A
chamada Nova História Política que se desenvolve na historiografia, a partir
dos anos 70, 80, do século passado, trouxe novas abordagens e objetos, como o
estudo do imaginário, do simbólico, das representações, enfim. Entretanto, a
História Política Clássica, que trata dos fenômenos do poder, das relações de
Estado continuam uma chave de análise indispensável, conforme o grande
historiador inglês, Perry Anderson, da escola marxista inglesa (que nos deu,
entre outros, Eric Hobsbawm). No prefácio de “Linhagens do Estado Absolutista”,
Anderson justifica o Estado como tema de reflexão: a luta de classes se resolve
na política e as transformações do Estado, no tempo, manifestam justamente “as
modificações básicas nas relações de produção” (a questão da Petrobras, dos
programas sociais, das ações afirmativas, para além dessa discussão mesquinha
de moralismo de um udenismo reducionista, podem muito bem ser vistas a partir
desse ângulo de Anderson). Portanto, é possível conjugar paixão e crítica
política.
13 de dezembro possui essas duas dimensões: em 68 foi a data do
terrífico AI-5 que institucionalizou, de vez, a ditadura pra prender, torturar,
matar e exilar sem pruridos. Treze anos depois, em 1981, com o AI-5 já extinto
(dezembro de 78), a ditadura negociando a transição como alternativa aos seus problemas
internos devido à autonomia que caminhava para o incontrolável do aparato de
repressão (as bombas em banca de jornal, a bomba que explode na OAB-RJ,em
agosto de 80 e mata a secretária Lydia Monteiro, a bomba do Riocentro, em 30 de
abril de 81, no show do Dia do Trabalhador, que explode no colo do próprio
agente do aparato de repressão dentro de um puma), tudo isso o Rubro-Negro
acompanhava, não era aquele timaço, talvez o melhor time de futebol do século
passado, que cancelaria seu juízo crítico, os problemas que enfrentávamos,
tensos, no fio da navalha. Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Junior; Andrade,
Adílio e Zico; tita, Nunes e Lico eram uma espécie de poema que Drummond
confessaria (se não confessou, é razoável que se imagine a possibilidade)
gostaria de ter escrito. O Flamengo era Campeão do Mundo em Tóquio, passeando
sobre os ingleses do Liverpool, 3 x 0. Certamente, o verso de Orestes Barbosa,
um dos Monstros da Vila – "Tu pisavas nos astros, distraída" – era uma boa
expressão pra Arte daquele time.
SRN
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