sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Faça-me um Favor

Por Tadeu dos Santos





...As rugas fizeram residência no meu rosto
Não choro pra ninguém me ver sofrer de desgosto
Eu que sempre soube esconder a minha mágoa
Nunca ninguém me viu com os olhos rasos d'água
Finjo-me alegre pro meu pranto ninguém ver
Feliz daquele que sabe sofrer ...”

Nélson Cavaquinho

Não iremos dividir o futebol brasileiro em fases ou eras. Convenhamos, porém, que já vivemos tempos em que futebol e beleza formavam um casal cuja estreita união fazia com que, a despeito da finitude vista em toda a parte, acreditássemos que eram eternos.

E assim em 1958 tivemos Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé.

Em 1970, deuses ainda circulavam por aqui e faziam aparições geniais pelos gramados da vida. E tínhamos Gerson, Tostão, Pelé, Rivelino, Paulo Cesar.

Ainda em 1982 divindades que não guardavam o mesmo brilho que as antigas ainda davam-se à visão dos mortais.

Sim! Vivíamos a era do Futebol-Arte. Sim! Éramos felizes e não sabíamos. Aliás, a ironia ínsita à felicidade é que nunca somos sabedores de sua presença ou ausência. Quando achamos que está, já foi. Quando juramos vê-la pelas costas, ela está logo ali, aninhada no seu colo.

Numa dessas idas e vindas do tempo, a força e a marcação entraram por uma porta e evadiram pela outra o riso e a beleza. Dunga é o antepassado mais próximo dos dementadores deRowling, autora que dividiu o mundo em branco e preto, olvidando-se das nuances situadas no meio.

Tivemos então a era do futebol-força.

E não é que o esporte, com seu imenso potencial de pegar atalhos que impeçam a mesmice e a obviedade, nos traz os tempos do futebol-trapaça?

Ganhávamos de 3 x 0 da Nova Zelândia e não havia qualquer necessidade para simulação, mas eis que o atleta Alecsandro atira-se ao chão após um lance normalíssimo e ganha o devido e merecido cartão vermelho.

Por que aquele velhaco cavou aquela falta?

Ainda que isso soe algo desarrazoado e exagerado, não temo em afirmar que optamos pela vitória acompanhada do engodo, da condução do árbitro ao erro à vitória baseada, apenas e tão somente, no mérito.

Ao tornar-se veloz e escravo da força física o futebol trouxe consideráveis dificuldades aos árbitros. Não é fácil “apitar” um jogo de futebol ainda que os 22 jogadores busquem da maneira mais correta possível o resultado que lhes seja favorável.

Imagine, por outro lado, a condução de uma partida em que os 22 jogadores entram em campo com o firme propósito de levá-lo ao erro.

Por que nos arriscamos a lançar ao lixo a nossa fantástica trajetória no futebol? Vejo as simulações e confesso que sou tomado por um constrangimento que tem o condão de apequenar-me. Esse simulacro é vexatório e humilhante. É como se estivéssemos a anunciar que essa é o novo jeito brasileiro de jogar bola. E o mais grave é que traz a reboque a confissão de que só assim temos chances. É com a burla das regras do jogo que iremos impor ao mundo o nosso futebol-trapaça.

A verticalidade dos efeitos dos maus exemplos ministrados diariamente por “nossas elites políticas” chegou ao futebol.

São mesmo bicudos os tempos que nos são dados a viver, não?



No mais, só mesmo lamentar que os profissionais do sportv tenham, vez mais, ido à cobertura de um evento esportivo internacional travestidos de torcedores.

Não há espaço ali para críticas que denotem qualquer resquício de pessimismo. As denominadas mesas-redondas parecem, em tudo e por tudo, com os Jardins do Éden.

- Tens tudo ao seu inteiro dispor, até mesmo a eternidade. Mas não ouses pensar.

Dias desses um ex-árbitro de futebol foi devidamente advertido após haver criticado o atleta Neymar por se jogar. O autor da admoestação foi o indômito Galvão Bueno. O mesmo que diante da boa atuação do atacante paulista diante da BIELORRÚSSIA ( pais de “enorme” tradição no futebol – como todos sabem), não titubeou em chamar-lhe de gênio.

A palavra, a crítica, a busca da verdade e a imparcialidade são o norte de qualquer jornalista que tenha algum apreço pela profissão. No entanto, esses atributos não são encontradiços nas transmissões do canal de que vimos a falar.

Neymar, obviamente, não é gênio. Geniais, na mais pura acepção da palavra foram foram Pelé, Garrincha, Zidane, Maradona, Zizinho, Rivelino, Gérson.


A utilização áulica da palavra tem o condão de lhe retirar o significado. Ela resta esgarçada, elastecida e inservível a veicular o pensamento.

Finalizo lamentando a cena ocorrida ontem no “Conexão Sportv”. Renato Maurício Prado foi desancado e humilhado pelo condutor do programa, Galvão Bueno.

Renato Maurício Prado é mais um daqueles jornalistas globais cujo lote já está devidamente reservado no paraíso. É, por mais paradoxal que isso possa parecer, um jornalista acrítico.

Ainda assim, os cabelos que já lhe vão brancos e os anos de dedicação à “profissão” bem que podiam fazerem-se depositários de um maior respeito pelo, digamos assim, colega.

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