Por Máximo
O drama de Santa Maria me
lembra o que li faz tempo a respeito da diferença entre dois intelectuais muito
relevantes, cujos nomes não vêm ao caso. Diante de uma criança agonizando na
calçada, os dois intelectuais presentes, um dos quais, entretanto, retira do
bolso um bloco, uma caneta e começa a interpretar o fato à luz da manipulação
midiática pela espetacularização. Leva escrevendo exatamente o tempo em que o
outro intelectual procura prestar os primeiros socorros, ligar pro bombeiro,
afastar os curiosos.
A espetacularização sensacionalista não cancela o
fato terrífico que sensibiliza quem não está preocupado em hierarquizar, em uma
lista, tragédias e catástrofes.
Os jovens mortos em Santa Maria não ocupam o espaço do luto que cabe à atenção dos mecanismos reacionários que mataram Cícero Guedes, líder do MST, por lutar pela reforma agrária.
Os jovens mortos em Santa Maria não ocupam o espaço do luto que cabe à atenção dos mecanismos reacionários que mataram Cícero Guedes, líder do MST, por lutar pela reforma agrária.
Minha
impressão é a de assistir um campeonato macabro pelo cadáver merecedor de maior
legitimidade.
De
resto, prefiro o pensamento do historiador Edward Thompson que nunca acreditou
no poder de manipulação absoluta da razão iluminista. Podemos ser sujeitos de
nossa própria história. E sofrer, ter sentimentos, sem medo de parecermos
piegas ou manipuláveis.
SRN
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