segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dor Não Tem Hierarquia


Por Máximo



O drama de Santa Maria me lembra o que li faz tempo a respeito da diferença entre dois intelectuais muito relevantes, cujos nomes não vêm ao caso. Diante de uma criança agonizando na calçada, os dois intelectuais presentes, um dos quais, entretanto, retira do bolso um bloco, uma caneta e começa a interpretar o fato à luz da manipulação midiática pela espetacularização. Leva escrevendo exatamente o tempo em que o outro intelectual procura prestar os primeiros socorros, ligar pro bombeiro, afastar os curiosos.

 A espetacularização sensacionalista não cancela o fato terrífico que sensibiliza quem não está preocupado em hierarquizar, em uma lista, tragédias e catástrofes. 

Os jovens mortos em Santa Maria não ocupam o espaço do luto que cabe à atenção dos mecanismos reacionários que mataram Cícero Guedes, líder do MST, por lutar pela reforma agrária. 

Minha impressão é a de assistir um campeonato macabro pelo cadáver merecedor de maior legitimidade.

De resto, prefiro o pensamento do historiador Edward Thompson que nunca acreditou no poder de manipulação absoluta da razão iluminista. Podemos ser sujeitos de nossa própria história. E sofrer, ter sentimentos, sem medo de parecermos piegas ou manipuláveis.

SRN

Nenhum comentário:

Postar um comentário