quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Por que nosso passado traumático não é de interesse público?

Por que mortos-vivos, como Bolsonaro, recebem meio milhão de votos e imbecis, como o roqueiro aposentado Roger, podem tranquilamente dizer, referindo-se ao assassinato de Rubens Paiva, aqui perto, no quartel da PE, na Barão de Mesquita,  que sua “família não sofreu nada porque fazia o certo”?

Há explicações muito pertinentes, tributárias ao campo clássico da historiografia da “conciliação por cima.”  Mas, os estudos da memória têm ganhado muita força e, de um certo modo, a interpretação da anistia/amnésia ressalta a conveniência do silêncio como meio de seguir adiante, sem causar constrangimentos.

Parece que há um consenso entre os estudiosos da memória em torno do aspecto do entendimento do historiador Todorov acerca dos “abusos do dever de memória” – as memórias “literal” e “exemplar” -  em sociedades com passado traumático. A “memória exemplar’ é uma espécie de socialização do agravo. O problema deixa de ser exclusivamente individual, restrito ao âmbito da vítima – o que permite o contra argumento fácil, bem caracterizado no roqueiro aposentado que retira a dentadura do copo pra aparecer na televisão dizendo que “sua família não sofreu nada na ditadura porque fazia o certo” – e passa a ser de todos, coletivamente compartilhado. A “memória exemplar’, assim, torna-se um bem comum, estabelecendo uma relação com o passado traumático e as injustiças do presente. 

É, por isso, que a anistia que persiste amnésia impede a relação com o passado, produzindo lobos idiotas, erros de revisão de Paulo Francis, mortos-vivos estupradores, humoristas fascistas e roqueiros do Alzheimer. 

SRN


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