MOÇÃO DE APOIO DAS MULHERES À COMISSÃO DA VERDADE
A gente conta a História como quem conta histórias. Decorrência de nossa tradição oral. Histórias de Maria, de Rose, de Nair, de Amelinha, de Clara, de Clarice, de Eleonora, de Dilma, e também de João, de Vlado, de Pedro, de Paulo, de Chico, de Márcio, de José...
Uma geração de homens e mulheres valorosos dedicaram os melhores anos de sua vida para estabelecer a democracia que vivemos hoje. Escolheram os caminhos mais diversos – a atividade parlamentar (enquanto ainda não proibida) a greve, o exílio ou auto-exílio, o estudo, a discussão, a resistência, ), a luta armada, a solidariedade, o apoio, a mobilização nas ruas, mesmo que proibidas.
Tempos em que se restringiu a liberdade de expressão, de reunião, de informação, de ir-e-vir, de pensar e de agir, da população. Tempos em que as pessoas que te visitavam tinham que se identificar com o zelador, que passava a lista à polícia. Tempos em que não se podia votar, eleger, decidir, escolher. Enquanto isso, nos porões da ditadura militar, eles se valeram de sua posição de autoridade, de representantes do Estado, para prender, torturar, fazer desaparecer.
Mulheres foram presas, aguentaram requintes de crueldade, sofrendo também constrangimentos, estupros, ameaças de ou torturas inomináveis nascidas de mentes perversas, torturas de seus filhos ante os seus olhos.
Foi também das mulheres a iniciativa de construir o Movimento Feminino pela Anistia, que logo foi engrossado pela sociedade e, em pouco tempo, fomos ficando tantos e tantas, que não houvera saída senão redemocratizar o país e anistiar a todos.
Muitos anos depois, o Congresso finalmente aprova a criação de uma Comissão da Verdade, para averiguar as ignomínias não-esclarecidas. A mídia começa a se ocupar do caso.
O general Rocha Paiva, atribuindo-se o papel de porta-voz, se permite ironizar e duvidar do relato de tortura da atual presidenta Dilma, da causa de morte do Wladimir Herzog, e questionar a legitimidade da estruturação da Comissão.
Pronunciamentos de militares sobre duas mulheres ministras – Maria do Rosário e Eleonora Menicucci – bem como questionando a autoridade do Ministro da Defesa, tentam criar um fato e um constrangimento político.
Por isso nós, mulheres reunidas neste 8 de março – dia internacional da mulher – vimos a público afirmar o nosso apoio integral à Comissão da Verdade.
Que nossa história seja finalmente revelada, que a verdade seja estabelecida, que se revele o destino dos desaparecidos, que se iluminem os porões.
Que se restabeleça a memória e a história, para que não se perpetue a prisão arbirária e a tortura ou jamais se reinstitua os mesmos mecanismos de exceção.
Observatório da Mulher
SOF – Sempre Livre Organização Feminista
Marcha Mundial de Mulheres
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