdedores de 1982. Vou, pois, provar a todos o quanto há de infalível na fórmula de 1994.
A cegueira causada pela incessante busca dos resultados jamais lhe permitiu vislumbrar o quanto havia de dignidade na derrota de 1982. A dignidade era tanto, que o vencedor, não duvido, sentiu o opróbrio da vitória.
“Perdemos” honrando nosso passado. Jogamos à brasileira. Tínhamos Zico, Júnior, Leandro, Sócrates, Falcão e Cerezzo, dentre tantos outros. Em 1994 tínhamos uma miríade de alemães e apenas dois pra chamar de nossos.
As formas de se jogar futebol variam conforme o povo que tenha a bola nos pés. Os Argentinos, Alemães e Italianos venceram as copas de 1978, 1990 e 2006, respectivamente, jogando de acordo com os ditames de suas culturas.
A Hungria, a Holanda e o Brasil perderam nas copas de 1954, 1974 e 1982 jogando nos termos ditados por sua herança futebolística.
Ganhar e perder são variantes desse jogo.
Tudo parece prenhe de obviedade, mas ainda assim repito: não há vergonha na derrota. É mesquinha e maniqueísta toda e qualquer análise que pretenda caminhar nessa direção.
Não há aqui, repise-se, condenação à derrota. No entanto, perdemos travestidos de alemães e isso é imperdoável.
Jamais teremos o pragmatismo alemão, a catimba argentina e tampouco o defensivismo italiano. Nossa especificidade brejeira reside em outros sítios. Falo do molejo, do caminhar por sobre a bola, do drible que debocha. Falo de Didi, Garrinha, Pelé, Rivelino, Nilton Santos, Tostão, Geraldo, Leandro, Ademir da Guia , Dirceu Lopes e Ronaldinho Gaúcho.
Há, decerto, os que não acreditam. Mas eles prosseguem brotando amiúde por esses sítios. Nossa produção é farta. Inesgotável, eu diria.
Digam ao Dunga que fechar o grupo e dizer que todos os outros são inimigos é prática já batizada. Na alemanha atendia pelo de Nazismo e na Itália era conhecido por Fascismo.
Digam também que o futebol é, sem dúvida alguma, um jogo que privilegia o coletivo. Mas que se não olvide do jogador-solo, do jogador que desconhece limites. Kaká e Robinho, é óbvio, não fazem parte desta cepa.
O jeito africano de jogar vem sendo massacrado por sucessivas e equivocadas contratações de técnicos sulamericanos e europeus. A pretensa maturidade do futebol africano é esperada a partir dos pressupostos do futebol europeu e sulamericano (vencedores). Eles, porém, tem sua própria especificidade, algo anárquica, é verdade. O futuro que nos espera talvez não seja de todo diferente do que ora é experimentado pelos africanos.
É chegado o momento de extremar o placar da peleja disputada no Sarriá daquele time que encantou o mundo. É igualmente conveniente estabelecer a necessária distinção da vitória obtida em 1994 daquele futebol sofrível exibido em campo. “perdemos” numa oportunidade e “ganhamos” noutra. A resposta a qual copa ganhamos e perdemos, ditará os rumos que o futebol doravante trilhará por essa terra brasilis.
Apresso-me na postagem, que será devidamente desenvolvida amanhã, porque detestamos covardes.
Este blog não suportava o futebol que vimos ser praticado e não poupou críticas a Dunga. Mas, o que se vê é revelador do grande adversário que o povo brasileiro precisa identificar com clareza. O sistema globo é nefasto, historicamente antinacional. E a sordidez previsível manifesta mais uma vez a realidade de sua manifestação: avançam como abutres sobre Dunga, pedindo a Ricardo Teixeira que retome o comando da seleção - o que fica bem evidente quanto esse sistema se considera mais importante do que qualquer fato.
Pouco importa o futebol brasileiro.
Tanto faz a descaracterização desse ramo da cultura popular.
Nada é pior do que a falta de "exclusivas" e a ausência de privilégios que impedem esse sistema de transformar qualquer fato da cultura brasileira num mero vulgarismo típico de seus programas em decadência. Os poucos que nos frequentam prestem atenção, reparem como os "independentes", esses "críticos" de mercado de fancaria hipócritas contumazes caboclos do que classifico pejorativamente de lar do Prado, reparem na "altivez' de sua independência, repito, e não veráo uma palavra escrita, uma palavra dita senão sobre a "falta de educação" de Dunga. Pra mim, Antônio Máximo, veterano Rubro-Negro, Dunga nunca passou de Dunga de macedo, com seu diácono Jorginho, prosélito de mercador da fé, como Sancho Pança. Por tudo isso, com tudo isso, entretanto, nada se compara com qualquer tipo de adesão que pode vir a buscar esse sistema sórdido. Ainda que mobilize seus funcionários, que certamente irão nos dizer com todas as letras: "País estranho, vê a globo, mas fala mal da globo." Desculpem-me, mas o impulso é terminar com um palavrão.
A Copa de 1982 foi realizada na Espanha. Era a 12ª edição e a 1ª a contar com 24 seleções. Todos tinham ainda na memória as imagens estampadas pela Copa anterior realizada na Argentina. Ali mais uma vez foi possível verificar o quanto pode ser nefasta a combinação futebol /política. Aristotelicamente, alguns dirão que a política é onipresente. É verdade. No entanto, os limites tácitos que até então eram observados foram ultrapassados e a produção de resultados passou a dar sustentação ao governo. Nada de novo sob o sol. Colocar a esporte a reboque de interesses políticos (normalmente inconfessáveis) era prática coberta pela poeira do tempo. Nossos hermanos, porém, obtiveram êxito.
Além do conhecidíssimo mascote – o naranjito -, a copa tinha em seu cartaz uma belíssima pintura de Miró. Uma verdadeira obra-de-arte. Ela não seria a única obra-prima que se daria a conhecer naquele Mundial. Havia outra pintada em tons de verde e amarelo. O mestre que manejava os pinceis atendia pelo nome de Telê Santana. Era uma feliz combinação daqueles mestres renascentistas que tinham por costume a entrega à perfeição do traço e a proporcionalidade das formas com aqueles que se davam às abstrações, que não se limitavam a pintar aquilo que se insinuava aos olhos, mas à fantasia, ao onírico.
Foi tamanha a força da beleza presente naquela pintura-seleção que ela passou a ser paradigmática. Foi eleita alvo preferencial dos adoradores do feio, da força bruta, do resultado a qualquer custo. Deixemos, por ora, as analogias de lado e vamos recontar essa história.
O time que fizera a opção preferencial pela beleza sucumbiu ante a eficácia da famosa retranca italiana. O placar foi Itália 3 x 2 Brasil. O passo seguinte foi o lançamento de todas as loas possíveis e imagináveis à competitividade italiana e a consequente condenação do futebol baseado na beleza. Atrelou-se, a partir de então, a beleza à derrota. Em 1986, dar-se-ia um novo insucesso e não fosse a presença de Maradona, a tese do “ser feio é bom demais” teria selado definitivamente a discussão.
Prosseguíamos sem vencer e em 1994 completaríamos 24 anos sem títulos. No entanto, aquela geração capitaneada por Dunga venceu (e o futebol perdeu). Ao contrário da campanha de 1982, na de 1994 foi exibido um futebol à europeia, com forte marcação, ausência de meias e, portanto, criatividade. Vem daí o caráter paradigmático daquela seleção de 1982.
Armando Nogueira afirmou que em 1982 a seleção brasileira perdeu, mas o futebol ganhou. Modestamente, já afirmamos que apenas os que deixaram de enxergar o essencial, a beleza, conseguem achar que perdemos em 1982. Um jogo de futebol é mais do que o placar que estampa ao final.
Falemos dos personagens presentes na pintura do mestre Telê:
Leandro – Estava devidamente habilitado a ocupar todas as posições da defesa. Era um exuberante zagueiro e, certamente, o maior lateral que meus olhos miraram (e como sou grato por isso). Ainda ao berço uma voz se fez ouvir: Vais crescer e em ti se fará morada a categoria. Dito e feito.
Falcão – Era esguio, trazia a cabeça sempre erguida e os olhos postos no céu. Fizera com a bola um pacto vazado em uma cláusula apenas: és minha e eu sou teu. O maravilhoso corta-luz para o missil de Éder e o chute de canhota contra Itália foram duas pinceladas que só os amantes do futebol que se quer arte conseguem atinar o alcance.
Júnior – Nobre representante de uma posição que já conhecera Nílton Santos e Marinho Chagas (bruxa). O 3º gol diante da Argentina poderia ter sido feito por qualquer um dos três. Júnior, com certeza, não se importa em dividir a autoria. Afinal, gol bonito é sempre uma obra aberta.
Socrates – Era alto e como dava muito trabalho virar o corpo deu ao calcanhar uma atribuição nunca antes imaginada. A um só tempo livrava-o de girar o corpo e surpreendia o adversário. Mas não era um toque qualquer. Era belo. A bola meio que se encaixava nas reentrâncias do pé e daí, livre dos limites impostos pela visão, seguia seu destino.
Zico – Era dele a responsabilidade de vestir a camisa 10 e não foram poucas as comparações. Passou a ser o representante maior de uma geração que jogava bonito mas não ganhava. Tudo isso se agravou no insucesso de 1986. Zico, na realidade, disputou apenas a Copa de 1982. No mundial de 1978, machucou-se no jogo contra a Polônia e no de 1986, voltava de uma longa inatividade. Era craque em todas as acepções que o termo comporta. Exímio cobrador de falta, perfeito nos dribles, preciso nos passes e excelente nas cabeçadas. Amava o futebol e a bola e por isso, dominava com maestria todos os fundamentos ínsitos ao esporte. O amor que diuturnamente lhe dedica a maravilhosa torcida rubro-negra, bem como o respeito que sempre mereceu até mesmo das torcidas rivais seriam mais do que suficientes a redimi-lo das culpas que alguns lhe imputam.
Os tempos eram outros e todos os nossos jogadores, à exceção de Falcão, atuavam no Brasil. Quando retornaram o povo fez questão de mostrar que se derrota houve, ela era daquele tipo que enche de orgulho o derrotado. No fundo, no fundo, havíamos vencido, mas uma miopia coletiva escorada no utilitarismo turvava as vistas ao essencial.
Em 1997 o Estádio Sarriá (palco daquele fatídico Brasil x Itália) foi demolido. Tornara-se um lugar mal assombrado e de triste lembrança. Afastamos dos olhos o que teimosamente ainda nos atazana a mente.
Ah! Quase esqueci alguns dados. A Itália “ganhou” a Copa e a Alemanha foi vice. Mas tudo isso fica à conta dos detalhes. O essencial quase nos escapou, mas o resgate além de urgente é ainda possível.