terça-feira, 8 de março de 2011

Abre-Alas

Por Luis Paulo Silva

O abre-alas pode ser descrito rápido. As cores pingam junto com a chuva, a trama de ferragens expostas.
 
Largo da Segunda-feira já ensaiava o mafuá em que se transformaria à entrada do metrô.  Quase na Sãens Pena um botequim, este sim excelente, sem cheiro de gato frito, com pouco movimento e com uma moela igualmente excelente, macia, feita, provavelmente, na soda cáustica. Dito assim, fica o início de um desses depoimentos românticos, tão tipicamente carioca, na linha do boêmio profissional em homenagem ao bar de preferência. Mas  alguém irascível, completamente desprovido de qualquer traço de boemia - o gosto do fluir da noite, do bom papo, de beber o que puder -  certamente não esquenta botequim, era também a engrenagem anaglifa que não deixava esquentar copo, bebendo rápido, isolado,  adiante no botequim seguinte.

Um filme antigo. Entre o bar e o filme, a claustrofobia, a fotografia estourando do copo e o “travelling” passeando na cena. Na cela, o advogado e o cliente. O recurso do “travelling” usado adequadamente, nas quatro faces da cela, com o advogado visitando seu cliente `as portas do corredor da morte. A câmera exibe a perspectiva. O advogado se prepara, respira fundo, levanta a cabeça. O carcereiro abre a grade. A câmera entra junto com o advogado, que se dirige para o ângulo oposto, para a cama sem nenhum tipo de apoio, presa em balanço, abrigando o corpo estendido do cliente. Este parece morto, mas está catatônico. Excederam a solitária e passa quase o tempo todo, dia e noite, na mesma posição em que a câmera, após sair da cela, capta agora, no fluir do seu movimento. Primeira face, segunda face, terceira face. Entra e sai novamente. E é aqui que a solução fica interessante, na quarta face. Sem descontinuidade, a quarta face captada é exibida íntegra, sem que se perceba que houvera sido retirada e a um só tempo colocada, para, respectivamente, a entrada e a saída da câmera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário