O cenário aparentemente confuso, expresso nas primeiras pesquisas, não demonstra falta de educação política. A população já definiu um quadro bastante nítido: a antipolítica não exclui uma espécie de um novo "pai dos pobres".
A parte que Lula encarna está longe de representar Vargas, cuja ação definiu, com instituições, o Brasil contemporâneo, em função do qual, até hoje, todos temos de nos posicionar. Entretanto, assim como Vargas, desqualificá-lo como "populista" (há historiografia relativamente recente, sobretudo na UFF, de crítica ao conceito pejorativo uspiano) é subestimar a população que sempre soube - e sabe - distinguir entre manipulação e interação. Lula permitiu o acesso popular às ofertas do capitalismo, ainda que subalternamente (revolução, certo, é outra coisa, bem longe do Lulismo).
Já a antipolítica, fruto do ceticismo com a experiência da democracia representativa que se seguiu à Nova República somado à escala da corrupção e à intensificação da criminalidade urbana, faz de Bolsonaro, político profissional há mais tempo do que capitão, a alternativa autoritária típica de quem quer uma solução rápida e simples para o desespero.
Lula e Bolsonaro fazem parte do mesmo "sistema" tão rejeitado. Ocorre que passam incólumes não por ignorância popular, mas por pragmatismo, retrato realista do que somos e que não esconde, de resto, aquilo que não é agradável reconhecer: em meio à antipolítica, há um segmento da população que deseja um Estado que discrimine, torture e mate, como na ditadura militar.
SRN
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