Por Tadeu dos Santos
Ingressei na UERJ pela primeira vez em 1983 e Retornei em 1991. Fiz, pois, 2 cursos de graduação naquela instituição. Tenho excelentes recordações daqueles tempos e mantenho com a universidade uma relação de muito carinho e gratidão.
Juntamente com os bons momentos ali vividos, acorrem-me à memória uma miríade de paralisações que, em sua grande maioria, pugnavam por melhores salários e otimização das condições de trabalho.
Ressalte-se a observação supra não traz qualquer condenação a movimentos paredistas que tiveram por norte motivações de cunho político. Não há qualquer exclusão recíproca entre eles e cumpre salientar que ainda que sejam demandados apenas pleitos de caráter objetivo, há, claro, questões políticas em jogo.
Acaso nos dedicássemos a escrever a história dos movimentos paredistas na educação brasileira, haveríamos de dedicar substancial atenção ao comportamento da imprensa no acompanhamento de tudo quanto ali se discutia.
Dessoa cristalino que há nítido interesse público na compreensão de tudo quanto envolve a educação. No entanto, o espaço dedicado ao assunto no jornalismo brasileiro é pífio e, no mais das vezes, pautado pela parcialidade de maneira a sempre favorecer a posição do Estado e levar ao descrédito toda a pauta de reivindicações.
Fui testemunha ocular de uma passeata dos professores municipais ocorrida em meio à greve e que terminou na Praça da Apoteose. O sol estava abrasador e a todo o instante os professores se movimentavam nas arquibancadas buscando um pouco de sombra. Mas a passeata foi concorridíssima e quase todo o espaço era ocupado pelos grevistas.
À noite, os criadores do jornalismo-mentira colocaram no ar, as imagens de pedaços da arquibancada tomados pelo sol e consequentemente vazios. A inelutável conclusão era: fracassa o movimento paredista, eis que a ele não aderiu a categoria.
Deflagrado o atual movimento paredista na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, e o comportamento de “nossa imprensa”, guardando o silêncio dos covardes, faz prova cabal de que nada, absolutamente nada, mudou.
É nesse contexto que se torna premente a discussão acerca do papel a ser desempenhado pelas redes sociais de modo a conferir voz àqueles a quem a imprensa oficial faz questão de ignorar, ainda que as formulações por eles trazidas comportem evidente interesse público.
A ordem do dia é fazer-se ouvido e tal e qual um movimento viral fazer com que se espalhe a pauta, levando-a a ouvinte e leitores afastados que de outra maneira, jamais saberiam de sua existência.
Pedidos formulados através de abaixo-assinados digitais também são instrumentos viabilizados pelas denominadas redes sociais.
A emissão de opiniões desvinculadas dos interesses dominantes também fazem com que os blogs se revistam de capital importância nesse embate consistente em dar visibilidade a pautas que, de outra forma, estarão destinado ao silêncio aquiescente de uma imprensa inteira divorciada dos interesses populares.
O mais grave em todo esse imbróglio é que tornou-se consenso a noção de que a educação é o único caminho a ser trilhado quando o que se persegue é a qualificação da mão de obra, ganhos de produtividade e aumento de competitividade.
Sem que investimentos constantes e maciços em educação de qualidade sejam efetivados, estaremos fadados à estagnação econômica que, frise-se, agravar-se-á tão logo cessem a oferta de investimentos e as facilidades creditícias.
Nesse quadro, impõe-se que educadores possam auferir ganhos compatíveis que além de remunerar adequadamente um ofício notoriamente nobre, possibilitará melhor qualificação e dedicação exclusiva, dentre tantos outros perseguidos pela categoria.
É deveras conveniente que lamentemos o quadro de nossa educação todas as vezes em que nos deparamos com o IDH, na ocorrência das chamadas olímpiadas escolares, em nossa ausência na lista dos países que mais tiveram inovações tecnológicas, quando atestamos a baixíssima qualificação de nossa mão de obra ou nossa parca competitividade. Inaceitável é quedarmo-nos silentes quando os únicos aptos a viabilizar as necessárias mudanças nesse quadro aterrador, veiculam suas reivindicações.
Os professores brasileiros em início de carreira ganham o 3º pior salário do mundo.
Acaso tomemos os salários de professores universitário (no topo da carreira), verificaremos que nossos professores aparecem na 17ª posição auferindo ganho mensal equivalente a 4.550 dólares. Estamos bem distantes dos professores da Noruega (US$ 9.485, África do Sul (US$ 9.330), Itália (US$ 9.118), Arábia Sauditaas (US$ 8.524), Reino Unido (US$ 8.369), Malásia (US$ 7864), Austrália (US$ 7.499), Índia (US$ 7.433), EUA (US$ 7.358).
Evidente, portanto, que o salto de qualidade no ensino brasileiro passa necessariamente pela majoração dos salários da categoria.
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