domingo, 20 de março de 2011

Farinha do mesmo saco

Por 28



Acabo de quebrar a televisão, Máximo. Taquei a muleta no tubo. Ainda uma philco à válvula e não sei se vou comprar outra, pois posso muito bem ver o Flamengo no botequim. É que dá vergonha de ver o que vi: 

Primeiro, a polícia federal, é isso mesmo, meu irmão, a própria polícia federal tendo se submeter à revista dos agentes de segurança americanos pra entrar no hotel onde estava o Obama.

Segundo, a vassalagem reles do noticiário, culminando com a pérola:

"É muito bom ver o Obama tão envolvido com o nosso futebol."

Ainda bem que é tudo farinha do mesmo saco, Obama, o resto do Rio, a vassalagem midiática. A frase servil veio por conta da confusão do Obama, quando resolveu fazer graça referindo-se à paixão do brasileiro pelo futebol e se enrolando todo ao dizer o nome da pelada fuleira que o resto do Rio aporrinhava no engenhão.

Pede licença aí ao Plácido. De fato, "só não é pior ser surdo."

quarta-feira, 16 de março de 2011

O MANTO SAGRADO não veste imperialista

Por Plácido Gonzaga Bastos


Escuto no pré-jogo - de cuja volta acabamos de nos livrar vencendo o bravo Fortaleza por 3 x 0  (golaço do moleque Diego Maurício, de quem tem vocação pra artilheiro, deixou a bola passar no passe do Ronaldinho, virou o corpo e bateu colocado no canto direito) -  que Obama descerá de helicóptero na Gávea. Talvez só não seja pior ser surdo. 

O MANTO SAGRADO não veste imperialista.

Obama, ademais,  nunca me enganou. Refém de uma estrutura de poder imperialista, não ascenderia ao topo de sua hierarquia sem ter sido devidamente assimilado. Documentos internos da diplomacia americana, revelados pelo wikileaks, são a prova. O governo Obama, a despeito da caricatura de arquibancada de que "Lula era o cara", atuava nos bastidores bombardeando o Celso Amorim e a nossa política externa Sul-Sul. Teme a emergência brasileira por não nos considerar confiáveis, permeáveis que somos a "políticas populistas e de esquerda". A estratégia de bloqueio é notória, com a má-vontade  em nos admitir ao Conselho de segurança da ONU, a rejeição ao fim da taxação de nosso etanol, concorrente norte-amerciano em seu próprio mercado (livre mercado, de resto,  só quando convém) e a suspeita de que pretendemos o imperialismo através de uma nova política nuclear e atuação solo no Oriente Médio, haja vista nossa postura independente com relação ao Irã.

Infelizmente, a cor da pele de Obama deu ao imperialismo o verniz progressista que sempre lhe faltou. Nesse sentido, um desserviço aos diversos movimento negros internacionais que, independente de ideologias, sempre se pautaram pelo viés progressista anti-imperialista.


Chega ao Brasil na semana que vem. Ao invés da Gávea, poderiam levá-lo ao engenhão para uma recepção à altura da Nação Rubro-Negra:

Uma vaia uníssona em Preto e Vermelho.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Ao invés de "estrutura", falta feno

Por Luis Paulo Silva

A cidade é um espaço multifário e polissêmico. Nela todas as formas e tipos de comportamento são possíveis. A tradição inventada encontra na cidade um espaço próprio. Porém, a repetição ritualizada de situações novas pode não produzir os efeitos previstos. A realidade opõe resistências, contradições a serem superadas, e, mesmo, até rejeitá-las. Situações novas, ainda que bem planejadas, não são absolutas. A ideia não precede nem conforma a realidade. A rigor, depende desta.

Eis o contexto da realidade do resto do Rio - expressão tão usada neste blog que já não mais lhe reconheço a autoria. Resto é o resto, ademais já é demais quaisquer epítetos, esforço de concisão, para a fauna das laranjeiras, o vizinho do pinel e os de segunda de são cristóvão. 

O elefante branco ontem parecia ainda mais ridículo. Só faltava o Cesar Maia pra tomar sorvete que comprou no açougue e oferecer ao Murici. Ambos parecem uma repetição desafinada tentando Stravinsky, ao invés da guarânia paraguaia da roça do tietê da qual o "professor" é originário. 

A proximidade ecológica entre a roça e as laranjeiras é capaz de situações inventadas como a história do boitatá de que falta "estrutura". Há em Vila Isabel - bairro do Máximo - o campo do Confiança, da antiga fábrica imortalizada por Noel, onde hoje é a quadra do salgueiro, na Silva Telles. Esburacado e com mato à altura do joelho, talvez fosse a 'estrutura' que falta à fauna, nitidamente herbívora, do retranqueiro caipira milionário nessa terra que nos dá chitãozinho e xororó. 

E o Flamengo ainda teve de entrar em campo pra jogar contra esses troços. Paciência.

SRN

sábado, 12 de março de 2011

Moendo Gente

Por Tácito Pereira Nunes

O futebol é muito importante para ficar entregue a si mesmo. Muito pior à crônica esportiva, que só valia quando nela escreviam João Saldanha e Sandro Moreira, no antigo Jornal do Brasil.

Permitir o futebol à plastificação editorial, em uma formatação de vinhetas e lead ao estilo Lar do Padro, corresponde a entregar a historiografia às mãos da lenda do gaúcho macho de um Peninha de pampa gremista. 

Darcy Ribeiro dizia que o Brasil era uma máquina de gastar gente. Não há ideia mais apropriada para começar a se falar de futebol, quando se trata particularmente de personagens como o Adriano.

O moralismo da hipocrisia da crônica que não resiste a uma boca livre pendura no Adriano exigências e expectativas inumanas e covardes. Figuras típicas do "jabá", agora atualizadas vendendo planos de saúde e assinaturas de tvs a cabo, provocam asco pela conspurcação de palavras como ética e moral. Implacáveis, atacam os "chinelinhos" até o limite da irresponsabilidade. Travestem-se de médicos e lançam diagnósticos, evidentemente sob o patrocínio de algum laboratório muito conveniente. 

A extensão do mercado da bola está na exata medida de sua comunicação neste capitalismo do espetáculo em sucedâneo ao industrial. Estrutura de faturamento numa escala planetária, articulando federações, confederações, sob coordenação da multinacional-mor, a Fifa. Um concerto de interesses de faturamento nebuloso, mas cuja face disponível é justo a mais justa: o rendimento do atleta da bola sem o qual tamanha estrutura não passa de um castelo de areia feito na praia da Bica na Ilha do Governador.

Em poucas palavras: para que Adriano ganhe quinhentos, ou Ronaldinho um milhão, há uma estrutura cujo faturamento gira em torno de no mínimo 20 vezes mais.

Como Rubro-Negro, gostaria de ver o Adriano de volta. 

Seja bem vindo, meu irmão, campeão de 2009. 

HEXA legítimo.

SRN

quarta-feira, 9 de março de 2011

Tuiuti

Por Cinéfilo



Da experiência desta madrugada, olhando-a a Rubro-Negrir a Beleza, Linda Negra sem passo marcado, ficou-me uma impressão muito agradável. Ainda não sei exatamente como defini-la...

Melhor o mais cômodo, na  conexão indispensável: futebol, carnaval, cinema, exatamente pelo que os três têm de comum e que os define: são imagens em movimento, ora improvisadas, ora coreografadas.

O que não é senão coreografia uma jogada ensaiada no futebol? E o drible, a ginga do passista?


Deste núcleo - imagem em movimento, ora improvisada, ora coreografada - penso se poderia partir para a elaboração de um roteiro que buscasse um bom rendimento estético.

Repare a força da representação simbólica do que vimos no entorno do sambódromo. A degradação urbana, a pobreza decadente, em contraste com o espaço da fantasia e da sofisticação no interior da passarela do samba. O conteúdo social nem precisaria de estetização. Bastaria uma câmera apenas percorrendo aquelas ruas degradadas.


A partir do "Menisco", incorporar estas duas ideias: imagens em movimento (ora improvisadas, ora coreografadas) do mundo da bola e do samba, com uma espécie de "cãmera de registro" da decadência urbana?

 A própria condição do protagonista - um jogador medíocre, irrelevante, cujo grande feito fora obedecer a ordem de quebrar o craque -  poderia ser o fio condutor destas ideias.

terça-feira, 8 de março de 2011

Abre-Alas

Por Luis Paulo Silva

O abre-alas pode ser descrito rápido. As cores pingam junto com a chuva, a trama de ferragens expostas.
 
Largo da Segunda-feira já ensaiava o mafuá em que se transformaria à entrada do metrô.  Quase na Sãens Pena um botequim, este sim excelente, sem cheiro de gato frito, com pouco movimento e com uma moela igualmente excelente, macia, feita, provavelmente, na soda cáustica. Dito assim, fica o início de um desses depoimentos românticos, tão tipicamente carioca, na linha do boêmio profissional em homenagem ao bar de preferência. Mas  alguém irascível, completamente desprovido de qualquer traço de boemia - o gosto do fluir da noite, do bom papo, de beber o que puder -  certamente não esquenta botequim, era também a engrenagem anaglifa que não deixava esquentar copo, bebendo rápido, isolado,  adiante no botequim seguinte.

Um filme antigo. Entre o bar e o filme, a claustrofobia, a fotografia estourando do copo e o “travelling” passeando na cena. Na cela, o advogado e o cliente. O recurso do “travelling” usado adequadamente, nas quatro faces da cela, com o advogado visitando seu cliente `as portas do corredor da morte. A câmera exibe a perspectiva. O advogado se prepara, respira fundo, levanta a cabeça. O carcereiro abre a grade. A câmera entra junto com o advogado, que se dirige para o ângulo oposto, para a cama sem nenhum tipo de apoio, presa em balanço, abrigando o corpo estendido do cliente. Este parece morto, mas está catatônico. Excederam a solitária e passa quase o tempo todo, dia e noite, na mesma posição em que a câmera, após sair da cela, capta agora, no fluir do seu movimento. Primeira face, segunda face, terceira face. Entra e sai novamente. E é aqui que a solução fica interessante, na quarta face. Sem descontinuidade, a quarta face captada é exibida íntegra, sem que se perceba que houvera sido retirada e a um só tempo colocada, para, respectivamente, a entrada e a saída da câmera.