sexta-feira, 7 de maio de 2010

Varandão da saudade, sem chance


O Flamengo é sempre no presente. Quando vai ao passado jamais permanece. O Varandão da saudade, se existir, atravessa a ponte, vai lá pra Niterói, não volta pela perimetral.

A antiga praia do Caju, onde tudo começou, é a rótula da nossa saga. Nada mais Rubro-Negro. Pra que que lado for, seja à esquerda, para o subúrbio, seja à direita, para a zona sul, a avenida Brasil é a marcha da Nação Maior na conquista do Brasil, na ação de um dos povos Libertadores das Américas.

Temos a Lapa, o linho branco, a navalha, o tamanco, o lápis na orelha, "compro ouro, compro prata", "olha o funileiro, freguesa". Só não temos cavalo nem rede. A Nação Maior, mesmo nacional e popular, é carioca, porque não sabe ser fuleira. O tropismo que o dinheiro tem de ser paulista pode reparar como não vai demorar muito pra derrubar aquele troço de mau gosto, num daqueles saaras da barra, desproporcional, espremido na falta de escala de quem precisa de arquibancada, lembrando o Tita, o único dos símbolos de 81, que só não não entrou no Panteão da Raça pela mania de querer o lugar de ZICO. É mais ou menos isso: Tita é o cara da Barra que pensa ser o ZICO, mas que, em breve, vai pro grêmio, joga no vice e termina em 90, na reserva do ínício da "era dunga".

Se os corinthianos entendessem isso, já seria meio caminho. Conseguiriam a tranquilidade para a longa expedição bandeirante, passando pelos bambis do morumbi, os "oh louco!" do palestra, sem passar pela vila belmiro, que aquilo, de resto, não é praia, até chegar ao litoral, ao porto, à grande aventura cosmopolita que não é acessível, infelizmente, a neófitos.

A Massa Rubro-Negra anda de trem, carrega marmita, sem necessitar estágio para o galeão, que fica do lado. É só passar em casa, tomar um banho, trocar de roupa, dar um beijo na patroa.

Vamos ao Japão como quem pega o 433.

Por enquanto, é só no Chile.

SRN


quarta-feira, 5 de maio de 2010

A História sabe do que precisa

À Nação Maior cabe o papel que não poderia ser exercido por nenhuma outra.

O corínthias conseguiu, pela possibilidade que oferecemos, um protagonismo que merece ser reconhecido.

Não somos nem nunca fomos arrogantes, apesar das aparências e das ofensas que recebi no email deste blog, todas perfeitamente compreensíveis pela falta de hábito, pela inexperiência de quem, como disse o outro, "mal entrou no ônibus e já quer sentar na janela".

Jamais tripudiaríamos sobre quem sempre sabemos ser mais frágil, infantil, até ingênuo no seu atrabiliarismo.

A grandeza da Nação recebeu a interpretação correta, quando o Time, na casa alheia, comportou-se com a cortesia e a cerimônia de visitante, não botando os pés na mesa nem no campo do corínthias, praticamente todo o primeiro tempo.

Não conseguíamos o contra-ataque, numa estratégia que não poderia funcionar sem a qualidade que nos falta no meio-campo.

Bastou um pouco de dinamismo, a movimentação pelas lados do campo, quando Rogério coloca Kleberson, expondo com toda a clareza a fragilidade desse "bando de loucos", apelido, de resto, tão rídiculo, quanto o próprio futebol de ronaldo, danilo, roberto carlos, e a enumeração para a fila ali do lado da UFRJ, na Praia Vermelha, seria grande se não fosse a pouca paciência com essa lista de alma sertaneja.

Tenho, por princípio, tirar o som da televisão. Reacionário por reacionário prefiro aqueles que me remetem a uma memória afetiva e é o que me faz ouvir o rádio, na saudade do mais Rubro-Negro de todos, Jorge Curi, que só não leu o AI-5 - o que, agora, não vem ao caso. Aliás, até nisso, permanecemos dignos, apesar das torturas a muitos de nossos irmãos de sangue.

Tornei redivivo, por poucos instantes, aquele moleque que gritava, em transe:

"Acabou! Acabou!"

Valeu Raça, Paixão e Talento.




A República Rubro-Negra na Libertação da América Latina



O futebol tende a produzir consenso. E a dificuldade de analisá-lo.

Ser Flamengo, entretanto, não é um privilégio de classe, está presente significativamente em todos os níveis da estrutura brasileira.

Somos pouco mais ou menos uma República Federativa Rubro-Negra de 40 milhões.

O recorte estrutural, como se vê, não responde perguntas. E aí não há método. História ruim, é certo. Onde estão as contradições?

Parecem diluir-se à esquerda da tribuna todas as diferenças e convergimos a uma uniformidade bem ao gosto da burguesia de chuteiras (com licença do plágio de Nelson Rodrigues, de resto, tricolor).

O Manto Sagrado, agora também em seu batismo azul e amarelo, sabe que a história é o que tem de ser. Sem chance de destino, superstição, mapa astral, ufologia, essas palhaçadas tão a gosto de amarelos, vices, bambis das laranjeiras.

Nossa realidade sempre foi uma síntese de Raça, Paixão e Talento.

Não somos reflexo de um cancioneiro de folclore nem antes de tudo um forte, como queria o grande Euclides da Cunha tentando, generosamente, enaltecer a grandeza do povo contra tudo contra todos.

Somos o povo que toma o Poder todas as semanas à esquerda da tribuna.

Apesar do consenso, as diferenças não são mingau de aveia, e a elite que nos olha pela grade em cima das cabines de rádio tem de aceitar o fato e engolir o Adriano metendo os cornos no Alemão, na Itália, até na província caipira do Dunga.

Acaso ainda acreditam que a Libertadores possa vir de quem vive enclausurado no país, orientado por Neto, Luciano do Valle, Milton Neves, Juca Kfouri?

Sem chance, meus camaradas.

O que houve até agora foram escaramuças, brigas de foice contra o charque, só pra garantir a fronteira.

A libertadores, de fato, ocorreu em 1981.

Falta agora, em 2010, o Flamengo consolidar a Unasul.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Monstro Sagrado Rubro-Negro

Depois dizem que é implicância: Niemeyer tentou dar uma praia pros paulistas, alargando e cobrindo de areia a margem do Tietê.

A Erundina vetou.

Essa é a diferença: O Flamengo é Oscar Niemeyer, enquanto o corínthias, Washington Olivetto.

SRN

"Fale ao motorista somente o indispensável"


O aviso continua lá, no mesmo lugar, dentro do ônibus.

E, na manhã desse domingo, o 433 vazio, o churrasco na laje preferível ao frio da praia.

Abro a janelinha e boto o cotovelo pra fora: ajuda a pensar melhor.

O futebol é como estar no 433. O Rio que vejo pelo vidro se movimenta rápido, alterna bons e pavorosos lances. Quando ilude que pode ser registrado, é apenas mais um instante do jogo de luz que só existe aqui e que filtra o carioca, proporcionado pelo ônibus parado no sinal fechado.

O edifíco abandonado da Manchete, no Russel, feito por Niemeyer (a outra face, junto com Zico, da moeda de nossa Nação Maior) é uma opinião válida, que considero rápido pra não perder o raciocínio.

Somos capazes de desperdiçar o que é carência nos outros.

E não se trata de concluir pelo óbvio.

Sem chance de julgar o que tem de ser encarado como, de fato, é: a realidade é sempre uma necessidade que se impõe. Alterá-la, por isso, não depende de vontade, de mero voluntarismo, mas, de condições objetivas, materiais.

É abrir os olhos - esforço difícil diante de tanta beleza, das montanhas que Le Corbusier dizia ter Niemeyer nos próprios olhos, a sinuosa desenhada pela curva que só parece conhecer a negra que me passa embaixo da janelinha.

É investigar na história as razões que a tornaram necessária.

Parece coisa de adicto:

A latência para o óbvio. E o futebol é um campo de prova. O problema no futebol tem sempre o apelo para o encaminhamento de uma solução de força.

Agora, em relação ao Flamengo, enlatados, engradados e os da rua Alice de sempre, só dizem o seguinte:

A Patrícia tem que dar um murro na mesa, enquadrar e punir todos na Gávea, do goleiro ao ponta-esquerda, passando pelo motorista e pelo roupeiro.

Não me levem a mal, mas tenho de saltar. Ponto final.

SRN


domingo, 2 de maio de 2010

Galeano na veia

A vantagem de ser Rubro-Negro começa pelo seguinte:

“Eu creio que o caso de Adriano é revelador, como bem disse, de preconceitos e julgamentos que vão além das anedotas.

O bombardeio que Adriano sofre revela, por exemplo:

A obsessão universal pela vida privada dos que têm exito, e acima de tudo pelos desportistas vencedores que vem da miséria e que tinham nascido estatisticamente condenados ao fracasso.

Exige-se deles que sejam freiras de convento, consagrados ao serviço dos demais e com rigorosa proibição do prazer e da liberdade.

Os puritanos que os vigiam e os condenam são, em geral, medíocres cujo desafio mais audacioso, sua mais perigosa proeza, consiste em cruzar a rua com luz vermelha, alguma vez na vida, e isso tem muito a ver com a inveja que provoca o êxito alheio.

Tem muito a ver com a demonização dos pobres que não renegam sua mais profunda identidade, por mais exitosos que sejam.

E muito tem a ver, também, com a humana necessidade de criar ídolos e o inconfessável desejo de que os ídolos se derrubem.

Um abraço do teu amigo,
Eduardo Galeano”

Copiado do blog de Lúcio de Castro

Faz quase dois meses o Grande Galeano nos iluminou expondo as veias no ataque aos açougueiros da rua Alice no corte ao fígado do Adriano. Certo, não se apresentam como açougueiros, mas como clínicos ou conselheiros do AA, preocupados com o estado da arte.

Sou como 28 um “quase diabético” (no caso dele, um “quase avô”). É que meu sangue vira vinagre antes de ficar doce e a vontade de vomitar aumenta à proporção que leio, escuto e vejo. Da tipologia de rádio, conhecida pelo levado do almoço, aos digitalizados dos meios, na linha ufologista de mtv, pouco sobra das casas da banha esportiva.

E no negócio da rua Alice o jontex vai de ralo com a malandragem, porque se se continua a ler, a ver e a escutar.

Outro dia pegaram um desses, na saída. Quase rola a ladeira, puto porque o teco não tava puro e só sobrara moeda no bolso, sem chance pra geral aceitar. O cara nem falou naquele dia, disse que não ia pra rádio.

Minha filha está pra entrar nos vinte nem eu quero jogador pra casar com ela, exatamente como o Saldanha, outro Grande no esquema de Galeano. Por isso, pouco me importa se o Adriano apareceu em Ipanema, reatou com a namorada, organizou churrasco na lage ou fez orgia com anão e a égua perto da Lâmpada que lhe queimou o pé.

Vou te dizer, meu irmão, ir pro Ninho pra ouvir o Jorginho de Macedo, o flanelinha que ocupou a vaga do Monstro Sagrado leandro e depois quis trocar o símbolo do diabo do histórico segundo time carioca.

Adriano, meu camarada, só não perde a hora do embarque na quarta, de noite, no Santos Dumont. Isso mesmo, na quarta, quase na hora do jogo,porque o que interessa é que você entre em campo.

SRN