sexta-feira, 9 de março de 2012

Quanta Omissão Cabe à Verdade?



MOÇÃO DE APOIO  DAS  MULHERES À COMISSÃO DA VERDADE

A gente conta a História como quem conta  histórias.  Decorrência de nossa tradição oral. Histórias de Maria, de Rose, de Nair, de  Amelinha, de Clara, de Clarice, de Eleonora, de Dilma, e também de João, de Vlado, de Pedro, de  Paulo, de Chico, de Márcio, de José...

Uma geração de homens e mulheres valorosos  dedicaram os  melhores anos de sua vida para estabelecer a democracia que vivemos hoje. Escolheram os caminhos mais diversos – a atividade parlamentar  (enquanto ainda  não proibida) a greve, o exílio ou auto-exílio, o estudo, a  discussão, a  resistência, ), a luta armada,  a solidariedade, o apoio, a mobilização nas ruas, mesmo que  proibidas.

Tempos em que se restringiu a liberdade de  expressão, de  reunião, de informação, de ir-e-vir, de pensar e de agir, da  população. Tempos  em que as pessoas que te visitavam tinham que se identificar com  o zelador, que  passava a lista à polícia. Tempos em que não se podia votar,        eleger, decidir,  escolher. Enquanto isso, nos porões da ditadura militar, eles se  valeram de sua        posição de autoridade, de representantes do Estado, para  prender, torturar,  fazer desaparecer.
Mulheres foram presas, aguentaram requintes  de crueldade,  sofrendo também constrangimentos, estupros, ameaças de ou  torturas inomináveis  nascidas de mentes perversas, torturas de seus filhos ante os   seus olhos. 

Foi também das mulheres a iniciativa de  construir o  Movimento Feminino pela Anistia, que logo foi engrossado pela sociedade e, em  pouco tempo, fomos ficando tantos e tantas, que não houvera        saída senão redemocratizar o país e anistiar a todos.

Muitos anos depois, o Congresso finalmente aprova a criação  de uma Comissão da Verdade, para averiguar as ignomínias  não-esclarecidas. A mídia começa a se ocupar do caso.

O general Rocha Paiva, atribuindo-se o papel de porta-voz,  se permite ironizar e duvidar do relato de tortura da atual  presidenta Dilma,  da causa de morte do Wladimir Herzog, e questionar a  legitimidade da  estruturação da Comissão.

Pronunciamentos  de  militares sobre duas mulheres  ministras – Maria do Rosário e Eleonora Menicucci – bem como questionando  a autoridade do  Ministro da Defesa, tentam criar um fato e um constrangimento  político.

Por isso nós, mulheres reunidas neste 8 de  março – dia  internacional da mulher – vimos a público afirmar o nosso apoio  integral à  Comissão da Verdade.

Que nossa história seja finalmente revelada, que a verdade  seja estabelecida, que se revele o destino dos desaparecidos,  que se iluminem  os porões.

Que se restabeleça a memória e a história, para que não se perpetue a prisão arbirária e a tortura ou jamais se reinstitua os mesmos  mecanismos de exceção. 


Observatório da Mulher
SOF – Sempre Livre Organização Feminista
Marcha Mundial de Mulheres

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