O
trocadilho é um chiste e isso é pavoroso, uma espécie de humor de segunda divisão,
de Eurico Miranda. Aliás, o humor sempre foi do interesse de Freud. Lembrei-me
do texto curto que escreveu, em 1927, “O Humor”, prum Congresso de Psicologia,
porque vi o Ronaldo “Fenômeno” dançando num comercial fazendo propaganda de
produtos pra família. Um “Fenômeno”, como vimos nos comentários da Copa, no
lugar certo, na hora certa: ao lado do Galvão e um pouco antes da lipoaspiração
do “Fantástico”. O “craque”, segundo o próprio, fez análise com um psicanalista
argentino. A piada parece pronta, mas não é. Até separei um trecho do texto do
Freud que estabelece a diferença entre o piadista presepeiro e o humorista que
vive do prazer que tira da crítica:
“Essas duas últimas
características - a rejeição das reivindicações da realidade e a efetivação do
princípio do prazer - aproximam o humor dos processos regressivos ou reativos
que tão amplamente atraem nossa atenção na psicopatologia. Seu desvio da
possibilidade de sofrimento coloca-o entre a extensa série de métodos que a
mente humana construiu a fim de fugir à compulsão para sofrer - uma série que
começa com a neurose e culmina na loucura, incluindo a intoxicação, a
auto-absorção e o êxtase. Graças a essa vinculação, o humor possui uma
dignidade que falta completamente, por exemplo, aos chistes, pois estes servem
simplesmente para obter uma produção de prazer ou colocar essa produção, que
foi obtida, a serviço da agressão. Em que, então, consiste a atitude
humorística, atitude por meio da qual uma pessoa se recusa a sofrer, dá ênfase
à invencibilidade do ego pelo mundo real, sustenta vitoriosamente o princípio
do prazer – e tudo isso em contraste com outros métodos que têm os mesmos
intuitos, sem ultrapassar os limites da saúde mental? As duas realizações
parecem incompatíveis.”
SRN
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