terça-feira, 7 de agosto de 2012

Revista de História da Biblioteca Nacional

Por Máximo

Nas bancas, na prestigiosa Revista de História da Biblioteca Nacional, um desenho meu ilustrando a verdadeira mineração de Fábio Kuhn para reunir as fontes de seu projeto de doutorado.

SRN


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Perfunctórias Linhas Olímpicas

Por Tadeu dos Santos, graduado em Ciências Sociais e Direito, pela UERJ.




Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, foi publicado em 1º de dezembro de 1933 (45 anos após o “fim” da escravidão) .

Em apertadíssima síntese, podemos afirmar que o autor tenta desmistificar a noção de determinação racial na formação de um povo no que dá maior importância àqueles culturais e ambientais. Com isso refuta a ideia de que no Brasil se teria uma raça inferior dada a miscigenação que aqui se estabeleceu. Antes, aponta para os elementos positivos que perpassam a formação cultural brasileira composta por tal miscigenação (notadamente entre portugueses, índios e negros). Mais tarde, Freyre cunharia a expressão democracia racial deságue natural da miscigenação nascida na casa grande, onde conviviam os senhores e os escravos harmoniosamente. Miscigenados, pois.

Posteriormente, claro, apontaram-se as falhas ínsitas ao festejadíssimo livro. As críticas foram capitaneadas por setores situados à esquerda do Movimento Negro.

Como se verá adiante, não se tem aqui a pretensão de analisar minudentemente a noção de democracia racial construída ao longo do clássico Casa Grande e Senzala, mas é por demais óbvio que ele passa ao largo da coisificação que se movia com vistas a desumanizar o negro.

Percebam que a coisificação já tinha início no apresamento de escravos na Àfrica (Um defeito de Cor – Ana Maria Gonçalves, editora Record, 2006), prosseguia durante o embarque e travessia da África ao Brasil (Tumbeiros – O Tráfico de Escravos para o Brasil, Editora Brasiliente, 1985). Uma perspectiva algo exagerada e jornalística do cotidiano do escravo está em “O Negro no Brasil” de Julio José Chiavenatto.

Essa reflexão, algo dicotômica e maniqueista, decorre de tudo quanto li nas redes sociais acerca da eliminação da judoca brasileira Rafaela Silva.

A esta altura somos todos sabedores de que à eliminação sucederam-se xingamentos do seguinte jaez “lugar de macaco é na jaula” e/ou “vá pra selva que lá é o seu lugar”.

É extremamente árdua e dolorosa a preparação de uma atleta de judô para a disputa de competições de altíssimo nível e, obviamente, o esgotamento psicológico fica todo o tempo à espreita.

Assim sendo, houve, naturalmente, a pronta resposta de Rafaela a todas as provocações e xingamentos de nítido cunho racista à ela dirigidas pelos diletos “membros de nossa democracia racial”.

É incomum o surgimento do racismo em meio à normalidade. Ele dá as caras justo nos momentos em que se opera a agudização dos conflitos. É na disputa do emprego que o “branco democrata” torcerá para que a cor da pele seja um fator determinante a ditar a futura escolha.

No passado foram, dentre outras fontes, as epístolas e no presente são as redes sociais. Sobre elas debruçar-se-ão os futuros historiadores ao estudarem o cotidiano de pessoas que viviam aos cliques e que usaram os scraps para matar o tanto que ainda restava de inteligência por aqui.

As postagens de hoje revelam que derrota e desclassificação em competições olímpicas ainda não são “direitos” deferidos aos negros. Há quatro anos foram idênticas as ofensas racistas dirigidas a Diane dos Santos por não trazer o tão sonhado ouro para deleite de nossas elites brancas. Somos os destinatários da máxima de que o futuro é apenas mais passado à espera de acontecer.

Tentando desqualificar a política de cotas raciais, Ali Kamel escreveu o “Não Somos Racistas” para concluir que esse sistema seria cabível apenas naquelas sociedades em que o racismo foi institucionalizado.

Na realidade, somos sim racistas de um tipo bem peculiar e pernicioso. Propalamos a igualdade racial e com isso protelamos indefinidamente o efetivo enfrentamento do problema.

Mas essas perfunctórias linhas apenas tentam manter o blog antenado aos acontecimentos olímpicos. As melhores respostas foram dadas pela própria Rafaela Silva. Eis uma delas:

"Vai se f..., filho da p... Perdi sim, sou humana como todos. Errei e sei que tenho capacidade de chegar e conquistar uma vaga para 2016. Você já não tem o que fazer e fica falando m... por aí. Tenha capacidade, conquiste uma vaga nas olimpíadas e depois a gente conversa".

Dá-lhe Rafaela.

domingo, 5 de agosto de 2012

Angra

Por Máximo

O problema foi a chuva. Mas, à parte o tropeço à altura de um paulista, valeu, e a ideia era escrever alguma coisa sobre o período da ditadura, as usinas nucleares polêmicas de Geisel, a morte de Herzog, "suicidado",  o diabo. Chuva, mais chuva. E vida que segue, sempre segue na bela companhia Rubro-Negra.

SRN








sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Faça-me um Favor

Por Tadeu dos Santos





...As rugas fizeram residência no meu rosto
Não choro pra ninguém me ver sofrer de desgosto
Eu que sempre soube esconder a minha mágoa
Nunca ninguém me viu com os olhos rasos d'água
Finjo-me alegre pro meu pranto ninguém ver
Feliz daquele que sabe sofrer ...”

Nélson Cavaquinho

Não iremos dividir o futebol brasileiro em fases ou eras. Convenhamos, porém, que já vivemos tempos em que futebol e beleza formavam um casal cuja estreita união fazia com que, a despeito da finitude vista em toda a parte, acreditássemos que eram eternos.

E assim em 1958 tivemos Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé.

Em 1970, deuses ainda circulavam por aqui e faziam aparições geniais pelos gramados da vida. E tínhamos Gerson, Tostão, Pelé, Rivelino, Paulo Cesar.

Ainda em 1982 divindades que não guardavam o mesmo brilho que as antigas ainda davam-se à visão dos mortais.

Sim! Vivíamos a era do Futebol-Arte. Sim! Éramos felizes e não sabíamos. Aliás, a ironia ínsita à felicidade é que nunca somos sabedores de sua presença ou ausência. Quando achamos que está, já foi. Quando juramos vê-la pelas costas, ela está logo ali, aninhada no seu colo.

Numa dessas idas e vindas do tempo, a força e a marcação entraram por uma porta e evadiram pela outra o riso e a beleza. Dunga é o antepassado mais próximo dos dementadores deRowling, autora que dividiu o mundo em branco e preto, olvidando-se das nuances situadas no meio.

Tivemos então a era do futebol-força.

E não é que o esporte, com seu imenso potencial de pegar atalhos que impeçam a mesmice e a obviedade, nos traz os tempos do futebol-trapaça?

Ganhávamos de 3 x 0 da Nova Zelândia e não havia qualquer necessidade para simulação, mas eis que o atleta Alecsandro atira-se ao chão após um lance normalíssimo e ganha o devido e merecido cartão vermelho.

Por que aquele velhaco cavou aquela falta?

Ainda que isso soe algo desarrazoado e exagerado, não temo em afirmar que optamos pela vitória acompanhada do engodo, da condução do árbitro ao erro à vitória baseada, apenas e tão somente, no mérito.

Ao tornar-se veloz e escravo da força física o futebol trouxe consideráveis dificuldades aos árbitros. Não é fácil “apitar” um jogo de futebol ainda que os 22 jogadores busquem da maneira mais correta possível o resultado que lhes seja favorável.

Imagine, por outro lado, a condução de uma partida em que os 22 jogadores entram em campo com o firme propósito de levá-lo ao erro.

Por que nos arriscamos a lançar ao lixo a nossa fantástica trajetória no futebol? Vejo as simulações e confesso que sou tomado por um constrangimento que tem o condão de apequenar-me. Esse simulacro é vexatório e humilhante. É como se estivéssemos a anunciar que essa é o novo jeito brasileiro de jogar bola. E o mais grave é que traz a reboque a confissão de que só assim temos chances. É com a burla das regras do jogo que iremos impor ao mundo o nosso futebol-trapaça.

A verticalidade dos efeitos dos maus exemplos ministrados diariamente por “nossas elites políticas” chegou ao futebol.

São mesmo bicudos os tempos que nos são dados a viver, não?



No mais, só mesmo lamentar que os profissionais do sportv tenham, vez mais, ido à cobertura de um evento esportivo internacional travestidos de torcedores.

Não há espaço ali para críticas que denotem qualquer resquício de pessimismo. As denominadas mesas-redondas parecem, em tudo e por tudo, com os Jardins do Éden.

- Tens tudo ao seu inteiro dispor, até mesmo a eternidade. Mas não ouses pensar.

Dias desses um ex-árbitro de futebol foi devidamente advertido após haver criticado o atleta Neymar por se jogar. O autor da admoestação foi o indômito Galvão Bueno. O mesmo que diante da boa atuação do atacante paulista diante da BIELORRÚSSIA ( pais de “enorme” tradição no futebol – como todos sabem), não titubeou em chamar-lhe de gênio.

A palavra, a crítica, a busca da verdade e a imparcialidade são o norte de qualquer jornalista que tenha algum apreço pela profissão. No entanto, esses atributos não são encontradiços nas transmissões do canal de que vimos a falar.

Neymar, obviamente, não é gênio. Geniais, na mais pura acepção da palavra foram foram Pelé, Garrincha, Zidane, Maradona, Zizinho, Rivelino, Gérson.


A utilização áulica da palavra tem o condão de lhe retirar o significado. Ela resta esgarçada, elastecida e inservível a veicular o pensamento.

Finalizo lamentando a cena ocorrida ontem no “Conexão Sportv”. Renato Maurício Prado foi desancado e humilhado pelo condutor do programa, Galvão Bueno.

Renato Maurício Prado é mais um daqueles jornalistas globais cujo lote já está devidamente reservado no paraíso. É, por mais paradoxal que isso possa parecer, um jornalista acrítico.

Ainda assim, os cabelos que já lhe vão brancos e os anos de dedicação à “profissão” bem que podiam fazerem-se depositários de um maior respeito pelo, digamos assim, colega.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Só Jesus Expulsa Demônio das Pessoas"

Por Máximo



Nascer, crescer, viver em Vila Isabel é mais ou menos como o desenhista que busca o tema, o referencial não plástico, a fim de ajustar o gesto, evitando a gratuidade. 

Quando faço uma série baseada no Projeto "Memórias Reveladas", do Arquivo Nacional, sobre os arquivos da ditadura, fustigando-lhe as vísceras, não sei o que virá, mas, percebo com clareza o que não está pronto ou o que deve ser refeito ou cortado.

Vila Isabel possui esta característica: andar sem pressa sem descurar da dinâmica urbana que afeta todo bairro carioca. 

Se se quiser seguir à esquerda, saindo de uma de suas vilas, indo em linha reta até o início da Gonzaga Bastos, o sentido da caminhada afirma-se mais do que nunca ideológico: é que se se dá de cara com o quartel da PE de tantas torturas indispensáveis à revelação. Pra que a pressa em cruzar as esquinas da Maxwell, rua dos Artistas, em frente à Senador Soares, Muniz Freire, Saruê, Antônio Salema? A Comissão da Verdade precisa andar pelo bairro, tranquila, mas objetiva. 

Outro caminho pode levar-nos logo à Copa. Basta virar à direita, saindo da mesma vila, entrar na "rua do rio", a Negrão de Lima, Manoel de Abreu, o Pedro Ernesto, da memória, do afeto, hoje apenas da incúria estadual. Estamos há pouco do Maracanã, ou do seu arremedo para quem o frequentara, primeiro, aos ombros do pai, na antiga Charanga, mais tarde, mais velho, no mesmo lado esquerdo da tribuna, para a Grande Arte de Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; tita, Nunes e Lico. A este respeito, aliás, vale uma lida no artigo traduzido no sítio da Carta Capital da The Economist para saber como "projetos-troféus" não são, de fato, o melhor gasto do dinheiro público, tampouco as tão decantadas infra-estrutura e renovação urbana, que estariam mais para "Celacanto provoca maremoto", aquele famoso "enigma", tributário aos Incas venuzianos do Nacional Kid, escrito pelas paredes e muros do Rio na década de 70, e que a ditadura, vendo comunista até em seriado japonês, considerava um código para a subversão do mundo cristão ocidental. "Celacanto provoca maremoto" hoje virou "Só Jesus expulsa demônio das pessoas", tal qual a renovação um engodo em investimentos voltados prioritariamente não só para a construção de estádios desnecessários, quando não um estorvo, além de remoções e rotas urbanas estratégica e  convenientemente pensadas para lhes conduzir o tráfego.

SRN

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"Nossa Imprensa": o Silêncio dos Covardes


Por Tadeu dos Santos



Ingressei na UERJ pela primeira vez em 1983 e Retornei em 1991. Fiz, pois, 2 cursos de graduação naquela instituição. Tenho excelentes recordações daqueles tempos e mantenho com a universidade uma relação de muito carinho e gratidão.

Juntamente com os bons momentos ali vividos, acorrem-me à memória uma miríade de paralisações que, em sua grande maioria, pugnavam por melhores salários e otimização das condições de trabalho.

Ressalte-se a observação supra não traz qualquer condenação a movimentos paredistas que tiveram por norte motivações de cunho político. Não há qualquer exclusão recíproca entre eles e cumpre salientar que ainda que sejam demandados apenas pleitos de caráter objetivo, há, claro, questões políticas em jogo.

Acaso nos dedicássemos a escrever a história dos movimentos paredistas na educação brasileira, haveríamos de dedicar substancial atenção ao comportamento da imprensa no acompanhamento de tudo quanto ali se discutia.

Dessoa cristalino que há nítido interesse público na compreensão de tudo quanto envolve a educação. No entanto, o espaço dedicado ao assunto no jornalismo brasileiro é pífio e, no mais das vezes, pautado pela parcialidade de maneira a sempre favorecer a posição do Estado e levar ao descrédito toda a pauta de reivindicações.

Fui testemunha ocular de uma passeata dos professores municipais ocorrida em meio à greve e que terminou na Praça da Apoteose. O sol estava abrasador e a todo o instante os professores se movimentavam nas arquibancadas buscando um pouco de sombra. Mas a passeata foi concorridíssima e quase todo o espaço era ocupado pelos grevistas.

À noite, os criadores do jornalismo-mentira colocaram no ar, as imagens de pedaços da arquibancada tomados pelo sol e consequentemente vazios. A inelutável conclusão era: fracassa o movimento paredista, eis que a ele não aderiu a categoria.

Deflagrado o atual movimento paredista na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, e o comportamento de “nossa imprensa”, guardando o silêncio dos covardes, faz prova cabal de que nada, absolutamente nada, mudou.

É nesse contexto que se torna premente a discussão acerca do papel a ser desempenhado pelas redes sociais de modo a conferir voz àqueles a quem a imprensa oficial faz questão de ignorar, ainda que as formulações por eles trazidas comportem evidente interesse público.

A ordem do dia é fazer-se ouvido e tal e qual um movimento viral fazer com que se espalhe a pauta, levando-a a ouvinte e leitores afastados que de outra maneira, jamais saberiam de sua existência.

Pedidos formulados através de abaixo-assinados digitais também são instrumentos viabilizados pelas denominadas redes sociais.

A emissão de opiniões desvinculadas dos interesses dominantes também fazem com que os blogs se revistam de capital importância nesse embate consistente em dar visibilidade a pautas que, de outra forma, estarão destinado ao silêncio aquiescente de uma imprensa inteira divorciada dos interesses populares.

O mais grave em todo esse imbróglio é que tornou-se consenso a noção de que a educação é o único caminho a ser trilhado quando o que se persegue é a qualificação da mão de obra, ganhos de produtividade e aumento de competitividade.

Sem que investimentos constantes e maciços em educação de qualidade sejam efetivados, estaremos fadados à estagnação econômica que, frise-se, agravar-se-á tão logo cessem a oferta de investimentos e as facilidades creditícias.

Nesse quadro, impõe-se que educadores possam auferir ganhos compatíveis que além de remunerar adequadamente um ofício notoriamente nobre, possibilitará melhor qualificação e dedicação exclusiva, dentre tantos outros perseguidos pela categoria.

É deveras conveniente que lamentemos o quadro de nossa educação todas as vezes em que nos deparamos com o IDH, na ocorrência das chamadas olímpiadas escolares, em nossa ausência na lista dos países que mais tiveram inovações tecnológicas, quando atestamos a baixíssima qualificação de nossa mão de obra ou nossa parca competitividade. Inaceitável é quedarmo-nos silentes quando os únicos aptos a viabilizar as necessárias mudanças nesse quadro aterrador, veiculam suas reivindicações.

Os professores brasileiros em início de carreira ganham o 3º pior salário do mundo.

Acaso tomemos os salários de professores universitário (no topo da carreira), verificaremos que nossos professores aparecem na 17ª posição auferindo ganho mensal equivalente a 4.550 dólares. Estamos bem distantes dos professores da Noruega (US$ 9.485, África do Sul (US$ 9.330), Itália (US$ 9.118), Arábia Sauditaas (US$ 8.524), Reino Unido (US$ 8.369), Malásia (US$ 7864), Austrália (US$ 7.499), Índia (US$ 7.433), EUA (US$ 7.358).

Evidente, portanto, que o salto de qualidade no ensino brasileiro passa necessariamente pela majoração dos salários da categoria.