sábado, 13 de dezembro de 2014

13 de Dezembro

A chamada Nova História Política que se desenvolve na historiografia, a partir dos anos 70, 80, do século passado, trouxe novas abordagens e objetos, como o estudo do imaginário, do simbólico, das representações, enfim. Entretanto, a História Política Clássica, que trata dos fenômenos do poder, das relações de Estado continuam uma chave de análise indispensável, conforme o grande historiador inglês, Perry Anderson, da escola marxista inglesa (que nos deu, entre outros, Eric Hobsbawm). No prefácio de “Linhagens do Estado Absolutista”, Anderson justifica o Estado como tema de reflexão: a luta de classes se resolve na política e as transformações do Estado, no tempo, manifestam justamente “as modificações básicas nas relações de produção” (a questão da Petrobras, dos programas sociais, das ações afirmativas, para além dessa discussão mesquinha de moralismo de um udenismo reducionista, podem muito bem ser vistas a partir desse ângulo de Anderson). Portanto, é possível conjugar paixão e crítica política. 

13 de dezembro possui essas duas dimensões: em 68 foi a data do terrífico AI-5 que institucionalizou, de vez, a ditadura pra prender, torturar, matar e exilar sem pruridos. Treze anos depois, em 1981, com o AI-5 já extinto (dezembro de 78), a ditadura negociando a transição como alternativa aos seus problemas internos devido à autonomia que caminhava para o incontrolável do aparato de repressão (as bombas em banca de jornal, a bomba que explode na OAB-RJ,em agosto de 80 e mata a secretária Lydia Monteiro, a bomba do Riocentro, em 30 de abril de 81, no show do Dia do Trabalhador, que explode no colo do próprio agente do aparato de repressão dentro de um puma), tudo isso o Rubro-Negro acompanhava, não era aquele timaço, talvez o melhor time de futebol do século passado, que cancelaria seu juízo crítico, os problemas que enfrentávamos, tensos, no fio da navalha. Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Andrade, Adílio e Zico; tita, Nunes e Lico eram uma espécie de poema que Drummond confessaria (se não confessou, é razoável que se imagine a possibilidade) gostaria de ter escrito. O Flamengo era Campeão do Mundo em Tóquio, passeando sobre os ingleses do Liverpool, 3 x 0. Certamente, o verso de Orestes Barbosa, um dos Monstros da Vila – "Tu pisavas nos astros, distraída" – era uma boa expressão pra Arte daquele time.

SRN


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