"Num certo sentido, a urbanização é um campo de acumulação de capital e, portanto, é vital para a manutenção do acúmulo de capital a longo prazo. E, num lugar em que você encontra repetidas quebras na bolsa de valores, mas depois recuperações com projetos de incorporação, esse é o caso.
Então, nós, politicamente, precisamos prestar muito mais atenção à dinâmica urbana, em termos daquilo que a acumulação de capital faz. E, para se declarar envolvido em uma política anticapitalista, nós temos de pensar a urbanização como um campo de luta de classes. É aí que eu tenho um tipo de história muito peculiar com meus colegas marxistas que gostam de falar sobre a classe trabalhadora: suas definições sobre a classe trabalhadora têm a ver com o trabalho nas fábricas, e eu sempre disse “E as pessoas que constroem as cidades? E as pessoas que mantêm a cidade? E todo este capital fixo na cidade, a sua manutenção?”, e as pessoas dizem “Ah, tudo bem, eles estão aí, mas a classe trabalhadora nas fábricas é o que realmente conta”.
Então, eu comecei a dizer “Bem, como é que o acúmulo de capital pode tratar a cidade como um campo aberto para suas atividades, e onde está a resistência a isso?”. Se você observar, verá resistência por toda parte, porque a reurbanização, quase invariavelmente, envolve uma economia de espoliação, e a economia de espoliação, geralmente, significa o que eu gosto de chamar de acumulação por desapossamento: você desprovê as pessoas da sua vizinhança, dos seus espaços de moradia, porque você quer aqueles espaços para a incorporação.
Eu me lembro de visitar uma cidade, Seul, na Coreia, e havia enormes colinas, que estavam sendo derrubadas por gangues contratadas pelos incorporadores, para tornar aquele lugar inabitável. Daí, então, eles construíam os arranha-céus que eles queriam construir. Mas é claro que havia resistência, e havia comunidades inteiras que se organizavam de uma forma militar, para resistir a essas expulsões. Nós vemos, na China, esse projeto de urbanização que se apoia na aquisição de terra urbana e rural, e que está gerando uma oposição considerável, e há muitos relatórios, na China, de conflitos violentos com relação a esses projetos de urbanização."
Extraído da revista eletrõnica e-metropolis, www.emetropolis.net, publicação trimestral dos alunos de pós-graduação de programas vinculados ao Observatório das Metrópoles.
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