quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Só Jesus Expulsa Demônio das Pessoas"

Por Máximo



Nascer, crescer, viver em Vila Isabel é mais ou menos como o desenhista que busca o tema, o referencial não plástico, a fim de ajustar o gesto, evitando a gratuidade. 

Quando faço uma série baseada no Projeto "Memórias Reveladas", do Arquivo Nacional, sobre os arquivos da ditadura, fustigando-lhe as vísceras, não sei o que virá, mas, percebo com clareza o que não está pronto ou o que deve ser refeito ou cortado.

Vila Isabel possui esta característica: andar sem pressa sem descurar da dinâmica urbana que afeta todo bairro carioca. 

Se se quiser seguir à esquerda, saindo de uma de suas vilas, indo em linha reta até o início da Gonzaga Bastos, o sentido da caminhada afirma-se mais do que nunca ideológico: é que se se dá de cara com o quartel da PE de tantas torturas indispensáveis à revelação. Pra que a pressa em cruzar as esquinas da Maxwell, rua dos Artistas, em frente à Senador Soares, Muniz Freire, Saruê, Antônio Salema? A Comissão da Verdade precisa andar pelo bairro, tranquila, mas objetiva. 

Outro caminho pode levar-nos logo à Copa. Basta virar à direita, saindo da mesma vila, entrar na "rua do rio", a Negrão de Lima, Manoel de Abreu, o Pedro Ernesto, da memória, do afeto, hoje apenas da incúria estadual. Estamos há pouco do Maracanã, ou do seu arremedo para quem o frequentara, primeiro, aos ombros do pai, na antiga Charanga, mais tarde, mais velho, no mesmo lado esquerdo da tribuna, para a Grande Arte de Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; tita, Nunes e Lico. A este respeito, aliás, vale uma lida no artigo traduzido no sítio da Carta Capital da The Economist para saber como "projetos-troféus" não são, de fato, o melhor gasto do dinheiro público, tampouco as tão decantadas infra-estrutura e renovação urbana, que estariam mais para "Celacanto provoca maremoto", aquele famoso "enigma", tributário aos Incas venuzianos do Nacional Kid, escrito pelas paredes e muros do Rio na década de 70, e que a ditadura, vendo comunista até em seriado japonês, considerava um código para a subversão do mundo cristão ocidental. "Celacanto provoca maremoto" hoje virou "Só Jesus expulsa demônio das pessoas", tal qual a renovação um engodo em investimentos voltados prioritariamente não só para a construção de estádios desnecessários, quando não um estorvo, além de remoções e rotas urbanas estratégica e  convenientemente pensadas para lhes conduzir o tráfego.

SRN

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