sexta-feira, 9 de março de 2018

As pedras vão rolar?


O lulismo demonstrou que, na conciliação, a ordem vence e que a governabilidade que só pode vir dessa mesma ordem tem de se posicionar perante o fisiologismo. 

Como o PSOL e o Boulos irão fazer? 

Qual a tensão admissível dentro dos marcos da administração do regime? 

Não acham que aquilo que o Florestan Fernandes dizia pro PT não vale agora para o PSOL/Boulos? Que era melhor não ir ao poder e continuar um trabalho de base? 

Ou isso é bobagem: afinal, partido político existe é pra isso mesmo, pra lutar e chegar ao poder?

SRN


quarta-feira, 7 de março de 2018

O acadêmico Vargas era, de fato, imortal


Cada vez fica mais claro que o que resta ao Lula é o período da campanha eleitoral e, então, tentar usar a política contra o Judiciário. Restam-lhe dois recursos: o próximo - e decisivo - , o julgamento do embargo declaratório (questionamento sobre pontos obscuros da sentença), mera formalidade, na própria segunda instância em que foi condenado por unanimidade; tem um prazo de mais ou menos um mês. Segundo o Globo, é o tempo que o juiz que está voltando de férias leva pra decidir o recurso da defesa. Neste tempo também, é botar pressão na Carmem Lúcia pautar no plenário a discussão sobre revisar a prisão na segunda instância e manter a pena apenas quando não houver mais chance, isto é, a decisão transitada em julgado.

Quanto ao segundo, se a Carmem Lúcia pautar a discussão ainda em março, não há nenhuma garantia de que a prisão em segunda instância seja revista.
No primeiro recurso, sem chance. O TRF-4 sempre rejeita embargo declaratório.

É aí que o Lula terá de provar, já que contextos distintos são retomados, se é mesmo maior do que Vargas.

Vargas, ao suicidar-se, provoca uma sublevação popular e muda a política.

Preso, Lula poderá se candidatar. A lei da ficha limpa não impede o registro de candidatos com problema na justiça. O que ela determina é o julgamento que decide se um candidato que se confirme nessa situação continua ou não com o direito à candidatura.

Será que o Lula, da cadeia, consegue fazer as massas se insurgirem?

SRN

P.S. Conforme o grande Chico de Oliveira, o problema com Vargas é que ele foi um ditador e criou as instituições que ainda estão aí a reger as nossas vidas e exigem que nos posicionemos. Fernando Henrique e Lula, PT e PSDB, o balizamento político que nos afeta há anos e que pautará, ainda, as eleições deste ano, não fazem outra coisa senão debater com o Varguismo. O que foi a precarização desta reforma trabalhista feita pelo "golpista" que "golpeou" o Lula, mas que este o admira justo por ser politicamente capaz de sobreviver? Vem, aliás, das hostes do próprio lulismo a lembrança do que o povo fez quando do suicídio de Vargas.


terça-feira, 6 de março de 2018

Satanás só não é mais útil na Santa Ceia

Vi outro dia. Está na internet. Montoro questiona alguma coisa a Jânio no debate pra governador em 82. Pega o livro "Depoimento" do Lacerda. Jânio vai na veia: 

"Não quero ouvir. O senhor acaba de citar as Escrituras valendo-se de Satanás."

Não sei se é o caso - ou melhor, se são os casos - mas Fernando Henrique e Delfim Netto são indispensáveis na análise de conjuntura. Têm experiência, sabem filtrar informações e somam tudo pra indicar a percepção de movimentos relevantes. Até aí tranquilo. Satanás só está ajudando. O que não vale é aceitar as conclusões de ambos a respeito do que fazer. Ingenuidade, depois de uma certa idade, é idiotia. Mas, não é estupidez, talvez, aproveitar o que Fernando Henrique disse no Nexo. "Os partidos são fracos, mas o Congresso é forte." O Presidente não governa sem o congresso. A tal da governabilidade. E o PMDB é o partido que a oferece, mas o PMDB é um partido com objetivos fisiológicos, não políticos, ou seja, não tem interesse no sucesso de nenhuma política, mas em cobrar pelo uso do aparelho do Estado pra quem tenha. 

A ajuda de satanás deixa de ser útil quando resolve tomar o lugar na Santa Ceia. E agora um paradoxo que me ocorre a partir da última entrevista de Lula. Temer é a expressão do PMDB, é presidente e tem de formular políticas. Nada disso é relevante pro Lula, apenas a admiração pelo "golpista' que o "golpeou" por ter dado uma aula de como se faz política. Lula acaba de abençoar o Boulos. 

Será que o fisiologismo que caracteriza o PMDB não se transforma no Lulismo em uma justificativa santa para que os objetivos não se tornem de uma vez cinismo? 

SRN


sábado, 3 de março de 2018

Imaturidade ou interesse?

Tomara que agora, em que também Meirelles perde o encanto e vira um humorista do programa do ratinho, diminua igualmente a interpretação do discurso do golpe. Fica claro que o Lula nunca levou isso a sério. É um pragmático, um negociador que opera com o realismo da política. Sua pretensão é continuar personagem importante no jogo político, bloqueando o acesso de novas forças que avancem, de fato, reformas progressistas e não as que temos hoje, fruto, aliás, da "governabilidade" que ensejou a sua "Carta à FIESP". 

Continuar o debate político pautado pelo que interessa àquele que elogia o "golpista" que o "golpeou" por ter sobrevivido é imaturidade ou interesse.

SRN


sexta-feira, 2 de março de 2018

O realismo de Lula à prova de militância

A entrevista do Lula é um convite à piada. Mas, também colabora, esclarece os termos do debate hoje polarizado antes mesmo de iniciado. Já no roteiro mental, o tópico frasal ou anuncia logo que houve golpe ou o texto é suspeito. Lula demonstrou todo o seu pragmatismo. Pra ele, o que é relevante no fato político é a eficácia. Temer foi eficaz, soube suportar a exposição pesada do seu fígado podre, arranjar um anestésico, até a cirurgia que segue sendo feita no hospital que é, como sempre, a minha Cidade. O realismo de Lula é o que o fez dar validade ao que Bobbio escreve em "Democracia representativa x democracia direta." A democracia é um método, incorporando o pluralismo. Cita um autor, Franco Alberoni : "democracia quer dizer dissenso. É um sistema político que pressupõe o dissenso. Requer o consenso apenas sobre um único ponto: sobre as regras da competição." 

É o tal negócio: se a democracia é apenas um método horizontal, como fica a verticalidade da nossa formação, na dinâmica política, com um passivo histórico de exploração, segregação e dependência? Como podemos institucionalizar o conflito de um passivo histórico num acordo de vontades, no presidencialismo da governabilidade afiançada por Jucá, Renan, Sarney, Temer e Moreira Franco, que o lulismo organizou, pra chegar ao poder, com a "Carta à FIESP"? Nessas circunstâncias, aceitas as regras do jogo com tais personagens em campo e no planalto, por que o "mensalão" não é golpe e o impeachment é, uma vez que ambos tratam da manipulação e da chicana admitidas? 


O subalterno, que sempre investiu no antagonismo e na pureza política, habilita-se a gerir o regime através de uma aliança com o PMDB... resultado: Bento Carneiro, a alegoria do Tuiuti, elogiada por Lula por saber se proteger do "golpe".

Mais do que isso, acho: Lula não quer ceder espaço, qualquer força política que ameace aglutinação não pode ficar tão à vontade assim. Esse elogio ao "golpista' que o "golpeou" não deixa de ser um aviso ao Boulos.

Sem chance.


Corifeu Sagrado e o Bento Carneiro

A crise na Petrobras é obra da CIA (então, o agente é ele, pois o esquema de financiamento do projeto de poder do lulismo tinha na sangria de um Patrimônio Nacional, Bem Público por excelência, a sua principal fonte).

Temer merece aplauso por enfrentar a Globo (é preciso crescer, amadurecer os argumentos. A Globo já não tem tanto poder como lhe atribuem. Além disso, o "Fora Temer" é uma palavra de ordem gestada na militância lulista. Com que moral berrar o "Fora Temer", se o Corifeu Sagrado abençoou a coragem do Bento Carneiro, alegoria do Tuiuti?).

"Eleição sem Lula é fraude!" (então, o Corifeu Sagrado está oferecendo hóstia batizada...).

Sem sacanagem, como eu sinto falta do Brizola...