Por Máximo
Não há panegírico para o homem. Um Popper interesseiro, porém, pode ser útil. Sua racionalidade crítica, o estatuto de cientificidade, vindo não da verificação, mas da falsificação: uma teoria só é ciência porque explica os fenômenos até ser superada.
A linguagem Rubro-Negra não contempla, por isso, pieguismo. Não nos prendemos a dores inexoráveis. Ademais, o que seria do resto do Rio, cujas dores não podem demorar muito, mas demoram já demais, numa união de enfermidades tricolores, amarelas e de segunda?
Um Popper interesseiro para o que acabo de ver numa mulher que me orgulha pela convivência carinhosa. Emocionada, as lágrimas são um protesto:
"Antônio, como é que alguém pode não acreditar neste país? Como não ver que o Brasil mudou muito nestes últimos anos?"
Paro, levanto os olhos do papel. Fecho a zero três, o nanquim. Levanto da cadeira e a abraço. As lágrimas são cordiais, das que descreveria Sérgio Buarque. Só me cabe ouvi-la:
"A fala do senso comum sobre a inexistência de família não resiste ao que acabei de ver no Orsina da Fonseca. É imprópria a crítica à desestruturação familiar. O que ocorre são novas formas estruturadas, cujos responsáveis são tias, irmãs mais velhas, sobretudo avós."
A pele negra de sua face recebe um lustro de encantamento. Não sei se presto atenção às palavras. Presto:
"O envento na escola, neste sábado, foi uma homenagem à família, ao invés do dia das mães com todas as implicações que se sabe. Minha emoção vai além do sentimento de maternidade. Uma escola pública, há poucos anos considerada "condenada", apresenta-se com concretude em todas as suas contradições, numa demonstração evidente de que ao homem é possível mudar a sua história, embora não possa escolher a estrutura na qual irá se inserir para transformá-la. Adolescentes de chinelo, de tênis, de comunidades, do asfalto, o Rio como ele é mostrando que é possível, que não se trata de um valor. A viabilidade do Brasil vai muito além de algo que se queira. O que seremos, o processo em que já somos é muito mais do que um desejo."
O beijo que lhe dei era lágrima, também.
SRN
Máximo
Caro Máximo,
ResponderExcluirAcho que o Brasil mudou e está mudando, mas penso que o país continua ser uma país de universalismo ou direito formal que convive com as estratégias e deslocamentos do patrimonialismo e da hieraquização escamoteada. O Brasil, como disse um amigo, é "UNPRACTICAL", tudo aqui é muito custoso para quem não domina as relações ou não tem proximidade do poder.
Abraço do Antonio um otimista descrente no otimismo a la Afonso Celso.