sábado, 3 de julho de 2010

Por que não vender a mãe mais caro?

Aquilo que se conhece dispensa definição.

Mas, o futebol brasileiro parece sem história, como se tivesse começado ontem.

Eis o problema de ficar entregue ao jornalismo, aos engradados, sobretudo.

O rebaixamento da qualidade é consequência do aumento da segurança necessária ao futebol mercadoria. Perder significa prejuízo, mas, não de quaisquer trocados; pela escala que adquiriu estamos no âmbito de bilhões, uma das atividades econômicas mais lucrativas, ainda mais conveniente pela convergência de irregularidades, de lavanderias.

Dunga era só um funcionário. Scolari será outro, conforme já fora.

Não estaria no movimento da história, que mais uma vez parece ensejar a Maradona um protagonismo, um sinal manifesto de contradição?

Não se fala de “amor à arte” nem de “traço cultural”, bobagens de intelectuais sem nenhum senso prático, sem malandragem pra saber que o moleque dos juniores “tem de virar dinheiro”.

Quanto, porém, não vale Messi, Teves, Ganso?

Não é melhor vender a mãe mais caro?

SRN

Máximo

Terra Brasilis

Por tadeu dos santos

O gol, dissemos antes, nem sempre é a moeda que paga o ingresso. Elastecendo um pouco mais o raciocínio, não é demasiado afirmar que a busca da vitória não deve se operar com o sacrifício dos valores que sempre nortearam o futebol que jogamos por essas bandas.

A derrota na Copa do Mundo de 2006 foi atribuída a diversos fatores. Alguns diziam que a culpa cabia ao excesso de liberdade desfrutada pelos jogadores. Outros tantos apontavam o desleixo com a forma física apresentado por alguns de nossos atletas. Muitos culparam o meião de Roberto Carlos.

Em maio aos dedos que buscavam pelos que haveriam de pagar a conta e à saraivada de críticas que propositadamente passavam ao largo do cerne da questão, não houve uma voz sequer a dizer que dentre tantos fatores relevantes, o talento de Zidane revestia-se de uma importância incalculável. Ele jogou (e muito) e nós assistimos. Naquele jogo específico essa foi a causa da derrota.

A precoce eliminação permitiu a retomada de posições que a conquista de 2002 conseguira manter silente. O futebol-negócio não admite riscos. Assim sendo, nossa prestigiosa posição no ranking da Fifa, bem como a sempre crescente exportação de nossos jogadores e ainda as gordas e fartas verbas publicitárias exigiam sua imediata eliminação.

Há que se ganhar e se em meio ao caminho, o futebol-arte cair do caminhão prosseguiremos sem olhar pra trás. A derrocada do futebol que se faz arte tem o condão de trazer alterações brutais ao modo como esse povo se enxerga. O nosso específico e único modo de jogar futebol é parte integrante de nosso acervo cultural. Lança-lo ao limbo significa retirar pedaços substanciais de nossa perspectiva histórica.

Os altos negócios, porém, não perdem tempo com essa coisa de legado cultural. A cultura, dizem, é maleável. Transmuda-se. Logo eles se acostumam.

Analisadas as causas do infortúnio, impunha-se uma mudança radical. E veio o Dunga. E as portas se escancararam para um tempo de ordem e progresso. Ato contínuo, outras portas se abriram e por elas se evadiram o talento, o improviso, o drible debochado, a pureza da arte. Em síntese: nós (os ditos saudosistas) e nossa cultura.

Passamos então a jogar à moda alemã. Contávamos com os erros dos adversários. Optamos pela pequenez do contra-ataque e, claro, eliminamos os meias.

Após o 1º gol sueco por ocasião da final de 1958, Didi foi ter às redes, pegou a bola e foi com ela até o meio de campo. Havia uma história a ser reescrita e cabia a ele iniciá-la.

Nada disso, contudo, se revestia de qualquer importância para Dunga e seus comandados. Ele tinha a autoridade advinda da conquista de 1994. O desprezo que o povo sempre dedicou àquilo que a sua infinita mediocridade via como epopeia, era a espinha que insistia em não descer. Os impropérios articulados quando do levantamento do troféu eram insuficientes. Ganhamos e esses saudosistas prosseguem endeusando os perdedores de 1982. Vou, pois, provar a todos o quanto há de infalível na fórmula de 1994.

A cegueira causada pela incessante busca dos resultados jamais lhe permitiu vislumbrar o quanto havia de dignidade na derrota de 1982. A dignidade era tanto, que o vencedor, não duvido, sentiu o opróbrio da vitória.

“Perdemos” honrando nosso passado. Jogamos à brasileira. Tínhamos Zico, Júnior, Leandro, Sócrates, Falcão e Cerezzo, dentre tantos outros. Em 1994 tínhamos uma miríade de alemães e apenas dois pra chamar de nossos.

As formas de se jogar futebol variam conforme o povo que tenha a bola nos pés. Os Argentinos, Alemães e Italianos venceram as copas de 1978, 1990 e 2006, respectivamente, jogando de acordo com os ditames de suas culturas.

A Hungria, a Holanda e o Brasil perderam nas copas de 1954, 1974 e 1982 jogando nos termos ditados por sua herança futebolística.

Ganhar e perder são variantes desse jogo.

Tudo parece prenhe de obviedade, mas ainda assim repito: não há vergonha na derrota. É mesquinha e maniqueísta toda e qualquer análise que pretenda caminhar nessa direção.

Não há aqui, repise-se, condenação à derrota. No entanto, perdemos travestidos de alemães e isso é imperdoável.

Jamais teremos o pragmatismo alemão, a catimba argentina e tampouco o defensivismo italiano. Nossa especificidade brejeira reside em outros sítios. Falo do molejo, do caminhar por sobre a bola, do drible que debocha. Falo de Didi, Garrinha, Pelé, Rivelino, Nilton Santos, Tostão, Geraldo, Leandro, Ademir da Guia , Dirceu Lopes e Ronaldinho Gaúcho.

Há, decerto, os que não acreditam. Mas eles prosseguem brotando amiúde por esses sítios. Nossa produção é farta. Inesgotável, eu diria.

Digam ao Dunga que fechar o grupo e dizer que todos os outros são inimigos é prática já batizada. Na alemanha atendia pelo de Nazismo e na Itália era conhecido por Fascismo.

Digam também que o futebol é, sem dúvida alguma, um jogo que privilegia o coletivo. Mas que se não olvide do jogador-solo, do jogador que desconhece limites. Kaká e Robinho, é óbvio, não fazem parte desta cepa.

O jeito africano de jogar vem sendo massacrado por sucessivas e equivocadas contratações de técnicos sulamericanos e europeus. A pretensa maturidade do futebol africano é esperada a partir dos pressupostos do futebol europeu e sulamericano (vencedores). Eles, porém, tem sua própria especificidade, algo anárquica, é verdade. O futuro que nos espera talvez não seja de todo diferente do que ora é experimentado pelos africanos.

É chegado o momento de extremar o placar da peleja disputada no Sarriá daquele time que encantou o mundo. É igualmente conveniente estabelecer a necessária distinção da vitória obtida em 1994 daquele futebol sofrível exibido em campo. “perdemos” numa oportunidade e “ganhamos” noutra. A resposta a qual copa ganhamos e perdemos, ditará os rumos que o futebol doravante trilhará por essa terra brasilis.

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