domingo, 11 de março de 2012
Não entenderam esses gringos que obra que anda não come cobra?
Por Tadeu dos Santos
Dia desses fui assaltado por uma tormentosa dúvida. Perquiria-me acerca de qual evento de importância mundial realizar-se-ia em 2012. Ao cabo de algumas elucubrações conclui que sim, em 2012 teremos olimpíadas e mais, elas acontecerão em Londres.
Ato contínuo,verifiquei que em que pese a envergadura do acontecimento, dele nada sei. Temos chances de medalhas em que modalidades? Competiremos com ovoley masculino e feminino? Veremos Marta? E o basquete vamos com as duas (feminino e masculino) ou com nenhuma? E quanto à natação? Eo atletismo?Quanta desinformação!!! O que se passou? Desliguei-me do mundo ou ele de mim?
Há por aí umamiríade de fontes de informação (CBN, Google, Wikipedia, jornais,TV a cabo) e, no entanto, eis-me aqui na condição de invólucrodestituído de todo e qualquer conteúdo, formulário à espera depreenchimento, uma mera folha em branco.
Em Matrix uma“realidade” criada artificialmente sobrepunha-se à “verdade”subjacente. O que temos aqui, porém, é bem mais grave. Ausente o plim-plim quedam silentes e triturados os fatos e à costumeiradistorção, tem-se a inação.
Nélson Rodriguesmandava à danação os fatos que infirmassem suas opiniões. Aqui o silêncio aniquilante torna dispensável a danação. Tristes trópicos esses em que o pensar carece de autorização das agência de informação.
Relegados os jogos olímpicos à condição de não-ser, tudo o que nos resta édiscutir as denominadas “obras da copa”.
Dados estatísticos atestam que tais eventos são sempre deficitários. Ou seja, ainda que realizadas em países “normais” as copas dão prejuízo. Ponha-se, pois, a imaginar o que não teremos por estessítios em que canteiros de obra significam propina esuperfaturamento. Quando irão dicionarizar essa acepção?
Iniciemos porafirmar que eu sei, você sabe e até mesmo aquele cachorro que ensaia olhadas lânguidas em direção àquela cadela de pelosbrancos e olhos cor de mel também sabe que as ditas obrasenriquecerão políticos e empreiteiros. A dinheirama, aliás, será de tal monta que até os membros dos escalões intermediários porão,como vetustamente se diz, os seus respectivos bois à sombra.
Corroborando o que vimos de afirmar, o informe que segue está na internet no portalG1, ei-lo:
“ levantamentodo G1 a partir de relatório do TCU; do Portal da Copa, do Ministériodo Esportes e dos sites oficiais da Copa nos 12 estados-sede indicaque a soma das diferenças entre o maior e o menor valor apontadopara cada estádio chega a R$ 1,723 bilhão – cifra suficiente parareformar dos Maracanãs.
Além da ArenaCarioca, outros nove estádios (Mineirão, Estádio Nacional deBrasília, Arena Pantanal, Castelão, Arena da Amazônia, Arena dasDunas, Beira-Rio, Arena Pernambuco e Fonte Nova) registraramdiferença entre os valores divulgados por suas respectivasadministrações e os dados do governo federal”.
O número de sedes é exagerado e muito acima da efetiva necessidade e a capacidade dos estádios ora construídos em muito supera a média depúblico de seus respectivos campeonatos estaduais.
Fico de cá apensar que os Estádio Nacional de Brasília, Arena Pantanal e Arenada Amazônia logo estarão cedidos não a um time de futebol, aexemplo do Engenhão, mas sim à Igreja Universal ou alguma de suascongêneres.
E assim o culto aser celebrado nesses estádios não terá a deusa Bola pordestinatária. Vidas eternas serão concedidas a troco do vil metalofertado na troca dizimal.
Em a “Históriada Loucura”, Foucault localiza o isolamento do louco a partir doespraiamento da razão (Descartes). A razão traz consigo o seuoposto, a desrazão.
AnalistasMarxistas da obra Foucaultiana chegaram a afirmar que o isolamento do louco operava-se a partir da necessidade da homogeneidade ínsita ao capitalismo. A lógica da produção não admitiria a desrazão, daí o seu isolamento.
Por aqui aloucura não tem base filosófica ou econômica. Ela se faz caudatária do golpismo, da falcatrua, do nepotismo, da propina.
Convenhamos que há algo de insano na nossa cotidiana passividade em face dos desmandos a que estamos submetidos.
E nesse cenáriode incomum desfaçatez o atraso é apenas e tão somente a cereja que falta pra coroar o descalabro. Atrasos possuem o condão de inflarpropinas e potencializar superfaturamentos. Assim sendo, não seaçode preclaro leitor. Onde se lê atraso, leia-se majoração deganhos ilícitos.
Prossigamos.
O Código Penal,ao definir quadrilha preceitua em seu art. 288, que, in verbis“Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para ofim de cometer crimes”. Isto posto, ponhamo-nos a contar:
1 – RicardoTeixeira
2- Blatter
3- Havelange
4 – Valcke
Feita e refeita aconta a conclusão inelutável é de que sim, esses senhores, tal equal a mão à luva, enquadram-se nos ditamos do art. 288 do CódigoPenal. Assente, todavia, o princípio de que dinheiro além decomprar amor sincero, é também servível à aquisição de reputação ilibada, não haverá enquadramento que abranja essagente. Nem por isso, porém, os crimes deixarão de ser cometidos.
Mas eis que umdos indômitos senhores, insatisfeito com os “ganhos” que aintermediação permite auferir, meteu-se a ofender a mãe-pátria atiçando nossos brios nacionalistas.
Mas que históriaé essa de pé no rabo pra ver se anda? Já não estava tudo muitobem combinado? Não entenderam esses gringos que obra que anda nãocome cobre? E a nossa soberania? Onde vamos parar com tamanhosimpropérios. Agora mesmo nossa “presidenta” anda por sítios da“velha senhora” a ditar lições de boa governança e por aquihavemos de aturar o orgulho extemporâneo desse tal de Valcke.
Por favor, nãome desassossegue o espírito e nunca, never, jamais entregue obras emdia. O atraso é fundamental ao sucesso do empreendimento. Entendes?
Leio tudo isso eacorrem-me à mente textos em que a soberania era solenemente lançadaaos limbos da história. Sim! A globalização ultimava o fim dasfronteiras. O comércio será rápido e amplo, em breve serádesfeita a Torre de Babel, teremos blocos econômicos em queinteresses bem representados substituirão a antiquada soberania.
Mais recentementeli textos produzidos por intelectuais dos países europeus em criseem que se opera a ressurreição da soberania. O assunto é parteintegrante da pauta que informa as próximas eleições na França.
Por estas plagasa ideia de soberania vem à baila sempre que a elite precisaarregimentar apoio popular à defesa de seus interesses escusos.
Tudo isso me fazlembrar da pertinência da frase de Samuel Johnson, a saber, “onacionalismo é o último refúgio de um canalha”.
Não me comovo.
Somos como a talcriança que assiste ao desfile e constata a miríade de reis nus quese julgam envoltos em finos tecidos. Trabalhamos cinco meses por anosapenas e tão somente para pagar impostos (os que auferem até 2salários mínimos trabalham 6). É, pois, o suor que dispendemostrabalhando que bancará a farra denominada “obras da copa”.
Na realidade, nãoqueremos copa. Operaremos a multiplicação dos vexames. Andamos apassar vergonha em campo e agora conheceremos o rubor também fora dele.
Impassíveis e doalto de nossas lajes assistiremos à farra do boi. Concluiremos então que representatividade é conceito cujo maior óbice é a naturezahumana (acaso de fato exista algo que se pareça com isso), que faríamos melhor uso dos tais 5 meses de impostos e cacete... como é bom esse time da Espanha, lembra um time que se perdeu numa dessas derrotas da vida.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Quanta Omissão Cabe à Verdade?
MOÇÃO DE APOIO DAS MULHERES À COMISSÃO DA VERDADE
A gente conta a História como quem conta histórias. Decorrência de nossa tradição oral. Histórias de Maria, de Rose, de Nair, de Amelinha, de Clara, de Clarice, de Eleonora, de Dilma, e também de João, de Vlado, de Pedro, de Paulo, de Chico, de Márcio, de José...
Uma geração de homens e mulheres valorosos dedicaram os melhores anos de sua vida para estabelecer a democracia que vivemos hoje. Escolheram os caminhos mais diversos – a atividade parlamentar (enquanto ainda não proibida) a greve, o exílio ou auto-exílio, o estudo, a discussão, a resistência, ), a luta armada, a solidariedade, o apoio, a mobilização nas ruas, mesmo que proibidas.
Tempos em que se restringiu a liberdade de expressão, de reunião, de informação, de ir-e-vir, de pensar e de agir, da população. Tempos em que as pessoas que te visitavam tinham que se identificar com o zelador, que passava a lista à polícia. Tempos em que não se podia votar, eleger, decidir, escolher. Enquanto isso, nos porões da ditadura militar, eles se valeram de sua posição de autoridade, de representantes do Estado, para prender, torturar, fazer desaparecer.
Mulheres foram presas, aguentaram requintes de crueldade, sofrendo também constrangimentos, estupros, ameaças de ou torturas inomináveis nascidas de mentes perversas, torturas de seus filhos ante os seus olhos.
Foi também das mulheres a iniciativa de construir o Movimento Feminino pela Anistia, que logo foi engrossado pela sociedade e, em pouco tempo, fomos ficando tantos e tantas, que não houvera saída senão redemocratizar o país e anistiar a todos.
Muitos anos depois, o Congresso finalmente aprova a criação de uma Comissão da Verdade, para averiguar as ignomínias não-esclarecidas. A mídia começa a se ocupar do caso.
O general Rocha Paiva, atribuindo-se o papel de porta-voz, se permite ironizar e duvidar do relato de tortura da atual presidenta Dilma, da causa de morte do Wladimir Herzog, e questionar a legitimidade da estruturação da Comissão.
Pronunciamentos de militares sobre duas mulheres ministras – Maria do Rosário e Eleonora Menicucci – bem como questionando a autoridade do Ministro da Defesa, tentam criar um fato e um constrangimento político.
Por isso nós, mulheres reunidas neste 8 de março – dia internacional da mulher – vimos a público afirmar o nosso apoio integral à Comissão da Verdade.
Que nossa história seja finalmente revelada, que a verdade seja estabelecida, que se revele o destino dos desaparecidos, que se iluminem os porões.
Que se restabeleça a memória e a história, para que não se perpetue a prisão arbirária e a tortura ou jamais se reinstitua os mesmos mecanismos de exceção.
Observatório da Mulher
SOF – Sempre Livre Organização Feminista
Marcha Mundial de Mulheres
quinta-feira, 8 de março de 2012
Vedor
Ontem, na globonews, Chico Buarque cancela o senso comum,
chega a contrariar suas principais intérpretes que o apontam profundo
conhecedor da alma feminina. Iria escrever alma com aspas, mas as palavras
foram feitas pra dizer, conforme Graciliano. Em substituição à alma, que pode
ser qualquer coisa, prefiro desconhecimento, que também pode ser, mas antes,
necessita investigação. E é o que Chico Buarque fez, continua a fazer, talvez
não pare. Música é feminina, palavra também. Nunca tentei tocar nada, pois,
canhoto, a inversão das cordas no violão era uma exigência muito melhor
substituída pela pelada, outra palavra feminina, numa rua de Vila Isabel.
Noel, aliás, também se rendia. Um mistério que também ajudou na admiração de Chico Buarque pelo nosso vizinho. Niemeyer conseguiu chegar perto através da curva, pois gostar de mulher não é o mesmo que gostar da Rachel, da Márcia, da Irene, da Bete, da Taís, da Daniele, da Iara. Um exercício de construção incompatível ao ângulo reto, e a curva que Niemeyer encanta é maviosa, sinuosa, Cátia.
Chico Buarque conheceu as mulheres de Atenas andando pela 28. Deparou-se com Noel, cujo monumento lá no início da avenida facilita o humor, lembrando vários sorrisos, da Rachel, da Márcia, da Irene, da Taís, da Daniele, da Iara, do tom rasgado da Bete num bar em Saquarema ao responder ao pobre-diabo sobre se “mulher direita não tem ouvido”:
“Vai à merda, babaca!”
O caminho de Chico, antes de Atenas, é seguir o próprio pai, presença constante nas rampas da UERJ. Atravessa a Francisco Xavier, ao invés de descer a 28. Assim, o tricolor Chico Buarque decide que o que importa é rubro-negrir a beleza. Qual a cor? Vermelha, negra, pensa ao erro da palheta, ora a prova, ora a cadeira. A coxa despe as cores, afastando o vestido, na cadeira lá da frente. UERJ, Machado, vestibular quase cancelado. Todos os cabelos seriam bons se juntos trançados. O joelho dela é linha sinuosa, Niemeyer – repito – lenta, continua a coxa, incólume.
Linda Negra, a Rubro-Negrir a beleza.
Viestes à vida á pé. Fomos juntos à filha do prestes, entre olés de poças d’água, e a protegi tal qual Noel à língua que dizia que passou de português.
Carioca.
Rachel, Márcia, Irene, Bete, Magui, Daniele, Taís, Ana, Iara, numa palavra, definitiva:
Cátia.
SRN
domingo, 4 de março de 2012
sexta-feira, 2 de março de 2012
Temos, Cara-Pálida?
Por Máximo
Não tenho interesse em megaeventos. Desde 1982. Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, na grande arte de Telê, cuja derrota já era o esboço simbólico do arrivismo neoliberal que devastaria o final do século. A produção de resultados passaria a corresponder, no mundo da bola, à estética do capital digital, desregulado, sem limites. Copa do mundo dispensa cidades, em substituição a elas estandes de venda, tal como o "craque", o uniforme retalhado em propaganda de mercadorias, ele mesmo, o "craque", mercadoria muito bem confeccionada e adestrada em salas de imprensa.
A violência, é verdade. Por que não um Estado de exceção provisório contra a expressão pública da "cidade partida", inconveniente? Expostos ao que há de pior, no asfalto, no morro, devagar abandonamos a condição humana. Morremos sempre da bala precisa, no enfrentamento à soleira da porta, entre a legalidade e a ilegalidade que, de resto, confundem-se. A assepsia indispensável agora não apenas pra inglês ver, mas também pra Adidas.
Repare nos "enlatados", como dizia o grande Saldanha, a despeito de ter sido botafoguense. Como quem não quer nada, fingindo-se de morta pra não assustar o coveiro, a imprensa esportiva de costume ressuscita uma espécie de udenismo nessas horas sempre conveniente:
"Afinal, não acordamos com a Fifa? Temos de cumprir o contrato."
Temos, cara-pálida?
SRN
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