sexta-feira, 2 de março de 2012

Temos, Cara-Pálida?

Por Máximo



Não tenho interesse em megaeventos. Desde 1982. Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, na grande arte de Telê, cuja derrota já era o esboço simbólico do arrivismo neoliberal que devastaria o final do século. A produção de resultados passaria a corresponder, no mundo da bola, à estética do capital digital, desregulado, sem limites. Copa do mundo dispensa cidades, em substituição a elas estandes de venda, tal como o "craque", o uniforme retalhado em propaganda de mercadorias, ele mesmo, o "craque", mercadoria muito bem confeccionada e adestrada em salas de imprensa.

A violência, é verdade. Por que não um Estado de exceção provisório contra a expressão pública da "cidade partida", inconveniente? Expostos ao que há de pior, no asfalto, no morro, devagar abandonamos a condição humana. Morremos sempre da bala precisa, no enfrentamento à soleira da porta, entre a legalidade e a ilegalidade que, de resto, confundem-se. A assepsia indispensável agora não apenas pra inglês ver, mas também pra Adidas.

Repare nos "enlatados", como dizia o grande Saldanha, a despeito de ter sido botafoguense. Como quem não quer nada, fingindo-se de morta pra não assustar o coveiro, a imprensa esportiva de costume ressuscita uma espécie de udenismo nessas horas sempre conveniente:

"Afinal, não acordamos com a Fifa? Temos de cumprir o contrato."

Temos, cara-pálida?

SRN

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