quarta-feira, 10 de abril de 2013

Vírusmarin

"Abro aspas: "Queremos prestar nossos melhores cumprimentos a um homem que, de há muito, vem prestando relevantes serviços à coletividade, embora nem sempre tenha sido feita justiça ao trabalho (...) Queremos trazer nossos cumprimentos e dizer do nosso orgulho em contar na polícia de São Paulo com o delegado Sérgio Paranhos Fleury".

Essa é apenas uma pequena parte do discurso proferido por José Maria Marin no dia 7 de outubro de 1976, quase um ano após a morte do meu pai. Poucos dias antes de seu assassinato, Marin havia subido à tribuna para pedir providências do Estado contra a TV Cultura, "a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nessa casa, mas principalmente nos lares paulistanos".

José Maria Marin não apenas incitou ações de violência contra os jornalistas que se opunham à ditadura brasileira (1964-1985), como também pediu o reconhecimento ao, para ele, exemplar trabalho executado pelos torturadores, sequestradores e assassinos daquele período.Nosso país se orgulha da alegria e receptividade de seu povo. Um povo que sofreu as maiores demonstrações de intolerância da história da humanidade: o quase extermínio dos povos indígenas. Séculos de escravidão. E décadas de autoritarismo de um Estado não democrático.


Hoje, conquistamos a democracia com a contribuição de movimentos sociais e com inúmeras concessões (ainda difíceis de digerir), como a Lei da Anistia. Mas aqueles que violaram direitos humanos e executaram ações de tortura e assassinato não só ainda não puderam ser trazidos à Justiça, como muitos deles nem sequer têm seus nomes conhecidos.

Pensar em recompensar um desses personagens com a glória de ser o responsável por receber o mundo em nome do povo brasileiro na ocasião da Copa do Mundo é inaceitável. Intolerável. A Copa do Mundo é nossa. Não do Marin."

Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, em texto para "Opinião" da Folha de São Paulo.

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