Dia desses fui assaltado por uma tormentosa dúvida. Perquiria-me acerca de qual evento de importância mundial realizar-se-ia em 2012. Ao cabo de algumas elucubrações conclui que sim, em 2012 teremos olimpíadas e mais, elas acontecerão em Londres.
Ato contínuo,verifiquei que em que pese a envergadura do acontecimento, dele nada sei. Temos chances de medalhas em que modalidades? Competiremos com ovoley masculino e feminino? Veremos Marta? E o basquete vamos com as duas (feminino e masculino) ou com nenhuma? E quanto à natação? Eo atletismo?Quanta desinformação!!! O que se passou? Desliguei-me do mundo ou ele de mim?
Há por aí umamiríade de fontes de informação (CBN, Google, Wikipedia, jornais,TV a cabo) e, no entanto, eis-me aqui na condição de invólucrodestituído de todo e qualquer conteúdo, formulário à espera depreenchimento, uma mera folha em branco.
Em Matrix uma“realidade” criada artificialmente sobrepunha-se à “verdade”subjacente. O que temos aqui, porém, é bem mais grave. Ausente o plim-plim quedam silentes e triturados os fatos e à costumeiradistorção, tem-se a inação.
Nélson Rodriguesmandava à danação os fatos que infirmassem suas opiniões. Aqui o silêncio aniquilante torna dispensável a danação. Tristes trópicos esses em que o pensar carece de autorização das agência de informação.
Relegados os jogos olímpicos à condição de não-ser, tudo o que nos resta édiscutir as denominadas “obras da copa”.
Dados estatísticos atestam que tais eventos são sempre deficitários. Ou seja, ainda que realizadas em países “normais” as copas dão prejuízo. Ponha-se, pois, a imaginar o que não teremos por estessítios em que canteiros de obra significam propina esuperfaturamento. Quando irão dicionarizar essa acepção?
Iniciemos porafirmar que eu sei, você sabe e até mesmo aquele cachorro que ensaia olhadas lânguidas em direção àquela cadela de pelosbrancos e olhos cor de mel também sabe que as ditas obrasenriquecerão políticos e empreiteiros. A dinheirama, aliás, será de tal monta que até os membros dos escalões intermediários porão,como vetustamente se diz, os seus respectivos bois à sombra.
Corroborando o que vimos de afirmar, o informe que segue está na internet no portalG1, ei-lo:
“ levantamentodo G1 a partir de relatório do TCU; do Portal da Copa, do Ministériodo Esportes e dos sites oficiais da Copa nos 12 estados-sede indicaque a soma das diferenças entre o maior e o menor valor apontadopara cada estádio chega a R$ 1,723 bilhão – cifra suficiente parareformar dos Maracanãs.
Além da ArenaCarioca, outros nove estádios (Mineirão, Estádio Nacional deBrasília, Arena Pantanal, Castelão, Arena da Amazônia, Arena dasDunas, Beira-Rio, Arena Pernambuco e Fonte Nova) registraramdiferença entre os valores divulgados por suas respectivasadministrações e os dados do governo federal”.
O número de sedes é exagerado e muito acima da efetiva necessidade e a capacidade dos estádios ora construídos em muito supera a média depúblico de seus respectivos campeonatos estaduais.
Fico de cá apensar que os Estádio Nacional de Brasília, Arena Pantanal e Arenada Amazônia logo estarão cedidos não a um time de futebol, aexemplo do Engenhão, mas sim à Igreja Universal ou alguma de suascongêneres.
E assim o culto aser celebrado nesses estádios não terá a deusa Bola pordestinatária. Vidas eternas serão concedidas a troco do vil metalofertado na troca dizimal.
Em a “Históriada Loucura”, Foucault localiza o isolamento do louco a partir doespraiamento da razão (Descartes). A razão traz consigo o seuoposto, a desrazão.
AnalistasMarxistas da obra Foucaultiana chegaram a afirmar que o isolamento do louco operava-se a partir da necessidade da homogeneidade ínsita ao capitalismo. A lógica da produção não admitiria a desrazão, daí o seu isolamento.
Por aqui aloucura não tem base filosófica ou econômica. Ela se faz caudatária do golpismo, da falcatrua, do nepotismo, da propina.
Convenhamos que há algo de insano na nossa cotidiana passividade em face dos desmandos a que estamos submetidos.
E nesse cenáriode incomum desfaçatez o atraso é apenas e tão somente a cereja que falta pra coroar o descalabro. Atrasos possuem o condão de inflarpropinas e potencializar superfaturamentos. Assim sendo, não seaçode preclaro leitor. Onde se lê atraso, leia-se majoração deganhos ilícitos.
Prossigamos.
O Código Penal,ao definir quadrilha preceitua em seu art. 288, que, in verbis“Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para ofim de cometer crimes”. Isto posto, ponhamo-nos a contar:
1 – RicardoTeixeira
2- Blatter
3- Havelange
4 – Valcke
Feita e refeita aconta a conclusão inelutável é de que sim, esses senhores, tal equal a mão à luva, enquadram-se nos ditamos do art. 288 do CódigoPenal. Assente, todavia, o princípio de que dinheiro além decomprar amor sincero, é também servível à aquisição de reputação ilibada, não haverá enquadramento que abranja essagente. Nem por isso, porém, os crimes deixarão de ser cometidos.
Mas eis que umdos indômitos senhores, insatisfeito com os “ganhos” que aintermediação permite auferir, meteu-se a ofender a mãe-pátria atiçando nossos brios nacionalistas.
Mas que históriaé essa de pé no rabo pra ver se anda? Já não estava tudo muitobem combinado? Não entenderam esses gringos que obra que anda nãocome cobre? E a nossa soberania? Onde vamos parar com tamanhosimpropérios. Agora mesmo nossa “presidenta” anda por sítios da“velha senhora” a ditar lições de boa governança e por aquihavemos de aturar o orgulho extemporâneo desse tal de Valcke.
Por favor, nãome desassossegue o espírito e nunca, never, jamais entregue obras emdia. O atraso é fundamental ao sucesso do empreendimento. Entendes?
Leio tudo isso eacorrem-me à mente textos em que a soberania era solenemente lançadaaos limbos da história. Sim! A globalização ultimava o fim dasfronteiras. O comércio será rápido e amplo, em breve serádesfeita a Torre de Babel, teremos blocos econômicos em queinteresses bem representados substituirão a antiquada soberania.
Mais recentementeli textos produzidos por intelectuais dos países europeus em criseem que se opera a ressurreição da soberania. O assunto é parteintegrante da pauta que informa as próximas eleições na França.
Por estas plagasa ideia de soberania vem à baila sempre que a elite precisaarregimentar apoio popular à defesa de seus interesses escusos.
Tudo isso me fazlembrar da pertinência da frase de Samuel Johnson, a saber, “onacionalismo é o último refúgio de um canalha”.
Não me comovo.
Somos como a talcriança que assiste ao desfile e constata a miríade de reis nus quese julgam envoltos em finos tecidos. Trabalhamos cinco meses por anosapenas e tão somente para pagar impostos (os que auferem até 2salários mínimos trabalham 6). É, pois, o suor que dispendemostrabalhando que bancará a farra denominada “obras da copa”.
Na realidade, nãoqueremos copa. Operaremos a multiplicação dos vexames. Andamos apassar vergonha em campo e agora conheceremos o rubor também fora dele.
Impassíveis e doalto de nossas lajes assistiremos à farra do boi. Concluiremos então que representatividade é conceito cujo maior óbice é a naturezahumana (acaso de fato exista algo que se pareça com isso), que faríamos melhor uso dos tais 5 meses de impostos e cacete... como é bom esse time da Espanha, lembra um time que se perdeu numa dessas derrotas da vida.
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